Globo sinaliza apoio a Haddad na eleição presidencial por falta de nome forte à direita, analisa cientista político

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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“A entrevista me pareceu uma tentativa de acirrar ainda mais os conflitos internos no PT”, diz Thiago Trindade. Assista

O jornal O Globo publicou uma entrevista com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que repercutiu fortemente nesta semana. Na entrevista, Haddad rebate algumas críticas que tem recebido do PT por causa das políticas econômicas, e mostrou preocupação com a formação de uma liderança petista à altura de suceder Lula em 2030 – já que o presidente foi colocado como candidato natural à reeleição em 2026.

Na visão do cientista político da UnB, Thiago Trindade, a entrevista sinalizou apoio do grupo Globo a Haddad na disputa presidencial, já que a direita e centro-direita ainda não dispõem de um nome com projeção e força suficientes para garantir a derrota da ultradireita bolsonarista. Ao mesmo tempo, segundo Trindade, Globo coloca lenha na fogueira e fomenta as divergências entre Haddad e o PT.

A entrevista me pareceu uma sinalização muito clara de O Globo tentando anunciar o candidato deles. É evidente que, nessa altura do campeonato, não vai ter ninguém da direita ou da centro-direita que seja competitivo contra o bolsonarismo. Eles não querem alguém da extrema-direita, e estão dizendo que o candidato deles é o Haddad”, argumentou Thiago Trindade. 

A entrevista de Haddad ao jornalão, publicada nesta terça-feira (2), foi tema de conversa entre Trindade e o jornalista Luís Nassif, no programa TVGGN 20 Horas, exibido no canal do Jornal GGN no Youtube [assista abaixo].

Lula e Fernando Haddad, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo. Pesquisa Genial/Quaest de maio de 2022 mostra que ambos são favoritos em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert
Lula e Fernando Haddad – Foto: Ricardo Stuckert

Segundo o analista, a falta de um nome forte à direita, combinada com a saída de Flávio Dino – que seria um potencial sucesso de Lula – do governo para ocupar uma cadeira na Suprema Corte, justifica os esforços da mídia corporativa em criar desde já um possível sucessor para Lula. Por outro lado, Haddad também tem caído no gosto da mídia burguesa por ter alcançado êxito em sua agenda política e econômica em 2023.

Haddad está fazendo sobretudo um programa de governo competente, mas é um programa sobretudo voltado para Faria Lima”, disse Trindade. “Aonde a gente quer chegar com essa discussão de déficit zero? No que vai progredir, do ponto de vista do combate à extrema-direita, com essa discussão? Vale lembrar que essa pauta foi levantada pelo Paulo Guedes, em janeiro de 2019, no Fórum Econômico Mundial de Davos. Essa é uma pauta colocada pela extrema-direita e não deveríamos estar dando eco”, opinou. 

O Haddad  está fazendo um bom trabalho, mas a questão é: um bom trabalho para quem? Quem ganha com essa política econômica? Por que que a Faria Lima gosta dele? Por que o Globo quer que o Haddad seja o candidato do PT para 2026?”, questionou o cientista político.  

Dificuldades petistas

Para Trindade, a fatídica entrevista ainda expôs o racha interno no Partido dos Trabalhadores sobre a área econômica, além de mostrar que toda força política ainda está depositada na figura do presidente Lula. 

A entrevista me pareceu uma tentativa, na verdade, de acirrar ainda mais os conflitos internos no PT”, pontuou.

Não à toa, horas depois, figuras importantes dentro do PT foram às redes criticar os posicionamentos de Haddad em relação ao déficit zero, como o deputado federal Lindbergh Farias e a própria presidente nacional da sigla, Gleisi Hoffmann. Ela negou que o “PT acha tudo errado” na área econômica e criticou Haddad por antecipar discussão sobre sucessão de Lula.

Para Thiago Trindade, o debate dá o tom sobre a falta de candidatos fortes para consolidar a base democrática no país pós-Lula. 

A extrema-direita tem quadros. Por mais que [Jair] Bolsonaro tenha ficado inelegível, o bolsonarismo não está morto e eles têm quadros por todos os lados. Já o campo democrático está dependendo do carisma de uma pessoa só: Lula”, pontua.

Por indicação de Lula, Flávio Dino saiu do Ministério da Justiça para ocupar uma vaga no STF. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Por indicação de Lula, Flávio Dino saiu do Ministério da Justiça para ocupar uma vaga no STF. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

“Na minha avalição, o Flávio Dino era um quadro muito relevante para pensar a sucessão do Lula, seja em 2030 ou mesmo em 2026. O PT precisa começar a trabalhar isso”, agora que Dino já é uma opção no campo democrático, acrescentou Trindade. 

Para o analista, embora o trabalho de Haddad seja valoroso, ele não acumula todos os elementos de um candidato ideal. “Haddad é um quadro muito importante do PT, teve trabalho reconhecido na prefeitura de São Paulo, também fez um trabalho competente no Ministério da Educação. Agora, o PT tem que pensar num quadro que seja mais competitivo para vencer a extrema-direita”, opinou.

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