Dilma nega alarme na economia e promete mais diálogo no 2º mandato

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Na primeira entrevista concedida a uma emissora de televisão após a vitória nas urnas contra Aécio Neves (PSDB), a presidente Dilma Rousseff (PT) negou situação de alarme na economia logo no início do segundo mandato, evitou compactuar com as especulações na imprensa sobre o novo ministro da Fazenda e comentou sobre a vantagem de votos que obteve no Nordeste, além derrota para Aécio em São Paulo – maior colégio eleitoral do país.

Segundo Dilma, o Nordeste compareceu às urnas, em peso e em favor do PT, porque foi a região do País onde as mudanças sociais encampadas na última década foram mais sensíveis. A presidente ainda disse que tem dificuldade de entender como que o colapso do Sistema Cantareira não impactou na eleição em benefício do governo petista, já que o Estado preferiu reeleger o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e ainda garantiu o melhor desempenho de Aécio neste pleito. Para ela, os paulistas foram pouco ou mal informados sobre a gravidade do problema.

O GGN selecionou os principais pontos da entrevista concedida à Rede Record.

Choque de credibilidade

Questionada sobre a necessidade de começar o segundo mandato com uma estratégia econômica semelhante a de Lula, em 2003, Dilma explicou que o país vive um contexto completamente distinto daquele. Logo, o remédio deve ser outro.

“Quando Lula foi eleito, tínhamos 11 milhões de desempregados. O salário vinha de uma trajetória de queda. Hoje temos uma situação de elevado emprego e os salários estão com ganhos reais. Temos de tomar novas medidas, mas a conjuntura é completamente diferente. Nós temos 376 bilhões de dólares de reserva. Naquela época, nossa situação de fragilidade era extremamente elevada. Tínhamos 37 bilhões de dólares de reserva. Qualquer flutuação do dólar nos impedia de honrar nossos compromissos porque a dívida era maior do que a nossa reserva. Hoje nós temos 77 bilhões de dólares a mais. Somos credores”, disse.

“Além disso, ao mesmo tempo, hoje nós temos uma das maiores entradas de investimento direto externo, em torno de 65 bilhões de reais. Com entrada de capitais, chegamos a 77 bilhões. Acredito que a situação permite abertura de diálogo, conversa com todos os setores, ver as propostas de mudança que estão na pauta de cada setor, ver isso com calma e proceder com as mudanças. As mudanças serão feitas, mas não acho que vamos copiar o que aconteceu em 2002 e 2003. A situação é muito diferente”, completou.

Situação de alarme e especulações  na Fazenda

Sobre a possibildade de 2015 ser um ano mais difícil, “no qual o trabalhador terá de reduzir o consumo e se preocupar com desemprego”, Dilma rechaçou que a mensagem, agora, seja de alarme. “Não vou falar para o brasileiro reduzir seu consumo. Ele está empregado e ganhando seu salário. Com ganhos reais, inclusive. Minhas mensagem é de calma e tranquilidade. O Brasil vai estar melhor do que está hoje. Isso eu asseguro.”

Sobre as especulações de que o presidente executivo do Bradesco Luiz Carlos Trabuco pode substituir Guido Mantega na Fazenda, Dilma evitou dar pano para manga. “Eu gosto muito do Trabuco, mas não acho que seja a hora para discutir. No tempo exato, eu darei nome ou perfil [do novo ministro]. Não vou discutir um ministro, vou discutir o meu ministério. Foi o que eu disse no segundo turno: governo novo, ideais novas. Vou com tranquilidade, não tenho interesse e não acho que é importante debater isso agora. (…) É hora de arregaçar as mangas e trabalhar. (…) Entendo que a imprensa tenha essa curiosidade, mas é muito cedo ainda.”

https://www.youtube.com/watch?v=pSbxRoAh5vs width:700 height:394

Terceiro turno

Sobre a disputa eleitoral acirrada com Aécio – que angariou pouco mais de 50 milhões de votos -, Dilma disse que não acredita que o país seguirá rachado ao meio ou mesmo que a agressividade da eleição será estendida, com adversários tentando tirar proveito político de escândalos como o da Petrobras.

“Não acredito em terceiro turno, porque quem o tentar, estará fazendo um desserviço ao Brasil. Numa eleição em um país democrático, ganha quem conquista a maioria. E eu conquistei a maioria. No que se refere ao escândalo da Petrobras, eu vou investigar, vou me empenhar, doa a quem doer, não vai ficar pedra sobre pedra. Quero todas as questões relativas a esse e outros escândalos de corrupção às claras”, disse a presidente.

A três dias da eleição, a revista Veja cravou que Lula e Dilma sabiam dos esquemas de desvio de dinheiro para caixa 2 de campanha e pagamento de propina a aliados políticos. A reportagem sem provas custou ao veículo uma condenação pelo Tribunal Superior Eleitoral, que considerou o material uma tentativa de intervir na eleição em favor de Aécio Neves. Veja teve de publicar direito de resposta e será processada por Dilma.

‘Eu tenho indignação com o que fizeram nessa última semana de campanha. Eu tenho uma trajetória política e integral dedicação com a coisa pública. Jamais tive uma única acusação na minha vida. Eu não vou deixar que passada a eleição, as coisas sejam esquecidas. Eu vou deixar claro quem são os responsáveis, doa a quem doer”, disparou a presidente.

São Paulo e Nordeste

Indagada sobre a larga vantagem de Aécio Neves em São Paulo, Dilma disse que achava a pergunta engraçada e que preferiria discutir por que ela teve mais votos no Nordeste. “Essa eleição mostra características instigantes do Brasil. Acho que teve uma grande transformação no país nos últimos anos. Não atribuo minha eleição apenas ao fato de que as pessoas mudaram de vida, cresceram, tiveram, pela primeira vez, uma chance de estudar, igual ao motorista que subiu em cima do teto do ônibus e gritava que conseguiu fazer o Prouni, que estava no último ano de Direito, iria ser advogado”, contou a presidente, em alusão a um episódio ocorrido durante uma passeata de sua campanha no Nordeste.

“Em São Paulo, nós estamos enfrentando uma crise de água. Ninguém tocou nesse assunto no primeiro turno, a não ser os candidatos de oposição. Se fosse um governo de situação, nós seríamos criticados diuturnamente. Me explica por que uma crise daquela proporção não reflete no processo eleitoral! Tenho dificuldade de compreender. Só posso atribuir ao fato dela não ter sido iluminada. Ou seja, os refletores não foram colocados na crise”, avaliou a petista. “Acho que não houve informação correta para a população de São Paulo”, adicionou.

Ao final da entrevista, Dilma disse que saiu das urnas entendo que a população mandou dois recados: “mudança e reforma”. Voltou a dizer que acredita no avanço do país em diversas áreas, citou o olhar especial para jovens, negros e mulheres, e reafirmou que independente da agenda, é necessário que as pessoas construam pontes, a partir de agora. “Todos nós queremos um país melhor”.

Instigada a definir o segundo mandato em um palavra, ela sentenciou: “diálogo”.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

8 Comentários

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  1. A direita quer “venezuelizar” o Brasil

    O “mercado” pode estar chantageando o governo. Por “mercado” entenda-se o grupo de especuladores que atua na Bolsa e no câmbio sem qualquer compromisso com o país e com seu desenvolvimento. Por “mercado” entenda-se um grupo de jogadores. Não se deve esquecer de que o influxo de capitais não especulativos com destino ao Brasil continua elevado, o que desmente o que “mercado” diz a respeito da economia com suas ações na Bolsa e câmbio.

    O “mercado”, como tem feito desde há muito a imprensa (adjetivada golpista, e com razão), quer venezuelizar o Brasil, ou parece querer. Não há base lógica nas quedas na Bolsa e na desvalorização do Real com a recondução deste governo ao comando da nação. Haveria sentido em mudar os indicadores da Bolsa e do câmbio se o governo tivesse mudado. Se nada mudou no governo, por que a desvalorização do Real e das empresas estatais?

    Uma hipótese que explicaria este movimento do “mercado”, é a criação de movimento artificial de baixa dos papéis para, criando pânico nos que têm coração fraco e que são incapazes de introjeção crítica, induzi-los a vender suas ações a preço de aipim (banana está cara), ações que logo depois voltarão a se valorizar, versão da velha história resumida em “sem os tolos, como viveriam os espertos?”, ou “um tolo e seu dinheiro jamais ficam juntos”. O apavorado vende a ação a preço de aipim e compra dólar a preço de filé: o esperto compra a ação a preço de aipim e a vende a preço de filé. O apavorado, então, maldiz o governo e elogia a competência do esperto que lhe tomou as economias. É uma hipótese.

    A outra, é tentar derrubar o governo, ou, ao menos, intimidá-lo para que os privilégios dos megainvestidores, que fazem com os preços das ações e das moedas o que bem querem, continuem, ou sejam ampliados. Contam com os descerebrados que, como na Venezuela, não hesitam em ir para rua pedir a deposição da presidenta que acabou de ser reeleita, como aconteceu ontem, ou hoje, em São Paulo (sempre São Paulo). Chantagem pura e simples.

    Bolivarianismo e venezuelização quem as quer e promove é a direita .

  2. Terceiro turno, uma ova!

    Boa entrevista da Dilma, ela estava tranquila e passa segurança.Tocou numa questão que vamos ter que levar a maior numero de cidadãos, que é a parcialidade e a manipulação cada vez maior da grande imprensa brasileira. Agora, quanto a nova equipe ministerial, enquanto não for anunciada, Dilma se prepare para as especulações. Dizem que ha divergências entre ela e Lula quanto aos nomes para os ministérios, principalmente para a Fazenda… 

  3. Não haverá diálogo, a

    Não haverá diálogo, a campanha 2018 começou segunda feira.

    Implica em reduzir a atividade economica, redução da produção, mesmo por que quem vai colocar as fichas no governo  Dilma.

  4. diálogo é o fundamental.
    pena

    diálogo é o fundamental.

    pena que como presidente tralvez ela tenha

    mesmo que se referir ao pig metaforicamente.

    isto é, a seca de sp não recebeu

    a iluminação necessária,,os holofotes (da grande mídia).

    depende então da gente, dos movimentos sociais, etc.

  5. Diálogo com quem?

    Realmente o segundo governo Dilma precisa de diálogo. Diálogo com os movimentos sociais, como o MTST, as centrais Sindiciais, o MST, o movimento LGBT. Muitos desses movimentos apoiaram Dilma, apesar dos ouvidos moucos que ela fez para vários deles ao longo de seu governo. Diálogo com os funcionários públicos que não são recebidos na mesa de negociação fake do governo. Se continuar dialogando com a grande imprensa e como o mercado, vai fracassar terrivelmente. Não há porque temer ser chamada de ‘chavista’ ou ‘cubana’; o diálogo com esses setores quando houve foi pífio e mesmo assim o governo foi tachado de chavista e até de ‘comunista’ – o que seria cômico se não fosse trágico.

  6. Crise da Água em São Paulo

    Está na hora do Tucanato Paulista pagar por seu crime de omissão.

    Não adianta culpar São Pedro.

    Infraestrutura é obrigação do Estado e nunca poderia ser privatizada.

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