Com ou sem Mantega, política econômica seguirá em caso de 2º mandato

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Ao G1, Guido Mantega afirmou que tudo segue como planejado em caso de 2º mandato. Com ele ou sem ele a política econômica se mantém para os próximos anos, com foco em crescimento com emprego. Declarou, ainda, que é preciso “desmontar a política anticíclica”, de expansão de gastos públicos para combater a desaceleração da economia, e fazer uma “política normal”. Leia a matéria a seguir.

do G1

Mantega diz que política econômica segue mesmo sem ele em 2º mandato

Presidente Dilma não fará política neoliberal, conservador, diz ministro.

Segundo ele, as prioridades são as mesmas: crescimento com emprego

Alexandro Martello – Do G1, em Brasília

 
 
 
Guido Mantega falou ao G1 no Ministério da Fazenda (Foto: Alexandro Martello/G1)
Guido Mantega falou ao G1 no Ministério da
Fazenda (Foto: Alexandro Martello/G1)

Mesmo não participando de um eventual segundo mandato de Dilma Rousseff – uma vez que já foi confirmada sua saída do cargo no fim deste ano – o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que a política econômica chamada de “desenvolvimentista” continuará caso a presidente seja reeleita.

“Temos ajustes que são necessários, independente de quem está no nosso cargo. A política desenvolvimentista continua. A presidente Dilma não fará uma política neoliberal, uma política conservadora. Sabemos que foi praticada no passado e não deu certo. Continuará com uma política desenvolvimentista, mas ela requer ajustes”, disse Mantega em entrevista ao G1.

Segundo ele, será preciso “desmontar a política anticíclica”, de expansão de gastos públicos para combater a desaceleração da economia, e fazer uma “política normal”. Ele observou que a proposta de orçamento da União, enviada ao Congresso Nacional, já contempla um aumento do superávit primário – que é a economia feita para pagar juros da dívida pública – para algo entre 2% e 2,5% do PIB. Para este ano, a meta é de 1,9% do PIB, mas o mercado financeiro acredita, com base nos últimos resultados, que esse valor não é será alcançado.

 

“Mas as prioridades são as mesmas: crescimento com emprego. O emprego tem de continuar aumentando no país, o investimento tem de continuar aumentando, os bancos públicos têm de continuar financiando investimentos enquanto os bancos privados não ocuparem esse espaço. Esperamos que eles ocupem esse espaço cada vez mais. Até então, não haverá retração dos bancos públicos. A política vai ter ajustes na área fiscal. Tem de fazer ajuste no primeiro ano de mandato, como foi feito em 2011, quando subimos o primário”, declarou ele.

Política econômica
Segundo o ministro, a politica econômica do governo é proposta pela área econômica, mas é uma “construção conjunta”. “Agora, a presidente Dilma também é economista. Então, ela entende muito de economia. Temos construído essa política econômica desde o governo Lula. É uma construção conjunta. Agora, certas coisas são propostas nossas. Em relação a desonerações, tudo mais, em relação a política anticíclica, em geral fazemos a proposta e a presidente analisa. Tomamos uma decisão conjunta. Às vezes, se atribui a ela coisas que são de nossa responsabilidade para o bem ou para o mal”, declarou ele.

Inflação versus emprego
Questionado se o governo do Partido dos Trabalhadores optou por promover mais o emprego, mesmo que para isso a inflação tenha ficado um pouco mais alta (ao redor de 6% em todos os anos do mandato da presidente Dilma Rousseff), ele afirmou que não.

“Não houve nenhuma troca [de pleno emprego por mais inflação] porque combatemos rigorosamente a inflação. Em um ano eleitoral, como 2014, nós elevamos juros, fizemos restrição de crédito. Política extremamente contra [a inflação] em um ano eleitoral. Dificilmente um governo mostra tamanha responsabilidade contra a inflação como nós demonstramos”, declarou ele. 

O combate à inflação foi prioritário, mas tão prioritário quanto isso é o pleno emprego”
Guido Mantega, ministro da Fazenda

Segundo ele, o combate à inflação foi “prioritário”, mas acrescentou que “tão prioritário quanto isso é o pleno emprego”. “Porque nos tivemos o melhor desempenho talvez do mundo em matéria de emprego nos últimos anos. Mesmo diminuindo a atividade econômica, mesmo tendo problemas com a crise, o emprego continuou aumentando e o governo Dilma produziu 5,5 milhões de novos empregos com carteira assinada”, disse.

Em sua visão, não se pode trocar um pouco mais de inflação pelo pleno emprego. “Porque se aumentar a inflação, a população consome menos, perde poder aquisitivo. Você tem de lutar nas duas frentes. Manter a inflação sob controle e manter o emprego. Fizemos várias medidas, que a gente chama de anticíclica, para manter o emprego e foram bem sucedidas. Foi um sucesso a política de emprego”, avaliou Mantega.

Indicadores e agências de classificação de risco
Para o ministro da Fazenda, mais importante do que a deterioração do resultado das contas públicas, com déficit nominal (receitas menos despesas, incluindo juros – que é uma medida mais usada na comparação com outros países) atingindo a marca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em agosto deste ano, algo que não acontece desde o fim de 2009, é a queda da dívida líquida.

“Temos uma conta de juros muito alta, mas era muito mais alta. O Brasil fazia superávit [primário] e o [déficit] nominal era maior do que é. Em linhas gerais, tirando esse ano, o nosso nominal é melhor. A conta de juros também caiu. Tem de cair mais. O mais importante é a dívida. Você faz um primário para diminuir a dívida. Estamos mantendo a dívida em um patamar mais baixo”, declarou ele. 

Interpelado se a deterioração do déficit em transações correntes, um dos principais indicadores das contas externas brasileiras, e que foi criticado nesta semana pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) por ser o terceiro maior do mundo (atualmente está ao redor de 3,5% do PIB), junto com a piora das contas públicas não poderia levar a um rebaixamento da nota brasileira pelas agências de classificação de risco, o ministro avaliou que não.

“Estamos trabalhando com uma recuperação da economia. A economia está se recuperando. Está apresentando dados melhores neste segundo semestre, embora a economia mundial esteja melhorando muito pouco. Temos condições no ano que vem, inclusive fazendo ajustes, de ter um crescimento um pouco melhor e isso ajuda a ter um resultado fiscal um pouco melhor. Estamos trabalhando para que o crescimento seja melhor no ano que vem. Teremos de fazer ajustes de despesas”, afirmou.

Tensão no mercado financeiro
Para o ministro da Fazenda, a forte queda da bolsa registrada no início desta semana e a disparada do dólar em setembro não significa necessariamente desaprovação do mercado financeiro à gestão econômica da presidente Dilma Rousseff.

“Em eleições, tem alguma volatilidade maior, como aconteceu em 2002 [na primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva]. Estamos vendo o Ibovespa, que vem subindo desde fevereiro março, quando a pesquisa indicava Dilma na frente. Depois aconteceu o acidente do avião [que vitimou o candidato do PSB, Eduardo Campos]. Mesmo assim, tem elevação. Até agosto, a bolsa subiu. Mais recentemente, tivemos essa queda aqui. Não dá pra dizer que existe essa correlação”, declarou ele

Para o ministro, a política econômica é bem vista pela população. “Isso se traduz na pesquisa, e nas eleições que vencemos [no passado]. Significa que a maioria da população é a favor da política econômica. O setor produtivo, com o qual eu converso, ele está satisfeito com a política, mas não está satisfeito com o resultado porque a crise afetou todo mundo. Os lucros são menores”, afirmou.

Segundo ele, porém, o salário subiu ininterruptamente nos últimos anos. “É por isso que a população gosta. A massa salarial só subiu, mesmo com a crise. A população não pagou o preço da crise. O setor produtivo teve problemas com a crise. Cresceu menos, teve lucros menores. Quando eu me reúno com o setor produtivo, ele reconhece que fizemos políticas proativas. Reduzimos tributos, desoneramos a folha de pagamentos”, afirmou.

O setor financeiro, de acordo com Mantega, também “não pode se queixar”. “É claro que trabalhamos para reduzir juros. Evidentemente, ele [setor financeiro] pode não ter gostado. Setor financeiro não gosta que reduza juros. Mas era importante para o país. Aliás, diga-se de passagem que não foi só o Brasil que reduziu juros neste período. Os Estados Unidos reduziram os juros. Não sei se o pessoal ficou satisfeito lá não”, concluiu.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. gostei  do pronunciamnto do


    gostei  do pronunciamnto do ministro.

    o importante – parece óbvio, mas não –

    é que ele ressalte a prioridade

    do desenvolvimwento com inclusão social

    e a manutenção do emprego,

    como se conseguiu nestes últimos doze anos.

    1. Certo. Q quem tem açoes chore, e o resto da populaçao nao sofra

      O país nao pode ser governado tendo em vista prioritariamente o interesse de acionistas e rentistas. 

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