Militares percebem que Bolsonaro irá para o lixo da História e optam por Moro

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Para historiador, a esquerda deveria perder a ilusão de que os militares voltarão facilmente para os quartéis. Assista à entrevista

O ex-juiz Sergio Moro recebe condecoração ao lado de militares no governo Bolsonaro
O ex-juiz Sérgio Moro durante cerimônia de entrega de comendas da Ordem do Mérito Judiciário Militar, em comemoração aos 209 anos Justiça Militar da União (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Os militares estão rachados. Uma parte ainda tem a mentalidade atrasada, da Guerra Fria, e apoia os extremismos representados na figura de Jair Bolsonaro. Outra fatia já percebeu que o atual presidente da República irá para a “lata de lixo” da História e decidiu optar pela candidatura da terceira via, capitaneada por Sergio Moro, que tem um prazo para decolar.

A dura carta que o almirante Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, enviou a Bolsonaro em auto-defesa após o presidente insinuar que há corrupção por trás da liberação da vacinação infantil é mais um sinal do natural movimento de “descolamento” do governo por parte dos militares. É o que avalia o historiador e pesquisador Manuel Domingos, em entrevista à TVGGN (assista abaixo).

“Ao que me consta, a hierarquia sinalizou alguns meses atrás ao Bolsonaro que ele não seria respaldado como candidato. Surgem as exceções porque Bolsonaro tem seus apoios dentro do meio militar. Creio que eles têm consciência das dificuldades [na reeleição], e também optariam por Moro. Inclusive teriam dado prazo até o final de fevereiro para Moro decolar, do contrário, ele seria descartado”, pontuou.

“Me parece que o candidato preferencial passou a ser o Moro, mas ao mesmo tempo é uma grande interrogação porque Moro não tem o carisma de Bolsonaro. É difícil imaginar o que vai acontecer”, disse Domingos.

“O que é certeza é que eles farão de tudo para continuar influenciando e conduzindo [a política do País].” Nisto, os militares estariam unificados. “Têm muitas prestações para pagar, dos carros e apartamentos novos que compraram; cuidar dos empregos dos filhos e sobrinhos. Cuidar do sonho dourado… É muita coisa em jogo. Eles não vão largar facilmente a rapadura. O que espero é que a esquerda não continue com a postura de ‘vamos voltar com os militares para o quartel’. Isso é bobagem.”

Manifestação da Anvisa

Para o historiador, a carta de Barra Torres a Bolsonaro é parte do “esforço natural, diante das circunstâncias – ou seja, da perspectiva de Bolsonaro ir para a lata do lixo – uma tentativa das corporações militares de obviamente se livrar de qualquer responsabilidade, se descolar. É nessa circunstância que esse almirante se torna valente.”

Na carta, Barra Torres exige que Bolsonaro mostre provas de corrupção na Anvisa e determina a instauração de um inquérito para apurar, ou retrate-se publicamente pelas ilações que fez.

“A carta dele é uma carta onde ele trás para si a acusação. A rigor, não há uma defesa dos funcionários da Anvisa. Ele [Barra Torres] fez uma autopromoção e certamente isso foi combinado, porque um oficial não se manifesta desta forma sem consultar sua hierarquia. Acho que hoje os militares estão num mato sem cachorro no sentido do que fazer diante desta circunstância. É neste quadro que vejo a manifestação desse almirante.”

A ilusão da esquerda

Para Domingos, a esquerda deveria perder a ilusão de que os militares, num eventual terceiro governo Lula, voltarão para as casernas. Isto não vai acontecer, aposta o pesquisador.

” É preciso que nós não nos esqueçamos. Não há fator de desestabilização maior do que o das forças armadas ao longo da história republicana. Nosso sistema democrático sempre esteve sob ameaça. Vivemos a triste experiência da tutela militar. A definição das forças armadas pelo artigo 142 é um absurdo, é inaceitável. E, no entanto, nos calamos. A esquerda meio que se acovarda, ou então seja desconhecimento. Continuamos sem dominar essa matéria.”

Em um novo governo Lula, o ideal seria redefinir a missão dos militares e fazer investimentos que garantam, de fato, a defesa e soberania nacional.

“Tem que mudar radicalmente a concepção de defesa. As corporações têm que ganhar autonomia em armas e equipamentos. O País está indefeso. Nunca teve defesa e está indefeso, apesar de gastar muito. É obvio que essa defesa só pode ser concebida dentro de um plano de desenvolvimento nacional. Temos ciência, tecnologia, indústria, criação de unidade nacional. Temos que unir o País, a sociedade fraturada. Muita coisa a se fazer. Dizer simplesmente volta para o quartel, sem missão? Vão planejar novas tuitadas”, comentou, lembrando das mensagens disparadas por militares no auge da Lava Jato contra Lula, para pressionar o Judiciário e interferir na política.

Assista:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. Não há falta de missão para as Forças Armadas, há excesso. Desde o fim da ditadura, os governos democráticos vem chamando os militares até pra tirar gato de árvore. Nosso modelo de Forças Armadas é um modelo falido. Não temos conflitos externos, eles têm tempo para inventar os conflitos internos. As Forças Armadas têm funções demais, falta uma função definitiva e de qualidade, digo isso porque a Marinha patrulha até águas interiores, aliás, onde existir um tanque de lavar com água, lá estará a Marinha. Criam-se cargos. Onde tem um caiaque cria-se um Comando. Não é somente a Marinha, foi somente um exemplo.
    Outro fato, as Forças Armadas têm um apetite interessante sobre o orçamento, em todas as esferas, recentemente noticiou-se a captação via Lei Rouanet. A tudo isso tem que ser dado um basta. É fundamental reduzir as estruturas e readequar as missões, a Marinha faz serviço de Guarda Costeira, a Marinha retira óleo se vazar nas praias.

  2. O APOIO A MORO É APOIO A QUEM MANDA NELES(EUA)
    OBS: VCS VIRAM A EXPLOSÃO DE GRIPE OPS QUER DIZER COVID?SE TÃO FALANDO Q É COVIDE ENTÃO É COVIDEEEE UÉ !

  3. Esse é o pior do Brasileiro; o medo!
    O Brasileiro tem medo de milico,principalmente a esquerda única no mundo a ter medo de armas e de possuir uma.
    Em um debate quando consumado o golpe de 2016 tentava explicar o porque aconteceu com amigos Latinos Americanos e tive de ouvir calado e envergonhado a verdade dita por um amigo de Cuba:- “Vocês são os culpados; deixaram acontecer, nem coragem de defender seus milhões de votos tiverem,cassaram a vontade de vocês e vocês sequer reagiram,só sabem lamentar”.

  4. Estão rachados? Ora, não são os militares que não se envolvem? Mentira, eles todos, no governo, ou na ativa, participam, nojentos, gente asquerosa, nada os diferencia do inominável. Diziam-se nacionalistas, será mesmo que foram um dia? São sim, arrivistas.

  5. Se eu fosse o Lula, na manhã do primeiro dia de mandato exoneraria TODOS os militares que estão no governo e criaria uma lei que impedisse que ocupassem qualquer cargo na administração federal para a eternidade.
    Estes abacates podres já deram MUITAS demonstrações que não tem competência para nada, a não ser comprar leite condensado por R$ 80,00 a lata.
    BANDO DE MERDAS INÚTEIS.

  6. Largando ou ficando com o genocida, fica-se com apenas 1 conclusão

    As ffaa são péssimas analistas e, portanto, desnecessárias ao Brasil

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