Em defesa da soberania popular, Diretas já!, por Maria Luiza Quaresma Tonelli

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Em defesa da soberania popular, Diretas já!

por Maria Luiza Quaresma Tonelli

Já li e reli um pequeno grande livro de um autor chamado Dênis de Moraes, sob o título de A esquerda e o golpe de 64. No livro ele deixa claro que as esquerdas não acreditavam que haveria um golpe. Diz que não havia união entre as esquerdas por questões ideológicas (trotskistas, stalinistas, maoístas, etc). E veio o golpe que nos levou a 21 anos de ditadura.

Claro que não foi essa desunião entre as esquerdas que favoreceu o golpe. Ele viria de qualquer jeito. Hoje o que observo, é que não aprendemos nada com a história. As esquerdas continuam desunidas, não por questões ideológicas, mas por disputa pelo poder.

Sofremos um novo golpe de estado depois de 53 anos. Um golpe travestido de impeachment. Um golpe planejado durante anos, desde o governo Lula. A democracia brasileira foi vítima de uma conspiração muito bem planejada pelos partidos de oposição ao governo Dilma, um governo sabotado por um congresso presidido por Eduardo Cunha. Um golpe que não teria sido possível sem a participação da mídia, Globo à frente.

Nem é preciso repetir aqui a farsa do impeachment, desde a sua admissibilidade na Câmara dos Deputados, naquele fatídico 17 de abril, em pleno domingo, televisionada ao vivo e a cores, até o seu desfecho no senado, com a condenação da Presidenta Dilma, em sessão presidida pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowski.

Muitos atos foram realizados antes do impeachment-golpe. Muita gente dedicou horas, dias, meses de suas vidas na luta contra o golpe. Mas aconteceu.

Hoje vivemos num estado governado por um presidente que, na condição de vice, traiu a presidenta eleita. Vivemos num simulacro de democracia, pois não há democracia verdadeira quando o governante não é eleito pelo povo, o verdadeiro detentor do poder. O fundamento da democracia, o seu pilar, a sua fonte, é a soberania popular. Sem isso não há democracia possível.

Um ato político em defesa de eleições diretas já, organizado por artistas, está sendo criticado por algumas pessoas e partidos de esquerda. Ora, tudo o que precisamos agora é de um grande movimento pelas diretas já, a fim de resgatar a democracia neste pais. Se há artistas que querem liderar esse movimento, ótimo. Artistas tem visibilidade nesta sociedade do espetáculo. Que pelo menos eles sejam úteis neste momento.

Ora, tudo o que precisamos agora é de um grande movimento pelas diretas. Se os artistas querem liderar esse ato, qual o problema nisso? Sabemos que há , na classe artística, verdadeiros cidadãos de esquerda e outros nem tanto. O importante é que participem dessa luta.

Críticas estão sendo feitas ao movimento porque os organizadores não querem que o ato seja partidarizado. Concordo. Um ato político não tem que ser necessariamente partidarizado. Um grande ato em defesa de eleições diretas já não pode ser transformado em campanha política eleitoral antecipada.

O que está em questão é algo muito mais grave. É resgatar a soberania popular. Que as disputas partidárias se dêem em outro momento. Precisamos acordar. Estamos vivendo um momento de grave crise econômica, de crise política e institucional. É preciso estancar o caos antes que as coisas piorem ainda mais.

Dilma não vai retomar seu mandato, pois o STF não vai anular o golpe do qual ajudou a legitimar. Não há pressão popular que obrigue o STF a anular o impeachment antes de 2018. Ou lutamos por Diretas já, mesmo que não tenhamos sucesso, ou teremos que engolir uma eleição indireta no pior congresso de todos os tempos. E daí nos restará sermos governados por um presidente que terminará de fazer o estrago iniciado pelo homúnculo que hoje posa de presidente de uma república bananeira.

Defendo Diretas já, incondicionalmente. Que venham os artistas, as esquerdas, a direita consciente, venha quem vier para essa luta pelo resgate da democracia, que é nada mais nada menos do que o resgate do poder do povo, o real significado da palavra democracia. Afinal, como dizia Ulysses Guimarães, o senhor das Diretas, “Na política, o povo é tudo ou é nada. Ou é personagem como cidadão ou é vítima como vassalo”.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Quem são os artistas?

    Os artistas chegaram agora e já querem a cadeira com janelinha. Quem são os artistas para dizer quem pode e quem não pode participar de manifestação? Quantos votos tiveram e quantos afiliados representam? Está aí demonstrada a tal divisão de que fala a Sra. Tonelli. Quem é que divide? Os bacanas de sempre. Talvez mereçam enfrentar as dores de situações ainda piores para enxergar as realidades e a si mesmos, nas suas notáveis limitações humanas. Valeria relembrar que tanto se ouviu falar em críticas e mais críticas sobre a diversidade do espectro que se abrigava na composição da coligação baleia no governo de coalizão. Será que buscavam a adversidade? Quem gosta de sinfonia e reuniões cheirosas que arrume um banqueiro que lhe patrocine ou não se meta em política. Quem não sabe brincar não deve descer para o play ground. Hoje se ve a mesma miopia que se via lá atrás quando se recusavam a participar em manifestações em defesa da Petrobras porque estariam expostos a crítica de que poderiam estar defendendo o Governo, que ninguém queria defender, porque saia feio nas telinhas da Globo/Mossack-Fonseca.  Daí se foram Petrobras, Governo, Democracia e talvez ainda seja preciso perder mais para saber o valor do que fora conquistado. 

  2. em….

    Ulisses Guimarães foi um grande farsante. Como Tancredo Neves. Que não era melhor que seu neto. Aliás, a quem ensinou tudo, enquanto este vivia nababescamente com salário magistral de uns 40 mil reais, como funcionário da Assembléia Legislativa de MG, curtindo sua moradia, praias, garotas e outras distrações por vias nasais, nas praias cariocas. Ensiniou ao neto-playboy, aos filhos, às netas, aos bisnetos. A Família toda aprendeu direitinho. Tudo gente “honesta” como o restante da redemocratização. E uma certa Gestapo Ideologica Tupiniquim ainda credita ao tal que seria a transformação democrática do Brasil. Assim como Ulisses. Assim como a Tal ConstituiçãoEscárniocaricaturaCidadã. Mas sabemos, depois de 30 anos, a culpa é dos militares. Agora, depois de 3 décadas de tragédias, descobrimos a nova solução para o país: oportunismo, hipocrisia e casuísmo. O brasileiro sendo chamado à responsabilidade, avalisando a manutenção da sua única elite. A Elite do Poder Público. Votaremos diretamente obrigatórios no nosso Presidente e manteremos toda a sua Corte. Como o Brasil não estuda, não ensina e não aprende com sua própria História, e não a altera, só falta colocar nas portas das casas das pessoas, a inscrição PR.     

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