O negócio da Lava Jato com a indústria da anticorrupção, por Luis Nassif

Ellen Gracie tentou que a Petrobras cedesse um prédio em Curitiba para abrigar a Lava Jato e levou o pleito para Raquel Dodge, que negou autorização

Assim que cair a ficha da opinião pública, se constatará que o maior assalto cometido contra a Petrobras – em termos de valores – não foi o das empreiteiras, mas da Lava Jato em cumplicidade com a direção do órgão indicada por Michel Temer.

O jogo já está desvendado.

  1. O Procurador Geral da República Rodrigo Janot vai aos Estados Unidos com a equipe da Lava Jato entregar provas contra a Petrobras ao Departamento de Justiça (DoJ) americano. Com essa manobra, tiraram a Petrobras da condição de vítima, para a de ré. Alertei, na época, que essa jogada ainda irá levar Janot a um tribunal civil, para que responda pelo crime de lesa-pátria.
  2. Na nova condição, a Petrobras ficou exposta não apenas a multas bilionárias, como impedida de atuar em novos mercados, vetados pelos Estados Unidos.
  3. O dinheiro da multa foi dividido com a Lava Jato, que efetivamente recebeu e depositou em uma agência da Caixa Econômica Federal aguardando a criação da tal fundação destinada a bancar campanhas, palestras e cursos sobre compliance.
  4. Os principais integrantes da Lava Jato montaram empresas de evento ou se aposentaram para montar escritórios de advocacia especializados em compliance. Dentre eles, o ex-PGR Rodrigo Janot, a esposa do ex-juiz Sérgio Moro, os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima, Deltan Dallagnol e Roberto Pozzobon.
  5. Ao mesmo tempo, a parceria com a nova diretoria da Petrobras abriu espaço para a contratação milionária de escritórios de advocacia americano para trabalhos de compliance, não apenas na Petrobras como na Eletrobras, por centenas de milhões de dólares.
  6. A principal beneficiária da indústria do compliance é Ellen Gracie, ex-Ministra da Supremo Tribunal Federal (STF). Coube a ela ser a interface da Petrobras com a Lava Jato. Nessa condição, procurou pessoalmente a PGR Raquel Dodge, tentando incluir no acordo um edifício da Petrobras em Curitiba – o escritório da Liquigás – para abrigar a Lava Jato. Dodge negou peremptoriamente autorização para a jogada.

No momento, Dodge se empenha em lutar, junto à Justiça americana, para que a Petrobras seja reconhecida como vítima, não como autora.

Provavelmente no dossiê Intercept haverá menções a autoridades na ativa que impulsionaram os escritórios dos quais se licenciaram na indústria do compliance ou das grandes causas.

Aliás, pelo bem da transparência pública, os Ministros Luiz Edson Fachin e Luis Roberto Barroso deveriam abrir informações sobre a carteira de clientes de seus escritórios que ficaram em nome de familiares.

Antes de ser nomeado para o STF e se tornado um juiz vingador, Fachin tinha um escritório acanhado que rapidamente cresceu a ponto de se tornar um dos maiores do Paraná.

Barroso e Marcelo Bretas, juiz da Lava Jato do Rio, chegaram a ir aos Estados Unidos, em uma turnê sobre compliance, visitando grandes escritórios de advocacia interessados (clique aqui) em entrar no mercado brasileiro.

Luis Nassif

19 Comentários

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  1. Tudo bem para eles. A única coisa que tem tornado problema de corrupção no país é ser de esquerda e piora um tanto, se for petista. No mais, é apenas empreendedorismo e gente trabalhando pela geração de riqueza.
    Agora que não colou a história do tal ecoterrorista solitário (interessante o presidente na entrevista de sexta, ter atacado tanto os que trazem dados que incomodam o agronegócio), será que a veja não tendo como sair da lama em que foi metida, o TIB vai passar para outra semanal? Carta Capital tem equipe e competência.

  2. Nassif, você tinha que participar da equipe que tem acesso ao banco de dados do The Intercept. Você saberia procurar coisas, que nenhum outro jornalista saberia.

    1. A memória histórica dos fatos é um privilégio de poucos. Com a memória histórica e a compreensão política por trás dos fatos o jornalista percebe melhor e mais rápido onde estão as conexões que dão profundidade às revelações e conformam os ilícitos cometidos pela gangue da Lava Jato e seus cúmplices. Parabéns pela observação, Aníbal Vilela – de fato, se Nassif pudesse ajudar na análise do material entregue aos Intercept, mais revelações e mais comprovações já estariam à disposição da população.

  3. Nassif, impressionante e admirável o alcance de sua visão e a sua capacidade de síntese. Há como vc ajudar o Intercept de forma mais direta?

  4. Antes do comentarista Aníbal Vieira(21/07/2019,11:26) sugerir a inclusão de Nassif nas vísceras do dossiê do Gringo de Ouro,eu o fiz,acho que na segunda vazada da Vaza Jato.Nenhum outro jornalista brasileiro tem esse poder ou faro de desvendar patifarias,molecagens e capadocagens como Luis Nassif.Não é de hoje,apesar de nossas arengas,que afirmo peremptóriamente(ele me tomou emprestado no texto de hoje),que Nassifão para os íntimos dele,com seu ar de alguém do filme o Estranho no Ninho,é o mais belo jornalista de sua geração.Se Nassif estivesse com esse tesouro nas mãos,o trio Fachin/Barroso/Fux já teriam pedido asilo na embaixada das Filipinas.Mais,um mandato de extradição sairia para a Itália ate chegar a Veneza,e o maior vendedor de livros da lista da Veja(não passava de uma dúzia que ele mesmo comprava),já estaria vendo o sol nascer quadrado.O clã Moro ficaria onde está.E,muita gente acima de qualquer suspeita,acertariam conta com Satanás.

  5. Prezados Nassif e camaradas

    Parece que o problema é mundial, e o marco zero das patifarias são os promotores de NY. Aqui, por mimetismo, subdesenvolvimento e oportunismo (Que podemos juntar tudo no macaquismo do qual nossa classe dominante é viseira e dependente) os pilantras viram um vao de oportunidade

  6. Ellen Gracie foi do conselho administrativo da JBS junto com Meirelles. Se não estou enganada, também teve um romance com FHC. Essa entende de articulação.

  7. A parceria Nassif e Intercept seria extraordinária. Luiz Nassif não possui a vaidade e muito menos sofre de narcisismo intelectual como Reinaldo Azevedo. O acordo com a Bandnews se deve mais ao fato do alcance da audiência e menos da qualificação de seu âncora no programa “É da Coisa”. Certamente seria uma força a mais na divulgação da VazaJato com uma competência jornalística sem comparação.

  8. Eu vou pedir apenas que o GGN simplifique a a operacaoboara inscrições. Não sei se eu sou muito lerdo ou o que acontece, mas não consigo me inscrever…help….

  9. A maneira como a direção pós golpe da petrobrás “aceitou” a condição de empresa desonesta foi estranha ao extremo. CRIME LESA-PÁTRIA.
    Como o sucesso da Petrobrás, principalmente com o pré-sal e as virtudes da sua exploração rápida, estava ligada ao governo PT, preferiram atacar a própria empresa como se ela fosse o PT. Aquilo na verdade mostra que o sucesso da Petrobrás/PT era o que devia ser destruído, e a globo, inimiga histórica da cia, viu aí a oportunidade para tentar destruir os dois.
    O levantamento desta caso levará para a cadeia todos estes bandidos citados pelo Nassif e alguns mais. CADEIA é o mínimo.
    As coisas estão se desenrolando para mostrar a excelência do governo LULA e Dilma, que não sei por que até o Nassif resolveu, por que estava “moda”, atacar.
    Mas que venha a cadeia e a escandalização correta do que estes super bandidos fizeram.

  10. Esse judiciário brasileiro enoja as piores tiranias do mundo não entendo como ainda tem brasileiros indo pra rua defender esses bandidos.

  11. Asqueroso é estarrecedor, novamente ?
    LN, será possível investigar o quanto está galera do mau ? deve ter embolsado também com as privatizações e com as quebras das empreiteiras e a venda das mesmas ao mercado externo?

  12. Com a desastre gigante de Brumadinho, a Vale é a bola da vez:
    Ex-STF Ellen Gracie trabalha para a Vale e Ex-PGR Rodrigo Janot trabalha para os condomínios de Macacos contra a Vale. Ou seja, ju$$ticeiro$$$

  13. A culpa é sempre dos estagiários. Nossos juízes são quase todos Deuses ou semideuses. O máximo que pode acontecer com eles é serem aposentados com salário integral e manter privilégios.

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