Em busca de uma saída, por Hélio Doyle

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Brasil 247

Ninguém se atreve a dizer como será 2016. Pior, ninguém se atreve a ser otimista quanto ao que esperar do ano que vem. Claro que há os astrólogos de profissão e as polianas por obrigação, mas nenhum analista sério arrisca previsões ou manifesta esperanças de que a imensa crise econômica, política e ética que o país vive seja superada ou mesmo razoavelmente minimizada nos próximos 12 meses.

Esse é o pior sintoma da crise brasileira: está muito difícil, quase impossível, enxergar a saída. Muitos têm a receita do que fazer, ou acham que têm. O problema é como fazer em uma sociedade extremamente polarizada ideológica e politicamente e em que cada proposta ou medida encontra forte reação contrária. Não há maioria clara, não há posição nitidamente hegemônica, falta legitimidade aos poderes Executivo e Legislativo. E até, em menor grau, ao Judiciário. Como não se consegue fazer, seja lá o que for, a saída fica a cada dia mais distante.

No quadro atual, gostemos ou não, faltam sobretudo lideranças políticas respeitadas, independentemente de suas posições. Há crises e polarizações extremadas em outros países, mas há também líderes. Na vizinha Argentina, Mauricio Macri e Cristina Kirchner polarizam e lideram seus campos. Na Espanha, em Portugal, na Grécia, países também em crise acentuada, as lideranças partidárias são conhecidas e explícitas. As velhas, dos partidos tradicionais, e as novas, do Podemos, do Bloco de Esquerda ou do Syriza.

Aqui, os líderes não lideram sequer seus agrupamentos, muito menos conseguem respaldo da população. Responda rápido: quem são os líderes que podem neste momento comandar a saída da crise? Dilma, Lula, Fernando Henrique, Temer, Aécio, Alckmin, Marina, Ciro, Chico Alencar, Caiado, Bolsonaro? Todos têm seus seguidores, mas nenhum desses – e podem citar outros – tem capacidade política e mobilizadora de liderar o país. Na verdade, sequer têm iniciativa.

É mesmo quase o fundo do poço. Pois a crise tem de ser enfrentada, e para isso não bastam as medidas paliativas, na economia ou na política. É preciso adotar medidas estruturais e profundas. A crise ética é mais fácil de ser tratada: basta que deixem o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário trabalhar sem interferências externas e políticas. E que essas instituições sejam cobradas se estiverem fugindo à exigência de isenção, imparcialidade e respeito aos direitos civis e humanos.    

Para enfrentar a crise política, é preciso uma reforma profunda no Estado, nos poderes e no sistema eleitoral. Para superar a crise econômica, é preciso tomar medidas que levem ao equilíbrio fiscal e financeiro ao mesmo tempo em que se promove o crescimento econômico, sem onerar os mais pobres e mais necessitados das ações do poder público.

Mas que reformas e que medidas? Um bom começo seria o governo e cada força política apresentarem com clareza à população o que propõem e pretendem nos campos econômico e político. Sem tergiversar e sem querer iludir, como se estivéssemos em campanha eleitoral. E que essas propostas fossem discutidas, na sociedade e nos parlamentos, com seriedade e sem sectarismos. Questões mais relevantes poderiam ser levadas à consulta popular, instrumento democrático geralmente rejeitado pelas elites que temem serem derrotadas e preferem os salões e porões dos legislativos.

Difícil acontecer isso, certamente. Mas se o Brasil não reconhecer a gravidade da crise, não sair do caos atual e não tentar elevar o nível das propostas e dos debates, 2016 será um ano ainda pior do que estamos pensando. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. O autor é

    O autor é interessante.

    Começa o artigo com um pessimismo férreo.

    Decreta, de pronto, “que não há ninguém que se

    atreva a dizer como será 2016″.  Nos parágrafos

    seguintes vai apontando saídas e debulhando as

    soluções que só ele conhece e se atreve dizer.

    Então tá, Doyle.

  2. É claro que o país tem líder…

    A maior parte da população foi pautada em 2015 pelos comentários golpistas e sensacionalistas da grande mídia. Desses citados podemos enumerar pela ordem: Lula, Alckmin e Ciro. O Aécio foi o boneco da maldade apoiada pela mídia. Fernando Henrique não passa confiança. Dilma foi eleita com apoio de um líder e continua suportando os comentários daqueles que como sempre só conseguem vê defeitos. O Temer perdeu completamente a credibilidade ao tentar fazer uma carta que tinha como pano de fundo ser manchete da mesma mídia golpista. Marina se apresenta como vítima, porém, seu ódio disfarçado não inspira confiança. Chico Alencar não se pode comentar. Caiado o discurso pelo discurso da mesma tecla. Bolsonaro um tipo de gente que só convence a turma que não quer pensar ou gosta de maldade.

  3. É claro que o país tem líder…

    A maior parte da população foi pautada em 2015 pelos comentários golpistas e sensacionalistas da grande mídia. Desses citados podemos enumerar pela ordem: Lula, Alckmin e Ciro. O Aécio foi o boneco da maldade apoiada pela mídia. Fernando Henrique não passa confiança. Dilma foi eleita com apoio de um líder e continua suportando os comentários daqueles que como sempre só conseguem vê defeitos. O Temer perdeu completamente a credibilidade ao tentar fazer uma carta que tinha como pano de fundo ser manchete da mesma mídia golpista. Marina se apresenta como vítima, porém, seu ódio disfarçado não inspira confiança. Chico Alencar não se pode comentar. Caiado o discurso pelo discurso da mesma tecla. Bolsonaro um tipo de gente que só convence a turma que não quer pensar ou gosta de maldade.

  4. Penso que os problemas de

    Penso que os problemas de hoje são as soluções de amanhã.

    Se nossa economia e democracia sobreviver a isso tudo teremos premissas bem boas pra recomeçar. Por exemplo, acredito que com tudo que aconteceu, quem quer que seja o próximo presidente, a população não aceitaria mais um primo do vice-presidente como PGR como aconteceu no passado, ou qualquer interferência do governo no judiciário. Embora nos estados isso ainda aconteça, no âmbito federal vai ficar difícil. A sensação de impunidade plena que tínhamos no passado não vai mais existir, mesmo que ainda exista um tanto de “dois pesos e duas medidas” entre partidos não creio que isso dure muito tempo.

    Criança fora da escola é algo que não é mais aceito em canto nenhum do País. Na minha infância joguei bola com crianças que não frequentavam a escola – hoje isso é considerado um crime. De uma forma ou de outra o Brasil entrou no mapa do mundo, um americano ou europeu consegue apontar nosso país no mapa e isso é coisa recente.

    Se não vamos ser exportadores de petróleo, pelo menos autosuficientes acho que vamos ser, mesmo com os exageros da Lava Jato. A extração e comercialização do petróleo será feita de forma mais responsável e sem muita sede ao pote. Podemos crescer sem essa de “nunca na história deste país” mas de maneira mais sustentável.

  5. não há soluções, mas eui digo

    não há soluções, mas eui digo quais são…

    um paradoxo.

    essa de que não há líderes é típico do desejo da grande mídia,

    que massacrou e massacrará a todos os lideres populares…

    esdsa grande    mídia, que fetichiza sua liderança 

    hegemonia fascista, antipolítica, contrta as instituições…

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