Ministro da Defesa rasga a fantasia e reforça suspeita de golpe

Efetivamente os militares de 2020 encontraram seu Golbery do Couto e Silva e, agora, a exemplo do general Paulo Sérgio, deixam gradativamente os pudores de lado para se envolver diretamente na construção do golpe de Estado.

Ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, em reunião com oficiais do Exército (Foto: Ministério da Defesa).
Ministro da Defesa, general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, em reunião com oficiais do Exército (Foto: Ministério da Defesa).

O retuíte do Ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, de um artigo afirmando que eventual vitória de Lula “será o desastre e a ruína moral da nação e de suas instituições” (divulgado por Malu Gaspar, em O Globo) é o documento mais significativo, até agora, sobre as intenções de golpe por parte dos militares.

Até agora, a insistência de Paulo Sérgio, em reunir seus técnicos com os do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) poderia ser interpretada como pinimba, depois do laudo do seu departamento ter sido minimizado pelos técnicos do TSE. O retuíte mostra que não: o general está empenhado até o pescoço nas articulações anti-Lula e anti-eleições. Não apenas pelo teor, mas pelo autor do documento retuitado: o general comentou que “o texto é muito bom” e que o autor “é uma das maiores inteligências da história do Exército”.

O autor é o general Rocha Paiva, ex-comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, diretor de geopolítica e conflitos do Instituto Sagres e principal mentor do projeto político apresentado recentemente pelos militares. Pela proposta, os militares se transformariam definitivamente em poder moderador, compondo uma organização, acima dos poderes, para garantir os princípios econômicos, sociais e morais para a Nação.

Efetivamente os militares de 2020 encontraram seu Golbery do Couto e Silva e, agora, a exemplo do general Paulo Sérgio, deixam gradativamente os pudores de lado para se envolver diretamente na construção do golpe de Estado.

Ressalte-se que, na condição de Ministro da Defesa, Paulo Sérgio não representa as Forças Armadas, mas o governo Bolsonaro. Mesmo assim, as manifestações militares contra o golpe são sempre em off, atribuídas a militares da ativa, mas sem passar a dimensão da adesão desses militares à legalidade.

O twitter do general aumenta substancialmente as dúvidas sobre os próximos meses. Nos últimos dias, começaram a pipocar as violências estimuladas desde sempre pelos Bolsonaro. Primeiro, atentados morais; ontem, um assassinato. Tem-se Clubes de Caça e Tiro espalhados pelo país, armados até o dentes. Na outra ponta, um Exército que abriu mão até do controle das armas e munições e chefiados – pelo menos no Ministério da Defesa – por pessoas mais interessadas na política que no país, ainda emprenhados pelo clima da guerra fria e por todas as superstições políticas.

Luis Nassif

5 Comentários

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  1. Se esse tal de Rocha Paiva, segundo o Ministro, é isso tudo… Deus nos livre de uma guerra
    Só demonstra quão desclassificadas são as Forças Armadas.
    Faz um grande favor pra todos nós brasileiros, Voltem pros Quartéis.

  2. Há um problema concreto hoje que são os milhares de militares nas várias instâncias de governo, emperrando a máquina pública e que não vão querer sair do governo. Será necessário um grande pacto com amplos setores da sociedade para mostrar o quanto isso foi e está sendo prejudicial ao país e que não resolveu o problema da corrupção, pelo contrário, a encobriu mais. Grande projeto nacional e um programa de fiscalização sério pode reverter a médio prazo esta situação. Muitos militares não querem esse fardo bolsonarista no currículo e nas vidas de suas famílias.
    O Brasil pode ser maior.

  3. Quando seu Jobim , botou um farda já mostramos vocação terceiro-mundista , quando um militar da ativa no comando da Defesa num regime democrático carimbamos que “semos” terceiro-mundo , bem fazem os EUA que mantém seus militares sempre numa guerra nem que seja contra eles mesmos …

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