O mito do renascimento político, comentário de Fernando Leal

Em artigo na Folha de S. Paulo, Fernando Schüller promove ignorância ou má fé, e só servirá para jogar o país no abismo ou em uma solução autoritária

Por Fernando Leal

Comentário no post O mito da “destruição criadora” e do renascimento político, por Luis Nassif

O artigo de Fernando Schüller também me chamou muito a atenção. Primeiro, por que seu entusiasmo, mal disfarçado, pelo ideário que assumiu o poder Brasil ajudam a revelar por inteiro o objetivo maior, que é mesmo o da destruição (que eles chamam de criadora), tanto na política como na economia, passando, claro está, pela educação, pelo meio ambiente, pelos direitos das minorias e pelas relações internacionais. É o desfazer mais do que fazer, como o próprio Bolsonaro definiu nos primeiros dias de governo.

O ponto de partida do que deve ser desfeito é a Constituição de 1988, cujos princípios foram colocados em prática pela experiência social democrata dos governos PSDB e PT, como Paulo Guedes defendia muito antes de a candidatura de Bolsonaro se mostrar viável eleitoralmente.

Mas o artigo também chama a atenção por ignorar, por passar ao largo, sem nenhuma vergonha, por aspectos fundamentais da política. Ignora, para começar, que o parlamento não é um organismo único: são 594 deputados e senadores representando uma ampla diversidade de interesses legítimos (regionais, de classe, de grupos econômicos e sociais etc). Como vão se organizar para assumir a coresponsabilidade?

Também ignora que o debate construtivo se dá sempre a partir de pontos de referência (uma proposta, por exemplo, em relação a qual as pessoas se colocar a favor ou contra). Na política essa referência é o governo, que defende um conjunto de ideias vencedor nas eleições, e a oposição que, grosso modo, reúne os que pensam diferente naquele momento. Na relação com o Legislativo, o Executivo deve obrigatoriamente se organizar para ver suas posições defendidas no parlamento por base que o acompanha. Assim é a democracia.

A ideia de que os parlamentares devem votar a favor das propostas do governo apenas por responsabilidade, pelo interesse do país e assim por diante é fundamentalmente autoritária. Nega a diversidade legítima dos vários grupos políticos. E, na prática, não funciona. Talvez em alguns temas que alcancem um espectro maior de forças políticas e econômicas, como a Previdência.

Ir por esse caminho é ignorância ou má fé, e só servirá para jogar o país no abismo ou em uma solução autoritária.

Redação

2 Comentários

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  1. A Constituição foi estuprada por esses meliantes………

    Reclamaram da única proposta de Haddad que deveria ser encampada por todos, uma nova constituinte, seria mostrar respeito ao povo…..e não essa zorra de qualquer imbecil-zéruela fazer o que bem entende, o que lhe der na telha…….e, se tratando de idiotas, imaginem o baixo nível de suas ideias……

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