A estratégia do MPF como um quarto Poder na gestão petista

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por JB Costa

Comentário ao post “Falta um 11º mandamento na lista bíblica de Dallagnol

Ninguém nunca se pergunta do porquê, ou porquês, terem sido exatamente nos governos petistas que certas instâncias buscaram se firmar tanto institucionalmente como politicamente. Foi fruto do acaso? Das circunstâncias? Ou de uma pensada estratégia?

O discurso que está na ponta da língua de qualquer petista  é que foram nos governos regidos pelo atual esquema de Poder que o aparato repressivo formado pela Polícia Federal e Ministério alcançou plena autonomia, ou seja, agiu de forma realmente republicana em função de políticas deliberadas. 

Efetivamente, isso é fato. Nunca essas instituições foram tão respeitadas e prestigiadas como nos últimos doze anos. Entretanto, a par disso, também elas mesmos traçaram estratégias paralelas de afirmação nas quais esse mesmo esquema deveria e poderia ser arrostado. Mas, como explicar esse paradoxo?

Muito simples: uma das novidades boas  da Constituição de 1988 foi eliminar de forma peremptória qualquer possibilidade do Poder Público, do Estado, se submeter como só ocorreu ao longo da nossa história, aos interesses e injunções de caráter privados. O apanágio de tal inflexão na seara administrativa foi a irrestrita e universal condicionante do concurso público para ingresso em seus quadros, bem como a profissionalização e remuneração condigna para os mesmos. 

No concernente ao institucional emerge uma Ministério Público como uma quarto Poder ad hoc, ou seja, autônomo de fato e de Direito. A Polícia Federal seguiu no rastro apesar de subordinada ao Executivo. O que lhes faltavam então? Resposta: afirmação perante a sociedade através da assunção de um protagonismo que só poderia se exercer na área a elas afetos e que tivesse o potencial de sensibilizar opinião pública que no caso já era e viria a ser mais ainda, a corrupção. Uma praga centenária, mas que o aparato midiático passou a dar como criação dos governos petistas e não uma continuação, mesmo que em menor escala, de uma práxis. 

Numa comparação esdrúxula, mas nem por isso impertinente, os governos do PT, já assediados por uma imprensa engajada, foram os escolhidos para “índios” no confronto com os “mocinhos” jovens de cabelos engomados, ternos bem cortados  e discurso moralista que faria inveja ao John Wayne. Por fora, os polpudos salários que os fizeram subir de patamar na chamada pirâmide social. 

Claro que essa ênfase se lastreou no repúdio político-ideológico ao dito lulopetismo pelos estamentos mais conservadores e reacionários da sociedade incrustados nas ditas classes médias e alta e sob a batuta da imprensa. 

Não explica de todo, mas pelo menos em parte essa abulia do Ministério Público e da Polícia Federal com relação aos desacertos e crimes eventualmente cometidos pela oposição política. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

18 Comentários

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  1. O trecho que resume

    O trecho que resume tudo: Numa comparação esdrúxula, mas nem por isso impertinente, os governos do PT, já assediados por uma imprensa engajada, foram os escolhidos para “índios” no confronto com os “mocinhos” jovens de cabelos engomados, ternos bem cortados  e discurso moralista que faria inveja ao John Wayne. Por fora, os polpudos salários que os fizeram subir de patamar na chamada pirâmide social. Ou seja, foi muito areia para pouco caminhãozinho. 

  2. Eu tenho muita fé no

    Eu tenho muita fé no Ministério Público… da Suíça!

    infelizmente a LAVA JATO não quer acabar com a corrupção… Querem acabar com o PT.

    Nai tenho nenhuma dúvida que no dia que a direita retomar o poder, pelo golpe ou pelo voto, no dia seguinte acabam com LAVA JATO e a autonomia dessas instituições.

    Quem viver verá.

  3. Política

    Seria excelente se fosse realmente uma mudança de atitude daqui para frente. Um combate sem tréguas à corrupção. No entanto temo que a verdadeira razão é política. Olhamos para um lado e fingimos que não vemos o outro. Uma pena. Perderemos uma oportunidade e tanto.

      1. Sim

        Sim André, e este é o problema. Está virando algo espúrio e tendencioso como a Inquisição. O exemplo que você usou cabe direitinho. Usamos os pecados publicados para escolhermos os pecadores que desejamos fora do caminho. Este ataque ao setor produtivo, tão festejado por alguns analfabetos funcionais vai custar muito ao país.

    1. São as Instituições sim

      São as Instituições sim senhor. Essa montagem do MPF foi feita sob medida para intervenção do Império nos países.

      A primeira experiência foi na Itália, desmontaram as estruturas políticas de esquerda na Itália, qdo esses partido já comiam pelas beiradas a maioria das Prefeituras. Era o país exemplo, na década de 70 e 80, de como  a esquerda poderia galgar o poder pelo voto. O “limpinhos justiceiros” arrasaram a política do país e deixaram um limbo fácil de dominar.

      A partir da experiência ” bem sucedida” da direita internacional, todo país q se democratizou, formou essa m….  com ares de “pureza  franciscana” e salários de oligarcas.

  4. Simplicidade
    Como uma análise pode ser tão superficial.Corrupção nos governos do PT serem maiores que nos governos anteriores. Nós temos corrupção a nível federal, estadual,municipal, judiciário, legislativo e executivo e a corrupção do setor privado.O ministério público e a polícia federal tomou esse protagonismo, porque ela está inflada com essa classe média golpista, que na luta de classes defende o interesse da burguesia, na esperança de sentar na mesa. Simples assim, luta de classes.

  5. O mito de Golem continua

    Cria-se uma criatura para defender uma comunidade. A criatura ganha vida  ganha poder e a partir daí todos sabemos  o fim da história.

  6. Sofismar é preciso…

    O Ministério Público é sim um poder. É o poder popular, é quem defende os interesses da sociedade e do indivíduo.

    O camarada escreve sobre o MPF como se ele existisse há cinco séculos e só agora resolveu agir porque quem está no poder é o partido dele, o partido dos perseguidos. Sofisma.

    O MPF tal qual está formatado tem 20 anos, destes 12 o país está sob o comando do PT. O primeiro PGR desde a fundação do MPU foi o Brindeiro. 

    Perceberam onde mora a maldade ? Onde está o sofisma ? è o mesmo caso do “ficaram no poder 500 anos”, que coloca Getúlio Vargas e Dom João VI no mesmo balaio de gatos.

    Ora, o MPF é um organismo novo, está em franco desenvolvimento e está cada vez melhor. Engana-se aquele que imagina que o MPF irá recuar de seu protagonismo na sua missão de fazer os poderes trabalharem em prol da sociedade e do indivíduo.

    Só um maluco vê o MPF abrindo mão de sua função constitucional em governos vindouros. 

    E claro, para dar veracidade ao sofisma, esquecem-se seletivamente de operações como a dos sanguessuga, a banestado, sudam e foca-se única e exclusivamente no mensalão e lavajato, para disseminar a idéia do partido dos coitadinhos, dos perseguidos.

    Também propositalmente, mistura-se opsição e situação. Ora bolas. O MPF vai investigar quem, senão os organismos federais ? Vai investigar os governos estaduais da oposição ? Para isso existem os MPE. No Paraná, por exemplo, o que se investiga via MPE na operação Publicano. Só neste mes, na quarta fase foram mais de 100 mandatos, 47 prisões. Tem ex-secretário preso, empresas multadas, aposentadorias sendo cassadas, etc, etc, etc  NINGUÈM DO PT.

    Ah, mas ninguém ficou sabendo ?  Isso é problema de quem só se informa pela grande mídia, e não do Ministério Público.

     

    1. Hitler tambem subiu ao poder

      Hitler tambem subiu ao poder para defender a sociedade alemã. Todas as tiranias da Historia invocam a legitimação da defesa da população sobre as quais eleas imperam, elas nascem assim mas pelo caminho vão mudando de propositos.

  7. O autor é muito empolado, mas

    O autor é muito empolado, mas só engana tontos. O MPF não tem coragem de enfrentar os realmente poderosos; promotores são frouxos diante de um Aécio Neves, um Fernando Henrique Cardoso, um Gilmar Mendes, um José Serra. São frouxos ante os Marinho, os Civitta, os Frias, os Mesquita, os Saad. Mas não apenas ante esses; também são frouxos e covardes ante o crime organizado que combina preços e frauda ostensivamente os combustíveis em todo o país. E o MP precisa sim de um controle do Estado, que mais cedo ou mais tarde virá. O povo não precisa nem quer tutela de ninguém, muito menos de bunda moles engomadinhos que se julgam heróis porque assim incensados pelas mamães.

  8. A gestão petista criou um

    A gestão petista criou um quarto poder que inviabiliza o Estado Democratico de Direito tal qual desenhado por Montesquieu, Lafayette, de Tocqueville. Nenhum deles previu um quarto poder que desbalenceia o equilibrio previsto para os tres poderes classicos. O resultado é a absoluta ingovernabilidade de um Estado com esse Poder sem contrapeso.

    Nas grandes democracias historicas, EUA, França e Inglaterra, não há quarto poder.

  9. MPF – Investigadores em causa

    MPF – Investigadores em causa própria. Levar seus pais, avôs e irmãos de volta ao poder em suas Capitanias Hereditárias.

    Só com a ingenuidade sempre caracterizou o PT, levaria  um Partido político, que chegou ao poder, acreditar que herdeiros de Capitanias Heteditárias queriam ou querem alguma Justiça no país.

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