Israel está promovendo o holocausto palestino, por Erick Kayser

Em poucos dias, o número de vítimas palestinas dos misseis disparados pelo exército de Israel na Faixa de Gaza já se contavam aos milhares.

Israel está promovendo o holocausto palestino

por Erick Kayser

O governo de Israel, liderado por Benjamin Netanyahu, está promovendo uma ação de guerra na Faixa de Gaza cuja gravidade e caráter genocida contra o povo palestino deverá ser apontado como o primeiro holocausto do século XXI.

Sob a alegação do legítimo direito à autodefesa de Israel, a guerra começou imediatamente após o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, quando combatentes do Hamas invadiram o sul de Israel, atacando postos militares, kibutzs e um festival de música, vitimando uma maioria de civis e fazendo cerca de 240 pessoas reféns. Apontado por muitos como o pior ato de violência contra o estado israelense desde sua formação, em 1948, as cenas de barbárie dos atos do Hamas deram a legitimidade para uma resposta militar violenta.

Em poucos dias, o número de vítimas palestinas dos misseis disparados pelo exército de Israel na Faixa de Gaza já se contavam aos milhares. A legitimidade da guerra de Israel amparada na noção de legitima defesa rapidamente foi se enfraquecendo, frente a inexistência de qualquer reação armada relevante do Hamas ou de alguma outra força militar da região.

Como sabemos, a legítima defesa é geralmente aceita quando há uma ameaça iminente e proporcional à resposta necessária para repelir essa ameaça. No entanto, existem limites claros para garantir que a resposta seja razoável e proporcional à situação. O uso excessivo de força ou a continuação da ação defensiva quando a ameaça já não está presente pode ser considerado como um comportamento criminoso.

O que inicialmente poderia ainda ser chamada de uma guerra de Israel contra o Hamas, em poucos dias ficou claro que se tratava de uma guerra contra o povo palestino. O corte nos fornecimentos de água, luz, internet, medicamentos e alimentos na Faixa de Gaza logo no início das operações militares e sua continuidade até o momento, já seria por si só um grave crime de guerra contra a população civil palestina. Contudo, infelizmente, a lista de crimes de guerra cometidos pelo estado de Israel não se resume a esta desumanidade e já é extensa. O número de vítimas palestinas já ultrapassa as 30 mil mortes. Estima-se que o número de feridos e mutilados sejam o dobro ou mesmo o triplo, não contabilizando aqui as vítimas da fome, doenças e etc.

Se os números gerais já são alarmantes, onde as vidas palestinas são ceifadas as centenas por dia, o quadro é ainda mais aterrador quando se verifica que a maioria é de crianças e mulheres e não os seus alvos declarados, os terroristas do Hamas. Do lado israelense, raramente noticia-se alguma baixa militar, quando muito alguns poucos soldados feridos.

Antes desta guerra, com seus mais de dois milhões de habitantes vivendo como virtuais prisioneiros, o gueto de Gaza era o maior e mais superlotado conjunto prisional do mundo. Agora, com a destruição contínua da infraestrutura, de prédios públicos como escolas, igrejas e hospitais, além de áreas residenciais, o que parece se buscar é inviabilizar algum tipo de retorno das populações desalojadas, tendo feições de uma limpeza étnica, onde as alternativas aos palestinos serão fugir ou morrer.

Se para a Rússia, após sua invasão a Ucrânia, sanções econômicas e políticas foram aplicadas pelos países do norte global, onde denúncias de crimes de guerra russo foram utilizados como justificativa para sucessivos endurecimentos destas sanções, a postura com Israel é oposta. Os inúmeros crimes de guerra cometidos em Gaza passam impunes, no máximo recebem algum comentário de reprovação moral de algum líder europeu ou norte-americano. A ONU não tem forças sequer para negociar um corredor humanitário. Praticamente se limita a lançar apelos exasperados nas redes sociais, como o cidadão comum, perplexo e impotente. O apoio político ocidental a guerra de Israel contra os palestinos segue inabalável, materializado no envio contínuo de armamentos e dinheiro ou mesmo de forma mais direta, como nas recentes operações militares dos EUA e Inglaterra no Mar Vermelho contra os Houthis do Iêmen.

 A destruição de Gaza por Israel é um crime de guerra bárbaro. O apoio incondicional do ocidente a estes crimes terá efeitos regressivos de alto custo. A própria noção de ocidente poderá perder seu sentido político, sendo substituído por algum tipo de totalitarismo sem freios. Como bem apontou Arundhati Roy, com a continuidade desta guerra, a “arquitetura moral do liberalismo ocidental deixará de existir. Sempre foi hipócrita, nós sabemos. Mas mesmo isso proporcionou algum tipo de abrigo. Esse abrigo está desaparecendo diante dos nossos olhos”.

As imagens do rastro de destruição em Gaza são chocantes e neste momento ainda sem nenhuma perspectiva de cessar fogo. Enquanto os governos do ocidente seguirem apoiando a guerra, ela não deve cessar. Israel, detentor de um dos maiores exércitos do mundo, parece estar decidido a levar a cabo a sua versão da “solução final” contra os palestinos. Mas isto não ocorrerá sem resistência. Testemunhamos também uma onda de solidariedade internacional com o povo palestino e sua luta por libertação. Milhares de pessoas em todo o mundo tem se manifestado denunciando esta guerra e pedindo paz, mesmo em Israel existe um forte movimento de oposição contra o governo Netanyahu e defensora de uma solução de dois estados.

Cada dia a mais de continuidade desta guerra, significará que os corpos dilacerados de milhares de crianças e mulheres palestinas seguirão se avolumando, dando as feições trágicas deste que já é o maior crime contra a humanidade do século XXI.

Erick Kayser é historiador

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Redação

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