Enem revela que a educação no Brasil é elitizada, por Luiz Cláudio Tonchis

O Enem, como qualquer outro sistema de avaliação em larga escala, é um instrumento precioso para a avaliar a qualidade da educação. Para isso, ele deve ser metodicamente analisado, interpretado, para identificar os problemas pontuais e, também aqueles que se apresentam aparentemente ocultos à percepção imediata. Ele tem o papel importante na elaboração de políticas públicas e, principalmente o papel de dialogar com a escola, fornecendo–lhe, ao mesmo tempo, um diagnóstico que aponta as suas fragilidades assim como uma direção que permita a sua melhoria gradual.

Pois bem, o processo educativo no Brasil revela suas contradições. Por um lado, a educação é a vereda da ascensão social e o alicerce para o desenvolvimento econômico. Por outro lado, o próprio cenário socioeconômico interfere e afeta a qualidade do ensino-aprendizagem, e assim, segue reproduzindo a desigualdade, contribuindo para as mazelas sociais, como por exemplo, o desemprego, a violência, a fome. Ou seja, a miséria.

A escola brasileira tem muitos limites condicionantes a serem rompidos e, muitos deles estão além de seus muros. A melhoria que se espera depende do avanço na qualidade de vida daqueles que se encontram em estado de vulnerabilidade e do desenvolvimento do nível cultural de grande parcela da população. Para isso, deve-se manter e aprimorar a agenda de políticas sociais. O apoio de todos os brasileiros é fundamental e isso inclui os setores mais conservadores da sociedade. A diversidades de interesses e de visões precisam ser debatidas, confrontadas, negociadas para um consenso mínimo. Já não há mais tempo para insipiência, é urgente, precisamos agir ou estaremos condenados ao fracasso num futuro próximo, diante de um mundo globalizado, em processo de evolução acelerada.

Vivemos em um momento crítico, de crise política e econômica que tem levado a medidas impopulares, que geram certa aversão ao governo federal, e que, também abalam os governos estaduais, e, em geral, todos os brasileiros. Mas, mesmo assim, a mera expressão da indignação, justificada ou não, que muitos acham ser algo magnífico de se expor, não resolverá os nossos problemas. O momento é de revolta e de ódio, mas a educação tem uma particularidade – seu sucesso depende do engajamento da sociedade. A melhoria da qualidade da educação é um benefício para todos. Todos saem ganhando.

Além disso, investir no professor tornou-se um imperativo. Os baixos salários, as péssimas condições de trabalho e o desprestígio da profissão afastaram os jovens dos cursos de licenciatura, pois ninguém quer ser professor de educação básica, inclusive os vocacionados. É muito preocupante esse desinteresse dos jovens pela profissão.

No modelo de sociedade em voga, novas exigências são acrescentadas ao trabalho dos professores. Atualmente, cobra-se deles que cumpram as funções que antes eram atribuídas à família, e outras instâncias sociais; que respondam à carência de afeto dos alunos; que resolvam os problemas da violência, das drogas e da indisciplina, além de ter que preparar bem os alunos em todas as áreas de conhecimento para colocá-los em melhores condições de enfrentar a competitividade no mercado de trabalho; que restaurem a importância dos conhecimentos e a perda da credibilidade das certezas científicas; que sejam regeneradores das identidades perdidas com as desigualdades, que gerenciem as escolas com parcimônia, que trabalhem coletivamente, cada vez mais ministrando uma maior quantidade de aulas, acumulando cargos. É neste contexto que se faz necessário ressignificar a identidade do professor.

É, importante, em virtude da centralidade da linguagem no desenvolvimento da criança e do adolescente que os currículos priorizem a competência leitora e escritora. Só por meio dela será possível concretizar a constituição das demais competências, tanto as gerais como aquelas associadas a disciplinas ou temas específicos. Para desenvolvê-la é indispensável a articulação entre as disciplinas, ou seja, que seja objetivo de aprendizagem de todas as disciplinas do currículo, ao longo de toda a educação básica.

 

Luiz Claudio Tonchis é Educador e Gestor Escolar, trabalha na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, é bacharel e licenciado em Filosofia, com pós-graduação em Ética pela UNESP e em Gestão Escolar pela UNIARARAS. Atualmente é acadêmico em Pós-Graduação (MBA) pela Universidade Federal Fluminense. Escreve regularmente para blogs, jornais e revistas, contribuindo com artigos em que discute questões ligadas à Política, Educação e Filosofia.

Contato:  [email protected]

Referências

1. Moreno, A.C.; “Enem 2014 por Escola: Veja o Que as Escolas ‘Top’ Têm em Comum”, G1.globo.com, publicado em 05/08/2015.

Redação

4 Comentários

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  1. Coerente.

    Essa  é uma realidade histórica, e deve permanecer por muito tempo. Inclusão social e a melhoria da educação andam juntos. Só ocorrerá melhoria na qualidade da escola pública na medida que a população melhore a qualidade de vida.

  2. Escolas com baixa participação naos consta nos resultados

    É importante lembrar que as informações fornecidas pelo Inep dão conta apenas das instituições em que mais de 50% dos alunos participaram do Enem, escolas com baixa participação no exame nacional não tiveram suas notas divulgadas. Das 15.640 escolas com notas divulgadas, apenas 65 tinham nível muito baixo. Já entre as de nível muito alto, 2.541 escolas tinham mais da metade de seus alunos nos bancos do Enem.

  3. Os artifícios usados,

    Os artifícios usados, repetidamente, por muitas das instituições que estão entre as de melhor resultado, não permitem credibilidade a análises desse tipo, por mais que haja boa intenção.

    Escolas com 90 alunos, com o “mesmo nome” de grandes grupos econômicos que exploram (duplo sentido, por favor) o ensino particular? Muita coincidência, não? Um álibi: os CNPJ são diferentes.

    Em alguns casos, só participam alunos, devidamente selecionados, que têm (santa coincidência!) os melhores desempenhos entre os seus pares.

    É comércio, deslavado e descarado, com coisa que não é, ou não deveria ser, mercadoria: ensino e educação.

  4. o exame do Enem,

    A Regra de participação das escolas ao Enem, deixa largo espaço para diversas formas de maracutaias e jeitinhos adorados principalmente pelas instituições privadas, e por isso elas se sobressaem sobres as públicas, que a meu vê é muito mais honestas diante do exame; Agora vai conta isso para um aluno de escola publica? eles se sentem, um lixo.

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