Em defesa da universidade pública paga, por Marcos Fernandes

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – Em artigo publicado no Centro de Política e Economia do Setor Público, Marcos Fernandes defende que a universidade pública cobre mensalidade dos alunos que estão em camadas sociais com condições de arcar com os custos do ensino superior. Segundo ele, a UNE deveria repensar a defesa dessa proposta como forma de tornar a sociedade mais justa do ponto de vista social. O autor ainda sugere que, no modelo atual, os pobres estão transferindo recursos para sustentar os filhos dos ricos.

Por Marcos Fernandes

Do CEPESP (Centro de Política e Economia do Setor Público)

“De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”

Karl Marx

“Educação popular igual? Que se entende por isto? Acredita-se que na sociedade atual (que é a de que se trata), a educação pode ser igual para todas as classes? O que se exige é que também as classes altas sejam obrigadas pela força a conformar-se com a modesta educação dada pela escola pública, a única compatível com a situação econômica, não só do operário assalariado, mas também do camponês? ‘Assistência escolar obrigatória para todos. Instrução gratuita’. A primeira já existe, inclusive na Alemanha; a segunda na Suíça e nos Estados Unidos, no que se refere às escolas públicas, O fato de que em alguns Estados deste último país sejam ‘gratuitos’ também os centros de ensino superior, significa tão somente, na realidade, que ali as classes altas pagam suas despesas de educação às custas do fundo dos impostos gerais.”

Karl Marx

“A educação é um bem público a que todos têm direito independente do nível de renda”

Carina Vitral (Presidente da UNE)

Qualquer que seja o novo governo, um eleito em 2018 com o final de mandato da Presidente Dilma Rousseff, ou um eleito diretamente em 2016 ou o de transição se o impeachment for consumado, há vários problemas de ineficiência e injustiça nas políticas públicas que devem ser estudados e debatidos pela sociedade com transparência.

Um deles é a neutralidade da carga tributária total (o ideal é que seja progressiva) e, outro, a regressividade do gasto público. Aqui pouco se discute o fato de que há políticas que transferem recursos de “pobres” para “ricos”. O Brasil tem desigualdades graves: desigualdades de saída, tais como oportunidades mal distribuídas, e também iniquidades na posse de ativos, habitação, capital humano, capital social, capital cultural, saúde, recursos financeiros e de acesso ao crédito para investimento. Essas desigualdades consubstanciam-se nas de chegada, muitas vezes reproduzindo-as em termos intergeracionais.

A eficiência alocativa de uma política pública deve ser julgada não somente por critérios de custo-benefício, ou pela maximização de cada real investido em, por exemplo, políticas de educação e de combate à pobreza, mas por critérios normativos – ou seja, concepções de justiça.

Seria inadequado em termos de maximização do bem-estar social (neoutilitarismo) e por um critério seniano (Amartya Sen) de justiça um programa de renda mínima universal no Brasil. Primeiro, por ser um país de renda média para média alta e com um Gini muito ruim ainda (desigualdade), tanto de renda, como de riqueza, seria pouco razoável um brasileiro que está entre os vinte mais ricos(as) do mundo ganhar a mesma renda mínima universal que um indivíduo que ganha salário mínimo, ou pior, um morador de rua com CPF cadastrado num hipotético programa como este.

Do ponto de vista neoutilitarista, o bem-estar social não seria máximo e esta política não seria eficiente, pois, por exemplo, 300 Reais a mais para o morador de rua tem uma utilidade muito maior (gera um ganho de bem-estar) do que para o brasileiro na lista da Fortune. Se o governo foca o gasto no morador de rua, o bem-estar social total será maior.

Além disso, renda mínima universal é muito caro. Num país de renda alta e com um Gini mais razoável, menor desigualdade, tal programa cumpre o papel do critério republicano meramente formal de tratar iguais como iguais.

No estado norte-americano do Alasca há renda mínima universal, caso frequentemente citado pelo Senador e colega de FGV Eduardo Suplicy. Mas o Alasca é rico, a desigualdade razoável (0,42 Gini) e a população de humanos bem modesta. Evidentemente, caso se ampliasse e o direito ao bolsa-urso, bolsa-alce e bolsa-salmão isso inviabilizaria o programa. Logo, o problema da escassez – primeira aula de introdução à economia – é minorado no antigo território do Império Russo.

O critério econômico em sociedades desiguais exige uma outra abordagem: focalização da política pública naqueles que realmente mais precisam, na base da pirâmide sócio-econômica. É razoável supor, portanto, uma ideia de justiça em políticas públicas para países como o nosso, onde a centro-direita e a centro-esquerda se aproximem.

Investimento em capacitações, e no Brasil isto envolve educação, saúde e transferir o mínimo de riqueza, seja com Minha Casa, Minha Vida e com microcrédito para investimentos produtivos em micronegócios, faz-se necessário não somente para romper aos poucos armadilhas de pobreza intergeracional, mas para conferir liberdade econômica, que é a real, mesmo que somente do ponto de vista instrumental.

Tanto um critério social democrata de centro-esquerda (Rawls) como um liberal clássico de centro-direita (Sen) convergem aqui. O trade-off entre liberdade e igualdade se dilui sutilmente. A aproximação nas visões de justiça pode nos ajudar a elaborar políticas públicas mais eficientes e mais justas, do ponto de vista da maioria da sociedade, já que justiça é um conceito, por definição, ideológico e normativo, mas que não estapeia os fatos – ou pelo menos deve considera-los.

É dentro deste contexto que proponho mostrar que universidade paga por quem pode fazê-lo é justo do ponto de vista social. Uma visão estritamente idealista, jurídica, formal de direitos republicanos esconde várias armadilhas que, ironicamente, implicam injustiça distributiva grave a se perpetuar.

Por que a educação fundamental e o ensino médio devem ser gratuitos? Devem sê-lo, pois geram externalidades positivas consideráveis: benefícios para o indivíduo aparecem, mas os benefícios maiores são para a comunidade. Os retornos sociais da educação média e fundamental são maiores do que os retornos privados. Isto sem contar que educação é o pilar básico para a construção de capacitações e conferência de funcionalidades. Não somente capital humano tem impacto sobre a liberdade instrumental dos indivíduos, transformando-os em agentes, e não pacientes passivos, como sobre liberdades substantivas, a culminar na Democracia e na qualidade da mesma.

Já o ensino de terceiro grau, superior, confere maiores retornos aos indivíduos do que para a sociedade: os retornos privados são maiores que os sociais. Logo, algo deve ser cobrado. Nos MBA e pós-graduação lato sensu das universidades públicas, inclusive os mestrados profissionais, o retorno privado é sensivelmente maior que o social: algo deve ser, igualmente, pago por quem faz este tipo de curso.

Mas, se não deveria haver polêmica sobre o pagamento desses cursos, no caso da graduação também deveríamos ter um sistema onde cada qual deveria pagar de acordo com a sua capacidade.

Recentemente, indo ao encontro do que detalharei como minha posição mais abaixo, ao final de 2015 o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) apresentou uma proposta de lei suplementar (PLS 782/2015) a ser analisada pelas comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e de Educação, Cultura e Esporte (CE).

Apesar do senador em questão representar tudo ao qual me oponho em termos de direitos civis privados, legalização de maconha e cocaína, defesa radical da laicidade do Estado, e também a despeito de seus interesses na educação superior privada, sua proposta merece atenção.

Pela proposta, estudantes de universidades públicas com renda familiar superior a 30 salários mínimos deveriam pagar mensalidades. Em que pese o equívoco de que, pelo projeto, o cálculo da mensalidade levaria em consideração o custo médio per capita dos alunos matriculados no mesmo curso em universidades particulares e não públicas, a proposta tem seus méritos.

Equivocada o é, pois, as universidades públicas fazem pesquisas e em geral possuem professores mais caros, mais bem pagos. O ideal seria pegar, para comparar custos, as Universidades e Instituições de Ensino Superior (IES) privadas que têm excelência, como temos nas áreas de humanas, odontologia, medicina e engenharia – e também abrir as planilhas das públicas.

O Senador argumenta que os estudantes das famílias mais ricas, nas federais, eram 36,4% em 2014. Em alguns cursos, como os de engenharia, medicina, direito, economia, arquitetura, administração, na Universidade de São Paulo, ouso dizer que a parcela é maior. Digo, pois a USP é tudo menos transparente no trado de suas informações que são de natureza pública. Comentarei também abaixo uma pesquisa, mais acurada, que trás os números – gritantes – da desigualdade uspiana.

No projeto, o senador coloca (…) “a despeito dos esforços para reverter essa contraversão da lógica inicial, a realidade mostra que isso foi insuficiente. A proporção de estudantes pertencentes ao quinto mais pobre da população, com renda per capita média de R$ 192, era 1,2% em 2004 e chegou a 7,6% dos alunos de faculdades públicas em 2014.”

Qual seria a posição da União Nacional do Estudantes (UNE) sobre o PLS 782/2015 senão a baseada em nenhuma reflexão ou argumento? “Para a presidenta da UNE, o projeto mexe com um direito garantido na Constituição Federal. ‘A educação é um bem público a que todos tem direito independente do nível de renda’, defendeu Carina [Presidente da UNE Carina Crivella].”

Marx, em Crítica ao Programa de Gotha, oferece-nos um tratamento lúcido e atual sobre o tema, não somente sobre a questão da universidade pública paga, mas sobre tributação justa e gasto público justo, dentro de uma concepção que abrangeria o comunismo e a social democracia – e, no meu entender, a centro-direita seniana.

Aliás, trata-se mais de uma carta onde Marx enuncia algumas análises críticas ao programa do Partido Social Democrata Alemão. É um dos poucos textos onde ele pensa como seria a revolução, a transição para o socialismo e, ao final, para o comunismo. Daí a importância de Gotha, pois Marx fala de problemas reais e bem práticos de políticas públicas.

O princípio da progressividade do imposto de renda obedece ao princípio marxista – nós economistas aprendemos isso, mesmo sem saber que a frase é dele, nas primeiras aulas de tributação no curso de Finanças Públicas: “de cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”.

Mas também aprendemos que é desejável progressividade no gasto, em economias onde há desigualdades graves como a nossa. A reação da UNE, mas a do também corporativista e sindicalmente comprometido Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES) e da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), demonstra ignorância sobre fato grave. Giovanni Frizzo, coordenador do Grupo de Trabalho de Política Educacional do ANDES-SN, criticou o projeto. Para o docente, cobrar anuidade de qualquer estudante afronta o caráter público da educação.

Asserta Frizzo, com excesso de retórica e sem nenhum senso crítico informação econômica elementar: “(…) a compreensão do ANDES-SN é de a cobrança de mensalidades da forma proposta no PLS 782/2015 não é o caminho para diminuir a desigualdade social. Pautamos, por exemplo, a tributação progressiva de renda e a taxação das grandes fortunas. O que significaria que a parcela da população com maior renda pagaria mais impostos, ao contrário do que ocorre hoje. Com esse recolhimento de impostos é possível garantir o acesso universal, público e gratuito ao ensino superior”.

Os erros de Frizzo – e comum a estas análises de uma “certa esquerda” que vive no mundo da fantasia do serviço público em universidades públicas – são dois: (i) ninguém está falando que a universidade pública deve ser sustentada por mensalidades e (ii) pouco importa – e eu apoio – maior progressividade na arrecadação se não há progressividade no gasto. Isso é um tanto trivial, pois não adianta dar com uma mão e tirar parte do que se deu, com a outra.

Podemos imaginar um sistema onde os alunos que podem pagar ajudam, por meio de um fundo de amparo solidário, aqueles que não podem pagar e que, por vezes, não possuem meios para tirar cópias de material, comprar um livro, comer. Há algoritmo seguro para analisar perfil de renda e, eventualmente, casos especiais. O fundo de bolsas da Fundação Getulio Vargas, onde há gratuidades sociais (e por mérito) e fundo de bolsas a juro zero, usa este sistema desde 1954.

Hoje, com informatização e com o cerco da receita usando até redes sociais para pegar a “ostentação” dos sonegadores é muito mais barato e eficiente, além de transparente, construir um sistema desta natureza, como banco de dados e algoritmo de análise.

A ironia disso tudo é que de UNE, passando pela surreal ANPG – haja corporativismo – e chegando no ANDES (corporativismo cristalizado,Premium), todos se enrolam na bandeira do Brasil e dos pobres para defender seus interesses estritamente políticos e corporativistas, em parte. Da outra, as lideranças talvez com certa inocência revelam sua ignorância perante os dados e reiteram visões reacionárias de justiça, tais quais expressas no segundo mote de Marx ao início deste.

Mas, veja-se um caso exemplar (mas negativamente exemplar) da USP.Sergio Firpo, do Insper,  estimou estes dados que mostrarei.

Metade dos alunos ingressantes na Universidade de São Paulo advém dos 20% do topo da pirâmide de distribuição de renda do Brasil. Como a USP não é transparente e não divulga os dados publicamente, a Folha de São Paulo solicitou e eles foram enviados. Firpo usou as informações dadas pelos alunos que ingressaram via vestibular da FUVEST em 2014. Cruzando com os dados da população, via Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), viu-se que:

– 65,4% cursaram todo o ensino médio em escolas privadas;
– usando os critérios do ProUni, 60% dos ingressantes deveriam pagar mensalidade
– Entre os 60%, 29,3% têm rendimento per capita mensal superior a 3 salários mínimos, o que os colocaria fora do programa de bolsas para as faculdades privadas.

“A luz do sol é o melhor desinfetante”, afirmação clássica do ex-juiz da Suprema Corte Americana, Louis Brandeis, tem várias aplicações. As universidades estaduais e federais devem coletar e abrir os dados de renda de seus alunos – e seus custos. Políticas públicas demandam dados e avaliações.

Por outro lado, a “esquerda” no país fecha-se ou no corporativismo, ou numa visão de equidade que desconhece escassez de recursos, eficiência e justiça distributiva. Precisamos contribuir para o debate, jogando a luz do sol para que a sociedade veja, entenda, como nossas políticas públicas, a começar pela universidades públicas gratuitas, são injustas, regressivas e onde “as classes altas pagam suas despesas de educação às custas do fundo dos impostos gerais”. Marx bem lido faz falta.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Eu fiz meu segundo curso

    Eu fiz meu segundo curso universitário em universidade pública, ainda solteiro e já empregado. Tinha plena condições de pagar uma mensalidade.

    Até porque eventuais mensalidades em universidades públicas seriam bem menores que nas privadas, já que não tem por objetivo lucro nem retorno do capital investido em infraestrutura. Talvez nem os salários dos professores funcionários públicos fossem incluídos nas mensalidades.

    Mas o que me chamou a atenção foi um lista que circulou no início com os nomes dos colegas onde havia os endereços. Todos em bairros nobres, de onde vinham em carros novos.

    Se por acaso um aluno não tiver condições, que se dê bolsa. Mas é muito injusto que um aluno que tenha condições, na verdade mais que condições, seja filho de um empresário ou usineiro, não pagar nada.

  2. Por que entao nao aumentar os

    Por que entao nao aumentar os impostos dos mais ricos? Desse modo o custeio vai ser feito pelos mais ricos e pela sociedade como um todo.

    O aluno rico sabe que esta la e esta pagando mais impostos que o seu colega pobre.

    A educacao é praticamente o unico caminho de ascensao social. A partir do momento em que se cobra mensalidades existe o risco de tirar essa que é a unica oportunidade de ascensao social.

     

    1. Basta mudar as regras do Imposto de Renda

      Os gastos com educação podem ser abatidos do IR até um certo limite. Se querem que os ricos paguem pela educação, então é só acabar com o abatimento dos gastos com Universidades Privadas no IR. Se estão na Universidade privada é porque podem pagar, quem não pode tem bolsa. Se a Universidade Pública for paga pelos ‘ricos, com as atuais regras do IR, o dinheiro em grande parte voltará para as mãos deles atavés do abatimento no IR. Portanto se o problema fosse falta de dinheiro a proposta não resolveria nem criaria justiça distributiva sob qualquer critério.

      O mistério é o porque da difusão dessa proposta, se quem a fez sabe disso.

    2. Escuta meu caro Marcelo. Tu

      Escuta meu caro Marcelo. Tu estas parecendo tolo.Não te deste conta de que é exatamente isto que esse governo golpista veio trazer. Eles não virão para melhorar a vida do povo. Eles querem melhorar primeiro a deles própria- olha o Tamer, o Aécinho do Pó, o Cunha louco; depois eles vão melhorar os bancos. Se em 2018 houver realmente eleições, o que é até pouco provável, eles vão fazer qualquer coisa para sairem vencedores. Aí sim, eles entregarão o restante das nossas riquezas as grandes corporações e ao final ainda nos restará uma grande dívida com o FMI, pois o Tamer já, já estará indo com o pires nas mãos pedir ao FMI alguns milhões de dólares, para de novo distribuir com os seus cupinchas que venderam a ele o título de Interino.

      M.Helena Almança 

  3. Quem é Carina Crivella?

    “defendeu Carina [Presidente da UNE Carina Crivella]”

    A presidente da UNE e atual candidata à prefeita de Santos SP, chama-se Carina Vitral, “Carina Vitral Costa (born July 6, 1988 in Santos)”

    Parece que alguém está enganado quanto ao nome!

  4. Marx mal lido vira até neoliberal!

    Nada como citar Marx fora de contexto para defender o contrário do que ele escreveu.A arte de citar é uma forma de demonstrar o que não se conhece….

    O princípio que Marx coloca no Programa de Gotha seria aplicável ao periodo de trasição ao comunismo, após a revolução, ou seja,supõe uma mudança funtamental na estrutura econômica.  Quem vive de mais valia se apropria do resultado da capacidade de outros sem contribuir em nada com a própria capacidade. O princípio por isso só poderia ser aplicado se todos contribuissem com a sua capacidade, o que significa o fim da propriedade privada dos meios de produção. Portanto, do ponto de vista da obra de Marx, não tem nenhum sentido aplicá-lo para a sociedade atual como principio de justiça distributiva.

    Pode se discordar de Marx,da teoria da revolução ou da mais-valia, mas distorcê-lo para transformá-lo em um liberal como Sen ou Rawls ou até em um neoliberal é um ato de má-fé intelectual. Ou talvez, o autor não tenha lido Marx direito…..

  5. Esse é o tipo de proposta que

    Esse é o tipo de proposta que me deixa possesso. É a típica falta de visão global da realidade orçamentária, educacional e de renda do país.

    O sujeito diz que os pobres estão sustentando os filhos dos ricos. Mas as universidades são públicas e gratuitas, ou seja, admitem qualquer um (independente de qualquer coisa) que passe no exame admissional. A pergunta aqui é: por que só os filhos dos ricos passam no exame (FUVEST, ENEM, etc.)? A resposta é simples: porque há sub-investimento na educação básica pública, o que compromete a sua qualidade. Dizem que dinheiro não faz milagres, mas com certeza teremos um salto qualitativo monumental se o salário do professor for equiparado ao do médico, como é praticado em qualquer país que se deseja civilizado. E aí chegamos ao tutano do problema. Os desatentos dirão: “mas não há dinheiro para isso…”.

    Na minha visão, toda e qualquer discussão é perfumaria (inclusive essa que o articulista coloca) se não passar por uma questão primordial: o serviço da dívida pública brasileira (!!!).

    Dizem que não há recursos, mas estamos pagando em torno de um trilhão de reais por ano (R$1.000.000.000.000, ou mil bilhões de reais, ou um milhão de milhões de reais) no serviço da dívida pública, enquanto investimos em torno de 60 bilhões de reais anualmente em educação. É de uma desproporção revoltante. A riqueza da nação está sendo impiedosamente sugada, e de repende surgem esses “experts” que querem resolver um problema secundário deixando intacto o primário.

    Enquanto nós não fecharmos o país para balanço, a fim de que resolvamos de uma vez por todas o problema da dívida pública, qualquer dessas “propostinhas” será desonesta, caolha e, inevitavelmente, ineficaz.

    Se queremos que as discussões sobre as políticas públicas deixem de ser mera perfumaria e passem a ser relevantes, devemos fechar consenso em torno de uma bandeira: PELA ABERTURA DA CAIXA PRETA DA DÍVIDA PÚBLICA, E PELO DESMONTE DE SUA BOMBA-RELÓGIO!

    Pronto, falei.

  6. Esse cidadão fica falando em
    Esse cidadão fica falando em Marx. Se fosse a sério deveria estar articulando uma revolução. Mas não, serve pra tentar passar um verniz esquerdista nessa barbaridade de se cobrar mensalidade em universidades públicas. Simplesmente ridículo

  7. Tremendamente superficial.

    Contra-argumentos rápidos:

    1. A elite e, em grande parte, a classe média alta não põem seus filhos nas universidades públicas brasileiras. O distintivo social agora é estudar no exterior.

    2. Se houver cobrança de mensalidade dos alunos cujos pais, em tese, possam pagar, logo viram algumas consequências:

    a) Um grupo achará que possui mais direitos porque paga, enquanto outros não;

    b) A liberdade de escolha dos filhos da classe média poderia sofrer restrições, os pais dirão “eu pago, eu escolho o curso”;

    c) Será um desestímulo para que a classe média mande seus filhos para a faculdade pública paga, opções como a boa faculdade particular se tornarão competitivas, havendo redução da participação da classe média (tradicionalmente mais ativa politicamente e formadora de opinião) haverá queda do ensino oferecido (lembrar o que ocorreu com a saúde pública e o restante do ensino público quando houve migração da classe média).

    3. A tentativa de corrigir a regressividade do papel do estado brasileiro (que arrecada proporcionalmente mais dos mais pobres) e que praticamente isenta de tributos a elite (exemplo: isenção de IR sobre dividendos e juros sobre o capital próprio) e a abastece com: subsídios, juros sobre a dívida pública, empréstimos; através da cobrança de mensalidade nas universidades públicas  é, para falar o mínimo, ridícula.

  8. Marcos Fernandes? Quem?

    Muito me surpreende o GGN publicar a opinião desse cara. Só falta postar o contador de estória Villa…

    Para quem nunca ouviu falar do tal Marcos Fernandes, vejam o que ele estava falando há um ano.

    ***

    Marcos Fernandes: bater panelas é justo e necessário (14/08/2015)

    https://cepesp.wordpress.com/2015/08/14/marcos-fernandes-bater-panelas-e-justo-e-necessario/

    Confesso que tenho um tanto de vergonha em bater panela dado que não me identifico com muitos que o fazem, mas creio que estou errado. Explico-me.

    Em campanha, a presidente e o PT prometeram o oposto do que foi entregue. Inflação fora de controle, gestão do setor de energia equivocada, descongelamento de preços administrados (correto, mas fatal em suas consequências), má gestão do setor de petróleo, desenho equivocado do contrato do pré-sal, energia (área de formação da presidente) e nos Fundos de Pensão estatais, desemprego, perda de conquistas, sensação de insegurança. Isso sem falar na corrupção na Petrobrás, cuja CEO é Dilma, bem como agora aparecendo na Eletrobrás.

    O programa do PT de 6 de agosto, por exemplo, foi uma mistura de dissonância cognitiva, autoengano, ignorância, tortura dos fatos, com uma pitada de arrogância. Diante disso entendemos bem o programa do humorista britânico John Oliver, no qual, em comentando o caso Petrobrás e os panelaços, bate panelas ao final. Meus amigos correspondentes estrangeiros, muitos de esquerda, estão perplexos com Dilma e o PT. Não é por menos. Uma vez reeleita, Dilma não admite que errou, não pede desculpas para a nação; o presidente do partido parece não viver no mesmo país que nós. A lista é grande.

    Mas podem argumentar que as pessoas que batem panelas são “de direita”, “classe média coxinha”. Em parte, são, e elas têm o direito de pensar e agir livremente. Teorias conspiratórias e maniqueísmos andam juntos. Lembro-me da segunda grande manifestação em São Paulo em 2013: uma amiga petista (sim, tenho amigos petistas e eleitores convictos de Dilma, poucos…que sobraram…dão um trabalho!) de cara me manda uma mensagem…”golpe em andamento, direita nas ruas”. Jesus, quanta assimetria entre a realidade e a imaginação conspiratória.

    Por exemplo, o colega de Fundação Getúlio Vargas e cientista político, Sérgio Praça, em seu blog “Política com Ciência” (e digo eu, sem crença, mas fatos), revelou um dado importante sobre o perfil dos participantes dos protestos de 2013. Matthew Winters e Rebecca Weitz-Shapiro, em artigo acadêmico publicado ano passado no Journal of Politics in Latin America, mostram que (i) nos protestos os cidadãos não se identificavam com partidos e (ii) os alinhados com do Partido Verde PV e com PSOL eram mais numerosos que indivíduos da direita politicamente organizada.

    Algo semelhante ao autoengano conspiratório aparece nas pseudoanálises de alguns intelectuais (que ignoram dados, modelos e preferem crendices infundadas). Imaginam que as pessoas são manipuladas por oráculos chomskynianos. Venhamos e convenhamos, numa democracia de massas, todos somos, em algum momento, massa mesmo e, por vezes, elite. Explico: como economista sou elite, assim como filósofo da ciência, que seja. Logo sei mais do que os outros e sou mais bem informado e formado (nestes campos). Mas na hora em que o Congresso vai discutir transgênicos, células tronco, sou massa, preciso ler, me informar com biólogos que pensam, se possível e desejável, de forma diferente a ponto de poder tirar minhas conclusões se me posicionar politicamente como eleitor a favor ou não de uma lei.

    Os formadores de opinião, biólogos e economistas, cientistas políticos, juristas, engenheiros, todos os profissionais, usam os meios de comunicação – como o faço agora – para formar opinião. Cabe ao cidadão discernir  entre o que falamos e os fatos. Educação crítica faz falta neste momento e sabemos como caro isto é ao Brasil, posto que mesmo entre pessoas ditas “de elite” o maniqueísmo que separa o mundo entre petralhas e coxinhas prevalece. Mas este é o eleitor que temos.

    Muito bem, os paneleiros – que vão de Moema a Marsilac, de Pirituba a Itaquera agora (ai santo autoengano!) não precisam, como nós, saber de tudo: eles assistem televisão, leem notícias no smartphone e analisam – tudo que foi prometido numa eleição sanguinolenta, dominada por marqueteiro vendedor de biscoito e não por debate, não é entregue (no delivery, afinal não foi tudo marketing mentiroso!?).

    Ou o intelectual orgânico do PT (parece-me que não há mais isto, a cúpula do partido é medíocre, ao contrário do passado) acha que as massas são inteligentes, esclarecidas e iluminadas superando a alienação burguesa somente quando votam em Dilma e no PT ou ela/ele me lembra um economista famoso que, diante do fato de que sua teoria era contrariada pela realidade, proclamou em bom tom, bradando “a realidade está errada!”.

    Mas ao início deste artigo coloquei que tenho vergonha de panelar (acabei de criar o verbo) dado que não me identifico com muitos que o fazem, mas estaria errado ao agir assim. Estou mesmo, pois irei para a rua e baterei, panelarei. Afinal, não é porque alguns participantes são preconceituosos, ignorantes e arrogantes à direita que vou me privar de dizer: basta de mentira e salto alto. Afinal, muitos à esquerda que não batem panelas e não vão às ruas compartilham os péssimos predicados acima.

     

     

     

  9. universidade pública paga

    Este artigo ignora que hoje metade das vagas das universidades federais é composta por alunos cotistas. A maior parte das vagas da outra metade é de uma classe média que teria muita dificuldade por pagar os custos de uma universidade decente. Por fim, o pagamento por uma minoria não resolve os problemas de financiamento da universidade. Lembro que universidade, não é só ensino, mas também pesquisa e extensão.

    Por princípio não sou nem contra o pagamento. O problema é que este discurso serve para fazer o governo se eximir das responsabilidades com as universidades e a promoção científica e tecnológica. 

    Tempos temebrosos estes.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador