A transição de 2016, por Christine Lagarde

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Jornal GGN – O ataque terrorista ocorrido em Paris no mês de novembro e o fluxo de refugiados em direção à Europa são os mais recentes sintomas de acentuação das tensões políticas e econômicas no norte da África e do Oriente Médio – e eles não ocorrem de forma isolada, na visão da diretora-presidente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde.

“Os conflitos também são furiosos em outros lugares, e existem perto de 60 milhões de pessoas deslocadas em todo mundo”, explica, em artigo publicado no site Project Syndicate, onde também aponta os fenômenos climáticos decorrentes do fortalecimento do El Niño em todo o Pacífico como um fator de impacto. Outro fator que contribui para o aumento das incertezas foi o já esperado início do processo de normalização das taxas de juros nos Estados Unidos, além da desaceleração econômica chinesa.

Na visão de Lagarde, uma das razões para a lentidão do processo econômico é que, sete anos após o colapso financeiro que derrubou o banco Lehman Brothers, a estabilidade financeira não está plenamente assegurada. “Fraquezas do setor financeiro persistem em muitos países – e riscos financeiros estão crescendo em mercados emergentes”, pontua.

Diante de tal quadro, a representante do FMI projeta um crescimento “decepcionante e desigual” no ano de 2016. Ela explica que as perspectivas de crescimento global a médio prazo também podem ter se enfraquecido, uma vez que o potencial de crescimento encontra-se travado “pela baixa produtividade, o envelhecimento da população, e os legados da crise financeira global”. De fato, fatores como dívida elevada, baixo investimento e bancos fracos continuam a pesar sobre algumas economias, em especial na Europa, e diversos mercados emergentes seguem em ajuste após o boom de investimentos.

Segundo a economista, essa perspectiva é bastante afetada por algumas das principais transições em andamento, em especial a transição da China para um novo modelo de crescimento e a normalização da política monetária norte-americana. “Ambas as mudanças são necessárias e saudáveis. Elas são boas para a China, boas para os Estados Unidos, e boas para o mundo. O desafio é gerenciá-las de forma eficiente e tão bem quanto possível”.

No caso da China, o país lançou diversas reformas para aumentar rendimentos e elevar o padrão de vida, procurando um crescimento mais sustentável e seguro, que confia mais em serviços e consumo e menos nos investimentos em mercadoria e fabricação. Contudo, as autoridades precisam adotar tais reformas preservando a demanda e a estabilidade financeira.

Um efeito desse processo foi visto no ano passado, quando os temores dos investidores sobre o ritmo de desaceleração da economia chinesa pressionaram ainda mais os mercados de commodities e desencadearam depreciações cambiais consideráveis ​​em exportadores de commodities que dependem da demanda chinesa. “Como se investe menos, o apetite da China por commodities – que atualmente consome 60% do minério de ferro do mundo, por exemplo – vai diminuir. Isto contribuirá para o que poderia ser um período prolongado de preços das commodities baixos, o que os formuladores de políticas – especialmente em grandes exportadores de commodities, como Austrália e Brasil – terão de gerir cuidadosamente”.

A segunda transição está relacionada à determinação norte-americana em ampliar os juros. Embora o Fed tenha indicado que as taxas devem reduzidas por algum tempo, tal processo é considerado positivo por refletir a melhora das condições econômicas no país, o que também é bom para a economia global. Mas as repercussões não devem ser descartadas. “Mesmo antes da caminhada de taxa de juros do Fed, em dezembro, a perspectiva de política monetária mais apertada dos EUA já haviam contribuído para os custos de financiamento mais elevados para alguns mutuários, incluindo economias emergentes e em desenvolvimento”, pontua Lagarde.

Fora das economias desenvolvidas, a diretora do FMI diz que geralmente os países estão mais preparados para as taxas de juros mais elevadas do que no passado, mas ela ainda mostra preocupação com a redução dos choques. “Muitas economias emergentes e em desenvolvimento reagiram à crise financeira global com medidas fiscais e monetárias anticíclicas ousadas”, explica. Ao usar esses buffers de política, eles foram capazes de liderar a economia global em seu momento de necessidade. E ao longo dos últimos cinco anos, eles foram responsáveis ​​por quase 80% do crescimento global.

Porém, Lagarde pontua que tais economias foram acompanhadas por um aumento de alavancagem financeira no setor privado, e diversos países tinham se endividado mais – sendo que uma parte considerável é em dólares. Tais riscos podem ser gerenciados, preservando a estabilidade financeira e implementação de reformas estruturais. “A maioria das economias avançadas, exceto os EUA e, possivelmente, o Reino Unido, continuará a exigir políticas monetárias acomodatícias. Todas as economias avançadas, no entanto, deveria incorporar plenamente os riscos de contágio em sua tomada de decisão e garantir que as comunicações são claras a este respeito”.

No nível global, a economista ressalta a necessidade de se finalizar e implementar a agenda da reforma regulamentar, com foco na melhoria da transparência e supervisão de instituições financeiras não bancárias, ou bancos-sombra. “E nós temos uma outra tarefa importante à frente de nós, bem como a atualização do quadro de resolução ainda insuficiente para, instituições financeiras globalmente ativas sistêmicas”, pontua Lagarde.

No lado fiscal, os países devem usar políticas que são tão flexíveis quanto possível e favorável ao crescimento. “O Fundo Monetário Internacional continua a recomendar que as economias avançadas, com espaço para estímulo fiscal usá-lo para aumentar o investimento público, especialmente em infra-estrutura de qualidade. Os planos orçamentais a médio prazo credíveis também permanecem uma prioridade, especialmente para os EUA e o Japão”.

A diretora do FMI ressalta que os países que têm margem de manobra em termos de política fiscal deve usá-lo para suavizar a sua adaptação a preços mais baixos exportadores de commodities. Os outros devem contar com favorável ao crescimento reequilíbrio fiscal -, por exemplo, a implementação de reformas fiscais e dos preços da energia e realocação de gastos, inclusive para proteger os mais vulneráveis.

 

 

 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

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