Apesar da espionagem, governo mantém leilão do pré-sal

Jornal GGN – A denúncia de que a NSA (Agência Nacional de Segurança, na sigla em inglês) dos EUA espionou dados do governo brasileiro e da Petrobras fez a presidente Dilma Rousseff adiar a visita oficial que faria ao presidente Barack Obama em outubro. Entretanto, em nada mudou sua posição sobre a realização do leilão do pré-sal. 

Com ou sem espionagem, para o técnico da Petrobras e diretor do Sindpetro/RJ (Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro) e da Federação Nacional dos Petroleiros, Emanuel Cancella, não deve haver leilão. Para ele, “em toda a história do Brasil, a subserviência aos interesses externos têm sido a tônica”. E acrescenta, “agora, com o leilão, o governo está cometendo um crime contra o Brasil”.

Para justificar a manutenção do leilão de petróleo, marcado para 21 de outubro, a diretora-geral da ANP (Agência Nacional de Petróleo), Magda Chambriad, tenta minimizar a revelação do vazamento de informações da estatal com o argumento de que para roubar as informações do setor seria preciso “ser um espião paranormal”.

A declaração foi dada à comissão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Espionagem no Senado, que se reuniu para ouvir a diretora-geral da ANP e apurar as denúncias de espionagem praticada pelo governo norte-americano no Brasil. Magda foi a primeira pessoa a depor na CPI. O objetivo dos parlamentares era saber se houve comprometimento na lisura do leilão para exploração do Campo de Libra, com potencial estimado entre 26 bilhões a 42 bilhões de barris/dia de petróleo, cujo valor poderá ultrapassar US$ 1 trilhão.

Magda negou qualquer possibilidade de vazamento de informações. Afirmou que existem, sim, documentos sigilosos, mas eles estariam fora de alcance da internet, guardados num banco de dados na Urca. “Podem ficar tranquilos, pois não é possível espionar o banco por meio da rede mundial de computadores”, afirmou. No entanto, as suas explicações não convenceram os senadores Roberto Requião (PMDB-PR) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Requião diz estar certo da “violabilidade” do sistema da agência reguladora. Para o senador, a diretora-geral falou do problema de “forma ligeira e subestimando a inteligência dos parlamentares”, criticou. 

Constrangimento

Somente após a revelação de denúncias de vazamento de informações da Petrobras, a petrolífera afirmou que serão investidos neste ano R$ 3,9 bilhões em segurança da informação. A confirmação foi feita aos membros da CPI da Espionagem do Senado, pela presidente da Petrobras, Graça Foster, na quarta-feira (18). Graça disse não ter dúvida da eficiência do sistema de proteção de dados da companhia. A presidente da petrobras admitiu ter havido constrangimento e desconforto após as denuncias de que o governo norte-americano monitorou as atividades da empresa. “A tecnologia é renovada a cada dia, e o monitoramento é constante”, acrescentou, ressaltando, que não havia registro de que informações tenham sido acessadas. “Não houve acesso a dados, por exemplo, da área de exploração e produção”.

Graça Foster, porém admitiu para os senadores que “existem 36 empresas trabalhando com a estatal brasileira na segurança da informação, várias estrangeiras, sendo 14 delas americanas, que usam tecnologias que na maioria das vezes não são desenvolvidas no país”. No entanto, a presidente da Petrobras não vê motivos para o cancelamento do leilão do Campo de Libra, na Bacia de Santos.

Para Emanuel Cancella, as declarações de Graça Foster só reafirmam que “o Brasil infelizmente é o quintal dos EUA”. “No governo Fernando Henrique Cardoso fomos proibidos, petroleiros e dirigentes sindicais, de entrar numa sala onde estava um computador dos EUA; ninguém tinha acesso”. Para o dirigente, “essas relações mostram como o Brasil é condescendente com os EUA”, afirmou.

Movimentos sociais

Os movimentos sociais que articulam a campanha “O Petróleo Tem que Ser Nosso” realizaram, nesta quarta-feira (18), um ato contra a espionagem na Petrobras e pelo cancelamento do leilão de Libra – a mobilização aconteceu em frente ao Consulado dos EUA no Rio de janeiro. Aproximadamente 100 pessoas participaram do evento, contando com a representação de várias entidades. “Apesar de pouca participação e do bloqueio, diferentemente dos atos anteriores realizados no consulado, o protesto chegou até a porta do órgão”, diz Cancella. “Cumprimos um papel importante, denunciando a espionagem e nossa indignação”, acrescenta.

O dirigente questionou o cancelamento da viagem oficial de Dilma a Barack Obama. “Essa história de ela dizer que não quer ir aos EUA por que as respostas sobre a espionagem não lhe agradaram é uma vergonha; ela deveria ir e dizer a ele [Obama] que espionagem é crime de guerra e um desrespeito ao Brasil”, afirmou. “Antigamente, ficávamos preocupados com a 4ª Plataforma, entre outras questões que refletiam a soberania nacional do país, porém quando a gente olha para os lados, vimos que o inimigo mora aqui e quer fazer o leilão”, argumenta.

“Quem quer fazer o leilão é a Dilma e não Obama”, critica o dirigente, contando que o Sindicato dos Petroleiros do Rio Janeiro e demais movimentos irão iniciar na próxima terça-feira (24) um acampamento no centro carioca. “Vamos denunciar o leilão do pré-sal para a sociedade, além de cobrar da presidente Dilma Rousseff sobre o crime que está cometendo contra o país”, disse. Para ele, “Dilma está contradizendo sua campanha eleitoral, quando dizia que a privatização era um crime”. “O pré sal é a uma porta para o futuro do Brasil; o que o governo brasileiro está fazendo é um estelionato eleitoral”, criticou. “Ela [Dilma] precisa dizer por que era crime e agora deixou de ser”, argumenta, irritado. O dirigente acrescenta que “a soberania do Brasil vai além da Dilma Roussef, Lobão, Graça Foster e Magda Chambriad; a nossa luta é pelo povo brasileiro”.

Veja vídeo dos movimentos sociais ligados à FNP e ao Sindipetro, explicando o porquê de serem contra os leilões do campo de Libra:

 

Redação

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