Sugerido por Andre Araujo
A RECONQUISTA DE PARIS – Em 25 de agosto de 1944, 69 anos de hoje, o Comandante alemão de Paris rendeu-se na Estação Ferroviaria de Montparnasse, ele, seu Estado Maior e 17.000 soldados da guarnição de Paris. O General Dietrich vol Choltitz foi no ato feito preisioneiro, mandado para Londre e depois para os EUA, foi libertado em 1947 e considerado “salvador de Paris”.
Quando a partir da invasão da Normandia as tropas aliadas chegavam perto de Paris, Hitler deu a ordem para deixar Paris arrasada por explosões de dinamite nas pontes e grandes edificos e bombas incendiarias nos bairros centrais. O General Choltitz, um amante das artes não executou as ordens, colocando a vida em risco mas salvando Paris.
No campo politico é que travou-se a grande batalha. A Resistencia, então dominada pelos comunistas, pretendia antes das tropas aliadas, tomar a cidade, sem se importar com perdas. Paris vale 200.000 vidas, dizia o comando comunista da Resistencia em Paris. Para não dar esse trofeu aos comunistas, De Gaulle exigiu dos anglo-americanos que a Divisão da França Livre comandada pelo General Phelippe Leclerc chegasse em primeiro lugar a Paris, antes das tropas americanas, para marcar que a cidade foi libertada por De Gaulle, o que consolidaria seu poder politico. E assim foi feito.
O Comandante Alemão rendeu-se ao General Leclerc, como De Gaulle queria e conseguiu, impedindo que a Resistencia tivesse essa gloria.
Em 1967 fiquei quinze dias no hotel Meurice, ocupando o mesmo quarto do General Choltitz, turismo historico. Choltitz tinha voltado ao Meurice depois de libertado da prisão, foi reconhecido pelo barman. o gerente foi chamado e ofereceu-lhe champagne. Choltitz apenas quer rever seu quarto, olhou e foi embora. Morreu em 1966 em Baden Baden, sede da ocupação francesa de seu quinhão na Alemanha. Ao enterro compareceram generais franceses homenagenado aquele que, embora inimigo, foi um benfeitor da França.
A queda e retomada de Paris foi um dos eventos importantes da ultima fase da Segunda Guerra na Europa.
Do blog As Melhores Histórias da 2ª Guerra Mundial
“Paris Está em Chamas?”
Os alemães atacavam de rijo e as baixas atingiam grandes proporções. Pelo cair da noite, nessa quarta-feira sangrenta, foi morto o 500.° parisiense nas ruas; 2 000 tinham sido feridos. E em parte alguma havia qualquer sinal da ajuda que tantos esperavam que chegasse dentro de horas depois do começo da insurreição.
Desde o amanhecer desse dia, a Segunda Divisão Blindada Francesa (2.” DB) avançava com fragor através das ondulantes terras de plantio da Normandia. Estava dividida em duas colunas, cada uma com 20 quilómetros de comprimento. Sob uma tempestade, derrapando e escorregando nas estreitas estradas, os 4 000 veículos e 16 000 homens da divisão avançavam a toda a pressa para a sua capital ocupada.
De todas as unidades aliadas não havia um grupo tão estranho como esse. Continha homens que haviam andado a pé centenas de quilómetros para chegar à África e se reunirem às suas fileiras; homens que haviam atravessado o Canal da Mancha em canoas roubadas; prisioneiros de 1940 que haviam escapado dos stalags alemães para se alistarem de novo. Havia franceses que nunca tinham visto a França; árabes que mal sabiam falar francês; negros da África Equatorial Francesa; membros de tribos do Deserto do Saara.
A sua passagem, os camponeses da Normandia aclamavam ruidosamente a bandeira tricolor e a Cruz de Lorena dos veículos, saudando as letras brancas nos tanques Sherman, letras que formavam os nomes de outras batalhas da França: “La Mar-ne”, “Verdun”, “Austerlitz”. Os soldados sentiam uma exultação que muitos deles julgavam haver perdido para sempre. Todos os homens da divisão eram animados por um júbilo quase histérico ante a ideia de que estavam marchando sobre Paris.
À noitinha, a 2.” DB entrava em Rambouillet, a 48 quilómetros de seu destino. O Tenente Sam Bright-man estava sentado no restaurante do Hotel Grand Veneur nessa cidade, olhando a massa enlameada de soldados e veículos.
—A única coisa que eles precisam —murmurou Brightman—é de Gaulle, e os alemães teriam o seu melhor alvo desde o Dia-D.
Nesse momento, a garçonete soltou uma exclamação abafada e deixou cair o prato de comida que estava trazendo. Depois, petrificada, ficou a olhar para a janela e, com lágrimas nos olhos, repetiu várias vezes:
—De Gaulle, de Gaulle, de Gaulle!
Charles de Gaulle estava de fato em Rambouillet e, como os comunistas parisienses haviam receado, na vanguarda do Exército de Libertação. Mal se detendo a responder à ovação do povo da cidade, o general e seu grupo foram diretos ao Château de Rambouillet, onde ele rejeitou a sugestão de que ocupasse os aposentos presidenciais. Em vez disso, escolheu dois quartos no sótão. Depois mandou chamar Leclerc. Ardia em impaciência por chegar a Paris.
Leclerc comunicara-lhe a mudança em seus planos originais. Ele tinha ordem de avançar direto pelo caminho mais curto para Paris, através de Rambouillet e Versalhes. Mas agora o serviço de informações avisava-o de novos tanques alemães e campos de minas nessa região. Leclerc decidira desviar o grosso da força para Leste e entrar na capital pela Porta d’Orléans. O que 24 horas antes parecera uma simples entrada sem obstáculos ia ser uma batalha.
Os homens de Leclerc espalharam-se pelo campo para ver se dormiam um pouco. Durante a noite foi distribuído combustível aos tanques e carros blindados da divisão. O ataque começaria logo depois do alvorecer.
Os defensores alemães não sabiam do ataque iminente. O serviço de informações alemão havia informado apenas a respeito de “carros blindados ligeiros de exploração” em frente da capital. Não obstante, o Feldmarechal Model achou que a frente de Paris tinha sido deixada perigosamente fraca, e nessa quarta-feira à noite mandou reforços para encher a brecha.
Mas reforços aliados estavam a caminho também. Pois Rolf Nord-ling conseguira chegar até ao General Bradley com o convite de von Choltitz para que os Aliados avançassem sobre Paris. E Bradley reagira imediatamente, ordenando à Quarta Divisão dos E.U.A. que se preparasse para avançar sobre Paris.
—Não podemos arriscar-nos a que esse general alemão mude de ideia e mande a cidade pelos ares.
Nessa noite de 23 de agosto, a Quarta começou a deixar o seu acampamento em Carrouges, a 210 quilómetros de Paris.
A parada durou pouco, pois as colunas de tanques finalmente encontraram a linha de defesa alemã, uma vasta emboscada cuja espinha dorsal eram 20 baterias de canhões de 88 mm cuidadosamente escondidos. Seguiu-se pesada luta. com perda de muitos tanques, mas isso apenas retardou a marcha; não a deteve.
Em Paris, o som cada vez mais intenso desses bombardeios ao sul inspirava incessantes tiros de tocaia, os quais de tal modo enraiveciam os alemães que algumas vezes eles reagiam com selvajaria insensata. No Boulevard Raspail, um tanque de patrulha abriu fogo contra uma fila de donas de casa que esperavam deso-ladamente na porta de uma padaria.
O troar distante do canhoneio também estimulou os combatentes da Resistência a intensificarem sua insurreição. Em parte nenhuma a luta era mais violenta do que na Pla-ce de Ia Republique, onde l 200 soldados alemães do quartel Prinz Eugen lutavam para romper um anel cada vez mais apertado das FFI. A fim de atacarem seus inimigos pela retaguarda, os alemães tentaram passar pelos túneis enegrecidos do metro sob a praça. Nesses corredores abafados, assobiando para se identificarem uns aos outros, os dois lados lutaram desesperadamente: um combate pontilhado de explosões de granadas e dos clarões rápidos e brilhantes dos tiros de fuzis.
Por toda a parte na cidade os alemães se preparavam para a esperada entrada dos Aliados na capital. Nessa noite ela começou.
Com um pequeno destacamento, o Capitão Raymond Dronne atravessou a linha da cidade e entrou em Paris. Seus homens, os primeiros soldados franceses a voltarem a Paris,soltaram uma aclamação delirante.
Nessa tarde Leclerc havia concluído com relutância que não poderia chegar à cidade antes do dia seguinte. E tinha ordenado a Dronne que tomasse tudo o que pudesse e seguisse para Paris. “Diga-lhes que aguentem, que amanhã chegaremos.”
Dronne partiu com três Shermans e 16 veículos semilagarta. O jovem capitão com cabelo de fogo queria estar bonito para as mulheres de Paris. Mas não dormia havia 48 horas, tinha os olhos injetados de sangue, a barba transformada numa floresta emaranhada de lama, o uniforme coberto de óleo, pólvora e suor.
Mas nenhum dos parisienses pareceu importar-se com a aparência de Dronne. Dezenas de parisiennes subiram ao seu carro para abraçá-lo e beijá-lo. Uma moça pesadona, Jea-nine Bouchaert, saltou para o jipe dele e, ao fazê-lo, esmagou-lhe o pára-brisa abaixado. Com a extática Jeanine cantando e agitando uma bandeira tricolor, os homens de Dronne avançaram por ruas transversais e finalmente surgiram em frente do Hotel de Ville. Os veículos de Dronne cercaram o edifício.
Segundos antes, Georges Bidault (que mais tarde seria Primeiro-Ministro) tinha subido a uma mesa capenga do refeitório e gritado para os seus companheiros combatentes da Resistência:
—Os primeiros tanques do Exército Francês atravessaram o Sena!
Ainda o eco de suas palavras pairava na sala quando se ouviu lá fora o ruído dos tanques. A multidão começou a cantar A Marselhesa, e, ao morrerem as últimas notas do hino, os homens que estavam no interior do edifício saíram em tropel e caíram sobre Dronne, que estava sem fala, e sufocaram-no com abraços, banhando-o em lágrimas.
A fim de espalharem a notícia, as usinas de eletricidade de Paris ligaram todas as chaves necessárias para que uma transmissão radiofónica chegasse a todos os cantos da cidade. “Parisienses, regozijai-vos!”, gritou o locutor, Pierre Schaeffer. “A divisão de Leclerc entrou em Paris. Estamos loucos de felicidade!” Depois a estação tocou A Marselhesa, e uma coisa notável aconteceu. Inúmeros parisienses ligaram seus rádios a todo o volume e abriram suas janelas.
Mal os sons da música haviam silenciado, Schaeffer estava de novo no microfone. “Digam a todos os padres que toquem os sinos de suas igrejas!”
Durante quatro anos os sinos de Paris tinham ficado mudos. Nem uma só vez durante a Ocupação eles tinham feito soar suas notas vibrantes, nem mesmo para chamar os parisienses à Missa. Então, ao apelo de Schaeffer, o grande sino de 14 toneladas da torre sul de Notre-Dame iniciou um repique jubiloso. Em resposta vieram as notas do Savoy-arde, o sino de 19 toneladas do Sacré-Coeur, fundido em fervorosa ação de graças pelo fim da ocupação alemã de Paris em 1871. Uma por uma, todas as igrejas de Paris lhes juntaram seu coro majestoso. Os parisienses choravam ao ouvirem o som.
Em nenhuma parte de Paris os sinos tiveram maior impacto do que num pequeno escritório do Hotel Meurice. Aí os oficiais do estado-maior de Dietrich von Choltitz ofereciam-lhe um jantar de adeus improvisado. Os que se encontravam no quarto tinham poucas ilusões sobre a sorte que os esperava. Não só os Aliados estavam praticamente dentro da cidade, mas as forças americanas haviam atravessado o Sena e avançavam sem resistência em território ocupado pelos alemães. A 26.” e 27.a divisões de Panzers, que tinham sido destinadas à defesa de Paris, foram desviadas para detê-los. Von Choltitz não receberia reforços.
Olhando para os oficiais que o cercavam, von Choltitz leu espanto em algumas fisionomias.
—Que outra coisa esperavam?— perguntou com raiva.—Os senhores têm vivido aqui em seu mundozinho de sonho. Cavalheiros, posso-lhes dizer uma coisa que lhes passou despercebida aqui em sua vida amena de Paris: a Alemanha perdeu a guerra.
Abruptamente, pegou o fone e chamou o General Hans Speidel, chefe do estado-maior do Grupo de Exército B, que se encontrava a 95 quilómetros.
—Escute, Speidel—disse numa voz grave e carregada.
E aproximou o fone da janela para captar o tanger solene dos sinos de Paris.
Mas havia dificuldades adiante. Quando o cortejo entrou na Place de Ia Concorde, começaram a soar tiros. Milhares de pessoas se atiraram ao chão ou correram a abrigar-se atrás dos veículos blindados que estavam na praça. Entretanto, Charles de Gaulle, continuou, indiferente ao tiroteio, ereto como um poste. Quando chegou a Notre-Dame, as FFI e os soldados estavam crivando os telhados próximos de balas, fazendo saltar lascas de granito das gárgulas que ornavam a balaustrada da catedral. Os oficiais de Lecl-erc tentaram desesperadamente restaurar a ordem; o próprio comandante deles bateu com sua bengala num dos soldados que atiravam a torto e a direito.
De Gaulle entrou na catedral pela Porta do Juízo Final. E então, começou o tiroteio dentro da própria catedral. Os fiéis jogaram-se ao chão, mas, caminhando pela nave, de Gaulle manteve o seu passo firme e encaminhou-se para o seu lugar à esquerda do transepto. Atrás dele, o General Koenig berrava para o povo aterrado:
—Vocês não têm orgulho? Levantem-se!
Começou a cerimónia religiosa, mas o fogo não diminuiu. E finalmente, de Gaulle compreendeu a loucura de continuar. Terminou a cerimonia depois do Magnificai e, a seguir, impertubável, percorreu de novo toda a extensão da nave e saiu da catedral.
Nenhuma outra coisa que ele pudesse fazer poderia ter conquistado a admiração de seus compatriotas como essa demonstração de coragem física. “Depois daquilo”, disse um jornalista americano que o observou, “de Gaulle tem a França na palma da mão.”
Nunca se soube bem quem havia atirado. Mas isso fazia pouca diferença para Charles de Gaulle: ele estava convencido de que era obra dos comunistas. Durante os próximos dias dedicou todos os esforços a destruir-lhes o poder restante. E uma semana depois da libertação de Paris ele havia reduzido à impotência todos os riyais importantes, comunistas e outros;
“O ferro estava quente”, escreveu Charles de Gaulle mais tarde com eloquente modéstia. “Eu o malhei.”
“Brennt Paris?”
Hitler ainda não havia acabado com Paris. Quando teve notícia de que os Aliados estavam entrando na cidade, sua raiva foi sem limites.
—Jodl!—gritou para o chefe do seu estado-maior.—Brennt Paris? (“Paris está em Chamas?”)
—Jodl—repetiu Hitler.—Eu quero s.aber! Paris está em chamas ? Paris está em chamas neste momento, Jodl ?
Informado de que não estava, Hitler deu imediatamente uma ordem chocante: um assalto em massa de bombas V devia ser desencadeado sobre a capital francesa. Sua raiva já era frenética porque suas ordens anteriores de deixar Paris “transformada num monte de ruínas” não foram cumpridas, e Jodl não se atreveu a desobedecer-lhe. Com relutância, o chefe do estado-maior telefonou ao Feldmarechal Model, que era um dos discípulos mais dedicados ao Fiihrer. Felizmente para Paris, Model estava ausente em uma inspeção, e a ordem selvagem foi recebida pelo segundo em comando, o General Speidel, que decidiu não lhe dar atenção.
Mas Hitler também tinha ordenado à Luftwaffe que atacasse Paris “com todas as forças à sua disposição”, e a ordem foi obedecida. No raid que se seguiu, o mais pesado sofrido por Paris durante toda a guerra, foram mortas 213 pessoas, feridas 914, e destruídos ou danificados 600 edifícios.
O Tenente Claude Guy observou o raia insensato do Ministério da Defesa. E enquanto as bombas explodindo faziam manchas no horizonte, ele podia ouvir gargalhadas num apartamento vizinho—um grupo de parisienses comemorava ruidosamente a vitória sem dar atenção ao bombardeio.
Na escuridão, Guy sentiu um vulto aproximar-se dele. Era de Gaulle. Sombrio e silencioso, o general observava e ouvia as gargalhadas.
—Oh! suspirou—eles pensam que porque Paris está libertada a guerra terminou. Eh bien, a guerra continua. Os dias mais difíceis estão por vir. O nosso trabalho apenas começou.
(Tradução de João Távora)
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