Diferenças entre Lula e Getúlio

Por Krishna

Comentário ao post “Os paralelos entre Vargas e Lula – 1

Em minha opinião não há paralelo entre o operário nordestino Lula e o militar e advogado gaucho Vargas por vários motivos, tanto temporais, os tempos e costumes políticos eram outros, como pelas respectivas origens econômicas, sociais e políticas.

Os (únicos) elos de união entre essas figuras seriam a luta de ambos, pelo menos por algum tempo, em favor dos mais pobres e desvalidos e pela afirmação nacional independente e o enorme ódio que despertaram na Casagrande.

Vargas criou a CLT, o salário mínimo, férias remuneradas, os Institutos de Aposentadorias e Pensões, as estatais da área do petróleo, mineração (a Vale) e siderúrgia, DASP, IBGE, BNDEs, propôs a criação da Eletrobrás, etc., o que não é pouca coisa, muito pelo contrário.

Por outro lado se impôs com um golpe, ainda que contra a corrupta e injusta velha república, namorou o nazifacismo, copiou seu sistema sindical patronal e os conselhos profissionais, e foi durante certo tempo um ditador com terríveis polícias política e especial, para lá de violentas, torturaram e assassinaram centenas de pessoas, principalmente militantes comunistas e membros da ANL,  Filinto Muller e Cecil Borer no comando da barbárie.

No mínimo permitiu a invenção do falso Plano Cohen, atribuido a comunistas, mas escrito pelo oficial Olímpio Mourão Filho, futuro primeiro golpista de 1964, a mando de generais da época, para justificar o poder sem congresso em regime de exceção, de ditadura completa.

Também deportaram mulheres judias, companheiras de militantes comunistas para serem executadas em campos de concentração nazistas, sem dó nem piedade, Olga Benário e Elise Saborowski, a primeira grávida.  Nos dois casos autorizados e com aval do infalível STF (esse mesmo supremo que segundo Joaquim, não tem que dar satisfação a ninguém).

Não adianta tampar o sol com a peneira, a história desse país é extremamente violenta, cheia de episódios vergonhosos, o mito de um povo alegre, pacífico e hospitaleiro é só um mito para cobrir uma mentira, ao menos no que se refere a sua elite política e econômica.

Sempre foi assim, desde 1500.

Já Lula começou lutando pela autonomia sindical, por seus comandados de classe, foi perseguido pela ditadura militar, lutou pela redemocratização e fundou o partido que mais tarde viria por suas mãos governar o Brasil procurando afirmação como nação independente, administrando o pais em favor dos mais necessitados, redistribuindo renda e promovendo crescimento econômico, ainda que tudo muito moderadamente.

Mas nem isso é perdoado aqui.

Odiado pelo complexo financeiro-econômico, altamente exclusivista, ideologicamente burguês no pior sentido da palavra, e por seus representantes da imprensa patronal, é alvo de campanha de cunho moralista nos mesmos moldes do que o udenismo-entreguista promovia contra Getúlio, como se seu partido pudesse e tivesse a obrigação de ser a única santa exceção numa política quase inteiramente corrupta, o que aliás não se restringe apenas ao setor político, é praticamente o padrão nos meios públicos, privados, empresariais, da imprensa, e até esportivos, a maioria cúmplices e partícipes de nossa história infame, qualhada de negociatas e outros crimes de toda ordem, tudo pago com a morte, a dor e a miséria alheia, perpetrado inclusive por amplos setores da velha classe média.

Esse é o Brasil que essa gente cruel quer, não um Brasil movido pela discussão franca de idéias e pela busca do melhor para a totalidade da população, mas um Brasil de dicotomias, de ser contra ou a favor a ações ou determinadas medidas conforme interesses econômicos e de exclusividade, individuais, empresariais ou dessa elite burra e sem alma, sem qualquer empatia em relação aos mais fracos.

É assim muito antes de Getúlio e continua assim depois de Lula.

Que pena.

Luis Nassif

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