O navio corsário Atlantis, na Segunda Guerra Mundial

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O NAVIO CORSÁRIO ATLANTIS – Ao se iniciar a Segunda Guerra em 3 de setembro de 1939 a Alemanha tinha uma marinha muito inferior à britânica em navios de superfície, contava com sua especialidade, os submarinos e com poucos navios de linha, em especial o Bismarck e seu gêmeo, o Scharnhorst, mas carecia de cruzadores.

A Kriegsmarine lançou mão de uma arma auxiliar de pouca importância estratégica mas de grande importância psicológica, os chamados “cruzadores corsários”, na verdade navios mercantes armados mas com disfarce de pacíficos navios cargueiros. Dez navios foram requisitados, armados e lançados para atacar o trafego marítimo inglês.

O mais conhecido deles foi o ATLANTIS, que era o antigo Goldenfels armado com 6 canhões 150 mm e mais armamento secundário anti aéreo e canhões de menores calibres, alem de torpedos e minas. Era um navio de 17.600 t, dois motores diesel com potência de 7.400 HP e preparado para longos périplos de navegação.

O ATLANTIS realizou um feito extraordinário, navegou por quase  dois anos sem voltar à Alemanha, 161.000 km, em 602 dias, foi até o Oceano Pacifico e operou no Atlântico Sul e Indico, afundou 22 navios mercantes com 144.000 toneladas até ser afundado em 11 de novembro de 1941 pelo cruzador britânico Devonshire, ao sul da Ilha de Santa Helena. Era comandado pelo Capitão de Mar e Guerra Bernard Rogge, um cavalheiro do mar, fazia questão de salvar os passageiros e tripulantes dos navios afundados e jantava com os capitães desses navios em longas conversações sobre a guerra, a vida, as famílias e a História. Os passageiros e tripulantes que capturava eram enviados à Alemanha por navios capturados, com pouquíssimas perdas.

O ATLANTIS foi lançado no serviço em novembro de 1939, dois meses apos o início da guerra. Entrou no Atlântico Norte disfarçado de navio soviético, o KRIN, com chaminés, pintura e bandeiras em perfeito disfarce, depois mudou para o japonês KASII MARU. A tripulação de 350 homens era altamente treinada em montar disfarces, pintavam o navio todo com as cores do pretenso cargueiro, alguns passeavam no convés como senhoras com carrinhos de bebê, trabalho profissional. Se aproximavam do navio alvo com atitude pacifica, só tomova posição de ataque bem perto, com aviso de não usar o radio sob pena de afundamento imediato. Faziam todos descer, depois vistoriavam o navio, pegavam provisões e afundavam. Para montar os disfarces seguiam o Lloyds Register of Shipping, que tinha as fotos de cada cargeuiro em navegação no mundo, mudavam o disfarce a cada captura de navio.

Na Oceania o ATLANTIS conseguiu aportar em ilhas desertas para reabastecimento de água doce e descanso.

Conseguiu um feito extraordinário ao encontrar em um dos navios atacados uma vasta quantidade de documentos do Almirantado britânico, com códigos, chaves, relatórios sobre as defesas de Singapura, que entregaram ao Japão quando o ATLANTIS atracou no porto de Kobe. O material era tão valioso que Rogge recebeu a “Espada do Samurai”, a mais alta condecoração do Imperador, nenhum outro alemão ganhou tal comenda. O material tinha ordem de destruição em caso de ataque mas o pessoal da cabine onde estavam os documentos morreu quando o ATLANTIS disparou artilharia na ponte radio por ter se iniciado uma transmissão.

O fim do ATLANTIS também foi curioso, marcou encontro no meio do Atlântico Sul com o navio mãe de submarinos PHYTON, para se abastecer de viveres e combustível mas foi avistado pelo cruzadir britânico  Devonshire, o Phyton se auto-afundou e deixou Rogge em baleeiras com seus tripulantes, mais de 300. Rogge foi então rebocado por submarinos que pensavam levar os botes às costas do Brasil, então ainda pais neutro, a 1.500 km de distância.

No meio do caminho foram avistados por outro cruzador, o  Dorcestershire, os submarinos submergiram imediatamente, deixando os botes sozinhos, o navio inglês não os recolheu por medo dos submarinos embaixo, ficaram no mar até outro submarino alemão aparecer (o U-126) e rebocá-los até o porto francês de St.Nazaire, onde chegaram todos salvos, essa fuga é também um feito extraordinário que fez Rogge um dos marinheiros mais condecorados no Terceiro Reich.

A história do ATLANTIS é bem mais complicada do que a descrição rápida acima, foi material de vários livros e um filme mas sempre achei uma narrativa fascinante pela personalidade especial de Rogge, um cavalheiro na guerra.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

15 Comentários

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  1. Todos os navios corsários alemães………….

    ………….seguiram as normas da convensão de Genebra, quase sem excessão!. Segundo o livro de Richard Humble, Marinha Alemã, Esquadra de Alto Mar (1971), alem do Atlantis, houve também os corsários Komet, (42.959 ton afundadas), Thor (83.000), Pinguim (136.000), Kormoran, Widder e outros em duas levas. Apenas o capitão Helmuth von Ruckteschell, no Widder foi julgado por crimes de guerra. Este capitão tinha o hábito de mandar fuzilar os naufragos dos navios que afundou, uma caracteristica comum dos submarinistas alemães. Por isto, ao final da guerra, o capitão Helmuth foi condenado e morreu na prisão. A Marinha Alemã era considerada das forças armadas, a menos nazista de todas as armas.

    1. Bernhard Rogge não sofreu

      Bernhard Rogge não sofreu punição ao fim da guerra, teve uma ilustre segunda carreira como Contra-Almirante da nova Marinha da Alemanha Federal,  aposentou-se em 1962 como Vice-Almirante, recebeu testemunhos elogiosos de capitães dos navios que afundou pelo seu tratamento aos prisioneiros, faleceu em 1982.

      1. Exato

        A marinha alemã, exceto a arma de submarinos, teve uma conduta exemplar na 2º guerra. Apenas o capitão Helmuth von Ruckteschell foi condenado, exatamente por que fazia a mesma coisa que a arma de submarinos, metralhava os sobreviventes dos navios que afundavam. Tem inclusive a história de um submarino que metralhou a tripulação de um navio brasileiro, segundo relatos dos poucos sobreviventes. Como curiosidade, não sabemos a história real dos submarinos americanos na batalha do Pacífico. Sua atuação em estrangular as rotas de suprimentos dos japoneses foi mais eficaz ainda que os alemães em estrangular os Britânicos. O numero de navios de transporte joponeses afundados por esta frota de submarinos americanos foi enorme e não há história a respeito de como se comportavam com os naufrágos. 

        1. Muito bem lembrado, o tema da

          Muito bem lembrado, o tema da guerra submarina conduzida por Tio Sam. A guerra contra o Japão foi recoberta com enormes doses de racismo (o que não ocorreu na Europa); é de se duvidar que a arma submarina tenha sido exceção…  Há, sobre o assunto algum material na internet. 

          1. A guerra do Japão contra a

            A guerra do Japão contra a China de fato teve ENORMES DOSES DE RACISMO, os japoneses estruparam e mataram 300.000 chinese em 5 dias no chamado ” Saque de Nanking”, espetavam bebês chineses na ponta da baioneta, jogavam para o alto para fazer pontaria com pistolas. Mais racista que japonês na 2ª Guerra será dificil encontrar.

          2. Ops!

            A maldade do vencedor é conhecida por toda a história. Roma exterminou Cartago e salgou seu solo, Os judeus exterminaram Jericó, O Hebreus exterminaram Troia. Roma exterminou Massada, Os cruzados exerminaram os árabes de Jerusalem, coiosa que Saladim perdou e deixou os cristãos cairem fora. Mas Hitler exterminou  6 milhões de judeus e mais 40 milhões de russos e eslavos. Este não tem comparação!

        2. Comportamento

             Como qualquer submarino, alemão, russo, japones, inglês – afunda o alvo, e vai embora rapidinho se posicionar para o próximo , ou despistar as escoltas.

          1. O problema não era cair fora

            Era metralhar os sobreviventes em barcos de madeira ou infláveis. Estes naufragos quando escapavam, normalmente estavam muito queimados e feridos, em um minusculo bote no meio de um oceano, sem água, alimentos, cobertores e no pacífico, infestado de tubarões. Diziam que era uma justificativa para não informar sobre o submarino, mas era mau quem nem Barbosão era!

          2. Imbecilidade

              Emergir e perder tempo em matar futuros mortos, é imbecil, coloca em risco o submarino, portanto tal atitude soemnte foi tomada em poucas ocasiões, e quanto a “possibilidade de informar”, é mais uma lenda de desinformados, pois navios sob ataque emitem, mesmo nas condições da década de 40, um sinal de radio omnidirecional, indicando sua posição, em frequencia de emergência – hoje tal procedimento é automatico , na época a tripulação o acionava.

               O problema é que em muitas operações de transporte em condições de guerra, estas frequencias eram desativadas ou proibidas de utilização, pois poderia indicar não apenas o local de ataque, mas a posição do comboio no qual estava o navio atingido, proporcionando ao inimigo  projetar sua direção e velocidade, facilitando um ataque posterior.

                Como os casos relativamente recentes do cruzador ARA Belgrano e do ARA Mercante Rio Carcaraña, durante a guerra das malvinas, que apesar de terem sido atacados e emitirem suas posições ao resgate naval (o Belgrano estava proximo a costa, e com duas escoltas – contratorpedeiros), o resgate só foi providenciado após a sanitização da area ( o submarino e as aeronaves atacantes, já estavam fora da area).

      2. Genda

           Caro Motta,

           Inimigos valorosos de um passado recente, podem se tornar grandes e respeitados aliados para um futuro presente, como no caso de Minouro Genda, um dos idealizadores e comandante de ala, quando do ataque de Pearl Harbor, que em 1962 ( 21 anos após), recebeu até a Legião de Mérito dos Estados Unidos.

           E já que vc. comentou ontem sobre a Gehlen Org. alemã, poderia tambem nos brindar com um comentário sobre outro criminoso de guerra ( Sino-Japonesa), que mesmo elegivel a condenação a morte por atrocidades cometidas na China e Coréia, foi após a II GM um dos “lideres da cortina de bambú” da politica e inteligência japonesa, o pouco conhecido: Yoshio Kodama.

  2. Duas pequenas correções: o

    Duas pequenas correções: o gêmeo do Bismarck era o Tirpitz; o gêmeo do Scharnhorst era o Gneisenau. Os dois primeiros eram encouraçados “plenos”; os outros dois, mais leves, eram classificados como encouraçados “de bolso”, e foram projetados para contornar as restrições do tratado de Versalhes.

    Editando para corrigir uma imprecisão minha: embora mais leves, o Scharnhorst eo Gneisenau eram considerados couraçados ou cruzadores de batalha; a expressão “couraçado de bolso” foi atribuída à classe Deutschland, seu representante mais conhecido sendo o Graf Spee.

    1. 18/06/1935

          Após dois anos de poder, e já em expansão militar, Hitler e o governo britanico, assinaram o Acordo Naval Alemanha – Reino Unido, homologado pela Liga das Nações no ano seguinte.

          Foi devido a este acordo que a Alemanha acabou com as restrições navais impostas pelo Tratado de Versailles, acordando com os britanicos, uma paridade de tonelagem naval de 35/100 ( a marinha alemã somete poderia somar a tonelagem de até 35% da britanica), o que para alguns analistas da época, foi um excelente acordo, afinal a Royal Navy era signatária das imposições relativas ao Tratado de Washington de 1922, que estabelecia um limite para as construçoes navais (tonelagem e calibre dos canhoões principais), das principais marinhas do mundo ( USA, RNavy, França,Japão e Italia).

         Portanto se o Tratado de Washington, estabelecia para RNavy, 580.000 toneladas em encouraçados/cruzadores de batalha, a marinha alemã, poderia chegar ao máximo de 203.000 toneladas, o que para alguns, este acordo de 1935, representou uma das tentativas de Hitler, estabelecer uma possivel aliança germano-inglesa, para contrabalançar a expansão soviética no Báltico e mar do Norte.

         Somente após este acordo, foram batidas as quilhas das novas belonaves germanicas, os “irmãos” Schar + Gneisenau, e iniciada as quilhas evoluidas da Classe Bayern, os “irmãos” Bismarck e Tirpitz, e ambas as classes por utilizarem conceitos de construção naval no “estado da arte” na época, eram bem mais leves e rapidos que seus possiveis contentores, britanicos ou franceses, pois a utilização extensiva de soldas eletricas de casco, em contraposição aos rebites, e motores dielsel mais leves e potentes, tornaram estes couraçados e cruzadores, bem mais poderosos, basta dizer que em 1940, o mais poderoso couraçado da Royal Navy, o Hood (afundado pelo Bismarck), era um navio da década de 20.

  3. Que fique a lição: pode-se

    Que fique a lição: pode-se combater mas não há necessidade de ser carniceiro, torturador, etc. Tambem pode-se julgar sem ser desequilibrado.

  4. Gross Admiral Tirpitz

       O Atlantis e demais “raiders” do principio da II GM, foram uma reedição da estratégia de Tirpitz na I GM, em “levar a guerra” para varias partes do mundo, em todos os oceanos, concentrando estes cruzadores-auxiliares em interceptar rotas comerciais, principalmente as derivadas das colonias inglesas e francesas que iam em direção as metropoles, operando tanto no Atlantico como no Pacifico.

         A estratégia de Tirpitz, proporcionou que seus submarinos ( de pouca autonomia), se concentrassem em operar nos acessos ocidentais, e ao mesmo tempo, os “raiders” oceanicos alemães, conseguiam reter meios ingleses e franceses (detroiers, cruzadores, corvetas oceanicas), fora do combate aos U-boots nas rotas principais (acessos ocidentais – brecha GIUK e Biscaia), somente após 1917 com o advento de um sistema de comboios mais eficiente, e o apoio de cascos americanos, a ameaça submarina foi controlada, e nesta fase da guerra, os “raiders” alemães, já tinham perecido ou retornado a seus portos. Consultem: http://www.german-navy.de/hochseeflotte/ships/auxcruiser, e na net existem varias histórias sobre os raiders da I GM: Wolf, Moewe ( que chegou a operar na foz do Amazonas) e do veleiro Seeadler.

          P.S.:  Na II GM, os maiores indices percentuais de perdas humanas fatais, foram os submarinistas, seguidos pelas tripulações de bombardeiros, e pelos marinheiros mercantes (civis militarizados).

          “Cavalheirismo” em combate: È bonito em romance, atitude válida até o momento que vc. não coloque sua missão ou sua tripulação em risco desnecessário; por exemplo: um comboio e suas escoltas, NÃO podem “parar” para recolher naufragos, tem que continuar na velocidade e separações previstas anteriormente, o possivel e improvavel resgate, fica a cargo das unidades de “limpeza e controle” que estão há ré do comboio ( no minimo a 04:00 hs de distancia – o que na situação de Atlantico Norte, é recolher cadaveres, no Báltico ou Artico o cara congela em 45 segundos na agua,  em 1:00 hora em um bote, no Pacifico já virou almoço de tubarão.

  5. Capitães da Marinha Nazista

    Realmente, a marinha alemã na segunda guerra tinha comandantes verdadeiramente cavalheiros. Não nos esqueçamos do comportamento humano do capitão Hans Langsdorff, capitão do Graf Spee.

     

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