Singer: Lava Jato vaza delações para inflar protestos convocados pela direita

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O uso de delação já conhecida de Marcelo odebrecht como se fosse um vazamento fresquinho, às vésperas da manifestação pró-Lava Jato marcada por movimentos de direita para o domingo (26), reafirma a tese de que a imprensa ajuda a força-tarefa a criar motivos para levar pessoas às ruas. Mesmo se for preciso desrespeitar o lema de que “notícia velha não vende”, aponta o cientista político André Singer.
 
Em artigo na Folha deste sábado (25), Singer lembra que em março de 2016, às vésperas do impeachment de Dilma, a Lava Jato também provocou uma série de vazamentos à imprensa com o intuito de criar o clima ideal para os protestos de rua.
 
O GGN, à época, fez um levantamento exclusivo em cima da cobertura midiática de toda a Lava Jato até aquele momento e mostrou que a operação nunca vendeu tantas capas de jornais como nas semanas que antecederam o impeachment. Leia mais aqui.
 
Por André Singer
 
Folha
 
Será que vazamentos visam manifestação de amanhã?
 
Sou avesso a teorias conspiratórias. Parto do princípio de que processos complexos, como os que vigoram na sociedade contemporânea, são sempre resultado de múltiplos fatores. Nenhum centro consegue controlar o conjunto deles.
 
No entanto, chamou-me a atenção o novo vazamento das declarações de Marcelo Odebrecht ao TSE em 1º/3 ocorrer às vésperas das manifestações programadas com o intuito de defender a Operação Lava Jato em 26/3. O estranhamento decorre de que o conteúdo principal do depoimento já havia sido divulgado, nos mesmos termos, quase um mês atrás.
 
Pode-se ler em “O Estado de S. Paulo” de 2/3/2017 o que Marcelo dissera ao ministro Herman Benjamin. Segundo o primeiro vazamento, Odebrecht afirmara que boa parte do doado pela empresa à chapa Dilma/Temer ocorrera por meio de caixa dois e “a petista tinha dimensão da contribuição e dos pagamentos, também feitos com recursos não registrados ao então marqueteiro do PT João Santana”.
 
Agora, a mesma afirmação volta a ganhar enorme destaque, meramente porque a transcrição do que fora gravado em 1º/3 chegou a um site antipetista e, em seguida, a todos os grandes veículos de comunicação, no estilo do que foi apontado pela ombudsman da Folha (coletiva em off) no domingo (19). O lema jornalístico de que notícia velha não vende caiu em desuso?
 
Não se trata de diminuir a importância do supostamente revelado por Odebrecht. Ele fala de edição de medida provisória com expectativa de retribuição pecuniária, conversa sobre recursos com o então vice (hoje chefe de Estado), conhecimento da então presidente sobre pagamentos, para mencionar apenas alguns aspectos.
 
Embora não saibamos o que disso tudo está amparado por provas —sem as quais é apenas a palavra de um contra a palavra de outro—, reitero o que tenho dito e escrito: os personagens e instituições envolvidos precisam desde logo oferecer explicações detalhadas à opinião pública. Insistir no sintético bordão de que tudo foi feito dentro da lei é cada dia menos suficiente diante de relatos como o de Odebrecht. A exigência vale tanto para direita e o centro quanto, evidentemente, para a esquerda.
 
Compreendida a premissa acima, fica a hipótese de que o timing desses vazamentos esteja relacionado à necessidade de levar gente às ruas no domingo, como aconteceu em março de 2016 e acabou por ser decisivo para o sucesso do impeachment em abril do mesmo ano.
 
*
 
Não posso deixar de registrar que a aprovação na quarta (22) de um projeto de terceirização engavetado desde 2002 escancara o forte viés antitrabalho da maioria formada para derrubar a ex-presidente Dilma Rousseff. 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. singer….

    A esquerda vai continuar com este discurso emboloreado? As pessoas não querem mais serem roubadas. Pagar bilhões em impostos para descobriri Pedrinhas e Alcaçuz depois de 30 anos de redemocrratização e partidos de centro esquerda. Querem um Estado que funcione minimamente. Vamos arar de tanta hipocrisa!!! Isto nem PSDB nem PT conseguiram ou buscaram realizar. Não passaram de párias na História Nacional. E agora Serra, ex-UNE. Aloisio Nunes, militante de guerrilha comunista viraram direita? Que discurso medíocre?!  Era esta a promessa de país nos longinquos anos de 1970/80?

  2. Piquenique

    Mais um piquenique de domingo, com gente cheirosa, mulher mostrando os peitos, casal levando empregada e etc.

    Trata-se de um filma nós aqui Galvão!

    Haverá pato amarelo?

  3. O inacreditável é que se use

    O inacreditável é que se use um depoimento que incrimina profundamente o despresidente da república para… inflar manifestações (protestos? nâo, não são protestos) cujo objetivo é… apoiar politicamente o despresidente.

    É a institucionalização da journée des dupes!

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