E eles dirão: a culpa é das mulheres!, por Walter Falceta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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E eles dirão: a culpa é das mulheres!

por Walter Falceta

Na noite desta terça-feira, desisti da Internet. Fui dormir. Mas não abandonei mouse e teclado em razão das apreensões geradas pela pesquisa do Datafolha.

Pulei fora porque me enojou o viés reacionário machista, à esquerda e à direita, que passou a guiar a análise da conjuntura política.

De repente, entusiastas do #elenão se puseram a responsabilizar as mulheres pelo suposto crescimento do fascista Bolsonaro nas consultas eleitorais.

De novo, equivale a passar pano para o agressor e culpar sua vítima.

É a ideia remodelada e covarde do “quem mandou passear de saia curta?”, pergunta retórica repetida todos os dias neste Brasil, nos pontos de ônibus das periferias ou nos espaços gourmets dos condomínios de luxo.

O #elenão foi justo, bonito e, sobretudo, necessário. Pobre de uma sociedade que, acossada pelo fascismo, decide por si só abandonar seus direitos democráticos.

Posso me lembrar das Escrituras e me envergonhar de como o patriarcado religioso reduziu Maria de Magdala a uma prostituta, ela que liderou as primeiras comunas do anarquismo primitivo.

Posso ver também tantas companheiras ardendo nas fogueiras de uma Inquisição que via bruxaria e heresia no conhecimento e na sensibilidade.

E outras que pagaram com a vida, em fábricas da opressão, pela ousadia de exigir correto pagamento e condições dignas de trabalho.

Também as meninas armênias crucificadas em 1915.

Eu me lembro de Edoarda Bindo, a menina gentil que foi assassinada pelas forças da repressão paulista durante a Greve Geral de 1917.

E das adolescentes tibetanas executadas pelas forças de ocupação chinesa.

E me recordo, olhos marejados, de Olga, Pagu, Heleny, Iara, Helenira, Margarida, Ligia, Esmeraldina, Aurora, Zuzu, Sueli, Rose, Dorothy e Marielle…

Como se elas não merecessem os levantes da Batata e da Cinelândia. Como se esses martírios não justificassem as faixas erguidas contra o autoritarismo e a barbárie.

Se existe alguma relação entre o anunciado crescimento de Bolsonaro e as manifestações feministas, deve-se não a elas, mas ao uso deturpado e criminoso das imagens dos atos, manipuladas pela indústria de fake news da direita nacional.

Acordem! Nenhum silêncio subserviente ganhou qualquer guerra contra o fascismo.

A Itália não se livrou do terror mussolinista com subserviência, mas com o sangue e o suor de partigianas como Mimma Bandiera, Carla Capponi, Bruna Bedeschi e Renata Del Din.

E a mãe Rússia somente rechaçou o criminoso exército nazista com a intervenção destemida de companheiras como Roza Shanina e Lyudmila Pavlichenko, snipers competentes e dedicadas.

E tem sido assim, hoje, no território de Rojava, onde um Estado livre, democrático, multiétnico, multirreligioso e cooperativo tem sido construído e defendido, com flores e balas, pelas milícias femininas.

É preciso alçar a voz contra toda e qualquer censura, contra toda e qualquer forma de tortura, contra todo e qualquer sistema repressivo que atente contra a vida humana.

Vivemos uma época de insanidade, maldade e trevas em nosso país. E é justamente agora que as mulheres devem constituir e preservar o lugar de fala da cidadania.

Que ele seja educativo, didático e capaz de reparar os graves danos impostos à frágil teia das relações sociais.

Não há erro grosseiro algum no #elenão. O equívoco monstruoso reside na omissão de quem se esquiva da guerrilha da comunicação.

A falha principal é dos políticos de gabinete, é dos palanqueiros oportunistas que têm sido incapazes de formar as massas para a diversidade.

Eu sinto vergonha. Mas também um estranho entusiasmo, porque nessas horas sempre me vem à mente a frase sediciosa da querida companheira Emma Goldman: “se eu não posso dançar, essa não é a minha revolução”.

Ora, sigam em frente, compas! Vamos fazer revolução, e vamos dançar, sim! Juntas e juntos. Que se dane o machismo.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Prezado Walter
    Bom

    Prezado Walter

    Bom dia 

    Irretocavel, porém, um lembrete:

    Sabes o porcentual da patuleia brazuca que conhece os fatos acima?

    Abração

  2. Estranho ausência de análise
    Estranho ausência de análise dos fatos da semana que produziram uma suposta vantagem do candidato da direita. É reta final, é vale tudo para alguns. Diante disso é hora de avançar e não de recuar. É hora de alianças e não de divisões.

  3. Encruzilhada cruel !!

    Sempre fui pacifista, votei a favor do desarmamento, mas caso o facínora capitão for eleito, imediatamente comprarei uma arma de fogo para possível enfrentamento contra bolsonaristas .

    É lamentável, mas é inconcebível cruzarmos os  braços e aceitarmos pacificamente que aconteça o que um apresentador da Rede Globosta profetizou anos atrás numa reunião do Instituto Millênium :

    “..é preciso EXTERMINAR como baratas o esquerdismo lulo-petista …”

  4. sábado

    Excelente. Senti o mesmo. Fiquei sábado inteiro sob um sol de rachar junto com minha filha de 16 anos e com a certeza de estar do lado certo. E vem essa reação absurda… É legitimar o vale-tudo por voto, até na guerra existe código.

  5. Ninguém tem culpa

    O Bolsonaro não cresceu eleitoralmente. Não vi ninguém mudando voto nem ninguém que rejeitava o Bolsonaro afirmando que não o rejeita mais. Essa inflada do Bolsonaro é feita pelos Institutos de pesquisa, com a ajuda de Moro, ao vazar delação, e também com a ajuda os Tribunais, os quais mantém Lula censurado. Com os Tribunais mantendo Lula silenciado e com o Moro vazando delações, os Institutos de Pesquisa fazem sua parte para retirar o PT do cenário político.

    Eles estão criando o clima para fraudar as eleições. Só isso. As Mulheres não têm culpa de nada. Elas só tem mérito. Se a maioria esmagadora das Mulheres é contra o Bolsonaro e se elas constituem a maioria do eleitorado e se o Haddad tem muitos votos entre os homens, como pode o Bolsonaro ter subido tanto?

    Só incautos caem na conta do vigário dos golpistas e, ao cair, facilitam a vida dos que querem tirar o PT do cenário político.

  6. A culpa é dos mesmos que deram o golpe

    Na semana que passou quando estavamos organizando a manifestação para o #elenão, vimos um grupo que não se assumia politicamente, mas que queria ditar regras, tomando posse da manifestação. Logo vi que caminhavamos para um armadilha. Era um tiro no pé. E no entanto fizemos uma bonita manifestação, respeitando todos os candidatos e a moral burguesa, mas o resultado é o de manipulação das manifestações pela turma feroz da candidatura bolsonaro nas redes sociais e o silêncio obsequioso da imprensa nacional. 

    Não, nos não somos culpadas pelo resultado da ultima pesquisa. Se Bolsonaro, que ao meu ver representa tudo o que ha de mais violento, ignorante e hipocrita no Pais, ganhar, responsavel em grande parte é a imprensa que em nenhum momento fez o verdadeiro dabate de esclarecimento sobre quem é o Bolsonaro (como diz a mulher do Moro, não votem em bandido) e qual sera sua politica que tende aumentar ainda mais as desilgualdades e a violência. 

  7. O movimento #ELENÃO…

    Estava igual  a  uma  rosa:   Milhares  de  mães e  suas  filhas  protestando  contra  o  machismo  e  a  discriminação  contra  a  mulher !!

    Porém, “as  vezes,  os  espinhos  estragam  tudo !!”

    Apesar  de  ser um  grito  de  revolta  contra  o  preconceito  e  a  discriminação,  é  dar  munição  ao inimigo !!   

    Faltou  um estrategista!!!

    1. Isso é no Brasil ?

      Olha essa imagem ou é montagem como fazendo parte das manifestações de sabado ou foi armação. As mulheres que estavam na luta pelo “elenão”, não estavam la para esse tipo de coisa. Ninguém falou em religião, em candidatos x ou y ou pregou o comunismo e ninguém estava contra a familia. O mote era não ao fascismo, não ao odio e sim à democracia e ao amor.  

  8. É verdade, mas acho que

    É verdade, mas acho que certas reações equivocadas, tipo “culpar o elenão” se deu pela frustração e perplexidade diante desse crescimento do Bolsonaro depois daquele sábado espetecular e histórico. Um anti-clímax que deixou as pessoas desnorteadas.

    E aí as frustrações se voltam contra alvos errados. Mas acho que essa visão de “culpar” eventuais mulheres peladas nos atos pelo crescimento do dito cujo entre pobres evangélicos, é minoritária. Mesmo porque seria desonesto, estive no ato no Rio até o fim e não vi ninguém pelado. Nenhum gay se beijando e nenhuma “afronta ao moralismo hipócrita”. E mesmo se tivesse

    O que vejo é uma tentativa racional e lúcida de tentar entender o que aconteceu! Um ato daquele contra um candidato, daí o cara sobre nas pesquisas! A explicação que eu ouvi na Revista Forum me pareceu bastante razoável. Exatamente essa, dos fakenews e distorções baixo nível dos fascistas

    Mas o que esperar deles, senão isso? Então o que faltou foi maior atenção a guerra de narrativa nas redes sociais, principamente whatsapp. E isso não foi culpa das mulheres, que fizeram tudo o que foi possível. É a campanha do Haddad que tem que entrar mais nessas redes.

    De qualquer forma, fato é que o que se precisa fazer além de apontar para o discurso medieval do coiso é focar na questão economica. Acho bom indagar a uma mulher pobre evangélica se ela acha certo dar porrada em seu filho gay para “curá-lo”. Mas o que pega mesmo é perguntar se ela não quer mais ganhar 13 salário.

    Agora uma coisa é certa. O movimente de sábado dia 29 foi histórico e maravilhoso. Nada tira isso, nada. E pela magnitude dele isso vai ter impacto em algum momento. Foi uma demonstração de força. Só que o outro lado também é forte e não respeita nada. A luta prossegue

  9. Na penúltima pesquisa Datafolha, os eleitores totalizavam 101%

    Eu postei o seguinte comentário, o qual, até agora, não foi publicado:

    “Comparativo entre a penúltima e a última pesquisas do Datafolha:

     

    Bolsonaro  28% subiu para 32%

    Haddad: 22% caiu para 21%

    Ciro: 11% manteve 11%

    Alckmin: 10% caiu para 9%

    Marina: 5% caiu para 4%

    Amoedo: 3% manteve 3%

    Álvaro Dias: 2% manteve 2%

    Meirelles: 2% manteve 2%

    Boulos: 1% caiu para 0%

    Daciolo: 1% subiu para 2%

    Vera Lúcia (PSTU): 1% caiu para 0%

    Eymael: 0% manteve 0%

    Goulart Filho: 0% manteve 0%

    Brncos/Nulos/Nenhum: 10% caiu opara 8%

    Indecisos: 5% manteve 5%

     

    Pontos perdidos:

    Haddad perdeu 1% (prá quem?), Boulos perdeu 1% (prá quem?), Vera Lúcia-PSTU perdeu 1% (prá quem?), Marina perdeu 1%, Alckmin perdeu 1%, Brancos/Nulos/Nenhum perderam 2% (para quem teriam ido esses votos?)

    Total de pontos perdidos: 7%

     

    Pontos ganhos: Bolsonaro ganhou 4% e Cabo Daciolo ganhou 1%.

    Total de pontos ganhos: 5%

    Não consigo identificar para quem foram 2 pontos perdidos. Também não consigo conceber eleitores do Boulos/PSOL, da Vera Lúcia-PSTU e do Haddad migrando para o Bolsonaro.

    Então para quem foi os 2% de diferença entre os pontos perdidos e os pontos ganhos?

    Acho que há algo de podre ou no Datafolha ou na minha comparação”.

     

    Acho que descobri. Nessa última pesquisa do Datafolha o percentual de eleitores é chega 99%. Na penúltima pesquisa do mencionado Instituto, o percentual de eleitores era 101%.

    Essa pode ser a diferença dada a Bolsonaro.

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