A revolução industrial e a infância

Por Paulo F. 

Atualizado às 16h58

(Comentário ao post Sobre a pedofilia)

Caro Zibell

O ponto de inflexão nas ditas sociedades modernas urbanas para o início da adolescência é a primeira revolução industrial. Antes em uma sociedade estritamente agrária, a companhia dos filhos aos pais no suas lides no campo era comum, até como aprendizado. Com o advento da fábrica , e a remuneração do trabalho, houve a necessidade de estipular marcos ao trabalho infantil e desta forma a criação do termo infancia e para seu limite etário posterior , adolescência; como conhecido atualmente.

Gilberto Freire em sua obra “Casa Grande e Senzala” mostra de forma magnífica como as relações sociais eram praticadas nas nossas terras, e fica evidente que o costume de casamento de moçoilas aos 12,13 anos era regra, não uma coisa extraordinária. Lembro também o caso dos grumetes, crianças, geralmente a partir de oito anos empregadas para todo tipo de serviço nas naus a partir do século 13, e também sujeitas a todo tipo de abuso, sexual inclusive, pelos seus pares.

LembLembrar finalmente que o termo infantaria usado para designar as tropas terrestres vem de infante que tem duplo sentido: aquele que caminha a pé e de criança. Na Idade Média as tropas de infantaria eram usadas como apóio aos nobres, cavaleiros, da arma de cavalaria, que exigia posses para serem proprietários e manter seus animais e principalmente custear suas armaduras. Essa lógica é alterada quando os ingleses re-introduzem no campo de batalha os arqueiros , mas é outra história. Não é a toa que os pés-de-poeira são as principais “buchas de canhão”.

Um dos pontos marcantes na nossa sociedade de consumo e a forma como apelo é dirigido às crianças, mormente pela sua carência de filtros, instigando um consumo desenfreado já nesta faixa etária, modelando os “futuros consumidores”. Dai a sua erotização é um passo.

De forma notável o tratamento dado aos adolescentes e as crianças nas sociedades ameríndias é um grande diferencial quando contrapostos às cultura européia, de cunho judáico-cristão.

Por Luiz Horacio

Existe uma demarcação, um limite, algumas diferenças entre esses costumes de outras épocas e até de outros modos de produção (o “direito” do senhor feudal sobre as moças de suas terras, por exemplo), e a pedofilia propriamente dita. Ou talvez possamos dizer que há variações da pedofilia e nem todas elas caracterizariam um claro abuso sexual de crianças. Sabemos que o casamento aos 15, 16 anos era bastante comum, em outras épocas. Mas qual era a expectativa de vida? Qual era a cultura do casamento? Como eram os relacionamentos familiares nessa época? E mesmo os costumes sexuais e a vida sexual em geral, não eram muito diferentes?

Voltar no tempo acarreta um estudo muito longo para um comentário, então vamos citar algo de específico no presente. Um deles, que salta os olhos, é sempre citado, é a cultura do consumismo, a cultura do desejo, a exploração da precocidade sexual como forma de educar o desejo para o consumo, como forma política de manter o indivíduo infantilizado pelo hedonismo, e assim manter uma cultura em que ser desejável passa a ser uma forma de aceitação social, e que a precocidade da criança interessa ao mercado, desde que seu hedonismo e infantilização (querer ser saciada em todos os seus prazeres, não querer fazer o esforço necessário para obter a realização de seus desejos) se mantenham como base de sua personalidade. Este é um terreno extremamente fértil para que a pedofilia se desenvolve e se realize.

A distância entre pais e filhos para certos assuntos hoje é bem maior. As condições de controle dos país são bem menores. Muitos pais não sabem nem ligar um computador, ainda hoje. Mas a perda de autoridade, a cultura do “não reprimir”, não repreender, chega a um esfriamento completo das figuras paterna e materna na formação das pessoas. Há também um enorme afrouxamento das regras sociais, e no Brasil pelo menos uma grande crise institucional referentes aos agentes de Estado. Há uma grande margem para a permissividade.

Porém, ainda assim persistem três indicativos muito claros do que seja a pedofilia.Primeiro, a enorme diferença de idade e o desejo sexual por uma criança ou adolescente ainda muito jovem , por parte de um adulto. Segundo, a escolha e as condições para essa escolha, para saber se a relação sexual será adequada, será consentida e escolhida dentre várias alternativas, inclusive a de não haver qualquer contato sexual. Neste ponto há um filme, “O Processo do Desejo”, e entre dois adultos, mas a mulher processa o homem porque ele a enganou de modo a não dar uma margem adequada e suficiente de escolha, em relação a ele (fingiu que era um turista preso em um museu de arte com ela, mas era funcionário do museu e tinha a chave). Terceiro, a relação muitas vezes envolve diferenças muito grandes de poder ou favores financeiros, do abusador em relação a criança, já não bastasse a idade. Ou envolve ainda as redes de pedofilia e a exploração de material pornográfico feito com crianças.

Nestes moldes, a pedofilia é um fenômeno que se não é novo, foi renovado, revigorado e está sendo multiplicado. Acrescentes-se a isso agora o consumo de drogas, a prostituição nas estradas, nas cidades turísticas, o tráfico de crianças e de mulheres, etc.

Luis Nassif

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