Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Carmem Lúcia vai explicar o que só vale para Aécio e Delcídio não?, por Armando Coelho Neto

Carmem Lúcia vai explicar o que só vale para Aécio e Delcídio não?

por Armando Rodrigues Coelho Neto

 “Pegue e não pague” é o título de uma peça de autoria de Dario Fo, encenada pela primeira vez em 1981. O saque de um supermercado faz parte do enredo e uma das cenas mais hilárias é quando uma dona de casa se dá conta de coisas que levou pra casa um amontoado de supérfluos, até sabonete para cão, menos o que precisava: comida. Tudo fruto da irracionalidade com que se envolveu no ato, assim como ocorreu nos saques realizados em lojas do Rio de Janeiro e Pernambuco, durante os protestos do pré-golpe em 2013. À época, o depoimento de uma cidadão às emissoras de TV foi simbólico. Estava confusa por não saber explicar seu desatino, devolvendo no dia seguinte, uma televisão com tela de cristal liquido, que levou de uma loja.

O que houve? Crime de turba, efeito manada. Crime de turba e efeito manada são quase sinônimos. O fenômeno ocorre quando pessoas reagem da mesma forma sem qualquer planejamento. Se, por exemplo, numa convulsão social alguém atira uma pedra, é o suficiente para disso derivar ações violentas em conjunto. O fenômeno também pode ser observado como conseqüência da manipulação de massas, com efeitos imediatos imprevisíveis, mas que com o resultado final atendem a conveniência dos manipuladores. Valem as regras do fogo amigo e dos danos previsíveis e ou calculados.

Hoje está mais que claro que os estágios do pré e pós-golpe de 2016 teve essa característica, quando foi possível manipular significativo número de pessoas para dar aparência de legitimidade à destituição da Presidenta Dilma Rousseff. Foi o resultado da soma manipulação + turba + efeito manada (Maria vai com as outras) + teoria da conformidade social, estudada na psicologia de grupos. À época, houve quem chegasse a falar de efeito manada no Congresso Nacional, quando, na verdade, um grande número de parlamentares já estavam comprados.

O mesmo não se pode dizer do agito das ruas. O crime de turba promovido pela denominada grande mídia foi indiscutível, o efeito manada se fez presente de forma expressiva e as imagens falaram por si. A dimensão dos protestos pelo golpe foi muito maior do que as câmeras de televisão foram capazes de captar. Várias cidades menores do país, sobretudo as controladas pelo PSDB e outros partidos de oposição sistemática ao PT foram mobilizadas. Hoje, a pergunta sobre sumiço daquela gente se manifesta de forma irônica: onde estão os paneleiros e os adoradores do pato murcho da Fiesp? Estão onde sempre estiveram, hipnotizados em frente da televisão, sofrendo passivamente os efeitos do monstro que ajudaram a construir.

O pato paneleiro é hoje o corpo de delito, prova de mais um crime cometido pelos meios de comunicação de massa. O efeito manada conseguiu arrebanhar gente que pode ter pensado, “quem sabe melhora”, embora sem a percepção de que não estava tão ruim. De qualquer modo, nada é tão bom (ou não) que não possa ser melhorado. O grande público foi alvo de frases de efeito e certamente não cotejava dados econômicos, nem as entranhas da geopolítica por trás do golpe. Tudo isso concorreu para afrontar nossa esquálida democracia. Mas, o resultado foi além da sabotagem ao resultado das urnas. A grande mídia conseguiu desmoralizar os protestos de rua. E esse é o dado mais cruel.

É bem verdade que antes e após o golpe houve protestos, e, sobretudo no pós, houve repressão violenta e pouca divulgação tanto dos atos quanto das ações dos cães de guarda do golpe. Mas, aos poucos, as mobilizações perderam força, com os ímpetos de resistência minados e o “voto de confiança” de primeira hora entrando em pauta. O fato é que a sociedade está imóvel diante dos crimes de lesa-pátria, a precarização da mão de obra, enquanto transcorre o lento e gradual velório dos direitos sociais. Paira o silêncio até entre os militares nacionalistas, se é que ainda existem. Os que têm se manifestado são os covardes e entreguistas, com a pachorra de se portarem como anjos guardiães, acima do bem e do mal, “prontos pra entrar em ação, se preciso”.

Há quem tente explicar a letargia nacional como fruto da vergonha. Mas, além da vergonha, há o fator descrédito, seja entre golpistas ou entre democráticos. De qualquer forma, cumpre considerar que os paneleiros perderam seus financiadores (já alcançaram o que queriam). A massa de manobra está descartada e parte dela já tem consciência de que foi usada. Os slogans somos todos isso e aquilo caíram por terra. Cunha está na cadeia, Aécio não matou o Fred mas deu no que deu, e as malas e apartamentos com dinheiro não apareceram nas mãos de petistas, por mais que a TV Globo tente fazer jogo de imagens. A trapalhona operação bufa  de Janot caiu no ridículo, Gilmar Mendes foi desmascarado, a corriola de Curitiba dá sinais de descrédito e Temer continua nomeando seus asseclas.

São discretos sinais que aos poucos são assimilados pelas vítimas do crime de turba da Rede Globo et caterva. Até porque, também a TV Globo está em desgraça com a rapinagem da FIFA e na violação na quebra de padrões conservadores. Está na mira não só dos petistas, mas também de evangélicos e bolsopatas.

De qualquer forma, também do lado oposto, além do descrédito, é bom considerar que grandes protestos são dispendiosos. Impressos, convocações, carros de som, ônibus para transporte de movimentos populares, carros de som, etc são dispendiosos. Realizar protestos enquanto Lula promove caravana país afora também pesa na balança. Desse modo, sem lideranças imponentes e alternativas, sem uma nova linguagem, o Partido dos Trabalhadores e simpatizantes parecem aguardar pela turma do “Pegue e não pague”.

Enquanto isso, as instituições brasileiras atuam no paralelo como meliantes desse crime de turba. O fundamentalismo pseudo-jurídico da corriola de Curitiba é uma usina de interpretações extensivas e inusitadas, incompatíveis com a democracia. Viraram referência e cada um acha o que quer, faz o que quer. Está em curso um novo efeito manada de interpretações subjetivistas, hoje com ares de hermenêutica paranóica. O sagrado direito de defesa virou crime e juízes vêem advogados como cúmplices. Mesmo tendo apoiado o golpe, e com algumas fichas já caindo, a OAB não tem a ousadia do passado…

Nesse contexto de crime de turba, como a ministra Carmem Lúcia vai explicar à Nação que o que vale para Delcídio não vale para Aécio? Como vale para Aécio e não serve para parlamentares cariocas?

Armando Rodrigues Coelho Neto é advogado e jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

 

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

12 Comentários

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  1. Até o câncer, em muitos

    Até o câncer, em muitos casos, tem cura. O crime de turba, o efeito manada, não. Ambos podem ter boas intenções mas não deixam de ser o que são, uma praga inerradicável. O pato paneleiro é filho legítimo, ou neto, ou bisneto, dos que marcharam com Deus pela liberdade e logo em seguida deram ouro para o bem do Brasil, em troca de uma aliança de latão. 

  2. Carmen….

    40 anos de Cleptocracia Farsante. O que descobrimos? Que nunca tivemos Estado. Fraude e golpe rotulados como Democracia. Que o STF foi pego de surpresa, assim como e Estado Brasileiro. Apavorados descobriiram: Era pra funcionar mesmo?! É sério esta nossa função?! Não é só para manter esta Sociedade ignorante, desinformada e desorganizada, bem quieta e submissa ao cabresto, enquanto a Elite Nabaesca e Medieval se perpetua?!!Mas lembrem-se o STF quase na totalidade foi empossado por progressistas tucanos e petistas . O resultado é este. A culpa é de quem?

    1. Iscariotes foi empossado (escolhido) por Jesus Cristo

      A culpa da crucifixão é de Cristo, em razão de ele ter escolhido Judas Iscariotes?

      Esse não quer resolver o problema, quer apenas encontrar bodes expiatórios.

      Ainda bem que dessa vez esse Abofelado não culpou a esquerda pelas merdas da direita.

      Palmas

  3. Alguém ainda acredita no Judiciário ?

    Os senadores Requião e Lindenberg qualificaram os parlamentares que votaram a favor do golpe como “Canalhas, canalhas, canalhas…”.

    De outra forma, também participaram do golpe membros do MP e o STF. Portanto, pelo princípio da similitude, devem receber o mesmo qualificativo e isso, por si só, explica que o que se aplica a Aécio não se aplica aos parlamentares do Rio.

  4. Quadrilha Maçônica.

    Posso assegurar que todos eles, e muitos outros, fazem parte de uma mesma quadrilha.

    É óbvio que nem todo maçom é corrupto, bandido, contraventor, ou o que o valha.

    Mas não é menos verdade que tem muito maçom que não sabe nem a metade daquilo que seus superiores fazem. Muitos ainda acreditam no que os veneráveis lhes dizem. Se fossem profanos, poderiam bem serem classificados como “inocentes úteis”. Como não são, não sei do que chamá-los.

    Espero chegar o dia em que jornalistas, realmente, independentes investiguem isso pra valer.

  5. Se porém fosse portanto…

    O STF do mensalão até os dias de hoje vale um estudo de caso. O STF esta totalmente perdido, esquizofrênico, funciona não segundo a Constituição Federal e Jurisprudência, mas conforme o “freguês”. Eh boteco de 5°categoria em que os funcionarios ganham muito bem para fazer politicagem com a Justiça. 

    Quanto aos patinhos de verde amarelo… Tantas vezes o teatro ja falou sobre a manada, o senso comum, o ir atras dos outros, sem saber aonde vai dar. Tenho uns amigos, todos na faixa de 35 à 40 anos, que fizeram um blog no qual escrevem e comentam como se ainda fossem adolescentes. Eh incrivel como ficaram naquela de nos anos 80 isso, nos anos 90 aquilo e adoram jogos e filmes americanos. São todos formados, com especializações e mestrados, mas são incapazes de discutir a politica no nivel de suas formações. O nivel é aquele dos patos de verde e amarelo na ruas vociferando contra…. a corrupção?

  6. E a dona Carmem ?

    Veio para explicar algo ? Ou  veio para continuar a obra ? Assim como parece estar acontecendo com a dra. PGR. Colocaram as mulheres na linha de fogo ! Faz parte !!!

  7. POR ISSO SOU A FAVOR DO RIO D

    POR ISSO SOU A FAVOR DO RIO D JANEIRO FAZER UM SPIN OFF E PULAR FORA DO BRASIL… 

    NÃO PRECISAMOS DO BRASIL PARA SOBREVIVER.. 

    A FAVOR DA SEPARAÇÃO DO RIO DE JANEIRO…  E A CRIAÇÃO DA REPÚBLICA DO RIO DE JANEIRO..

     

  8. O judiciário muda a jurisprudência de acordo com o réu

    Quem disse isso foi o Ministro Roberto Barroso. Ele tem conhecimento de causa. Portanto, a Dona Carmem Lúcia, que tá tão bonitinha na foto que ilustra esse post, não vai explicar porra nenhuma em relação à diferença de tratamento dispensada ao Aécio e ao Delcídio.

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