O posicionamento da FBASD por declarações da desembargadora

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down soltou carta aberta repudiando o comportamento da desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro que,  em postagens nas redes sociais, refere-se de forma pejorativa às pessoas com Síndrome de Down.

A desembargadora questiona, em uma postagem, a primeira professora com Down no Brasil e, de forma nada civilizada, de forma inadmissível para uma pessoa em sua posição diante da sociedade e da Justiça, a quem esta professora ensinaria. E finaliza de forma baixa: “Esperem um momento que eu fui ali me matr e já volto, tá?”.

A professora Debora Seabra respondeu com uma carta em que descreve suas funções como professora auxiliar e a importância de ensinar às crianças a inclusão e o respeito. Debora, lembra ainda, à magistrada, uma coisa que ela deveria saber com a função que tem na sociedade: discriminar é crime!

A Federação, por seu turno, lembra o árduo trabalho civilizatório que culminou na inclusão. Coloca a importância das determinações da ONU na luta pelos direitos das pessoas com deficiência, que foi aprovado no Brasil com força de emenda constitucional, promovendo, protegendo e assegurando todos os direitos e liberdades fundamentais às pessoas com deficiência.

Leia a carta a seguir.

CARTA ABERTA DE REPÚDIO À MANIFESTAÇÃO DA DESEMBARGADORA MARÍLIA CASTRO NEVES, DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO, EM RELAÇÃO ÀS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down vem tornar público seu repúdio à demonstração de preconceito manifestado por uma autoridade pública, a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em relação às pessoas com síndrome de Down.

Na luta empreendida pela sociedade e pelo estado brasileiro pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência, destacamos a aprovação do texto da Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, introduzindo no ordenamento jurídico, com força de emenda constitucional, normas com o propósito de promover, proteger e assegurar o exercício pleno e qualitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais pelas pessoas com deficiência.

Após milênios de exclusão, nos últimos 70 anos, a sociedade em todo o mundo vem aperfeiçoando-se em seu processo civilizatório ao reconhecer os direitos e propor melhoria das condições de vida da pessoa com deficiência.

Não obstante essa árdua luta que visa mudar os paradigmas sociais e culturais mediante novos valores que reconhecem a dignidade humana, nos deparamos com comentários feitos por pessoa cujo exercício da nobre função de magistrada, desce ao mais baixo nível, tornando público em perfil do Facebook seu preconceito contra as pessoas com deficiência.

A Desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro postou em sua página virtual: “Voltando para a casa e, porque vivemos em uma democracia, no rádio a única opção é a Voz do Brasil…Well, eis que senão quando, ouço que o Brasil é o primeiro em algumas coisas!!! Apuro os ouvidos e ouço a pérola: o Brasil é o primeiro país a ter uma professora portadora de síndrome de down!!!. Poxa, pensei, legal, são os programas de inclusão social…Aí me perguntei: o que será que essa professora ensina a quem??? Esperem um momento que eu fui ali me matar e já volto, tá?”.

Sabemos que os juízes também têm a liberdade de se expressar como cidadãos, mas a atividade que escolheram lhes impõe uma série de limitações, de natureza normativa, presentes no Código de Ética da Magistratura, dentre as quais o dever de manter a integridade de sua conduta e o de comportar-se em sua vida privada de modo a dignificar a função de magistrado.

A FBASD considera que mensagem carregada de preconceito, ofende, definitivamente, os ditames impostos aos juízes por seu Código de Ética. Textos dessa natureza claramente denigrem a magistratura e, assim, devem ser rigorosamente apurados pelos órgãos competentes, tais quais a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de Justiça.

Assim vimos tornar público nosso repúdio contra a manifestação de preconceito expressado pela Desembargadora Marília Castro Neves.  

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE SÍNDROME DE DOWN

 

Em resposta a esta crítica da desembargadora Marília Castro Neves, a professora Debora Seabra escreveu a seguinte mensagem:

19/3/2018. Recado para a Juíza Marília. Não quero bater boca com você! 
Só quero dizer que tenho síndrome de Down e sou professora auxiliar de crianças de uma escola de Natal/RN. 
Trabalho à tarde, todos os dias, com a minha equipe que tem uma professora titular e outra auxiliar. Eu ensino muitas coisas às crianças. A principal é que elas sejam educadas, tenham respeito às outras. Aceitem as diferenças de cada uma. Ajudem a quem precisa mais. 
Eu estudo o planejamento, eu participo das reuniões, eu dou opiniões, eu conto história para as crianças, eu ajudo nas atividades, eu vou para o parque com elas. 
Acompanho as crianças nas aulas de inglês, música, educação física e mais um monte de coisas.
O que eu acho mais importante de tudo isso é ensinar a incluir as crianças e todo mundo pra acabar com o preconceito porque é crime. 
Quem discrimina é criminoso! 
Débora Araújo Seabra de Moura.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. Nao eh o caso de “repudio”

    Nao eh o caso de “repudio” nao.

    Eh caso de processo judicial mesmo.

    Como os brasileiros deixaram o Brasil virar essa merda??????

  2. Porque nada de ruim branqueia e tudo de ruim denigre?

    Textos dessa natureza claramente DENIGREM a magistratura e, assim, devem ser rigorosamente apurados pelos órgãos competentes, tais quais a Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e o Conselho Nacional de Justiça?

     

    Pinte-o de Preto

    (Rolling Stones)

     

    Eu vejo uma porta vermelha e
    Eu a quero pintada de preto
    Sem mais cores
    Eu quero que elas se transformem em preto

    Eu vi as meninas caminhando por aí, vestidas
    Em seus vestidos de verão
    Eu tenho que virar minha cabeça
    Até que minha escuridão passe

    Eu vi uma linha de carros
    E estão todos pintados de preto
    Com flores e meu amor
    Os dois nunca voltarão

    Eu vi pessoas virando suas cabeças
    E rapidamente olhando para longe
    Como um bebê recém-nascido
    Isso acontece todos os dias

    Eu olho dentro de mim
    E vejo que meu coração é preto
    Eu vejo minha porta vermelha
    E tenho que tê-la pintada de preto

    Talvez então eu irei desaparecer
    E não terei que encarar os fatos
    Não é fácil encarar por cima
    Quando seu mundo inteiro está preto

    Nunca mais irei ver meu mar verde
    Virar um azul profundo
    Eu não poderia prever
    Esta coisa acontecendo com você

    Se eu olhasse bem o suficiente
    Dentro do pôr-do-sol
    Meu amor irá rir comigo
    Antes que a manhã chegue

    Eu vejo uma porta vermelha e
    Quero pintá-la de preto
    Sem mais cores
    Eu quero que elas se transformem em preto

    Eu vi as meninas caminhando por aí vestidas
    Com suas blusas de verão
    Eu tenho que virar minha cabeça
    Até que minha escuridão passe

    Eu quero ver pintado
    Pintado de preto
    Preto como a noite
    Preto como carvão

    Eu quero ver o sol
    Apagado do céu
    Eu quero ver pintado, pintado, pintado
    Pintado de preto
    Yeah!

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