Análises: mundo avalia que EUA perde em “caótico” debate de Trump e Biden

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Confira as críticas publicadas em jornais de todo o mundo. Outro lado: pesquisas instantâneas após o debate mostram que Joe Biden sai na frente de Trump

Jornal GGN – “Caótico”, “show de horrores”, “terrível”, “surrealista”, “noite de insultos e caos”, “polêmico”, “conflitivo”, “confronto feroz”, “fizeram feio”. Assim foi descrito pelos jornais de todo o mundo o primeiro debate das eleições presidenciais dos Estados Unidos, entre Donald Trump e Joe Biden, na noite desta terça (29).

Desde ontem, as editorias internacionais deram lugar a descrições de espanto dos próprios jornais, muitos deles abstraindo de recorrer a especialistas para analisar o resultado deste primeiro embate eleitoral. Assim resumiu o The Times, do Reino Unido: “O perdedor mais claro do primeiro debate presidencial entre Donald Trump e Joe Biden foi a América”, em referência aos Estados Unidos.

Para a publicação, não houve “um debate em nenhum sentido significativo”, mas uma “disputa agressiva e por vezes incompreensível entre dois septuagenários furiosos que claramente se detestam”.

A 35 dias das eleições que definirão o futuro líder da potência, o The New York Times manchetou: “Com disparos, mentiras e zombaria, Trump atropela postura em debate com Biden”.

“O primeiro debate presidencial entre o presidente Trump e Joseph R. Biden Jr. terminou em uma terrível confusão na terça-feira, quando Trump pressionou e interrompeu Biden quase todas as vezes que ele falava e o ex-vice-presidente chamou o presidente de “palhaço” e o mandou “calar a boca”. Em um vaivém caótico de 90 minutos, os dois principais indicados à Presidência expressaram um nível de desprezo acre um pelo outro, inédito na política americana moderna”, trouxe o titular.

“O primeiro debate de 2020 foi um show de terror político quando Trump tentou intimidar Biden e o ex-vice-presidente disse a ele para ‘calar a boca'”, foi o grande título do Business Insider.

O também norte-americano The Washington Post também rejeitou o debate presidencial, principalmente a postura de Donald Trump, que “ataca e interrompe enquanto Biden tentava continuar sua fala”, “atacando o filho de Biden, ultrapassando o tempo assignado a ele de voz e ignorando outras regras do debate”.

Para o jornalista Robin Givhan, do Post, “foi uma demonstração de 90 minutos de raiva e insegurança incontroláveis e alimentadas por testosterona de um presidente, enquanto Joe Biden veio debater, Deus o abençoe”.

Fox News, a rede televisiva da qual integra o mediador do debate, Chris Wallace, descreveu como “briga de outono” e “noite cheia de furiosas interrupções e insultos”.

O britânico The Guardian falou em “humilhação nacional”. “O resto do mundo – e futuros historiadores – provavelmente olharão para isso e chorarão”. Para o jornal, Biden tinha uma postura menos pior, “levemente presidencial”.

“Tempestade terrível”, ditou o francês Le Monde, dizendo que, por meio de zombaria e interrupções constantes, Trump atacava Biden, tentando empurrá-lo para fora do ringue.

“Donald Trump avançou contra o mediador do debate e Joe Biden vinculou os supremacistas brancos ao magnata”, intitulou o argentino Clarin. “Uma briga de rua na qual Joe Biden mostrou mais do que se esperava”, analisou Marcelo Cantelmi, em outro artigo para o jornal.

Já para o mexicano El Universal, Biden não reagiu bem aos insultos do presidente norte-americano, “caiu na armadilha de Trump e respondeu as desqualificações e interrupções com insultos”. “Noite tensa e caótica”, trouxe o jornal.

O episódio do grupo de extremistas brancos dos EUA, um dos episódios que mais chamaram a atenção do mundo, foi a manchete do Público, de Portugal. “Trump ameaça atiçar extremistas nas eleições, no debate em que Biden lhe chamou ‘palhaço'”. “Donald Trump repetiu acusações falsas de fraude e pediu ao grupo extremista Proud Boys que “se mantenha a postos”, detalhou.

“Uma hora e meia de acusações, insultos e interrupções deixaram o moderador da Fox News, Chris Wallace, à beira de um ataque de nervos”, escreveu Ana Rita Guerra, ao também português Diário de Notícias. “Ninguém esperava que os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump e Joe Biden, trocassem gentilezas no primeiro debate das eleições de 3 de novembro. Mas o que aconteceu ontem à noite em Cleveland, Ohio, foi pior do que qualquer comentarista tinha previsto.”

A análise do Der Spiegel foi de que o “duelo de TV” parecia mais um “acidente de carro”. “Trump e Biden puderam ir para casa satisfeitos porque, no que diz respeito à performance teatral, ambos fizeram seu trabalho corretamente. Donald Trump interpretou Donald Trump, Joe Biden interpretou Joe Biden, e os fãs deveriam ter gostado”, trouxe o alemão.

Para o espanhol El Mundo, a “chuva de insultos” foi “um grotesco programa de televisão”. O El Periódico, também da Espanha, caracterizou de “espetáculo vergonhoso”. “O democrata [Joe Biden] tentou explicar seu programa, mas acabou frustrado e recorrendo a insultos.”

Outros jornais destacaram que “não é exatamente notícia” ou “supresa” o comportamento de Trump no debate de ontem, como ressaltou o alemão Die Welt.

Na China, o Global Times afirmou se tratar do “debate presidencial mais caótico de todos os tempos” e trouxe ênfase para os ataques de Trump contra a China, culpabilizando-a pela epidemia da Covid-19 e pelos problemas econômicos hoje enfrentados pelos EUA com a crise.

Da mesma forma, para a análise de Al Jazeera, o debate de Trump foi “um presente” para Joe Biden. “O programa deveria ser sobre a autoimolação de um idiota trêmulo e babão de 77 anos na televisão nacional ao vivo para 100 milhões de pessoas”, era a expectativa de Trump contra Biden.

Mas, como alertou o titular, “em vez disso, o candidato democrata Joe Biden que apareceu estava alerta, convincente e bastante eficiente contra um concorrente que representa um desafio monumental para qualquer oponente. Em um nível, Biden teve um trabalho extremamente difícil, assim como a ex-secretária de Estado Hillary Clinton fez quatro anos atrás, descobrindo como cortar a fanfarronice implacável com que Trump metralhou seus oponentes no debate.”

Não à toa, é o candidato democrata foi quem saiu mais fortalecido nas pesquisas feitas logo após o debate desta noite. No que registrou uma pesquisa “instantânea”, o “instapool”, feita com eleitores que assistiram o debate e concordaram em responder as perguntas logo após o programa se encerrar, Biden saiu com 60% por sobre 28% de Trump, segundo a CNN, 47% contra 40% do presidente, segundo a CBS, e 51% sobre 39% de Trump, na pesquisa Data for Progress.

Reprodução do NYT

Apesar de tais pesquisas não revelarem o efetivo resultado final das eleições, mostram os estados de ânimo da população norte-americana apta a votar após assistir ao debate.

Por outro lado, se os próximos debates entre Biden e Trump seguirem nessa linha, as análises indicam que não somente os resultados podem ser desastrosos para ambos, como também imprevisíveis. Afinal, apesar de Joe Biden ter saído “menos pior”, como já resumiu o noticiário mundial, é os Estados Unidos que sai perdendo.

 

O debate pode ser acompanhado abaixo:

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. Gente, a coisa foi feia por lá. A última coisa que os grandes jornais chamaram foi debate. Chamaram a coisa pelo nome que teve, bate boca, briga de rua….Coo os jornalões barsileiros daria a manchete para um enfretamento desse nível entre Lula e Bozo? Meu palpite: “Debate sem perdedor”.

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