A virada à esquerda para a Europa, por Yanis Varoufakis

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
[email protected]

Para articulista, opor-se à entrada e à saída da UE é uma posição coerente

Jornal GGN – O referendo do Reino Unido sobre a possibilidade de saída da União Europeia criou companheiros – e adversários igualmente estranhos. “A divisão dentro do Partido Conservador recebeu muita atenção, mas um paralelo (felizmente mais civilizado) dos desdobramentos afetou o meu lado: o da esquerda”, diz Yanis Yaroufakis, professor da Universidade de Atenas e ex-ministro da Economia da Grécia, em artigo publicado no site Project Syndicate.

“Ao fazer a campanha contra a “Saída” por vários meses na Inglaterra, País de Gales, Irlanda do Norte e Escócia, era inevitável que eu enfrentasse críticas dos partidários de esquerda do ‘Brexit’, ou ‘Lexit’, como veio a ser conhecido”, explica Varoufakis. “Os ‘Lexiteers’ rejeitaram a chamada emitida pelo DiEM25 (o radical Democracia em Movimento na Europa, lançado em Berlim, em fevereiro ) para um movimento pan-europeu para alterar a UE a partir de dentro. Eles acreditam que reviver política progressista requer sair de uma UE incorrigivelmente neoliberal. A esquerda precisava do resultado do debate”.

Segundo Yaroufakis, muitos representantes da esquerda britânica “desprezavam a fácil rendição” com a premissa de que a globalização tornou o Estado-nação irrelevante. “Enquanto os Estados-Nação se tornaram mais fracos, o poder nunca deve ser confundido com soberania”. O ex-ministro cita o caso da Islândia, “que mostruo que é possível que um povo soberano salveguarde as liberdades fundamentais e os valores, independentemente do poder de seu estado. E, fundamentalmente, a Islândia, ao contrário da Grécia e do Reino Unido, nunca entrou na UE”.

O ex-ministro participou das campanhas contra a entrada da Grécia na zona do euro na década de 90, assim como o líder do Partido Trabalhista da Grã-Bretanha, Jeremy Corbyn, fez campanha em 1970 contra a adesão à UE. “Na verdade, quando perguntado por amigos na Noruega ou na Suíça se eles devem apoiar a entrada de seus países na UE, a minha resposta é negativa”, diz Yaroufakis. “Mas é uma coisa para se opor à UE; outra bem diferente é ser a favor de sair uma vez dentro. A saída é improvável de se obter para onde você teria sido, economicamente e politicamente, se você não tivesse entrado. Então, opor-se tanto a entrada e saída é uma posição coerente”.

Faz sentido para os esquerdistas que a defesa da saída dependa de um Estado-nação liberto de instituições da UE e gere um terreno mais fértil para o cultivo de uma agenda progressista de redistribuição, direitos laborais e anti-racismo. Isso também depende do provável impacto de uma campanha de saída na solidariedade transnacional. “Ao viajar por toda a Europa, defendendo um movimento pan-europeu para confrontar o autoritarismo da UE, e sinto uma grande onda de internacionalismo em lugares tão diferentes um do outro como Alemanha, Irlanda e Portugal”.

Defensores ilustres da saída do Reino Unido, como o pesquisador de Harvard Richard Tuck, estão dispostos a arriscar anulando este aumento. “Eles apontam para momentos cruciais quando a esquerda se aproveitou da falta de uma constituição escrita para expropriar negócios médicos privado e criar o seu Serviço Nacional de Saúde e de outras instituições da Grã-Bretanha. “Um voto para ficar dentro da UE,” Tuck escreve , “vai … acabar com qualquer esperança de política verdadeiramente de esquerda no Reino Unido.””, pontua o articulista grego. “Do mesmo modo, em matéria de imigração, Tuck afirma que, apesar da xenofobia insuportável dominando a campanha sair, a única maneira de superar o racismo é deixar as pessoas da Grã-Bretanha “se sentirem” soberanos novamente, retornando o controle de suas fronteiras para Londres”.

Embora a análise histórica de Tuck mostre-se correta, uma vez que o país está preso à atual UE, uma campanha política para saída é improvável para orientar as políticas nacionais na direção de metas de esquerda. “Muito provavelmente, ele irá resultar em um novo governo conservador que aperta ainda mais o parafuso de austeridade e levanta novas cercas para manter os estrangeiros desprezados fora”, explica o articulista. O filósofo Slavoj Žižek, um dos signatários do DiEM25, recentemente brincou que o nacionalismo socialista não é uma boa defesa contra o nacional-socialismo pós-moderno que a desintegração da União Europeia traria. “Ele tem razão. Agora mais do que nunca, um movimento humanista pan-europeu para democratizar a UE é melhor aposta da esquerda”.

 

 

(tradução livre por Tatiane Correia)

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

13 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Hoje é uma sexta-feira

    Hoje é uma sexta-feira perfeita para aterrorizar alguns gringos poderosos e seus lacaios brasileiros:

    failed to keep UK within the EU neoliberalism. will take the US out of the bloody claws?

    What do you say ?

    How much lost today?

    How much will make lost?

    Next: fall.

     

     

  2. Alguma coisa me diz que essa

    Alguma coisa me diz que essa não é a maneira correta de se fazer geopolítica. Se a esquerda europeia quisesse políticas mais progressistas para todos os europeus, seria mais profícuo tentar mudar as instituições de Bruxelas com a Europa unificada.

  3. Alguma coisa me diz que essa

    Alguma coisa me diz que essa não é a maneira correta de se fazer geopolítica. Se a esquerda europeia quisesse políticas mais progressistas para todos os europeus, seria mais profícuo tentar mudar as instituições de Bruxelas com a Europa unificada.

  4. Nõa há esperança na .UE

    Sair é o melhor caminho. A UE virou uma tecnocracia-neoliberal anti-povo. A Inglaterra pode virar um país ultradireitista? Pode. Mas a chace de projetos defensivos de esquerda (saúde, educação, proteção social) prosperarem também é grande. Na UE não há possibilidade para as esquerdas

    1. Prezado Wilton, o problema do

      Prezado Wilton, o problema do Brexit não pode ser visto apenas pela ótica dos conflitos internos, mas sim tendo como pano de fundo um renascimento assustador da extrema-direita em toda a Europa. Ela já tem representação forte em quase todas as nações europeias, e já governa em três países (Áustria, Polônia e Hungria), além de ter condições reais de capturar a gigante França nas próximas eleições nacionais. E conseguiu tais resultados amparada no discurso anti-europeu e xenófobo, hoje guindado à posição de destaque, enquanto nas sombras vicejam os velhos discursos históricos dos fascistas (anti-semitismo, contra minorias étnicas e de comportamento).

      A circunstância atual é a melhor possível para a recrudescência da extrema-direita, um misto de crise econômica e descrença na democracia representativa. Neste contexto ela prosperou, nos anos 30 do século XX, até chegar ao que todos sabemos. E o momento atual ainda traz uma variável mil vezes mais perturbadora, a ascensão possível de um líder nos EUA com discurso equivalente, o que torna imprevisível imaginar que freios poderiam deter a escalada do reacionarismo selvagem. Nos anos 40, ele só parou ao ser fisicamente exterminado, ao cabo de uma guerra sanguinária contra uma força militar mais poderosa. E agora, que a mais poderosa força militar do planeta poderá estar a seu favor?

  5. Enquanto na Europa a

    Enquanto na Europa a discussão sobre o neoliberalismo está em pauta, aqui no Brasil, uns imbecis querem tomar o poder e aplicar o neoliberalismo sem que o povo saiba sobre essa desgraça.

    1. E os peões da paulista

      É verdade,mas aqui temos  um agravante. Os que assaltaram o poder são apoiados por  legiões de outros imbecis vestidos de verde-amarelo marchando pela paulista ao son da orquestra sinfônica das panelas indignadas!

      Bom. permita-me expor o seguinte pensamento.

      ” A soberania de uma nação se equipara a estatura do senso crítico de seu povo”

      Isso pode dar a métrica do que somos como nação

      É isso.

  6. Um pouco mais de terrorismo.

    Um pouco mais de terrorismo. Neste caso eu e meu camarada inglês fizemos uma parceria para sacanear o nóia fardado que administra a conta de Twitter da OTAN: 

    Where are you ? Sire left power because it was eaten by Godzilla?

     

    No idea what will happen now. So much uncertainty.

    This is the best time of yor life . You changed the certainty of neoliberal slavery by the uncertainty of freedom.

    That’s a good way of putting it. Thank you.

    Next step: UK must vote if it will stay or leave . This old thing that is expensive and only creates problems.

    That would be awesome. Many battles still to fight.

    Yes. tin soldiers need to create wars to look useful, but they only give profits for weapons manufacturers.

     

     

  7. Quem quis a saída foram os

    Quem quis a saída foram os mais pobres, aterrorizados com a inundação de imigrantes que poderiam tomar seu emprego. Os mais ricos eram majoritariamente favoráveis ao Remain porque já sabiam que uma saída iria gerar esses transtornos todos retratados na charge postada pelo Fábio de Oliveira Ribeiro.

  8. Para Grécia

        Este Brexit , para o país dele, coloca mais azeitonas na empada não da “esquerda grega “, mas na dos euroraivosos do “Amanhecer Dourado”.

         Filme repetido: Enquanto a esquerda discursa, lista manifestos, comparece em encontros e palestras, a direita e a extrema direita agem.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador