Guerra na Rússia tem potencial de gerar crise em torno do dólar

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

Isolamento econômico do país pode ampliar debates sobre diversificação de reservas e proximidade comercial dos russos com a China; entenda

Os presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China). Foto: © Sputnik/Aleksey Druzhinin/Kremlin – via Agência Brasil

As questões econômicas em torno da guerra entre Rússia e Ucrânia tiveram menos peso no recente debate público, mas seus efeitos no longo prazo não podem ser descartados – entre esses efeitos, a possibilidade de o dólar deixar de ser a moeda de referência para reservas e negociações globais.

Por conta do bloqueio ao SWIFT pelos bancos russos, a possibilidade não deve ser descartada – embora não seja uma movimentação de curto prazo. “O que tem sido dito, inclusive por quem é do mercado financeiro, é o seguinte: como é que os gestores de reservas vão ver no dia seguinte ter reservas em dólar quando você pode, de repente, cancelar essas reservas unilateralmente?”, diz o economista Gabriel Galípolo na última edição do programa TV GGN Nova Economia, que discutiu as sanções à Rússia e a crise do dólar.

De acordo com Gabriel, a Rússia já tinha feito um movimento na redução na participação dos dólares em suas reservas internacionais, aumentando suas posições em ouro e em euro tanto nas reservas como nas relações comerciais com a China.

Porém, o jornalista Sergio Leo lembra que é preciso lembrar que a questão de diversificar reservas não envolve apenas a Rússia, já que a China detém uma grande quantidade de reservas em dólares, e não é possível despejar uma quantidade tão grande de moeda no mercado sem que a cotação caia.

“O João (Furtado, economista e participante do programa) falou com razão: ‘olha, precisa fazer uma ressalva, não é uma coisa que vai acontecer do dia para a noite (…) quando a gente olha para a composição da participação das moedas, o dólar é amplamente a moeda mais utilizada no comércio internacional e como reserva ainda o yuan, o renminbi tem uma participação muito inferior, 2% contra quase 50%”.

“A coordenação do ocidente, que trouxe a Europa junto, penalizou essa tentativa de desdolarizar porque o euro machucou ele, mas a ideia de que você talvez tenha que ter uma cesta de moeda mais ampla, ou até bens – uma coisa meio estranha, né, para um período de moeda fiduciária, mas ativos tangíveis que a gente diz, como o ouro começa a surgir no horizonte de médio e longo prazo quando vai se pensar em reservas”, diz Galípolo.

Embora um processo de mudança das reservas envolva um longo período de tempo, Galípolo diz que existe uma leitura de que a posição uníssona entre os ocidentais de excluir a Rússia e o congelamento das reservas empurra os russos rumo à China – que tem mostrado sinalizações dúbias em torno do confronto.

“(A China) uma vez fala ‘tem que preservar a soberania territorial, mas simultaneamente diz que vai permanecer parceria com a Rússia não importa quão sombrias as coisas fiquem (…) Isso me parece que é um resultado que, hoje, a gente consegue enxergar e que esse uso ostensivo do poder do dólar para fins geopolíticos vai inaugurar uma nova era. Assim como o uso da bomba atômica inaugurou uma nova era de corrida militar, talvez isso esteja inaugurando uma nova era para observação das reservas”, explica Galípolo.

Globalização dificulta sanções

Gabriel Galípolo lembra que a globalização também precisa ser considerada no debate, uma vez que não é possível efetuar sanções restritas à Rússia sem que se afetem outras economias por conta da interligação existente.

“Desde o início a gente dizia que a troca que a gente tem nesse processo é que, quanto mais efetivas as sanções são, mais elas arrastam o Ocidente junto”, diz o economista. “Quanto mais ela tenta circunscrever a Rússia, menos efetivas elas são em gerar o resultado desejado”.

O economista ressalta que, quando foram traçadas as primeiras sanções contra os russos, houve o cuidado de proibir a negociação do rublo, por imaginar que isso seria prejudicar o governo Putin, mas que o fluxo de mercadorias e serviços continuaria funcionando.

“Esse cuidado não se revelou efetivo porque as empresas começaram a se antecipar”, diz Galípolo, lembrando que o petróleo russo chegou a ser negociado por um preço até 33% menor ante o mercado internacional.

“Não se sabia se um banco ia conseguir operacionalizar o pagamento, ou se efetivamente ia conseguir se transportá-lo de lá para cá”, diz o economista, lembrando que os movimentos estão mais associados “ao fato de que você não consegue converter mais o rublo, e como é que você vai fazer uma operação naquele país se você não tem mais a conversibilidade da moeda”.

Veja mais sobre o tema na íntegra da TV GGN Nova Economia. Clique abaixo e confira!

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador