Jessé Souza: O desafio de desconstruir os intérpretes do Brasil

Sociólogo que assumiu neste ano a direção do principal think tank brasileiro fala sobre novo livro “A tolice da inteligência brasileira”

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Jornal GGN – As sociedades, em qualquer parte do planeta, são montadas por ideias. Por isso a história, a compreensão das suas origens e a forma como o inconsciente coletivo vai se formar é tão importante para determinar o sucesso de uma  população. Qual é a característica da sociedade brasileira aprendida nas academias? Se formos buscar esta resposta nos grandes nomes da sociologia brasileira – em Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freire e Raymundo Faoro – o que veremos é o conceito do ‘homem cordial’, violento e apaixonado em sua raiz, que contribuirá para a criação de um Estado ‘patrimonialista’, que tem como característica não distinguir muito bem os limites entre o público e o privado. Por isso, é tão comum a corrupção nas repartições públicas brasileiras, tanto entre os pequenos funcionários como entre os grandes políticos.

Mas o sociólogo Jesse Souza, atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), está lançando um livro, chamado A tolice da inteligência brasileira, que traz argumentos apontando que os grandes intérpretes da sociedade brasileira estiveram durante todo esse tempo errados. Segundo Jesse, a academia comprou um mito construído pela elite e que necessita ser desconstruído. Acompanhe a seguir, na entrevista (transcrita) que ele concedeu ao jornalista Luis Nassif, as defesas de sua obra.

Luis Nassif – Qual vai ser o foco central do seu livro?

Jesse Souza – O foco central do livro é uma ideia de que no fundo as sociedades são montadas por ideias e a gente não percebe muito isso. Essas ideias se tornam naturalizadas. Mas como a gente gasta o dinheiro, como a gente trata os outros, quais são as prioridades que a gente escolhe, quem a gente vai abandonar e esquecer etc, isso tudo depende de consensos que são compartilhados, alguns deles sem a instância reflexiva, que são construídas por intelectuais.

A ideia principal do livro é que nós temos uma concepção que foi montadas por grandes intelectuais entre nós, depois ela vai para as universidades, vai para as escolas,influenciar decisivamente o que o jornalista escreve no jornal, o que o juiz decide no tribunal etc. E essa concepção é extremamente conservadora, ela é elitista, ela serve para legitimar os interesses mais privados em interesses públicos.

LN – Quer dizer, você está pegando, então, os fundadores… o brasilianas brasileira vai entrar em xeque?

Exatamente.

LN – Por exemplo, vamos pegar um dos pontos que o seu livro aborda que é a questão da herança portuguesa. Como você vê a construção?

JS – É um mito, no fundo, que Gilberto Freire montou. Não tem problema nenhum o país ter um mito. Quer dizer, os Estados Unidos têm um mito que é extremamente importante, isso traz solidariedade, isso é extremamente eficaz. É importante as pessoas sentirem que estão no mesmo barco. Só que o mito americano é o mito do povo eleito, é uma retradução do mito judaico bíblico. Ou seja, aí você só substitui o Mar Vermelho pelo Oceano Atlântico. Então você passa o Oceano Atlântico e constrói uma terra prometida, uma nova gente, eleita por Deus…

LN – E que vai levar a verdade para o mundo…

JS – Exatamente. Imagine a força que isso dá às pessoas comuns? E o nosso mito, montado por Gilberto Freire… ele pega ambiguamente, exatamente, um outro lado do corpo. Nós somos emoção, enquanto o americano e o europeu é o espírito, é a racionalidade. Nós somos o corpo, o sexo, a emoção o sentimento. Ou seja, nós somos menos na hierarquia ocidental, construída pela Igreja Católica… quer dizer, o espírito deve controlar o corpo, que é inferior, é o animal. Então, nós somos animalizados como nação, assim como as classes inferiores são animalizadas. As classes superiores são as classes do espírito, as classes inferiores são do trabalho manual. A mulher é vista como afeto, como sexo, como corpo. O homem como razão… Todas as hierarquias que não são refletidas estão montadas nisso.

O nosso mito é o mito da inferioridade. E a gente se vê, a gente idealiza nos Estados Unidos. Então todos esses teóricos, desde o século 19, entre nós vão idealizar os Estados Unidos como paraíso na Terra, a Terra sem corrupção, o que é incrível depois do escândalo que nós tivemos…

LN – Só um parêntese, nós gravamos um outro programa Brasilianas sobre essa questão da corrupção e da geopolítica, um dos debatedores trouxe um pouquinho do que que é os Estados Unidos… O Brasil é um paraíso..

JS – É uma brincadeira! Quer dizer o pessoal que faz isso, que legaliza a corrupção, o lobby, etc, faz [com que] o excedente econômico, planetário vá todo para os Estados Unidos [afirmando que] isso é esperteza, isso aí não é corrupção… O grande tema inclusive da corrupção, porque isso está no centro da concepção sobre o Brasil, quer dizer o Brasil é montado como? Como aquele Homem Cordial, do Sérgio Buarque de Holanda, é aquele cara que é movido por afetos que vai dar tudo para os amigos e a lei dura para os inimigos, e ele vai, digamos, criar esse amalgama do homem cordial que está localizado no Estado.

Isso é extremamente importante. O Estado passa a ser o demônio. No caso aí teria uma elite incrustada no Estado. Isso vai ser montado por Sérgio Buarque, vai ser revertido depois para a sua tese histórica, brilhantemente montada, apesar de falsa, de fio a pavio, por Raymundo Faoro – em Os Donos do Poder – [por] Fernando Henrique Cardoso, Roberto DaMatta – portanto nove entre dez dos grandes pensadores e interpretes do Brasil -. Isso vai inspirar partidos políticos, de esquerda e direita, [temas como] limpeza do estado, etc.

O contraponto a isso é que o mercado, que se torna um reino de todas as virtudes. Isso é uma construção. Obviamente não se pode se separar mercado e Estado. O Estado monta a infraestrutura para o mercado e o Estado vive do mercado, são duas instituições extremamente ligadas. A grande questão aí é a grande apropriação privada do Estado…

LN – Do orçamento…

JS – Exatamente… no Brasil o que a gente tem é como idealizamos os Estados Unidos, é como se naquele país não houvesse a apropriação privada do Estado. É claro que há! Matou-se milhões de pessoas no Iraque por conta de interesses de grandes petroleiras. O Estado é apropriado por pequenos grupos, nos Estados Unidos.

O ponto é, se ele vai ser apropriado por uma pequena minoria, quer dizer, um punhado de grandes empresas, ou se ele vai ser apropriado pela maioria da população. Quando você demoniza o Estado enquanto tal, você põe essa questão como secundária. Essa questão fica às sombras. E aí você joga uma indefinição do que é corrupção.

Quer dizer, como a corrupção é uma concepção extremamente vaga e ampla, ela fica sendo definida conjunturalmente. Ou seja: alguns partidos, alguns políticos… entre nós isso acontece sempre quando você tem governos de algum modo ligados aos interesses das classes populares: Getúlio Vargas, Jango, Lula, agora Dilma… Ou seja, a nossa elite é uma elite que quer mandar, sem necessariamente ter os votos.

LN- Jessé você deu os mitos que a direita criou. Quais são os mitos que a esquerda criou nesse período, como você definiria?

JS – Acho que a esquerda não conseguiu montar uma narrativa própria. Por exemplo, caras como Sérgio Buarque e Raymundo Faoro, são admirados pela esquerda. Isso tem a ver que a gente confunde muito a pessoa e a obra dela. É claro que um cara como Raymundo Faoro, eu lembro, eu era adolescente na época, era um campeão pelas Diretas Já e tal, era um cara decente, inteligente. Quer dizer, isso é a pessoa dele. Por exemplo, o livro dele é extremamente frágil e com a tese extremamente conservadora. Esse é o ponto. E no caso você monta uma narrativa que vai ser aceita, por todos, e ela tem um sentido político que é extremamente regressivo, conservador e isso não é percebido enquanto tal. E a tese é cientificamente falsa.

Quer dizer, a tese dominante entre nós que é a chamada de personalismo e do patrimonialismo. Quer dizer o brasileiro, nas suas relações interpessoais, no caso o personalismo, seria um português. Ou seja, ele é emotivo, sentimental, sensualizado. Só que o Brasil era uma sociedade muito diferente de Portugal desde o ano zero. Quer dizer, a gente pode gostar de bacalhau, falar português, torcer pelo Vasco da Gama, mas não ser descendente de português. Isso é uma relação de senso comum.

A gente imagina: ‘ah, meu avô era italiano, então eu sou italiano’. Não! Depende quais são as instituições que criaram você. Que tipo de família tinha aqui, que tipo de justiça, que tipo de produção econômica. Que tipos de relações políticas. Isso tudo, num contexto da escravidão, era muito distinto do que tinha em Portugal. Dizer que o Brasil é continuidade de Portugal é um absurdo, é pré-científico, porque são as instituições que constituem as pessoas enquanto tal, que tipo de família e, em grande medida, que tipo de adulto que você vai ser, a escola, a justiça, a política…

LN – A estrutura burocrática em torno do que é montado no Brasil, segundo os clássicos, seguindo o modelo português, a história.. a própria conformação da Igreja Católica aqui, de certo modo não criam semelhanças com o modelo português?

JS – Existe obviamente algumas semelhanças. A língua é muito importante nisso. Porque se você tem a mesma língua você vai importar certos tipos de coisas, o ordenamento jurídico etc. Claro, a relação vai ser de proximidade, mas a construção institucional, os estímulos institucionais para aquilo que vão, digamos, estimular que tipo de família, que tipo de filho, que tipo de pai, quer dizer, que tipo de relação política, serão diferentes. Em Portugal, a igreja era muito forte, era inclusive um tribunal de apelação.

E, no Brasil, escravista, depois de expandir os domínios do Nordeste, do Brasil como um todo, o capelão [da igreja] era funcionário do senhor de terra e gente. Ele [o capelão] tinha lá suas dez mucamas igual o senhor [de engenho] tinha. Quer dizer, o poder religioso, que nessa época era extremamente importante, porque ele implicava em proibir que o senhor não poderia fazer tudo, não podia matar gente, não podia matar filho, ou matar a mulher ou interná-la no hospício, [não funcionava no Brasil, onde tudo isso] acontecia efetivamente, porque ele [o senhor] não tinha nenhum limite à sua autoridade. Em Portugal isso não existia.

Isso é extremamente importante, lá tinha mecanismos de controle. Entre nós o mandonismo imperou por conta disso. Isso não tem nada a ver com Portugal.

LN – A relação de Portugal com a escravidão, com as colônias na África, qual o paralelo, ou não-paralelo que tinha?

JS – Acho que são estudos que são empíricos que poderiam mostrar isso… Não é a minha especialidade. Mas o que acho, no caso brasileiro, é que a gente comprou essa ideia porque ela tem hoje em dia um intuito político. Essas ideias só ganham a proeminência que elas assumem efetivamente… As ideias são muito importantes, elas só vão ocupar o lugar central que elas ocupam hoje entre nós porque elas vão se associar aos interesses dos poderosos. E quais são os interesses poderosos aí, de uma elite muito pequena que quer mandar no país e legitimar isso?

Ou seja, quem reclama hoje em dia da corrupção e diz que ela é só do Estado? O que ela [elite] está querendo dizer é que o que o Estado faz em educação, saúde etc, as empresas podem fazer. Então você tende a mercantilizar a sociedade como um todo, dizendo que o mercado é o paradigma da eficiência, quando a gente sabe que o mercado apesar de eficiente é extremamente desigual.

LN – E a regulação é uma forma de proteção dos mais fracos e toda a forma de regulamentação aqui é demonizada também. Mas gostaria de entender um pouco essa dinâmica entre estado e sociedade. Você tinha um estado patrimonialista, na república velha, onde nós não tínhamos uma democracia consolidada, a democracia que é a maneira do povo interferir… De que maneira que desses choques de conflitos e confrontos o Estado foi se transformando, dentro de limites, obviamente, no período de Getúlio [Vargas]?

JS – Isso é extremamente interessante. Acho que Getúlio soube aproveitar de forma extraordinária as ambiguidades do moralismo da classe média. Aí a gente tem que perguntar, porque o moralismo tem a sede, o suporte dela, é a classe média? Isso é histórico, desde os jacobinos, o fascismo… Seja de esquerda ou de direita, a classe média é o suporte dessa visão. Porque ela sendo média, no fundo, tem um ressentimento contra aqueles que estão acima (se eles estão acima é porque roubaram). E, por outro lado, você tem medo dos de baixo, de ameaçarem sua posição, e você diz o quê? ‘Eu não estou lá acima econômica e politicamente, mas eu tenho algo que ninguém tem, que é a honestidade’. Que nunca vai ser posta a prova porque você não estará em situação de comando…Então é fácil! Aí você demoniza essa elite, que você acredita que esteja no Estado. E ela não está no Estado, ela está no mercado, especialmente entre nós. Mas você externaliza esse mal e a classe média brasileira, por exemplo, ela é hipócrita especialmente na sua versão mais conservadora porque ela explora os mais pobres entre nós.

Imagine, a gente tem uma ralé – usei esse termo não para insultar as pessoas, mas para montar uma coisa provocativa. A grande singularidade brasileira não é o patrimonialismo, porque o patrimonialismo, nesse sentido de apropriação privada do público existiu em todo o lugar. A nossa singularidade efetiva, em relação aos países que a gente admira, é o fato de que a gente construiu [nosso próprio tipo de patrimonialismo que] por alguma razão a nossa sociedade mantém. É muito difícil a gente ter um Estado reformador em uma sociedade conservadora, e ela é conservadora em grande medida porque repete essas coisas [ligadas a cultura patrimonialista].

LN – O instituto da empregada doméstica…

JS – Exatamente isso. Peguemos esse caso que inclusive é o emprego dominante no Brasil. Então quando a classe média usa o trabalho da empregada doméstica ela está poupando o tempo dela para mais estudos, pra outros empregos etc, enquanto ela está roubando o tempo [da empregada]… O tempo é extremamente importante, não é só o dinheiro. O tempo é extremamente importante no capitalismo porque tem um outro elemento, um outro capital nas sociedade moderna que é além do lado do dinheiro, o lado do capital econômico, que é o capital cultural. O conhecimento.

O conhecimento na sociedade moderna é tão importante quanto o dinheiro, e a classe média ela é privilegiada no fundo, ela se põe como se não fosse mas ela é, porque ela monopoliza não o dinheiro… [Quem monopoliza o dinheiro] é menos de 1% [da sociedade]… mas ela [a classe média] monopoliza o conhecimento, o capital cultural. E para o capital cultural você tem que ter um tempo livre, ou seja, é algo que você tem que ter esforço, quer dizer o capital cultural altamente legitimado, dos grandes cargos do mercado, advogado, economista etc, e do Estado também. Não tem nenhuma função do mercado ou do Estado que não exija o conhecimento. Isso garante à classe média como sendo privilegiada para a reprodução de mercado e de Estado.

Então você tem no Brasil 70% que não é nem classe média e nem rica, e essas pessoas são exploradas, especialmente os de muito baixo, pela classe média, que roubam o seu tempo e pagam muito pouco. Então essa ralé, a singularidade dela é que são tão abandonados que já chegam aos cinco anos na escola derrotados, porque a escola não é o início da competição. O início da competição está desde o berço, da barriga da mãe. Então você não tem os estímulos adequados para o sucesso escolar.

LN – Vi outro dia um estudo sobre os Estados Unidos, comparando vários países e que o fator hereditário, o fator família, respondia por 50% do sucesso dos americanos. Um fator de concentração fantástico, em outros países era 20%. Esse estudo foi feito no Brasil?

JS – Foi. Esse foi o primeiro grande estudo empírico que nós realizamos, ficamos quatro anos estudando as grandes profissões da ralé. Nós dividimos em homens da ralé, mulheres da ralé. O que acho incrível. Esse é o dado social mais importante entre nós que é completamente invisibilizado. Essa ralé é sequer reconhecida enquanto classe. Ela é quase sempre percebida de modo muito estigmatizado na luta bandido x polícia, que é a pior possível, então, ele é traficante etc…

E aí não se percebe a perversão, a maldade social, que é você deixar pessoas no abandono, Daí tem que ver a função do Estado. O que nós descobrimos? Que coisas como capacidade de concentração, que a gente imagina ser um dado tão natural como ter dois braços e dois olhos não é, é [na verdade] um privilégio de classe, ou seja, você é ensinado de modo invisível – porque é o modo do exemplo da mãe, que conta a história cheia de fantasia, o pai sempre lendo, um tio que sabe inglês. O estímulo disso para a criança é avassalador. Ela quer imitar quem ela ama. Nós, seres humanos, somos montados imitando. Nós, indo entrevistar pessoas da ralé, [víamos] o filho do pedreiro brincando com o carrinho de mão do pai, ou seja, está aprendendo a ser trabalhador manual, não usar a cabeça, não usar a reflexão.

E aí, avassaladoramente, nas entrevistas, quando essas pessoas se tornam adultas, lembrando o tempo da escola, elas diziam ‘eu ficava olhando três, quatro horas a lousa, sem conseguir aprender’. Você ficar horas vendo a lousa, sem conseguir aprender é porque não tem capacidade de se concentrar. Sem a capacidade de se concentrar você não vai sair da escola como um analfabeto funcional. Isso é herança familiar, como as classes se formam, que é uma outra coisa que nós temos um outro consenso absolutamente superficial, frágil e errado, que é perceber as classes pela renda. Perceber as classes pela renda é não perceber as classes.

Segundo bloco 21’10”

LN – Hoje a gente tem, com o Bolsa Família e outros programas, um aumento da escolarização e, portanto, uma geração de jovens que sabem mais do que os pais. Como funciona essa questão do exemplo, internamente, como isso afeta as relações familiares?

JS – Essa é uma ótima questão. Inclusive porque depois do estudo da ralé, nós fizemos um estudo que chamamos de ‘batalhadores brasileiros’ e aí a gente chegou à conclusão, pela análise também da associação familiar, entre outras coisas, que as classes populares entre nós, quer dizer se você pensar que a antiga classe proletária ela está diminuindo muito, ela vai continuar apenas em alguns nichos. Está se criando agora uma nova classe de trabalhadora que tende a ser muito mais precarizada, sob vários aspectos do que a antiga classe que se organizava em sindicatos. No fundo, a ascensão social foi extremamente significativa, histórica, fazia sessenta anos que não se fazia nenhuma mudança importante na relação de classes no Brasil. Não foi de uma formação de uma nova classe média, porque a classe média é uma classe do privilégio, duplo privilégio de nascença, especialmente do privilégio de poder estudar. O pai de classe média compra o tempo livre dos filhos e da todos os estudos psíquicos e emocionais…

LN – E cria as futuras relações econômicas e sociais…

JS – Exatamente, ele cria um vencedor. Esse menino chega com cinco anos na escola como vencedor e vai ser vencedor no mercado de trabalho. Daí o mérito individual mostra sua falácia. É claro que existe mérito individual dentro de certo contexto de igualdade, mas aí não existe nenhuma igualdade de condições. Ou seja, você começa na classe média, você é treinado para ser um campeão e você vai ser um campeão. E aí vai ter altos salários, prestígios, etc.

Nas classes populares entre nós, o que houve foi o quê? O que mostra a importância da vontade política entre nós, que é rara, uma vontade política que esteja habilitada a ver o interesse da maioria, dos esquecidos entre nós, 70%, que não são classe média e o que aconteceu nos últimos dez ou quinze anos foi que uma parcela ponderável dessa ralé, que estava fora do mercado competitivo de trabalho… Por que estava fora? Porque este mercado exige que o trabalhador tenha conhecimento incorporado nele, senão ele não consegue manejar robôs etc. Cada vez mais o trabalhador, para entrar no mercado competitivo, ele tem que ter conhecimento incorporado, senão vai ter que vender energia muscular, que é o que acontece com empregada doméstica, com as profissões que a gente poderia chamar de profissões da ralé dos excluídos.

Com vontade política e um certo contexto econômico favorável você pôde aumentar, fazer com que uma porção considerável dessa classe de esquecidos pudesse entrar no mercado de trabalho, na escola, na vida política. Isso é extremamente importante, especialmente a valorização real do salário mínimo, aumentando o poder de compra. Mas não só coisas econômicas, isso tem a ver também com a família mais integrada, uma real compreensão do neopentencostalismo entre nós.

O que temos que pensar é que a grande maioria da população brasileira sempre foi historicamente esquecida, abandonada, não só pelo Estado, mas pela sociedade também Ela é mau vista, ela é criminalizada. Porções da classe média apoia a matança indiscriminada de pobres. Existe um ódio de classe, um racismo de classe entre nós extremamente feroz, quer dizer, odeia-se os pobres entre nós. É quando você tem uma igreja que vai dizer: você não é lixo, você é filho de Deus. É tudo o que a pessoa quer. Os seres humanos precisam de estímulo, de autoconfiança etc e essa classe cresceu na baixa autoestima. Este é um fenômeno social.

LN – Você diria então que os neopentecostais foram os que mais entenderam esse fenômeno?

JS – Sem dúvida alguma…

LN – Porque os partidos políticos, como o PT que era o partido ônibus, perderam um pouco dessa característica…

JS – Exatamente… É claro que os neopentecostais fazem com o discurso religioso o que é possível fazer com o discurso político também, mas não houve uma compreensão disso. Quer dizer dessa grande massa, não sindicalizada, não organizada.

LN – Para a gente pegar um pouquinho dessa diferenciação, você mesmo, no seu trabalho mostra que as classes sociais não são condições econômicas. Agora quando a gente pega o que você chama de ralé, tem uma elite na ralé. Como se forma essa elite dentro desse segmento? Temos lideranças comunitárias, lideranças em área de reciclagem. Como se forma? E esse pessoal tende a manter a solidariedade de classe ou tende a buscar escalões superiores de classe social?

JS – É extremamente interessante sua questão e a gente viu isso no estudo dos batalhadores, que a gente está chamando de batalhadores, porque no fundo seria a nossa classe trabalhadora precária, que não é só nossa, ela existe na Rússia, na China, na Índia, etc. Ou seja, sempre que existe um grande contingente populacional disposto a fazer de quase tudo por muito pouco.

LN – O batalhador é o que busca a acessão pelo trabalho, ou o que…?

JS – É o que busca a ascensão pelo trabalho, pela formação e pelo estímulo religioso.

LN – Vocês chegaram a quantificar o que representa esse contingente?

JS – O que a gente tenta montar, que é difícil porque não é só um dado econômico, mas a gente poderia montar algo assim: o Brasil tem quatro classes, uma que manda em tudo, manda na economia, na política, na informação, que é que tem essa teoria para proteger seus interesses que é demonizar o Estado e o mercado ser o máximo. Então você pode privatizar a Petrobras, botar no bolso recursos que são do Brasil inteiro, legitimar isso, e o termo da corrupção serve em grande medida para isso. É preciso a gente separar a coisas, é claro que o combate à corrução é uma virtude republicana imprescindível, ela deve ser feita sempre. Agora a manipulação dela, a dramatização dela é manipulação política e óbvia.

LN – É só pegar um grande corrupto que foi Getúlio Vargas que terminou com um apartamento…(risos)

JS – Pois é! [risos] Um mar de lama que está acontecendo novamente agora. Essas coisas se repetem e era isso porque ele defendia os interesses dessa maioria esquecida. Esse é o grande crime. Mas [além dessa] essa elite, 1%, a gente tem uma classe média no sentido europeu e americano do terno, entre 25% e 30% no máximo. Então você tem 70% de pessoas que estão, de algum modo excluídas. Desses 70%, 40% seriam essa classe trabalhadora precária e 30% ou um pouco menos, essa ralé de excluídos que tem que vender o corpo, vender a energia muscular e não o conhecimento.

LN – Quando a gente pega um pouco o mercado de consumo, a classe média tenta emular o consumo da classe A, e a gente tem um mercado de opinião também que, digamos, é trabalhado como um produto também. Então tenho que pensar: se vou na minha empresa tenho que pensar como a maioria, tenho que pensar como o chefe… Você chegou a fazer um estudo sobre o mercado de opinião e os efeitos da cartelização nesse mercado de opinião?

JS – Isso é extremamente interessante, não fizemos ainda um estudo sistemático disso. Acho que em parte o que a gente está fazendo agora vai nos ajudar a ter uma ideia disso. E eu acho que é extremamente importante o que você diz, porque, por exemplo, a classe média é minoritária, mas é uma classe decisiva, ela que exerce o poder. Quer dizer esse 1% que detém a propriedade, detém não só a propriedade econômica, como o poder político, detém os meios de informação etc… Mas não é ela que exercita essa prática. A prática do poder é a classe média que faz, ou seja, o jornalista que escreve, o juiz que decide, é o professor universitário que dá aula, etc. São todos de classe média e é ela que vai fazer uma função superior, formar opinião etc. Ela faz a cabeça da sociedade como um todo.

E a classe média, como nenhuma classe é, não é homogênea, é heterogênea, mas entre nós – e esse é o ponto mais interessante nisso -, a classe média é feita de tola também. Porque essa demonização do Estado só interessa a esse menos de 1%. E a classe média que paga serviço, como você bem sabe, de celulares por exemplo, que é o mercado que dá o valor que é 5 vezes mais do que eu tinha em Berlim há alguns anos atrás, só que o meu funcionava efetivamente, eu não precisava ligar duas ou três vezes… o carro entre nós, a taxa de lucro duas ou três vezes maior do que em outros países… A gente tem um mercado extremamente concentrado, monopolizado, superfaturado e que vende à classe média. Ou seja a classe média depois sai à rua para defender os interesses desses 1% que as expoliam economicamente. Essa é a grande jogada.

Se você tem uma ideia, uma construção de ideias, que você pode manipular as pessoas agirem contra os seus reais interesses, então você tem tudo.

LN – Eu lembro quando vieram essa manifestações de rua, esquerda e direita, algumas pesquisas que foram feitas… Perguntavam: ‘o que você acha do Estado’. Resposta: o pessoal descia o cacete. Em seguida perguntavam: ‘o que você acha da saúde e da educação?’. E, então, a resposta dos entrevistados é que tinham que ser de graça esses serviços… Essa alienação da classe média é universal?

JS – Eu não acho, acho que tem uma politização nisso… Em países europeus, as classes que são, digamos, que estão no protagonismo político, normalmente são as classes trabalhadoras, mas entre nós é a classe média. É extremamente interessante isso.

LN – Aquela caricatura que se fazia do bolivarianismo, cubanização e tudo, hoje começa a caminhar para o alvo central realmente que é a social democracia e o Estado de bem estar. Acha que há uma ameaça mundial por efeito no Brasil contra o Estado de bem estar?

JS – Eu acho que tem uma campanha para isso e essa campanha tem a ver, em grande medida, com essa semântica. Como a gente não sabe… por exemplo, as pessoas pensam “a luta de classe é uma coisa marxista, louca”, e acho que as pessoas tendem a achar que luta de classes é o cassetete, é a polícia baixando pau no povo. Não é assim, a luta de classe é, normalmente, silenciosa.

O que é a luta de classes? Todos os recursos materiais e ideais de uma sociedade eles são escassos. Beleza é escassa, apartamento é escasso, carro é escasso, reconhecimento escasso… Ideal ou material, todos os recursos são escassos e tem uma luta por eles. E tem classes que monopolizam essa luta. Isso é a luta, quando você condena outras classes.

O privilégio de nascimento dá à classe média, e obviamente aos mais ricos, todos os privilégios desde o berço, não há sequer competição por eles, mas daí você tem que montar, tem que esconder esse processo todo, como se não houvesse lugar, como se não houvesse confronto. Aí então você tem que criar um conflito que é dramatizado, é teatralizado.

Entre nós ele tem a chancela dos nossos intelectuais que engolem esse racismo inteiro de achar que os Estados Unidos é paraíso, como se não acontecesse nada disso lá. É claro que acontece lá, na Alemanha, na França, tudo o que acontece aqui. Mas aqui isso é usado e é dramatizado de um outro modo. A demonização do Estado serve para isso. A única coisa que importa é demonizar o Estado. Especialmente quando ele está de alguma maneira a serviço das classes populares e esquecidas.

Terceiro bloco 35’26”

LN – Como você vê nesse quadro de instabilidade, e luta contra a corrupção, o papel do Ministério Público, da Polícia Federal, dos justiceiros de uma maneira geral?

JS – Antes de tudo isso é um papel, obviamente, extremamente importante. São órgãos importantes para manter a transparência nos negócios do Estado e público. É uma virtude extremamente importante. O que eu acho que poucas pessoas veem no fundo é que, por exemplo, nós temos essa elite que montou um pensamento e tal, e que hoje em dia monta todos os conflitos a partir dessa oposição absurda, entre Estado e mercado, onde o mercado é o céu e o Estado é o inferno, porque ela quer ficar só ela com o Estado… É uma elite que quer mandar mesmo que ela não tenha voto. Como você manda sem ter voto? Esse é o ponto, e entre nós e na América Latina inteira você sempre teve um histórico de golpes de Estado, toda vez que chegava governos populares de esquerda no poder.

Quer dizer, entre nós tivemos Getúlio Vargas, que o golpe adiou em dez anos porque ele cometeu um suicídio, foi forçado a isso. E depois viria a ser um homem de uma vida modesta, não tinha nada… mas foi criado como que um mar de lama, uma coisa muito próxima do que está acontecendo hoje em dia… Depois veio Jango, aonde houve efetivamente o golpe dos militares, e você esta tendo agora um novo.

Houve uma modernização do golpe de Estado, no fundo. Porque o golpe de Estado ele precisa ter os interesses na elite que estão sendo ameaçados, especialmente, por exemplo, quando você está em uma época econômica [frágil]. Então essa elite tem interesse em não perder nada, [mas para isso] você tem que acionar [o debate entre a população] de duas formas, porque você indo contra as urnas ou de pessoas que tem grande popularidade [tem grandes chances de ver seu projeto de golpe dar errado].

Como é que você, numa democracia, que deve servir para todos, deslegitima a soberania popular? A soberania popular é a base de toda a constituição de todo o Estado democrático moderno, não existe nenhuma outra justificativa pra você obedecer alguém que não seja pela soberania popular.

Como você atalha isso? Quando você cria figuras que vão incorporar dramaticamente, você fabrica, é um teatro da política e da manipulação por política. Tem que criar instituições que incorporariam uma espécie de interesse geral acima dos partidos. Isso estava no Brasil constitucionalmente, isso era atributo dos chefes militares, eles podiam decidir isso. Agora para não ser uma quartelada de alguns e de ser um golpe com o apoio popular, você precisava que uma parte expressiva da imprensa conservadora tocasse o bumbo para isso. Numa coisa seletiva, só contra o seu inimigo que você quer matar.

E aí você pega a opinião pública, especialmente dessa classe média conservadora, que explora os pobres, mas que quer pousar de campeão da moralidade. Ela põe essa moralidade pré-fabricada de uma elite supostamente incrustada no Estado e expulsa o mal de si. Então se sente essa coisa infantil, ingênua de achar ‘eu sou bom, os outros é que não são bons’, ‘eu sou honesto, todos os outros são ladrões’. etc. E você consegue montar isso e chamar os militares para fazer o jogo.

Hoje em dia essa presença dos militares está deslegitimada – as corrupções nos governos militares, fizeram com que isso não fosse mais possível. Então há uma modernização do golpe, o golpe se torna jurídico. Você tem que incensar figuras que representariam, juízes etc, que representariam-se bem, acima dos partidos, acima dos interesses. Essa é a grande ingenuidade. A tolice está aí. Não tem ninguém acima do bem e do mal. Todas as pessoas têm interesse, esses interesses são partidários, são econômicos, são políticos.

LN – Ou uma coisa que a imprensa oferece também que é a consagração…

JS – Exatamente,

LN – Você pode ou retalhar, ou consagrar. O holofote é um fator de indução monumental. Agora Jessé, quando a gente vê o enfraquecimento, um poder que tem a Presidência da República. A Presidência tem o poder do discurso ainda, tem instrumentos legais. O que garante o poder da presidente é um discurso, uma narrativa. O Brasil perdeu um pouco esse discurso?

JS – Eu acho que em grande medida, tanto a direita quanto a esquerda entre nós é um pouco refém desse discurso, quer dizer que demoniza o Estado. E acho que entrou nessa coisa também, tanto que Raymundo Faoro é citado por cada uma dessas pessoas, apesar de ser o grande cara que vai montar essa idealização dos Estados Unidos, do mercado como sendo a única força ativa. Isso é extremamente complicado… a narrativa é extremamente importante. Então você não tem uma contranarrativa. Você só sofre a pancada com ela, e você fica na defensiva. O livro é um pouco uma tentativa de mostrar essa necessidade.

LN – Você falou do Raymundo Faoro, do Sérgio Buarque, do Gilberto Freire. E os demais intérpretes?

JS – O Fernando Henrique Cardoso reproduz isso. O tema do patrimonialismo é uma falácia. Não tem nada a ver com o conceito de Max Weber, que era um conceito histórico, que exige uma série de pré-condições que não existiu no Brasil. Então o conceito é cientificamente muito mal aplicado no livro, quer dizer eu não vou entrar em detalhes técnicos aqui, mas no livro está explicado em detalhe por que é falso, por que é frágil, por que é superficial.

Mas a grande questão é, sendo tão frágil, tão errôneo, tão superficial, por que é tão eficaz? Esse é o ponto. E aí você tem a chancela da ciência. A ciência é extremamente importante, as ideias, as pessoas não percebem isso. Antes era o prestígio da igreja, da religião, em tempos atrás que definia o que era verdade e erro, hoje é conferido para a ciência. Então o que esses intelectuais dizem vai influenciar a vida nas suas diversas esferas. Então a gente tem que prestar atenção a esse debate.

LN – Muitas vezes um bordão que se coloca aqui tem uma origem num estudo… Manoel Bonfim, você chega a analisar?

JS – Não, porque no caso eu quis pegar o pessoal que tem efeitos hoje, que criou realmente… O Brasil não tinha até Gilberto Freire, inclusive, uma narrativa que fosse convincente.

LN – Nem Oliveira Viana?

JS – Apesar de ser extremamente importante, ele não conseguiu montar isso… Isso foi o Freire. Freire é uma espécie de pai espiritual brasileiro, mas o que Freire fez foi uma coisa muito ambígua, ligada mesmo a um romance nacional, criar uma identidade nacional brasileira que não existia antes. O problemático é quando Sérgio Buarque pega isso e tenta transformar isso em ciência. Um mito, uma história, era um conto de fadas para adultos.

Aí Sérgio Buarque vai transformar isso na ciência brasileira. Enquanto tal, sede em São Paulo e isso vai ser a leitura dominante do Brasil sobre si mesmo e que é uma leitura extremamente de complexo de vira-lata, nós somos os últimos, somos corruptos, ineficientes, ladrões. Como se houvesse gente aí, o alemão, o americano, que não fosse.

LN – Quem atuou na contramão nesse período, que trouxe ideias que se contrapunham a isso?

JS – Essa narrativa é tão dominante que ela abrange a todos, inclusive caras como Florestan [Fernandes] que é o cara que foi o meu leme, o cara com o qual discutia, porque ele quebra uma tradição entre nós dessa história de Portugal-Brasil, que é muito frágil, e tenta perceber o Brasil como sendo um elo dentro do capitalismo mundial. O que é muito mais razoável.

Agora o erro desse pessoal mais à esquerda é perceber o capitalismo só do modo econômico. Ou seja, o capitalismo é só troca de mercadorias, inclusive o Florestan incorre nisso. Isso também está explicado em detalhes no livro… O capitalismo, muito mais do que isso, não é só o modo produção econômica, é o modo de produção moral, mantém sistemas de classificação, diz quem está acima, quem é superior, quem é inferior. O capitalismo no fundo, como todo o sistema, mente. Ele diz que é o mais justo, o mais igualitário. Mas ele tem hierarquias, que tem a ver, por exemplo, com o espírito e o corpo, uma classe que trabalha com a mão e ela é inferior, ela própria se percebe que todos os outros vão olhar para ela como inferior…

LN – O próprio conceito da vanguarda do proletariado…

JS – Exatamente… a classe que trabalha com o espírito vai ser olhada com admiração. Ou seja, têm todos esses elementos morais que são extremamente importantes, são classificações que devem ser levadas em consideração se a gente quer compreender o mundo como ele é. E essas leituras economicistas que são mais da esquerda, mais influenciadas pelo marxismo, apesar de serem muito melhores do que o culturalismo conservador, também são mancas…

LN – E Celso Furtado chegou a fazer alguma síntese quando ele inclui a cultura como um fator de análise, ou foi muito tímido também nessa área?

JS – Tenho grande admiração por ele, mas nessa área… não nota. Porque essa leitura dessa coisa portuguesa entre nós é muito forte. As pessoas aceitaram isso. O que é muito preocupante. Se você por exemplo pega uma determinação como a feita pelo DaMatta que é aceita por todos, ou seja, tem o Brasil seria a sociedade do jeitinho, de quem conhece pessoas influentes etc…

E aí então, por conta disso, [uma sociedade] pré-moderna, distinta dos Estados Unidos. Isso não tem o menor sentido. O Brasil, a hierarquia é feita a partir do controle relativo do capital econômico e do capital cultural, como em qualquer lugar, como na França, na Alemanha, e o jeitinho existe nos Estados Unidos, na França, na Alemanha. Ou alguém imagina que se você não conhece, não tem relações, isso não vai ser extremamente importante para o destino individual dessas pessoas? Nós construímos falaciosamente, fantasiosamente, uma singularidade brasileira completamente falsa para efeitos políticos.

LN – Vi há uns 5 anos uma pesquisa sobre o modo de pensar do novo brasileiro enaltecendo o jeitinho, enaltecendo a resistência e a esperança como valores. Você acha que pode ocorrer uma mudança nesses paradigmas proximamente?

JS – Eu acho que pode, Nassif, e essa é uma excelente questão. A gente está com o jogo em aberto. Acho que houve mudanças importantes na sociedade brasileira. Essa ascensão que os governos petistas ajudaram a construir, misturou as cartas. É claro que tem muitos perigos nisso, e um dos grandes perigos entre nós é a falta de uma esfera pública plural, ou seja, tão importante quanto um voto para a democracia é que o eleitor possa ser confrontada por opiniões contrárias e ele próprio construir a sua opinião. Isso é autonomia, tão importante quanto o voto. Porque senão o voto não é escolha, o voto é manipulado. Quer dizer, o eleitor tem que ter as diversas opiniões do espectro político, passíveis de serem expostas a ele. Esse é um ponto que o Brasil precisa melhorar muito.

Eu acho que está havendo um movimento, está ainda canalizado, sobre o controle das forças mais reacionárias, mais conservadoras entre nós, mas isso não implica que ele será assim para todo o sempre. Acho que temos espaço aí para contradição. E eu acho que essa classe que ascendeu é a classe mais importante, tanto em termos econômicos como em termos políticos. Como ela está em mudança, está se localizando…

LN – E ninguém decifrou ainda..

JS – E ninguém decifrou ainda. Na pesquisa que nós fizemos, ela em termos político, estava muito dividida entre uma orientação, digamos demérito etc, de uma coisa pessoal, sem nem ter consciência da ajuda que recebeu em termos político. Especialmente no Nordeste, há uma compreensão de que o [Programa] Bolsa Família tinha construído uma economia onde não existia nada, que começou a haver uma demanda, que aquela ascensão de lá [é fruto de ações políticas – porque lá foi muito maior o crescimento do que o resto do Brasil – enquanto o Brasil estava crescendo a 5%, essa região estava crescendo a 10%, a padrões chineses. Nas outras regiões as pessoas tendiam a ver mais como efeito individual e aí ligava muito mais à igreja.

LN- O aprofundamento da democracia é um processo irreversível ou está sob ameaça?

JS – Acho que está sob ameaça, é claro. Não existe nada irreversível na vida, a não ser a morte e eu acho que tem um espaço de luta nisso que a gente precisa ter uma postura crítica também quanto a essas ideias que dominam as nossas cabeças, da direita a esquerda. Elas nos fazem de tolos efetivamente, nos fazem agir contrários aos nossos interesses, como se esse 1% tivesse, de algum modo, sequestrado a inteligência, não só a dos grandes intelectuais, mas sequestrado a inteligência do povo brasileiro, que passa a comprar uma legitimação de interesses que só servem a essa minoria. Esse é o tema do livro.
 

Redação

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  1. Revisão do texto

    Pessoal do site, o tema é instigante. Porém, o texto tem um monte de erros, possivelmente vindos da transcrição. Revisem, por favor.

  2. O entrevistado levanta temas

    O entrevistado levanta temas importantes para o estudo da sociedade brasileira. Penso, entretanto, que ele utiliza conceitos vindos de várias interpretações, confundindo mais do que explicando. Faz, inclusive, o que critica. Metodologicamente, por exemplo, inicia e defende uma ‘história das mentalidades’, mas mistura Weber com Marx (sua interpretação de classe social é simplista, quase uma vulgata e fica embaralhadas com ‘estamento’ de Weber – usada por Faoro). Ao mesmo tempo que critica, acertadamente, o uso do conceito de ‘classe’ levanto em conta somente a renda, não faz menção à sociedade de consumo criada pelo capitalismo, que agregado ao fetiche da mercadoria coloca debaixo do tapete uma ponta importante de qualqure análise sociológica ou econômica, ou ambas, em conjunto. Ao levantar a alienação – que também não menciona como categoria politico-existencial importante, ele o faz de manera confusa e pouco convincente. Deveria assinalar que a ciência serve à classe dominante, porque fragmentada e canonicamente alinhada ao positivismo, mais admitido nos formadores que deseja cesconstruir, porque escreveram em meados do século passado, quando a ciência foi reificada. Ao entrar para um caminho mais ligado às formas de subjetivação, o autor demosntra que não conhece Foucault, Lyotard, Jameson ou Harvey, e, no Brasil, Birman, Dunker, Costa e outros. Enfim, fica parecendo que ele quer ‘inauguarar’ um método de análise – baseado na complexidade – mas é afobado, ansioso e, a julgar pelo que está transcrito, quer desconstuir como se fosse um engenheiro social, não um sociólogo com imaginação ( Wright Mills)- cuja perda se lamenta ao ser substituida pelas tecnificações repleta de indicadores matematizados. Augure-se, com tudo isso, o discurso do entrevistado que se esforça para analistar a realidade brasileira.

    1. Creio que consumo existe

      Creio que consumo existe desde que invetaram o homem e seu sistema digestivo. A questão não seria o consumo em si, mas a sociedade tomada pelo sistema de consumo. As multinacionais, o sistema financeiro que buscam tomar controle do mundo através de todo o processo de produção ou através do próprio sistema financeiro, destruindo assim as economias locais e colocando o poder nas mãos de alguns poucos que monopolizam e escravizam a população. Podemos ver a questão da água por exemplo; A Sabeso, como bem sabemos ou deveriamos saber, não é a dona da água que cai do céu mas é a sua distribuidora. Já sabia da diminuição dos reservatórios periodicamente durante anos… mas mesmo assim fez-se aumentar o consumo e inclusive de desconto para as multinacionais e empresas paulistas que da água mais utilizassem. Este benefício não faz bem para o povo e nem para a água do povo, mas faz bem para uma empresa privatizada e portanto capitalista que antes, ganhavam com a quantidade de água que distribuia e portanto era importante o consumo e agora ganhará com a escassez da água e os aumentos das contas do povo. Pois distruibuiu e gastou toda a água do povo, e agora a água que seria do povo não existe mais, foi toda distribuida a “preço de banana” para as empresas. Então, a brilhante saíde é o aumento das contas da população e talvez um a pequena ou milésima porcentagem para as empresas das quais os políticos são sócios… o que ocorrerá? Aumentará muito o valor da arrecadação encima da população e ainda os politicos continuarão distribuindo para suas empresas. Ganharão em dobro, com ações da empresa, ações da Sabesp e conta de água do povo! Como provavelmente os políticos que privatizaram a Sabesp também são sócios da mesma… estão soltando gritos de alegria enquanto a população padece! Então qual é o problema? Excesso de consumo ou apropriação do consumo para fins privados? POis consumir todos consumismos e adoramos consumir aquilo que nos agrada e dá prazer… mas quando as empresas tomam conta de todas as formas de consumo, desde as mais básicas até as mais complexas e do próprio sistema financeiro… tornamo-nos escravos. Capitaliza-se tudo, quando o estado é extinto tudo sofrerá na mão do capital! Desde os bens mais essenciais até o ar que tu respira. Então, novamente, a questão não é o consumo, a questão é o capital tomando o lugar do estado e da população do planeta; deixando o povo e o próprio planeta reféns de um papel moeda.

    2. Jessé

      Sr. Flávio os seus comentários analíticos precisam apresentar argumentos que os sustentam, pois desta forma o senhor incorre no mesmo erro que o Sr. Jessé, conforme apresentado na sua “análise”.

  3. Ideias importantes e boas

    Ideias importantes e boas reflexões. Mas na ânsia de se contrapor às velhas matrizes das ineterpretações do Brasil, comete injustiças, como a de considerá-las como de direita. Gilberto Freyre (com Y) chegou a apoiar a ditadura e Faoro era conservador, o que não desmerece muita coisa importante em suas obras. Quanto a colocar Sérgio Buarque no campo da direita… Aí não dá, né?

    1. Injustiças
      Jair,
      tomando o todo pelas partes foi que chegamos até aqui. Erros cometem todos e estão todos aí: pimpões a pontificar certo e errado, desde que estejam do “lado certo”, tirando sarrinho (desculpem) da cara dos perdedores … Louvo a acurácia, mas não quando abafa a mensagem seminal, a esta altura mais importante. Houve tempo para construção e fortificação de uma sociedade que pudesse resistir às intempéries com maior tranquilidade mas optamos por “deitar sobre os louros da conquista”. 500 anos. Uma vida. 14 anos. Uma gestação. Quando bate o vento, e a casa cai, vamos buscar os culpados, que é sempre o outro, assim dizem nossos atavismos e nosso ego.
      Ainda que haja equívocos, é um pensador, alguém que está apresentando uma linha de pensamento e de reflexão que incomoda quem oprime. A mim me parece válido e suficiente – as vozes divergentes se calaram – ainda que carente de revisão. Felizmente, temos aqui, quem conheça profundamente nossa realidade e possa fazer as intervenções e o contraponto necessário, como você – a quem agradeço o enorme conhecimento compartilhado generosamente – e tantos outros colaboradores e articulistas deste GGN. Basta ver a sequência de comentários que teremos em sequência. Dá até para advinhar.
      Tinha um amigo aqui que me dizia: Anna, é possível saber que palavras cada comentarista usará em cada post. É verdade.
      Só volto ao Blog amanhã e não vou precisar ler os comentários. Já sei quem dirá o quê, que falácias, que agressões, que argumentos.
      Está faltando criatividade. Hoje postei sobre um conjunto latino americano aqui, mas é tanto desrespeito com o que o outro pensa que deletei o comentário e o coloquei em outro blog.
      Discordar é bacana, desrespeitar inaceitável.
      Veja a sequência…
      Obrigada pelos esclarecimentos.
      Abraço.

      1. Desculpe se me intrometo, a

        Desculpe se me intrometo, a sua resposta foi para o Jair. Mas gostaria de apontar, Anna, que tanto nesse seu post quanto no outro, desse mesmo artigo, apareceu o termo “incômodo”. Destaco, também, o seguinte:

        “pimpões a pontificar certo e errado, desde que estejam do ‘lado certo'”

        “vamos buscar os culpados, que é sempre o outro”

        e por fim

        “reflexão que incomoda quem oprime”

         

        Me ocorre: quem é esse que fica incomodado e que oprime?

        Talvez o opressor esteja em mim, em cada um de nós que nasceu e cresceu imerso na nossa cultura, como costumo dizer, colonialista coronelista, a adoração ao deus Mercado – e o consequente repúdio ao diabo Estado -, orientados pelo vaticínio de Gilberto Freire (emoção em contraposição à racionalidade)…

        Não sei se é uma boa nos auto-flagelarmos pelos mitos sob os quais crescemos e que, amiúde, nos são inconscientes, mas acho que não. Tomarmos consciência de nossa herança e aceitá-la é o primeiro passo para dela nos livrarmos.

        Como dizia o saudoso Zé Gaiarsa, “o defeito do outro só me incomoda quando percebo esse mesmo defeito em mim”.

         

        P.S.: Aliás creio que Jessé Souza disse foi que Freire nos contrapôs aos estadunidenses e europeus, mas que a própria contraposição já é a adoção de uma mesma moeda. Nessa medida é que Freire acaba sendo “direitista”: usou o parâmetro da “direita” para nos classificar. Ok, nos classificou do lado oposto mas usou aquele mesmo parâmetro, será que não?

         

        1. Renato, não há necessidade de se desculpar

          Me parece que sua intervenção também resulta de um incômodo com a minha narrativa e nem sei se compreendi bem o que você pretende saber – e se pretende.

          Há duas “perguntas” no seu texto, mas você já colocou suas respostas. O que me faz crer que você não está em busca da minha opinião, que as perguntas não são para mim; que você quis expor a sua opinião contrapondo-a à minha. Sem problema.

          Indo ao Gaiarsa – e não só a ele – não havia necessidade sequer de citá-lo. É óbvio que há aspectos determinantes de meu incômodo que estão em mim e não nos grupos e comportamentos que apontei. Sim, trago os meus próprios atavismos, sim trago uma herança autoritária, própria de nossa construção cultural. Que eu combato, no âmbito da minha atuação individual.

          Delimitando pelos aspectos que abordei com o Jair – Discordar é bacana, desrespeitar inaceitável – ressalto que não me agrada que uma manifestação – um post, um comentário – seja alvo de caretas, deboche, falta de respeito com o autor, mesmo que eu discorde ou não goste (aqui estaria em evidência um viés autoritário, se eu considerasse aceitável este comportamento, mesmo que em nome das “liberdades individuais”, mas não considero).

          Você fez um comentário um pouco depois do meu. Como seria se ao invés de me dirigir ao Jair – creio que o fiz respeitosamente como, REGISTRE-SE, via de regra – eu colocasse minha resposta ao teu comentário te mostrando meu dedo médio em riste, ou gargalhando, ou te chamando de idiota?

          Não importaria, tenho certeza, teu estado psicológico, teu conhecimento, a segurança que você tem do teu pensamento e concepção de mundo; te incomodaria. E se eu tivesse feito isso com o Jair, também te incomodaria, pelo que pude perceber da tua seriedade.

          Então, sim. A despeito de meus atavismos e de meus defeitos, estou incomodada. Deveras. Meu incômodo, claro, não tem nenhum impacto sobre a realidade, mas tem sobre meu estado de ânimo. Quando vejo este tipo de manifestação no Blog, me dirijo a outros sítios em que não encontro esta “vibe”.

          Posso impedi-las?  Não.  O Blog imporá limites?  Não creio; envolveria questões relacionadas à censura (formal, explícita). O que posso fazer?  Cair fora; o que tenho feito a cada dia com maior regularidade. Ou me manifestar.

          Para corroborar, te convido a acessar meu blog, meus comentários e verificar se há manifestação minha que possa ter agredido alguém ou menosprezado, desqualificando, qualquer produção postada aqui. Mesmo quando discordo ou não gosto, entendo que há um esforço de construção, uma aplicação de conhecimento, uma intenção que precisa ser respeitada.

          Haverá palavras mais duras a quem tenha me provocado ou agredido, mas mesmo assim eu terei detestado registrá-las, pois que não acrescentam, estou consciente, e não quero utilizá-las. Mesmo aos mais ácidos e agressivos comentários dirigidos a mim procuro responder, na medida do possível, sem ultrapassar determinados limites.

          Há pouco mais de um ano escrevia em um dos meus primeiros posts, me dirigindo ao Nassif, sobre minha satisfação de ter encontrado neste GGN um sítio em que percebia um ambiente de liberdade, coisa rara nas “redes”.  Hoje, me sinto muitas vezes, como se visitando o Blog do (com o perdão da má palavra) Reinaldo Azevedo. A qualidade do Blog, a meu ver, tem sido vilipendiada. E não estou falando de “trolls”.

          Este incômodo permanente foi o que me fez responder neste tom ao Jair, que por me conhecer, sabe fazer a leitura sobre o objeto de meu desconforto, já que ele presencia muitas das situações que me incomodam; costumamos estar nos mesmos posts.  Já não acontece contigo.

          É claro que este meu longo, e já findo, comentário não visa te responder. Fiz isso bem lá no começo. Mas me serviu, e muito.  Obrigada por você ter me colocado a oportunidade de registrar com um pouco mais de detalhe meu profundo descontentamento.

          PS1: Desculpe a demora em responder. Às 2as. meu dia termina muito tarde. Só ainda há pouco vi seu comentário.
          PS2: Registre-se que nada em meu comentário refere-se ao Jair, um colega de blog mais do que respeitoso e generoso no compartilhamento do seu conhecimento, especialmente o musical e a quem considero uma pessoa educada e absolutamente ponderada. Aqui simplesmente discordamos um pouco.  Nada grave.

           

          1. Tranquilo como Arjuna

            Pretendi, até onde enxergo, aprofundar seu ponto de vista, na parte dele em que concordo. Você diz, nos dois posts (“Obrigatório, uma vez que incômodo” e “Injustiças”) que o que Jessé Souza diz é verdade e incomoda. E eu concordo tanto com o que ele diz (do mito que vivemos) quanto com o que você diz, que apontar esse mito incomoda.

            Pretendi também aprofundar o entendimento desse incômodo, levantando a hipótese de que nos incomodamos com o que diz Jessé Souza porque trazemos em nós o mito que ele destaca. E quando digo nós, Anna, me incluo completamente

            Mas não concordo com eventual viés auto-punitivo, não acredito em auto-flagelo, impingir-nos sofrimento ou repressão. Assim, nem tudo que é incômodo é obrigatório, na minha opinião. Creio que aprofudar a consciência de que trazemos tal mito em nós mesmos, sem sofrer por isso, é suficiente para, se não desmontá-lo em nós, pelo menos não levarmo-lo adiante, aos nossos afestos, filhos, alunos etc. Combate, sim, mas sempre amoroso, como o de Arjuna. E citei o Gaiarsa porque foi com ele que aprendi que impormo-nos sofrimento não resolve nada. Como ele aprendi, também, que nada do que vivemos vem de fora de nós. Por exemplo, nada nos incomoda, só nós é que eventualmente nos incomodamos a nós mesmos. Ou também que uma pessoa pode me insultar mas só eu tenho poder para me ofender. “Ou não.” Questão de escolha e de responsabilidade, só.

            É isso, acho.

            Nos demais é muito bom lê-la. E também ao Jair.

            (Só não curto muito desinteligências, trolagens e que-tais, coisas que nunca li nem da sua parte nem da dele.)
             

  4. O texto é tão contraditório, que só rindo…

    São tantas demonizações seguindo a cartilha marxista, que estou com vontade de ler o livro. Deve ser diversão garantida

    Dois exemplos: a crítica quanto às taxas de lucros das operadoras de telefone e das montadoras de automóveis. Ora, são dois setores em que o Estado oferece ampla regulação, sendo que, no caso dos automóveis há ainda a questão de um protecionismo quase secular para a “nossa” “nascente” indústria automobilística (das quais não há uma única empresa brasileira, são todas multinacionais – nada contra, mas o que estamos progendo, exatamente? Pior: já têm 60 anos…)

    Outro momento ímpar foi o da explicação da escassez. Claro que ele ia colocar a questão da guerra de classes nisso, naquele eterno rame-rame marxista que trata economia como jogo de soma zero: Túlio é rico porque Agenor é pobre. Os risos começaram a aflorar ali, mas dei gargalhadas quando ele entrou no “beleza é escassa”. Putz.

    Mas, o melhor é quando Jessé fala em apropriação pela elite,,, quando ele mesmo É elite! O cara é a contradição ambulante e nem se toca! 

    Quero ler o livro. Olha, o IPEA desceu a ladeira, definitivamente… 

     

    1. Não apenas os preços da

      Não apenas os preços da telefonia e de automóveis em nosso país não são regulados de forma alguma pelo estado, Renato, como são absurdamente maiores do que são em outros países, além de serem, aqui prá nós, de muito pior qualidade. E não é Jessé Souza o primeiro a apontar que as razões disso são a pose de VIP, “fidalga” da nossa classe média, colonialista e coronelista.

      Bastaria um boicote a qualquer um desses serviços/produtos que a iniciativa privada teria que abaixar preços e aumentar qualidade, e ainda assim teriam lucro, como têm em outros países. Mas basta um único “coxinha”, desses que rezam ao deus Mercado e que desprezam o que seria a única forma de pressão eficaz contra tais abusos, a saber, o exercício da política e da cidadania através da atuação plena junto ao Estado, para detonar com os benefícios desse boicote:

      – “Não é qualidade alemã? Tô falando, nosso país é mesmo uma porcaria. É caro? É caro, sim, mas eu posso pagar. dane-se, quem não pode, quem não pode é pobre.”

      E aí o bando de coxinhas em potencial, invejosos do coxinha fura-boicote, o seguem e… a gente continua vulnerável às incompetências e explorações indecentes da iniciativa privada. Bem… incompetência, não. Compete às empresas da iniciativa privada lucrarem, e quanto mais, melhor. Agora, excelência nos serviços/produtos que vendem? “Ora, prá que se o lucro já é enorme e ninguém reclama nem boicota?”

      Mas tudo isso, pelo que tenho visto, graçazadeus, é cada vez mais passado. A moça que vem fazer faxina aqui em casa vai todo ano visitar a família, no Nordeste, de avião…

    2. Estou plenamente de acordo.

      Estou plenamente de acordo. Se esse é o presidente do IPEA que sustentamos, estamos bem mal. Falar em “ralé que a classe média explora”… faça-me o favor… Não acredito que o Estado seja demonizado com a intensidade que ele diz, mas dá até para entender, quando um sujeito desses, com altíssimo salário e mordomias mil, vem falar sobre a “inescrupulosa” classe média.

  5. Getúlio Vargas, que belo

    Getúlio Vargas, que belo exemplo. Dos 14 a 15 anos no poder, 13 a 14 foram sob forma de ditadura. Só um ano sob vigència democrática. Parabéns.

    1. Ditador!

      Eu sempre acho isso engraçado. Engraçado porque não deveria estar na boca ou na pena de intelectuais sérios. Acham que repetirão o nome deste ditador sem qualificá-lo corretamente para sempre, e que ninguém notará. Ingênuos! Sempre que leio qualquer coisa que “empulhe” o “mito” e ditador Getúlio Vargas paro exatamente neste ponto, aliás, quem é o entrevistado que não sabe que Vargas foi um ditador, ou que prefere ignorar o fato assim como o Nassif? Ninguém fala do Darcy, detesto o Darcy, queria falar mal dele, ninguém levantou a bola. Portuguêses, o brasileiro esta exatamente como os portugas em 1500, não poderia ser diferente. Só que os portuguêses estão em 2015, que dureza…

    2. Getulio foi ditador de 1937 a

      Getulio foi ditador de 1937 a 1945, 8 anos. O segundo governo democratico durou 4 anos. O periodo de 1930 a 1934 não foi ditadura mas tambem não havia democracia plena, esta veio em 1934 a 37, portanto de 20 anos de poder, 8 foram ditadura.

  6. Ilustrando o discurso de Jessé

    O texto a seguir foi trazido ao blog por mcn, um comentarista daqui. Ilustra o atual cenário social (na entrevista, Jessé Souza, inclui no cenário esboços das dinâmicas intra-classes e entre-classes) subjacente ao discurso do entrevistado. O texto é interessante por apresentar paralelismo entre nossa circunstância social atual e a da Inglaterra dos anos 1960. É interessante, também, pelo fato de ter sido feito por alguém que se construiu na Inglaterra dos anos 1960, o autor do texto é inglês, que ascendeu socialmente na Inglaterra e que está no Brasil há muitos anos.

    É claro que o autor do texto, por ser jovem e ter sido criado na Inglaterra, não conheceu o Brasil dos anos 1950 pleno de realizações econômicas e culturais [a este respeito vale a pena ler “Feliz 1958: o ano que não devia terminar” de Joaquim Ferreira dos Santos] e o início dos anos 1960. Só para ficar em algumas das conquistas do período, mencione-se a fundação de Brasília em 21 de abril de 1960, a implantação da indústria automobilística durante os anos 1950, a criação da Petrobras em 1953, fortalecimento da Vale do Rio Doce, a criação da bossa nova. Não se pode esquecer de que, nos anos 1950 e 1960, os frutos das iniciativas de Getúlio Vargas (CSN, CLT, criação da Vale do Rio Doce etc.) começaram a ser colhidos. Aqueles anos foram nossos anos dourados no qual desfrutamos de orgia democrática (Juscelino era um democrata) liberdade só comparável com a que desfrutamos hoje

    [Os anos que vão de 1964 a 1985, que sucederam os anos dourados, são os piores da história da república, mas esta é outra história. Infelizmente, é o retorno às circunstâncias dessa época o que a tola – ou burra, ou as duas coisas – classe média de hoje deseja. Vivemos retrocessos social, político, econômico – seria por causa da maior participação da iniciativa privada na educação?]

     

    Minha primeira geladeira

    http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/11/151110_tim_vickery_gelade

    Minha primeira geladeira e por que o Brasil de hoje lembra a Inglaterra dos anos 60

    Tim Vickery. Colunista da BBC Brasil

    Acho que nasci com alguma parte virada para a lua. Chegar ao mundo na Inglaterra em 1965 foi um golpe e tanto de sorte. Que momento! The Rolling Stones cantavam I Can’t Get no Satisfaction, mas a minha trilha sonora estava mais para uma música do The Who, Anyway, Anyhow, Anywhere.

    Na minha infância, nossa família nunca teve carro ou telefone, e lembro a vida sem geladeira, televisão ou máquina de lavar. Mas eram apenas limitações, e não o medo e a pobreza que marcaram o início da vida dos meus pais.

    Tive saúde e escolas dignas e de graça, um bairro novo e verde nos arredores de Londres, um apartamento com aluguel a preço popular – tudo fornecido pelo Estado. E tive oportunidades inéditas. Fui o primeiro da minha família a fazer faculdade, uma possibilidade além dos horizontes de gerações anteriores. E não era de graça. Melhor ainda, o Estado me bancava.

    Olhando para trás, fica fácil identificar esse período como uma época de ouro. O curioso é que, quando lemos os jornais dessa época, a impressão é outra. Crise aqui, crise lá, turbulência econômica, política e de relações exteriores. Talvez isso revele um pouco a natureza do jornalismo, sempre procurando mazelas. É preciso dar um passo para trás das manchetes para ganhar perspectiva.

    Será que, em parte, isso também se aplica ao Brasil de 2015?

    Não tenho dúvidas de que o país é hoje melhor do que quando cheguei aqui, 21 anos atrás. A estabilidade relativa da moeda, o acesso ao crédito, a ampliação das oportunidades e as manchetes de crise – tudo me faz lembrar um pouco da Inglaterra da minha infância.

    Por lá, a arquitetura das novas oportunidades foi construída pelo governo do Partido Trabalhista nos anos depois da Segunda Guerra (1945-55). E o Partido Conservador governou nos primeiros anos da expansão do consumo popular (1955-64). Eles contavam com um primeiro-ministro hábil e carismático, Harold Macmillan, que, em 1957, inventou a frase emblemática da época: “nunca foi tão bom para você” (“you’ve never had it so good”, em inglês).

    É a versão britânica do “nunca antes na história desse país”. Impressionante, por sinal, como o discurso de Macmillan trazia quase as mesmas palavras, comemorando um “estado de prosperidade como nunca tivemos na história deste país” (“a state of prosperity such as we have never had in the history of this country”, em inglês).

    Macmillan, “Supermac” na mídia, era inteligente o suficiente para saber que uma ação gera uma reação. Sentia na pele que setores da classe média, base de apoio principal de seu partido, ficaram incomodados com a ascensão popular.

    Em 1958, em meio a greves e negociações com os sindicatos, notou “a raiva da classe média” e temeu uma “luta de classes”. Quatro anos mais tarde, com o seu partido indo mal nas pesquisas, ele interpretou o desempenho como resultado da “revolta da classe média e da classe média baixa”, que se ressentiam da intensa melhora das condições de vida dos mais pobres ou da chamada “classe trabalhadora” (“working class”, em inglês) na Inglaterra.

    Em outras palavras, parte da crise política que ele enfrentava foi vista como um protesto contra o próprio progresso que o país tinha alcançado entre os mais pobres.

    Mais uma vez, eu faço a pergunta – será que isso também se aplica ao Brasil de 2015?

    Alguns anos atrás, encontrei um conterrâneo em uma pousada no litoral carioca. Ele, já senhor de idade, trabalhava como corretor da bolsa de valores. Me contou que saiu da Inglaterra no início da década de 70, revoltado porque a classe operária estava ganhando demais.

    No Brasil semifeudal, achou o seu paraíso. Cortei a conversa, com vontade de vomitar. Como ele podia achar que suas atividades valessem mais do que as de trabalhadores em setores menos “nobres”? Me despedi do elemento com a mesquinha esperança de que um assalto pudesse mudar sua maneira de pensar a distribuição de renda.

    Mais tarde, de cabeça fria, tentei entender. Ele crescera em uma ordem social que estava sendo ameaçada, e fugiu para um lugar onde as suas ultrapassadas certezas continuavam intactas.

    Agora, não preciso nem fazer a pergunta. Posso fazer uma afirmação. Essa história se aplica perfeitamente ao Brasil de 2015. Tem muita gente por aqui com sentimentos parecidos. No fim das contas, estamos falando de uma sociedade com uma noção muito enraizada de hierarquia, onde, de uma maneira ainda leve e superficial, a ordem social está passando por transformações. Óbvio que isso vai gerar uma reação.

    No cenário atual, sobram motivos para protestar. Um Estado ineficiente, um modelo econômico míope sofrendo desgaste, burocracia insana, corrupção generalizada, incentivada por um sistema político onde governabilidade se negocia.

    A revolta contra tudo isso se sente na onda de protestos. Mas tem um outro fator muito mais nocivo que inegavelmente também faz parte dos protestos: uma reação contra o progresso popular. Há vozes estridentes incomodadas com o fato de que, agora, tem que dividir certos espaços (aeroportos, faculdades) com pessoas de origem mais humilde. Firme e forte é a mentalidade do: “de que adianta ir a Paris para cruzar com o meu porteiro?”.

    Harold Macmillan, décadas atrás, teve que administrar o mesmo sentimento elitista de seus seguidores. Mas, apesar das manchetes alarmistas da época, foi mais fácil para ele. Há mais riscos e volatilidade neste lado do Atlântico. Uma crise prolongada ameaça, inclusive, anular algumas das conquistas dos últimos anos. Consumo não é tudo, mas tem seu valor. Sei por experiência própria que a primeira geladeira a gente nunca esquece.

    *Tim Vickery é colunista da BBC Brasil e formado em História e Política pela Universidade de Warwick

  7. Sem mitos e sem heróis

    Somos um país sem mitos. Somos, também, um país sem heróis (tanto por nossa heterogeneidade social, pois somos um país de múltiplas sociedades – Mazzaropi, por exemplo, sucesso absoluto em São Paulo era completamente desconhecido no Nordeste -, quanto pela iconoclastia de nossa classe média). Na melhor das hipóteses, somos um país de mártires: dos brasileiros, valorizamos os mártires (Tiradentes, por exemplo) e detestamos os heróis (Lula, por exemplo). Quando ocasionalmente elegemos herói por todos aceito, se chama Macunaíma.

    1. Já não vivemos mais em uma

      Já não vivemos mais em uma época de heróis… vivemos em uma época de: ou o povo acorda ou se sentirá cada vez mais com a corda no pescoço. E só perceberá quando começar a sentir falta de ar. Nimguém é mais forte que todos nós juntos! A época para esperar líderes ou salvadores da pátria já passou! Hoje todos tempos acesso a informação gratuita e factual! Não precisamos inventar mais desculpas para nossa inércia e ignorância, e muito menos esperar que alguém lúcido venha e salve todos nós! Se alguém quiser ser um salvador da pátria hoje, ou vai ser taxado de corrupto ou vai se tornar um ditador como Hugo Chavez se permitiu transparecer! Pois já estamos lucidos e não precisamos de alguém que nos diga o que fazer, cada vez mais de nós estão lúcidos para não permitir que estes absurdos aconteçam; nem aqui e nem na China! O estado é do povo, portanto o povo e seu estado que têm que ditar aquilo que é importante para todos nós juntos, e não para o capital de alguns. Não estou excluindo o capital, mas estou pedindo que o capital respeite a gente, pois o capital foi criado pela gente e como não tem vida própria tem de respeitar aquele que tem vida, e que o criou. O capital é só um instrumento para facilitar trocas de produtos ou serviços. Eu sei que não podemos controlar a todos que deixam se engrandecer pelo capital, mas o estado está ai para garantir o respeito e a justiça para todos nós, sem distinção de raça, sexo, cor ou classe social. O Estado está ai para garantir o bom uso dos recursos e de forma justa para todos, sem discriminação ou aproveitadorismo frente uns aos outros.

      1. Heróis são necessários, sim

        Caro Nandex,

        Sugiro a você que leia “O Poder do Mito” e “O Herói de Mil Faces” de Joseph Campbell. Se ler, acredito que entenderá melhor a necessidade dos mitos e heróis (especialmente segundo as respectivas acepções de Campbell), mormente na nossa sociedade nos dias atuais.

        Abraço.

        PS: como você mobilizaria o Povo em torno de suas ideias?

        PS1: observe que Jessé Souza demonstra que há luta pelo domínio do Estado. Nessa luta, de um lado está o 1%; do outro, cerca de 80% da população, ou seja, o Povo, dado que, segundo Jessé Souza, a classe média, ao menos em parte, está cooptada pelo 1% (por isso 80% e não 99%). Na luta pelo domínio do Estado, o 1%, por meio de seus agentes (como, por exemplo, o juiz Moro) tenta destruir moralmente, ou fisicamente, os líderes populares, pois, diferentemente de você, o 1% sabe da importância dos heróis (pois são os heróis que mobilizam o Povo em torno das boas ideias).

        1. Ramalho, eu entendo a sua

          Ramalho, eu entendo a sua visão… até concordo com porta-vozes, mas com herois não acredito… sabe porque? Herói é aquele que salva alguém que é indefeso… Dizer que um ser humano é indefeso, é dizer que é incapaz… Todos podem e devem ajudar para sociedade vencer! O que se deve é acordar o povo como em países nórdicos aonde a igualdade é quase absurda! Países que atingiram um alto grau de evolução, não devido a heróis… mas a própria população! O que se há de ter é consciência… nas escolas, internet! Como estamos fazendo neste blog… É preciso que hajam cada vez mais porta-vozes lúcidos para que a luz se permeie por todo canto. Não adianta chegar um porta-voz ou representante de um partido com uma idéia que não é entendida pela mídia… é preciso disseminá-las antes… ou força-las contra os outros. É preciso destes blogs e youtube… ou qualquer coisa que possa esclarecer as idéias. Aqueles que estão no poder se aproveitaram e ainda se aproveitam da escuridão das idéias da população… muito em parte devido a manipulação informacional. Mas também em partes devido a hegemonia comunicacional nos meios de mídia. Antes não havia espaço como tem hoje com a internet! Eles podem ficar engando por um tempo, mas não por todo o tempo! 

    2. Ré: sem mitos e sem herois

      O herói moderno – e martir- é Ayrton Senna, que buscava a vitória a qualquer custo, até por meio de expedientes ilegais ou pouco éticos, e que se arriscou até a morte, revelando, consciente ou inconscientemente, pouco apreço pela própria vida. É Interessante notar que existem alguns pontos em comum com Macunaíma.

       

  8. Excelente entrevista

    Jessé Souza abre uma questão importante que é a forma narrativa dada à especificidade do povo brasileiro contada até aqui. No nosso imaginario ainda perpetuam as ideias de Freyre, Faoro ou ainda Buarque de Hollanda. Outro ponto interessante, é de como ele desmonta rapidamente o livro do sociologo Fernando Henrique Cardoso.

    A tolice da inteligência brasileira parece ser leitura obrigatoria para quem quiser entender melhor, driblando o senso comum, a estrutura da sociedade brasileira. 

  9. O jeitinho brasileiro é

    O jeitinho brasileiro é justamente derivado da falta de jeitinho do estado brasileiro para com o povo brasileiro e seu estado. E através deste jeitinho brasileiro vão retirando tudo do povo brasileiro tem, até que o povo brasileiro não tenha mais nada além do seu próprio jeitinho para sobreviver na lama e não se afogar. Esse jeitinho você encontra em qualquer favela na Africa do Sul e até no camboja! No Brasil está muito famoso pois estão querendo transformar isto aqui tudo em uma grande favela ou em um grande espetáculo de seres enlamados lutando pela sobrivivência, enquanto a lama os engole. Infelizmente a vaidade que criaram com este tal de jeitinho brasileiro no próprio povo brasileiro, leva o povo brasileiro a se sentir maravilhado por sua capacidade de sobreviver na merda e esquecer de que está sendo enganado e fazendo um papel de trouxa, como um palhaço no circo para que os poderosos possam assistir e dar risada; como no domingão do Faustão! Se vire nos 30!!! Esta vaidade deste suposto jeitinho, que na verdade é pura e simples sobrivivência na selva de pedra, escurece ainda mais as vistas do brasileiro para com as injustiças sociais e o ferimento do estado que está sendo imposto através de supostas ineficiências estaduais. Estão chamando a todos os brasileiro de ineficientes e idiotas, e a favor de meio dúzia de empresários podres de ricos que querem tomar conta de tudo e deixar o resto na miséria compram partidos para privatizarem tudo! Estão quase dizendo: Suas mulas ignorantes! Me dêem seu estado pois vocês não sabem administrar consigo tirar sangue de pedra enquanto vocês ficam preocupados com meio ambiente e qualidade de vida! E o povo responde fazendo mímica… porque já não têm nem voz, toda abafada pela mídia privada, fazem gracinhas pro doutô no semáforo! Mostram a língua, dão pirueta e cambalhtoa! Chamam o SUS de porcaria para vender aos empresários, pois há países do mundo com inveja de um sistema público de saúde que o paciente não tenha de ficar anos a pagar por causa de uma cirurgia ou de remédios monopolizados que só vão retardando a doença até que as empresas lucrem com o último suspiro do morimbundo. OLha o que ocorreu com a lama da Samarco e olha a tecnologia que a Petrobrás tem hoje? Podem argumentar que apesar da Petrobrás ter tecnologia que outras petrolheiras nem sonham, ela é roubada direto pelos políticos… e merece ser particularizada nas mãos de meia dúzia… Quanta ignorância! Posso responder, então que se construa leis mais rigidas e eficientes para olhar o dinheiro do povo brasileiro. Pois estes políticos que roubam não representam o povo brasileiro mas as mesmas empresas que querem tirar o estado do povo… dizendo: “Olhem povo idiota! Meus amigos políticos que estou a financiar para me representarem, estão roubando suas empresas! Vendam elas para mim que tomarei conta para vocês e tirarei das mãos destes corruptos que estou a financiar e colocarei nas minhas! Seus ignorantes!!!” E o povo faz careta, mostra a llíngua, balança o bum-bum! E os ricaços dão risada! Mesmo que viesse 10% do lucro dela, o que logicamente não ocorreria com leis mais eficientes, ainda assim traria um lucro muito maior ao Brasil tanto financeiramente quanto biologicamente… pois as empresas particulares só querem o lucro e a população que se f***, morrem dezenas… milhares… o importante é que o lucro não pode parar… Aumente a produção! Despeje todos os dejetos quando não houver mais capacidade na represa e continuem a sugar estas terras!!! O estado me pertence mesmo, a maioria dos políticos comprados  e juízes influenciados! Pode despejar milhões de litros de petróleo no oceano… O importante é o lucro! Querem culpar a ineficiência do estado do povo, para destruirem o povo e seu estado. Querem convencer o povo, que destruindo a ele e seu estado é melhor para ele e seu estado! Que inocência! E o próprio povo vota a favor! É ignorância! Não existe jeitinho brasileiro, existe ignorância brasileira que tem de se virar no mar de lama que as multinacionais fazem com o povo e seu estado. Então, o tal jeitinho nasce quando o empresário podres de ricos utilizam do estado como marionete para jogar o povo e seu estado na merda e darem um “se vira nos 30” para que saiam de lá livres e não morram afogados na própria merda. Aqueles que sairem ganham um carro 0km! Ou um emprego na multinacional mais próxima! E os mesmos ricos assistem! Dão risada!!! Se acabam de rir! Como este povo é engraçado! Mas em verdade, inocentes e manipulados… nimguém em sã consciência aceitaria tudo isso! Não só o brasileiro, mas o estado do povo deste planeta está se tornando cada vez mais mesquinho devido a ganância de alguns poucos que querem privatizar o estado do povo e portanto o povo e seu estado. Iludem o povo com sonhos de grandeza e poder derivado do dinheiro e assim vão estimulando a competição e a destruição entre eles mesmos! Através de jogos divertidos que assistem no sofá de casa! Nascem as guerras, as brigas, os roubos, a inveja, a pobreza, a miséria… Ou seja, querem que o povo pertençam as suas empresas! Se quiserem respirar terão de pagar, se quiserem comer terão de trabalhar… de escravos que seja! E gritam: “Seu bando de vagabundos, vão trabalhar!!! Seus condenados!!! Se qusirem um pedaço de pão vão se virar seus pombos de buteco!” E dão risada!!! Temos um presidente que foi sociólogo de fachada e chamou professores de vagabundos! É claro, não precisou dar aulas… e continua tirando as escolas do povo através do seu partido! POis acham que sociológo conseguiria emprego em algum lugar além de escolas? Querem mão de obra barata para as multinacionais! Quanto mais ignorantes melhor! Que tirem as escolas! O povo não estuda mesmo! Elez dizem.. Este presidente conseguiu desviar uma boa poupança quando privatizou o estado e seu povo! Pois quem acredita que um sociólogo conseguiria emprega em uma multinacional além do cargo de peão? Não precisam de escolas e muito menos estudar em escolas! Vão para Miami estudar! Estão com a vida ganham… encima dos peões que pagam seus impostos! Sequestram o povo e seu estado, emitem títulos falsos, forçam o estado a aumentar impostos e diminuir investimentos! Sem nenhum escrupulo ou sensibilidade! Criam mão-de-obra barata e ignorante de seus direitos! Vide oriente médio! Armaram um grupo terrorista para que comprassem seu petróleo! Ou melhor, trocassem o petróleo por armas! E isto tudo a luz do dia! 

  10. Brasil de hoje, cópia de 100 anos atrás?

    Do jeito que a classe média defende os interesses da oligarquia, até parece que ele estão a reviver àqueles tempos.

     

    Quanto a irreversibilidade da morte, depende. Tem os desfibriladores e outras técnicas que contestam essa posição, em alguns casos.

  11. Democracia, quem “é” você? Apresente-se!

    Olá debatedores,

    eu achei interessante a tese do senhor Jesse principalmente por que “atacou” , digamos assim, alguns grandes pensadores do Brasil. 

    O  que ele disse sobre o desafio de desconstruir os intérpretes do Brasil me pareceu  bem razoável e pelo que pude notar, manteve boa  coerência.

    Se ele está certo ou errado é outra coisa. Isso dependerá do viés de cada debatedor, por exemplo. 

    De qualquer forma, ele já obteve o mérito de  provocar um importante debate , isso não tenho dúvidas.

    E , na minha opinião,  debates são  fundamentais.  O debate faz parte  da democracia possível. 

    Ao final, o Jesse  foi provocado pelo r. jornalista para falar sobre a democracia brasileira.

    Nesse ponto, penso que a resposta foi muitíssimo superficial. ( compreendo que a falta de tempo limitou a fala sobre o tema).

    Diante da limitação no tempo na entrevista para tratar , pelo menos de forma mais direta sobre a democracia brasileira, pensei em continuar com a provocação deste  debate.

    Partirei da última pergunta formulada pelo r. jornalista. Vejamos.

     

    LN- O aprofundamento da democracia é um processo irreversível ou está sob ameaça?

    A reposta completa  do Jesse está no texto. Abaixo só estou transcrevendo o que julguei mais importante para provocar o debate. Vejam.

    (…)ideias que dominam as nossas cabeças, da direita a esquerda. Elas nos fazem de tolos efetivamente, nos fazem agir contrários aos nossos interesses, como se esse 1% tivesse, de algum modo, sequestrado a inteligência(…)

    Minha percepção:

    De fato, “somos todos tolos”, para usar mais um clichê da moda…

    Penso que a democracia é um SONHO. Se ela existe ou já existiu na vida real, fora dos livros, das leis, da abstração do “Estado”, não se sabe. 

    Democracia, não passa de mais um vocábulo cujo significado quer mais ou menos nos passar a ideia de que o  poder  emana do “povo”.

    Ou  : governo que o povo exerce a soberania 

    Ou : sistema  político  em que os cidadãos  elegem  os seus dirigentes por meio  de  eleições periódicas.

    Ou: regime político em que todos os cidadãos participam, com o sulfrágio universal.

    Enfim, tragam as melhores definições para o debate. Vamos perceber o que “é” a democracia e seus “significados”.

    Superada essa definição inicial, Indaga-se:

    A democracia não seria, como dito,  apenas mais um VOCÁBULO cujo significado pode ser CONSTRUÍDO em dado momento, de acordo com  algumas condições momentâneas, e que são razoavelmente aceitas como sendo as condições “mais aceitáveis”( meio redundante mas foi isso mesmo que quis escrever)

    Ora, ora, ora, o que “é” democracia senhores? É possível DEFINIR democracia? Ou ficaremos apenas no CONCEITO?

    No Brasil, por exemplo, qual “é” a democracia que sofre ameaça?

    Por que?

    E por que você acha que o que você respondeu representa uma ameaça á democracia? Está ameaçando o que, exatamente?

    Uma outra indagação que na minha opinião não pode ficar de fora deste debate sobre a “democracia”, mormente, a “democracia brasileira” é a seguinte:

    A democracia pode existir de fato com o sistema capitalista de hoje?

    Noutras palavras, olhe ao redor, olhe para tudo, olhe para o dia-a-dia das pessoas, e diga qual “é” a democracia que existe.

    A propósito o que “é” o sistema capitalista?

    O “capitalismo” pode ser “democrático”?  Por que? Como? Explique. Dê exemplos.

    Antes que algum  desatendo traga ideias rasteiras e devidamente  “formatadas” vou antecipar alguns sinais de minha resposta, mantendo uma certa coerência com o pensamento do Jessé.

    Pra mim, democracia é mais uma FALÁCIA que anda de “mãos dadas” com o Estado Moderno e seu melhor amigo, o Mercado.

    Se preferirem, trata-se de um CONLUIO entre Estado Moderno e  Mercado, no que diz respeito à emanação do PODER e , principalmente o seu USO( não raro, abuso).

    Mas, com isso não estou dizendo que devemos acabar com o “direito de propriedade”, tampouco com a “liberdade” e que todos devemos nos tornar comunistas, mudar para cuba ou coréia do norte, ou para venezuela e esse monte de BABOSEIRAS vomitadas por ai. ( antes que algum desavisado queira partir para essa argumentação boboca)

     

    Em suma: Democracia, quem é você? Apresente-se!

    Saudações 

    1. Estamos quites: eu não li a entrevista nem você meu comentário

       

      NICKNAME (segunda-feira,23/11/2015 às 20:13),

      Não li a outra entrevista do Jesse de Souza que você indicou em comentário anterior, mais cedo, de segunda-feira, 23/11/2015 às 15:03. É quase certo, entretanto, que eu ainda a leia.

      Agora recomendação por recomendação penso que vale quase tanto quanto a pena você ler o comentário que eu deixei para você lá no post “Dilma e a falta de conhecimento sobre o exercício do poder” de quarta-feira, 04/11/2015 às 20:04, aqui no blog de Luis Nassif e de autoria dele e que pode ser visto no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/dilma-e-a-falta-de-conhecimento-sobre-o-exercicio-do-poder

      Meu comentário para você fora enviado na quarta-feira, 11/11/2015 às 14:22, junto ao seu comentário que se encontra na primeira página e que fora enviado na quinta-feira, 05/11/2015 às 01:15. Minha intenção foi mais mostrar pontos em que eu discordava de você no entendimento da política brasileira atual e no estratagema que cada um adotava para não desaparecer do cenário.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 23/11/2015

  12. Síndrome da vitimização….

     O mesmo papo dos pobres coitados que não tem oportunidade na vida por causa da elite. Conheço pobres que ficaram ricos e ricos que ficaram pobres, isso é apenas uma questão de auto estima, psicológica de auto confiança e não cultural. O Lula é o exemplo disso, se ele ficasse no nordeste esperando por alguem não teria sido Presidente da Republica. Hoje ele faz parte dessa elite que ele tanto critica. Papo de esquerdista para variar. Enquanto tivermos educação vindo do mercado ou do Estado seremos sempre manipulados, a saída é a pesquisa, precisamos ensinar as pessoas a se auto educarem e pensarem com suas próprias cabeças. 

  13. Hora da verdade

    Muito interessante a tese de Jesse.

    Entretanto, estamos numa encruzilhada historica. 

    E seu check point serão as eleições de 2018. Até que ponto a sociedade ralé tomou conhecimento de que foi objeto de mudanças radicais, proposta pelo petismo, dando a esse povo eternamente espoliado economica, material e espiritualmente, uma chance de se sobrepor aos infortunios do destino de quem nasce ralé em nossa sociedade.

    Terão obtido compreensao, minima, ao menos, de que passaram a ser agentes de mudanças? Passaram a ser atores?

    Ou vão novamente mergulhar na sua condição de subserviencia? 

    Se esse governo não tiver servido pra muita coisa, ao menos conseguiu dar a esse povo ralé a condição de se perceber que existe. Que pode interferir. O que seria o estopim da verdadeira brasilidade a surgir. 

    1. Excelente questão, dinarte22.

      Excelente questão, dinarte22. Há um paradoxo que corre por aí e que, se não é tão elegante quanto o termo “ralé”, também não é menos contundente, e que diz o seguinte: O PT, ao alçar os pobres à classe média, deu um tiro no próprio pé. É que só pobre vota no PT, classe média, não.

      É o que os comunistas, os verdadeiros “esquerdistas”, mais recriminam no PT: a tentativa de conciliação de classes. As classes sociais, para muito além de ser mera classificação numa tabela de rendimentos, têm fundamentalmente os mesmos objetivos só que em direções opostas: os donos dos meios de produção querem explorar o trabalhador o máximo, aumentando a mais-valia mas desde que o trabalhador continue vivo e, se o produto for destinado ao nicho de mercado a que pertence – o que raramente acontece -, continue consumindo; já o trabalhador quer explorar o dono do meio de produção desde que a atividade empresarial da qual participa não vá à falência, diminuir a mais-valia. São interesses opostos nas relações de trabalho.

      Isso faz do PT verdadeiramente um partido sindicalista, não um partido comunista. Sindicalista não quer a morte do patrão e menos ainda a falência da empresa, quer apenas um pedaço maior dos lucros. Eventualmente um esquema de auto-gestão solidária mas sempre dentro do capitalismo.

      A questão é consciência de classe, consciência essa sempre bombardeada pelo capitalismo, ainda mais num capitalismo como o nosso, colonialista e coronelista. Em poucos lugares no mundo se vê tanto trabalhador comprando a ideologia do dono do meio de produção quanto no Brasil. Nossa classe média é especialmente poser, gosta de pensar que é VIP até que um passaralho qualquer corte-lhes a cabeça e a subsistência. E aí nem os filhos na escola ou a saúde da família estarão garantidos, já que essa classe média se ufana de votar em privatista, e privatista, por sua natureza, detona, sucateia e corrompe tudo o que é público. exceto a segurança pública. Mas mesmo essa fica restrita à elite, não cobre a classe média. É só ver soldado da PM, que tem filho em escola pública estadual aqui em São Paulo, batendo em estudante… Esses “guardas” não vêm que sofrerão eles mesmos com o sucateamento da Educação pública?!

      Consciência de classe…

      1. É o dilema do populista

        É o dilema do populista: ele se mantem no poder enquanto conceder benefícios aos pobres, mas precisa ter o cuidado de não exagerar na dose a ponto de fazer o pobre passar à classe média, pois isso seria secar o caldo de cultura onde viceja. O cidadão que ascende à classe média passa a pagar impostos, e não mais vê o governo como um pai benfeitor, mas como uma espécie de síndico do prédio, ao qual cumpre a obrigação de cuidar bem da receita que está em suas mãos. O populista coloca-se na posição de Pai do Povo porque assim está em sua zona de conforto: o pai tem o dever de assegurar o sustento do filho, e o filho não tem a incumbência de questionar como o pai obtem seu dinheiro. Aí ele pode meter o dinheiro do estado no bolso, enriquecer e locupletar-se que continua recebendo votos, desde que o eleitorado não ascenda à classe média.

        Ironicamente, a primeira base eleitoral do PT, ali nos princípios dos anos 80, foi a classe média politizada. O PT ganhava nos centros urbanos e apanhava no interiorzão pobre. Depois que o PT chegou ao poder, apropriou-se desse eleitorado que sempre vota naquele que tem a chave do cofre nas mãos, e que antes pertencia aos ACM´s e Barbalhos da vida. Mas esse eleitor pobre não tem ideologia, e muda de partido tão logo o dinheiro seca. É característica comum do venal ser mal agradecido.

  14. Concordo inteiramente: é

    Concordo inteiramente: é preciso novas narrativas

    que não sejam explicita ou implicitamente vira-latistas.

    Faltou citar Darcy Ribeiro, como Jessé vê seu pensamento,

    um cara que estava por trás de um novo projeto de educação para

    este país e que via com muito bons olhos a complexa mistura

    de elementos de nossa cultura. Dizem que o Brasil não é para

    amadores, pois acabo de ver o sacrossanto Sérgio Buarque de Holanda

    e acólitos transformados exatamente nisto – em amadores. Isto não é pouco!

  15. Daria como título ao livro: “Os mitos da inteligência brasileira

     

    Luis Nassif,

    Muito bom essa entrevista. Deve valer bem a pena ler o livro do Jesse Souza.

    Fico satisfeito ver alguém professando ideias que eu imaginava que iam ficar escondidas. Não sou sociólogo, mas há mais de vinte anos quando eu vejo alguém falar em patrimonialismo brasileiro, eu percebo que se trata de um iletrado. Como eu costumo dizer, é preciso desconhecer a Lei 4.320 de 17/03/1964, portanto, anterior ao golpe de 64, para se referir ao patrimonialismo no Brasil como algo do nosso tempo.

    Não sou economista, mas do lado deles também vejo-os falando minhas velhas ideias. Semana passada vi o post “More unpopular economic opinions” e havia lá a seguinte afirmação: “Capitalism is successful not because it is efficient or productive”. O endereço do post “More unpopular economic opinions” é:

    http://www.fresheconomicthinking.com/2015/11/more-unpopular-economic-opinions_19.html

    Ela me fez lembrar da minha frequente referência às duas farmácias concorrendo em uma pequena cidade do interior cada uma com quatro a cinco funcionários e que podiam ser substituídas por uma só muito mais eficiente com cinco ou seis funcionários. Com uma só farmácia, o lucro será maior, os salários serão maiores já com duas farmácias haverá mais pessoas trabalhando e, portanto, apesar de menos eficiente será mais justo.

    E aproveito para lembrar que recentemente junto ao post “O engodo de atribuir a corrupção ao desenvolvimentismo” de quarta-feira, 18/11/2015 às 19:55, de sua autoria eu pretendia enviar um comentário cujo título seria “O engodo de não atribuir parte do desenvolvimento à corrupção”, em que argumentaria que a corrupção é uma mais valia não permitida em lei, mas, não sendo descoberta, ela funciona como a mais-valia, isto é, quanto maior a mais-valia, mais o capitalista investe e faz a economia crescer. O endereço do post “O engodo de atribuir a corrupção ao desenvolvimentismo” é:

    https://jornalggn.com.br/noticia/o-engodo-de-atribuir-a-corrupcao-ao-desenvolvimentismo

    Enfim, ainda que o título que eu queria dar representava uma crítica ao título que você dera ao seu post, pois vejo o desenvolvimentismo como uma presença maior do Estado e como tal haveria maior espaço para a corrupção, o que eu mais queria dizer com o título era que a corrupção deve ser combatida apenas pelo que ela representa de violação da lei. Que é evidente que a corrupção está atrelada ao Estado porque o Estado está atrelado ao capitalismo e que quanto maior o Estado maior é a corrupção, embora ela tenha diminuindo à medida que se fortalecem as instituições encarregadas de a combater. E que sendo a corrupção proporcional ao tamanho do Estado e sendo os Estados Unidos o país que tem o maior Estado do mundo medido pelo tamanho dos gastos públicos em termos absolutos não seria difícil concluir que em valores absolutos lá é onde há mais corrupção no mundo.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 23/11/2015

  16. Excelente entrevista

    Resumindo, mesmo o 1% detendo quase toda a riqueza financeira, muitas vezes há outras riquezas que eles não dispõe. Saber onde e quando investir, é uma riqueza. Por exemplo, George soros, pertence ao 15 mais rico, mas quem domina a arte de investir para ele são os operadores, como Armínio Fraga.

    Existe a riqueza da etiqueta social. De saber se apresentar para os clientes, de saber ser Nobre. em muitos países, a pessoa só é considerada de alta classe social se tiver um título de nobreza, ou se tiver educação esmerada. Mas aqui no Brasil, em muitos casos, basta a pessoa ter dinheiro para ser considerada rica. Então a gente as vezes vê pessoas da elite sabendo muito menos do que os ricos, e as vezes tendo de pagar alguém para atender os seus clientes, pois não saberia.

    É aquele ditado: Um rico, chega numa agência autorizada de vendas de veículos, e pede um “Lambordini”. Aí o amigo que está com o rico diz: Não é “Lambordini”, é “Lamborghini”. Então o rico diz:

    – Você até sabe falar, mas eu tenho o dinheiro para comprar.

  17. É por isso que a esquerda brasileira está tão obsoleta

    É aquele fetiche incontrolável de ver todos os aspectos do mundo e da vida (talvez até mesmo as leis da física) unicamente sob o viés marxista. Sérgio Buarque de Holanda? Gilberto Freyre? São hereges, apóstatas. Nada do que veio depois de Marx é válido. Tudo que escapa a Marx é pecado e deve ser punido com a Sharia. Já a seguinte passagem parece mais um mecanismo de transferência dos próprios defeitos para o “adversário”; ele diz sobre a classe média: ‘Eu não estou lá acima econômica e politicamente, mas eu tenho algo que ninguém tem, que é a honestidade’. Ora, mas é uma convicção inabalável como essa em ser dona do monopólio das boas intenções que fez a nossa esquerda ser tão obtusa e insistir obsessivamente nos mesmos erros até o limite da irresponsabilidade!!! Mais uma: diz-se que a classe média brasileira abomina o estado!!! Mas então falta explicar porque a classe média em massa busca fazer concursos públicos para escapar da concorrência na iniciativa privada. Os interesses de mercado predominam no país? Um exemplo difícil de ser explicado sob essa ótica: existe uma grande siderúrgica em Monlevade, MG, que a décadas está para aumentar a produção mas é inviável porque a BR-381 (também conhecida como rodovia da morte) não foi duplicada até hoje, e não há como dar vazão ao aço. Não preciso falar dos portos e rodovias, não é mesmo? Outro exemplo: um dos grandes problemas da nosssa indústria é exatamente a falta de mão de obra qualificada, de maneira que o estado brasileiro não atende a essas demandas não por falta de interesse do mercado, mas por incompetência mesmo. Mas o simplismo de uma análise que pretende jogar até um Sérgio Buarque de Holanda no lixo para adotar a visão de mundo unilateral do marxismo beira o fundamentalismo. Será que a birra da classe média com o estado não é consequência exatamente dos serviços mal prestados? Aqui está um segredo que vou contar para acadêmicos que mal costumam colocar o pé fora dos seus gabinetes: a classe média não quer o fim do estado, ela quer que ele funcione.

    1. Creio que as privatizações em

      Creio que as privatizações em muitos casos facilitam, como em rodovias… mas acontece que não é o âmbito principal por trás das privatizações… As empresas estão buscando de desregulações e brechas para se instalarem e sugarem o povo e seu estado fragilizado ou corrompido por políticos de caráter duvidoso.. Mas se for tudo muito bem analisado tem jeito! Mas devemos pensar que em uma sociedade democratica demora-se um pouco, mas a coisa funciona. POis não tem nimguém ditando as regras como em uma empresa particular onde o dono dá a palavra final e quem for contra é demitido. Ou como em estados em que o presidente é fantoche e dita o que é melhor para os banqueiros e multinacionais que o financiam. Então podemos chegar a conclusão que, em verdade, é nas empresas particulares que está o ditadorianismo visando o lucro individual quase que exclusivamente e as empresas aliada a um estado fantoche tomam conta da economia do país e acaba com os pequenos e médios empresários com suas multinacionais que visam destruir mercados e acabam com os investimentos no povo pelo estado, para conseguir mão-de-obra barata. O Estado ainda é falho? Sim, claro! Assim como as empresas o são! Mas o estado é democrático e visa o bem-estar geral para um investimento, e não o bem-estar de meia-dúzia de empresários ou político financiados por bancos e multinacionais! Antes a demora do estado, mas democrática! Do que a rapidez do empresariado, mas egoista. Embora concorde que em algumas áreas, como a rodoviária o privatismo funcione… a democracia tem de estar antes de tudo, até para cortar um mato no meio da estrada.

  18. Esse autor adora elucidar

    Esse autor adora elucidar confusões mas reproduz uma confusão grandemente disseminada na esquerda, que o crime de sangue é um problema social e de classe. Não, é uma transgressão individual. Quem comete um crime é um indivíduo criminoso. Ele não se acha um lixo nem filho de Deus ele é o próprio Deus com uma arma na mão. Enquanto a esquerda vitimizar criminosos não vai ser levada a sério, como o PT não é levado a sério no Rio de Janeiro. Ressalto isso porque tenho como fundamento principios igualitaristas sociais, e sei muito bem quando eles terminam. A reparação de uma injustiça social não pode se dar por um crime individual e tratada com um direito natural do criminoso. 

  19. O fato da classe média:

    O fato da classe média: economistas, juízes, jornalistas etc, usarem mitos como origem de ideias, que depois se tornam mentira ou ciência manca de direita ou de esquerda; e, consequentemente, são os representantes da elite que rouba a si mesmos, causa me a certeza de que os filhos do capital cultural não são inferiores em relação a montar ideias do que os filhos da classe média capitalista propagam.

    Isso que é divulgado com base nos trabalhadores brasileiros torna-se preconceito de correlação aos mitos do poder de outras nações que nem sequer conhecem um espírito padrão de individuos.

    Causa estigma da sua propria inferioridade dizer que os filhos de famílias pobres serão a ralé em relação à classe média capitalista.

    Eu mesmo me senti vitima desse tipo de divisão da sociedade, a que menospreza a cultura natural pelo mito econômico enganoso, posto que há preconceitos aqui contra a maioria criativa, para  se manter o privilégio dos pseudos intelectuais. 

  20. excelente

    excelente enrrevista..

    desmistificar sérgio buarque  de hollanda e o  gilberto freyre etc

    é interessante.

    mas, meparece,

    nos leva a um impasse político crucial: ou,

    em outras palavrfas:

    só resta a porrada.

    a ralé parece que já  dançou  na argentina.

    dançará tb no brasil em 2.018?

    a pergunta é:  quando a revolução pintará no brasil?

  21. Uns caras desses queimam o filme da esquerda

    Uma platitude como “nos EUA também há corrupção” é usada explicitamente com o intuito de considerar normal a corrupção e disseminar sua aceitação. Imagine se em resposta aos que protestam contra abusos contra a mulher alguém dissesse: “nos EUA também há espancamento de mulheres”. É um argumento tão obsceno quanto. A conclusão é que essa esquerda (e veja que não me refiro à esquerda em geral) não pode ficar no poder de maneira alguma. Por outro lado, se os corruptos são perdoados, a classe média é condenada sem dó pelo autor (!!!!!). O engraçado é que para reduzir a desigualdade do país temos que aumentar significativamente a participação da classe média na pirâmide social… Agora vejam que o discurso dos ricos contra pobres foi o principal bordão da esquerda petista a cada evidência de corrupção ou incompetência. E aqui vê-se um discurso contra a classe média para desqualificar a intolerância contra corruptos. Como se o brasileiro já não fosse tolerante o bastante. O que mais impressiona é que quando a direita e boa parte da população entraram no jogo desse discurso de ódio, a esquerda petista se surpreendeu!!! Se o nível de auto-crítica da esquerda no Brasil é esse, ela vai desaparecer. Se não neste Petrolão, no Petrolão II, III, etc. Quem não tem auto-crítica repete seus erros até o desastre.

    1. Os corruptos são os outros.

      Felipe Lopes, nem sei se esse é seu nome ou é apenas um “nickname”, como se dizia na era de ouro das salas de chat. “Nos Estados Unidos também há corrupção”, quando Jessé afirma isso, ele não está contemporizando com a corrupção tupiniquim, apenas está demonstrando que a luta da Direita contra a corrupção é pura falácia. A Direita não se preocupa com a corrupção, porque é sua principal aliada. Privatizar a Cia. Vale do Rio Doce, que virou Vale e agora não vale nada para os brasileiros pelo preço de ocasião que foi, privatizar o Sistema Telebrás e agora temos a pior telefonia celular da América e uma das tarifas mais altas do mundo, isso são atos claros de corrupção mascarados pela imprensa mais corrupta do planeta.

      No Brasil, como no Terceiro Reich, não há contraponto, então, como arrivistas e alpinistas sociais como Barbosa e Moro recebem os refletoreds, o povo todo, e talvez até você, acredita que são defensores da lei, se arriscam contra a impunidade, a maioria não vê que eles estão associados aos grandes e verdadeiros esquemas de corrupção. Temos a vida limpíssima de Dilma Rousseff, escarafunchando tudo o que ela fez, jamais levou um único  clipe de papel de uma repartição para sua casa, o que não se pode dizer de Aécio, Serra, FHC e Geraldo Alckmin. Você já pensou no fenômeno que elege e reelege Alckmin, que privatizou a SABESP, que botou suas ações na NYSE, que distribuiu R$ 4,5 bilhões de lucro nos últimos dez anos, enquanto não se construiam novas represas e se consertavam nossos podres canos de ferro todos furados, por onde se perdem mais de 50% da água tratada no Estado de São Paulo? Quando você cita só informação retirada dos despachos dos juízes mais canalhas e corruptos do planeta, quando você cita uma imprensa dramaticamente fascista, você é tão podre quanto elas. E ainda vem a este blog, mugir, latir, ofender? Volte para sua jaula, primata intelectual.

      1. Álvaro Tadeu

        Esse não é um nickname, é meu nome mesmo o que consta aqui. No mais, não entendi porque a questão das privatizações e dos tucanos veio à baila, já que em nenhum momento eles entraram na conversa, mas de qualquer maneira, não sou privatista, acredito que o que é estatal pode funcionar excelentemente bem. O grande problema é que a esquerda e a direita brasileiras não parecem ter nem um mínimo de competência gerencial!!! No mais, a seguinte afirmação sua parece fora de lugar, porque em nenhum momento citei despacho de nenhum juiz e nem a imprensa. Veja, na referida afirmação, nas suas palavras mesmas, o exemplo mais claro de uma esquerda arrogante, sem nenhuma auto-crítica, que parte diretamente para a desqualificação de qualquer um que discorde, que finge desconhecer a dialética da argumentação quando não lhe interessa, enfim, de uma esquerda stalinista (e, portanto, ela sim, fascista): “Quando você cita só informação retirada dos despachos dos juízes mais canalhas e corruptos do planeta, quando você cita uma imprensa dramaticamente fascista, você é tão podre quanto elas. E ainda vem a este blog, mugir, latir, ofender? Volte para sua jaula, primata intelectual”.

        1. O maniqueísmo autodestrutivo

          Discordo, seu interlocutor foi tipicamente comunista por associa-lo a todo tipo de manipulação e ausência de autocrítica que vc realmente deve estar sujeito, mas sagazmente não trouxe à tona. Concordo com ele por vc ter chegado prepotente e agressivamente criticado um sociólogo tão coerente e raramente otimista como esse sem sequer se debruçar sobre trechos específicos ou abordar sem filtros moralistas a essência do entrevistado.

          Parece que vc se limitou a conhecer os filósofos classicos como Sócrates, Platão e Aristóteles (ainda não me aprofundei neste último) e esqueceu a crítica que estudiosos modernos como Bacon e Kant fizeram ao racionalismo exacerbado daqueles.
          “A República”, por exemplo, destila inumeros preconceitos e se alonga quanto a diferentes suposições sem efetivamente provar o sucesso de seus conceitos e é tratada como uma obra atual ainda hoje, sendo que ela hipocritamente limita o alcance do conhecimento e idealiza um homem funcional, um homem-máquina. Há, claro, trechos, ideias e conjecturas muito atuais e úteis à sociedade, mas se trata de uma obra excludente e essencialmente restrita ao escravismo daquela época.
          Muito mais relevante para o cenário político e relativista atual, a obra “Górgias” se encontra esquecida pelo povo brasileiro, mais especificamente a classe média intelectual de nossa nação, mais preocupada em regrar a vida das outras classes – como Sócrates o faz em todos os ‘livro’ do tomo “A República”, exceto o primeiro – do que em dialogar com todos, até mesmo com os semelhantes de sua própria classe – como Sócrates o faz no primeiro livro em “A República” com Trasímaco e em “Górgias” com o personagem título, Polo e Cálicles.
          Retornando à crítica dos filosofos modernos, a filosofia clássica se preocupa excessivamente em estabelecer convenções do que investigar empiricamente e chegar a um conhecimento mais factual. Ou seja, critica a masturbação ideológica dos clássicos.

          Já a crítica dos filósofos contemporâneos como Benjamin, Deleuze, Marx e brasileiros como Boff e Freire tratam de como o pensamento clássico desumaniza o ser humano, tentam torna-lo um homem-máquina e limitá-lo de seus outros potenciais: animal, natural, artístico e subversivo.
          Legitimam esses pensadores atuais questões como o excedente de desemprego e o desemprego funcional, no qual as máquinas modernas “roubam” o homem de suas antigas profissões e minimizam a mão de obra a técnicos e burocratas, deixando um rastro de desemprego e tempo ocioso.
          Vc realmente acha que essa lógica moral e excludente tem algum valor para a maioria da população excluída e estimulada pela própria exclusão a comportamentos imorais e até antieticos? Porque a sua masturbação moralista não acusou o falso moralismo e as hipocrisias do estrangeiro como Jessé Souza o fez.
          Em que o seu pensamento, Felipe Lopez, contribui para a unidade nacional e as bases de sustentação de nossa sociedade? Do seu discurso, aferi somente uma acusação inicial e uma defesa posterior (tréplica) a réplica, mas vc não dialogou nem com as ideias do pensador em questão nem com o seu interlocutor Alvaro Tadeu.

          Vc acha que a demonização da política e a narrativa teatralizada pela mídia sobre juízes morais (na realidade, autoritários) contribui para o nosso crescimento econômico? Vc acha que o desmonte de empresas nacionais, como a Petrobrás e a Odebrescht, e projetos como nosso submarino nuclear em prol de multinacionais estrangeiras faz bem à nossa economia e ao combate à desigualdade social?
          Porque essas desculpas moralistas iniciadas pela Esquerda nas Jornadas de Junho (reconheço o erro, apesar de tê-lo combatido desde a gênese) e repetidas farsescamente pela elite e pela classe média (referido por Jessé Souza como intelectualmente excludente) que compõem os juízes, os políticos, os produtores de mídia, os empresários, os banqueiros, etc pouco a pouco demolem o Estado brasileiro.
          Entretanto, isso não representa vantagem a esses setores, cujo representante enfraquecido (o Estado) poderá, sob mãos entreguistas e cínicas (a política já foi demonizada), facilitar a entrada de concorrentes estrangeiros mui melhor estabelecidos e mais legítimos que os internos.
          Ou seja, perderemos líderes nacionais no mercado (na esfera pública, já ocorre) e decorrerá uma massiva subjugação: leia-se empobrecimento, estagnação generalizada da ascenção social e perseguição consumada de lideranças nacionais em TODOS os setores.

      2. Não quero participar do

        Não quero participar do “debate”. Só deixar registrado um fato. A Sra. Lina Vieira, funcionária de carreira da Fazenda Nacional, foi chamada sim pela Sra. Dilma Roussef por ter “entregue” o filho de José Sarney, fato negado pela atual Presidente da República, Lina e seu companheiro foram execrados, inclusive com acusações absurdas e levianas. Conseguiram aposentar a mesma, além de sumirem com seus rastros…. Nunca se achou a agenda, as imagens de segurança foram apagadas, o encontro não existiu, e mais falácias criadas e inventadas por uma mídia ridicula e que serve aos mais excusos intéresses, como dizia Brizola, fazem parte de um esquema que beneficia “bons moços”. Então, querer falar bem de Dilma Roussef, que até hoje nega o episódio é insistir numa piada de mau gosto. Lamentável.

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