#DebatecomLula tenta sanar ausência de propostas do PT em debate

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Ricardo Stuckert
 
Jornal GGN – Enquanto o primeiro debate presidencial da TV nas eleições 2018 converteu o nanico Cabo Daciolo (Patriota) em polêmica estrela de repercussão nas redes sociais, dedicou boa parte de seu tempo às propostas do tucano Geraldo Alckmin e abafava a participação de Boulos (PSOL), raramente consultado por seus adversários ou por jornalistas da Band, Fernando Haddad e Manuela D’Ávila traziam voz ao Plano Lula para presidir o país.
 
E quando milhões de brasileiros estavam sintonizados na Band, para acompanhar as propostas dos presidenciáveis exceto Lula, Haddad e Manuela, o único participante a lembrar e mencionar a ausência forçada do ex-presidente na sabatina foi Guilherme Boulos: “Boa noite ao ex-presidente Lula, que deveria estar aqui, mas está preso em Curitiba enquanto Temer está solto em Brasília”, disse.
 
Em evento paralelo, o PT tentou sanar a ausência do ex-presidente ou do próprio vice, Fernando Haddad, nos estúdios da Band. Com uma produção que incluía vídeos de Lula em entrevistas sobre diversos temas e comentários de Haddad, Manuela, da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e do coordenador-geral da campanha Sergio Gabrielli, o #DebateComLula reproduzido nas redes sociais iniciou com a leitura de uma carta de Lula, criticando o seu impedimento de participar do debate da Band.
 
“De acordo com o Código Eleitoral, com a Constituição, o candidato, ainda que tenha contestada a candidatura, deve gozar de todos os direitos dos demais candidatos. Não é um favor, é uma prerrogativa legal”, leu Haddad. “Querem tirar Lula da disputa e nós vamos até as últimas consequências para levar Lula ao terceiro mandato”, mencionou o candidato a vice, em outro momento.
 
Sobre a ausência de Lula e o impedimento forçado do ex-presidente de participar da disputa eleitoral, Manuela D’Ávila também comentou que “o povo vai percebendo que Lula está preso porque todo mundo sabe que ele vai ganhar a eleição”. “Serão milhares de Lulas nas ruas”, acrescentou.
 
Apesar de as perguntas para Haddad e Manuela não estarem sincronizadas com os temas levantados no programa de televisão, o primeiro bloco da Band teve como predominância perguntas sobre reformas fiscais e economia. 
 
“Para reaquecer a economia, a proposta de Lula é retomar o que ele já fez: aumentar o crédito, gerar emprego, retomar as obras paradas em todo o país. Gerar emprego faz a economia rodar, e o país sai da crise”, lembrou Haddad no debate paralelo. 
 
Foi quando surgiu o tema da PEC do Teto, promulgada pelo atual governo Temer, que congelou os gastos públicos por 20 anos, incluindo investimentos sociais, em saúde e educação. “Congelar investimentos não funciona. Nesses dois anos de golpe, Temer e seus aliados fizeram o test drive das propostas deles, à força, e não deu certo”, apontou Manuela.
 
Também em contraponto ao que havia sido dito nos estúdios da Band, como o defendido por Bolsonaro, Alckmin e Meirelles, Haddad rebateu que “o contrário do que pensam outros candidatos, é possível gerar empregos e manter direitos trabalhistas”. 
 
Relembrando que entre as declarações mais polêmicas da televisão, a de Bolsonaro logo no início do debate afirmando que “o trabalhador vai ter que decidir um dia: menos emprego e mais direitos ou mais emprego e menos direitos”, Haddad contrapôs minutos depois: “Os governos do PT geraram 20 milhões de empregos, reativando a economia e fazendo-a crescer”.
 
“O Lula me dizia: ‘Haddad, se você lucrar e dar crédito, você faz uma revolução no país. Se não fizer a riqueza circular, a coisa não prospera. Você educa e dá crédito, você resolve qualquer problema”, continuou. “Foi justamente patrocinando uma melhoria nas condições dos mais pobres que fizemos a economia crescer. Sem precisar cortar nenhum direito dos trabalhadores.”
 
Outro tema central foi a saúde, levantado com o dado de que a mortalidade infantil cai 45% entre 2002 e 2015, durante a gestão do PT, e que estes níveis voltaram a crescer com o golpe. Um trecho de entrevista de arquivo de Lula defendendo o Farmácia Popular, o Brasil Sorridente e outros programas foi inserido.
 
A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, chegou à entrevista realizada pelo partido momentos depois, justificando que havia ido ao Debate na Band para protestar contra a ausência de Lula. “A TV não pode achar que é normal que o candidato que está na frente das pesquisas seja proibido de participar nos debates. Isso é censura”, disse, ao retornar.
 
Passado pouco mais de uma hora do início do debate na Band, quando os próprios telespectadores começaram a criticar nas redes sociais a monotonia das declarações, Haddad falou sobre as cargas tributárias, tema recorrente na televisão. “O pobre no Brasil paga mais imposto que o rico, proporcionalmente. Vamos inverter. Vamos voltar a cuidar do pobre no orçamento e mudar a composição da carga tributária. Lula está propondo que quem ganha até 5 salários mínimos não pague imposto de renda”, apontou.
 
Ao mencionar políticas de comércio exterior, foi a vez de Gleisi ressaltar os resultados do ex-presidente: “Fortalecemos nossas relações com a América Latina, África, China e a Rússia. Lula respeita e é respeitado internacionalmente”. 
 
Ao citar os programas de enfrentamento da violência doméstica e familiar e dos investimentos nas políticas para as mulheres, programas sancionados pela Lei da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, a Lei Maria da Penha, Gleisi criticou o fim desses investimentos com Temer. Para Manuela D’Ávila, o problema é mais grave: “Defende a reforma trabalhista? Então, não defende as mulheres. Defende a PEC do Teto, então, não nos defende. Defende as mulheres quem luta por creches, empregos, escolas”, resumiu.
 
Sobre educação, Haddad lembra que desde as gestões petistas a “universidade mudou de cara, a educação básica melhorou”, e disse que o Plano de governo Lula vai recuperar o ensino médio, que estagnou. “Ele quer começar com as 500 escolas com condições mais precárias, fechando acordos de cooperação”
 
“Foi uma honra de ter sido ministro da Educação do Lula. Ele chegou dizendo que não tinha diploma, que não teve acesso e se tornou presidente. E dizia: ‘Haddad, imagina a revolução que vai ser quando essa molecada tiver diploma?'”. Já para a Educação Superior, uma das propostas é mudar a Lei do Estágio para favorecer negros e mulheres, “e também mudar a regra de bolsas da pós graduação”. “O que o Lula quer é incidir na porta do mercado de trabalho”, completou.
 
Acompanhe como foi o debate:
 
https://www.youtube.com/watch?v=E0BF4urVZKU width:700 height:394
 
A íntegra das propostas do governo Lula foi disponibilizada no Plano de Governo do ex-presidente. Acesse aqui.
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Hoje os diplomados por LULA,

    Hoje os diplomados por LULA, em dezenas de escolas tecnicas e universidades publicas (estas que estão esquecidas por Temer e prometem ser desmanchadas por Alckimin) estão tentado levar todo conhecimento amealhado, por falta de emprego e de perspectivas, pro exterior

    Qual seja, aramos e plantamos  ..e na hora de colher, os estrangerios (incluso FIADORES do GOLPE) levam o que sempre temos de mais precioso  ..agora, além das nossas esperanças, o conhecimento

  2. Acho que o debate do PT deveria anteceder o debate do PIG

    Para o PT dar o tom da campanha, em vez de a reboque dela, o debate do Lula deveria antecer em horas ou em um dia o debate do PIG. Assim, o Lula exporia seu programa e seus projetos e a fonte de recursos para executá-los e o PIG, para não ficar na poeira, teria de fazer o mesmo roteiro.

    1. Exatamente o contrário…

      Isso é dar oportunidade deles responderem sem que possamos fazer tréplica. Devia ser depois do programa deles, rebatendo todas as barbaridades ditas, CITANDO-AS, e AOS CANDIDATOS QUE AS DEFENDEM.

  3. Evento paralelo – Sessão nostalgia
    São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002   

    PT criou “governo paralelo” para fiscalizar Collor

    DA REDAÇÃO 

    Em julho de 1990, após a posse de Fernando Collor de Mello na Presidência -que havia derrotado Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 1989-, o PT anunciou a instalação de um “governo paralelo”.

    A organização tinha como objetivo principal fiscalizar as medidas adotadas pelo então presidente e enviar propostas ao governo.

    Os líderes do “governo paralelo”, entre eles o próprio presidente eleito, Lula, o deputado José Dirceu (SP) e o senador eleito Aloizio Mercadante (SP), pretendiam, além de fiscalizar Collor, “treinar” para um eventual governo do PT no futuro.

    “Vamos mostrar o que faríamos em cada situação concreta se estivéssemos no poder”, afirmou Dirceu à época. Segundo ele, o PT queria mostrar “a vocação para o governo” que o partido teria.

    Entre outros, faziam parte do “governo”, no papel de “ministros”, a atual governadora do Rio de Janeiro, Benedita da Silva, na pasta da Defesa da Cidadania e Combate às Discriminações, o senador eleito Cristovam Buarque -ex-governador do Distrito Federal e cotado para ser ministro da Educação no governo Lula-, que era responsável por Educação e Desenvolvimento, e o deputado Paulo Paim (RS), por Trabalho e Previdência.

     

  4. Verdadeiro debate

    O formato e os objetivos deste debate entre Manuela, Lula e Hadad, é o ideal. Penso que todos os candidatos da esquerda, ou com propostas à esquerda, deveriam ter participado. Fazendo uma reflexão sobre a esquerda no Brasil fiquei me perguntando: porque ela ainda não criou um movimento unificador dos seus partidos, com debates, propostas e até uma convenção entre os partidos para determinar os candidatos à presidência da República? Já passou da hora de partidos da esquerda colocarem de lado as suas diferenças, e partir para um movimento unificador de propostas e de fortalecimento da esquerda. A direita já o faz através dos interesses comuns. Não é necessário um movimento unificador para eles, porque sempre que houver necessidade de apoio, os grupos se organizarão na causa comum: o poder e o controle da riqueza da casta dominante. Por outro lado assistindo a um pequeno trecho do outro debate, o da TV Bandeirantes, ficou a indagação: o que os candidatos Boulos e Ciro estavam fazendo ali, em um debate esvaziado para a esquerda, manipulado e sem nenhuma utilidade?
    Então, as eleições para a esquerda brasileira, deveriam partir de um projeto, com planejamento, metas e objetivos comuns onde o norte dos trabalhos realizados devem vislumbrar a linha do tempo, em um resultado sólido e de médio e longo prazos, caso contrário o que veremos serão golpes e mais golpes.

    1. “A” esquerda NAO EXISTE, existem esquerdaS

      E muitas dos partidos/candidatos as coisas que vc acredita serem de esquerda nao o sao… PDT (Ciro Gomes) e PSB votaram a favor do impedimento de Dilma, se sao de esquerda minha avó seria bibicleta, e ela nao tinha rodas, guidom ou pedais. Deixe o mundo das idéias abstratas e baixe na realidade.

      1. A realidade?

        O que é a realidade? Então somos todos tolos? Dezenas de colunistas aqui mesmo no GGN escrevem, debatem, apontam caminhos, arriscam-se em discursos por nada? O próprio Nassif é um ingênuo enganado, que perde o seu tempo mantendo um blog, escrevendo, debatendo idéias e fatos importantes do nosso país? Partindo deste princípio estamos todos mergulhados em uma farsa que engana ou coopta a todos?
        Bem diferenças eu acredito mesmo que existam, e ainda bem que existem. Mas não podemos julgar e condenar a todos, como se não houvessem casos e casos. Não fosse isto, o que estamos fazendo aqui?
        A realidade é que estamos todos mergulhados nesta encrenca, e não vai adiantar muito ficarmos aqui apenas comentando o óbvio. É preciso lançar idéias, debater, contribuir para um discurso que permita uma saída para o desequilíbrio de forças no Brasil, porque os “donos” do país são muito espertos e não estão dispostos a ceder.
        Acredito que uma idéia unificadora dos movimentos de “esquerdaS”, podem sim trazer uma nova dinâmica na política brasileira, havendo ou não diferenças.

        1. Só falta combinar com os russos…

          Esse papo é uma perda de tempo. Se existem esquerdaS, é porque elas têm princípios, estratégias e táticas diferentes. E em alguns casos contradiçoes sérias entre si. Vc pode acreditar no que quiser, mas essa “uniao geral” nao vai acontecer nunca. No nível em que é possível a uniao, já está ocorrendo: PT, Psol e PC do B estao bastante concertados entre si. PSB e PDT NAO SAO DE ESQUERDA.

          1. Correto

            Eu compreendo o que você está dizendo. Está correta. De fato as diferenças e as contradições podem ser enormes, e são enormes. É óbvio que um argumento defendendo um modelo mais organizado parecerá impossível ante os desafios. Mas é sobre isto que estou argumentando. Não vai adiantar disputar e ganhar eleições sem uma agenda comum. Basta olharmos o que aconteceu com os governos do PT. Independente da “permissão” ou não do sistema para que Lula se elegesse, no final das contas o que assistimos foi o presidente democraticamente eleito, se ajoelhar para o antigo poder verdadeiro constituído no nosso país, e posteriormente nos governos Dilma fazer alianças com o que tem de pior no cenário político brasileiro. Então ou as esquerdas, podemos substituir o termo por nacionalistas (com um certo zelo para não gerar interpretações equivocadas), se reinventam para criar um objetivo comum, como há no campo dos antinacionalistas, ou estaremos andando em círculos. Serão golpes e mais golpes.

            Creio ser urgentemente necessário pensar diferente sobre antigos problemas. Não há saída para um nacionalismo com a antiga política, penso, e faz-se necessário repensar o modelo de atuação dos que se consideram atuantes neste cenário. Tudo parece utopia, até que alguém prove o contrário. Mas neste caso a energia para promover a mudança pode estar justamente nas contradições. Lula na presidência do Brasil três décadas atrás, era utopia.

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