O confronto entre milícias e narcotraficantes no México

Sugerido por Antonio Carlos Silva

Do Vermelho.org

Ação contra autodefesas deixa México à beira de guerra civil
 
Diante do avanço das tropas de autodefesa, ou polícias comunitárias, no estado de Michoacán, o governo do presidente Enrique Peña Nieto anunciou o envio de tropas federais para fazer a defesa da região. No país, estão sendo travadas sangrentas batalhas entre o exército, as autodefesas e os narcotraficantes, que são combatidos por estas. No ano passado, ocorreram 990 homicídios no estado. A violência já matou 80 mil mexicanos e deixou outros 30 mil desaparecidos. 
 
Desde 2012, diante da inépcia do governo para combater o narcotráfico no país, civis se armaram e passaram a lutar contra os cartéis de drogas instalados em diferentes regiões do país. Até agora, os grupos já assumiram o controle de pelo menos 11 municípios de Terra Caliente, a oeste de Michoacán e avançam rumo a Apatzingán, uma cidade de 80 mil habitantes, que é o centro político e econômico da região e está a 480 quilômetros da Cidade do México.

 
De acordo com o jornal espanhol El País, neste domingo (12), civis armados entraram em Nova Itália a bordo de picapes identificando-se como “policiamento comunitário”. Segundo o jornal, eles informaram aos moradores da cidade de que a partir daquele momento seriam os responsáveis pela segurança da comunidade. Quem compartilha do mesmo objetivo, que é expulsar o cartel dos “Cavaleiros Templários” da cidade, pode pegar em armas e se juntar-se a eles. 
 
Os integrantes dos grupos justificam a ação com o argumento de que os prefeitos e a polícia local colaboram com os traficantes de drogas e perseguem os grupos de autodefesa.
 
Para tentar conter a crise, o governo pediu que os grupos voltassem às suas atividades normais e deixassem a segurança das comunidades a cargo da polícia, mas eles já sinalizaram que não vão depor as armas “nem negar ajuda aos municípios que as requeiram”.
 
O líder da esquerda e ex-candidato à presidência do país, Andrés Manuel López Obrador, declarou que a política de segurança do presidente Peña Nieto é similar à de seu antecessor Felipe Calderón (2006-2012). Em seu Twitter, sentenciou que Peña Nieto “não resolve a questão a fundo e pretende apagar o fogo com mais fogo”. Durante a gestão de Calderón, que prometeu acabar com o narcotráfico, a violência aumentou e se espalhou pelo país.
 
Na mesma linha, o editorial do jornal La Jornada desta quarta-feira (15) observa que “as ações do governo federal diante da crise em Michoacán, longe de fornecer um fator de estabilidade e certeza à entidade e ao país, geraram maior incerteza na opinião pública e volatilidade à situação deste estado”. De acordo com o texto, enviar tropas para a região agrava ainda mais o conflito já que “militares são treinados para liquidar o inimigo”, o que nos obriga a pensar nos “numerosos episódios de violência e injustiça contra a população ocorridos em regiões afetadas pela criminalidade organizada”.
 
E conclui que “em todo caso, esses fatos indicam uma ausência muito mais preocupante: a de uma estratégia governamental coerente e integral – policial, de inteligência, política, econômica, social – para fazer frente a fenômenos de insegurança pública que começam a se converter em confrontos de grande escala entre grupos armados. Se o atual governo não é capaz de formulá-la prontamente, o país viverá mais seis anos de violência descontrolada, decomposição institucional e barbárie multiplicada. Esperemos que não seja o caso”.
 
Da Redação do Portal Vermelho,
Vanessa Martina Silva
Redação

20 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Para ilustrar, uma matéria

    Eu ouso dizer que a guerra civil já está ocorrendo pelo que ando lendo “lá fora” sobre o México faz algum tempo. Segue uma matéria com fotos para ficar mais claro o nível que a coisa chegou. Com destaque para a terceira foto, que é simplesmente surreal.

    Fonte: http://www.businessinsider.com.au/mexican-vigilantes-battle-drug-cartel-photos-2014-1

    Insane Photos Show Mexican Vigilantes Battling A Drug Cartel For Control Of A City

    HARRISON JACOBS JAN 11 2014, 5:33 AM  1  1017Mexicovigilantes

    Mexico has long suffered blistering violence and crime at the hands of its homegrown drug cartels.

    Though the Mexican government has waged war on the cartels, the effort has struggled to go anywhere. More than 90,000 people have died in the ongoing conflict.

    Fed up with a corrupt police force that is often in bed with the cartels and a military that has to this point been ineffective, some Mexicans have taken it upon themselves to fight the cartels and protect their families — with an incredible conflict happening this week in the city of Paracuaro.

    Below are some pictures from what’s happening south of the border:

    Over the last year, vigilante groups, known as fuerzas autodefensas have sprung up all over Mexico, particularly in the southwestern state of Michoacan, an area plagued by the Knights Templar cartel.

    Mexican vigilantes 7

    REUTERS/Jesus Solano

    In neighbouring Guerrero, members of the Public Safety System (the name of the vigilante group) marched to commemorate the first anniversary of their founding.

    Mexican vigilantes 5

    On Monday, hundreds of vigilantes stormed Paracuaro, Michoacan, where the Knights Templar had set up their headquarters, in order to seize the town back from the cartel. Below is the entrance, where vigilantes erected a checkpoint.

    Mexican vigilantes 3

    The gunmen, “community police” from a number of nearby towns, rode in a convoy of pickup trucks and SUVs, before engaging in a gunfight with the Knights Templar.

    Mexican vigilantes 9

    The battle was bloody. One vigilante, two members of the Knights Templar, and two federal police were reportedly killed in the shootout.

     mexican vigilantes 12

    Once they had taken control of the town, the vigilantes began disarming municipal police, whom they accuse of being corrupt and in league with the cartel.

    Mexican vigilantes 4

    The vigilantes set up patrols and checkpoints on any highways going into and out of Paracuaro.

    Mexican vigilantes 8

    Anybody suspected of being associated with the Knights Templar was detained. Currently, 11 police officers are being held on suspicion of colluding with the cartel.

    Mexican vigilantes 11

    What happened in Paracuaro is becoming more common. Several months ago, another group in Guerrero detained more than 50 people for over six weeks for alleged crimes.

    Mexican vigilantes 1

    While the vigilantes in Paracuaro went after the drug cartel, most other vigilante groups in Mexico are more concerned with punishing criminals who commit robberies, rape, and murder, than stopping the actual drug trade.

    Mexican vigilantes 2

    In response to the vigilantes’ takeover of Paracauro, the Michaocan governor told press that the police will begin attempting to “eradicate” the vigilante groups.

    Mexican vigilantes 1

    For a government and police force already overwhelmed by the drug cartels, trying to eliminate the vigilante groups likely won’t be easy.

    Mexican vigilantes 10

     

  2. É o caos.

    Prezados e prezadas,

    Eis o resultado direto e acabado da War on Drugs, iniciada em 1980, quando os republicanos desejavam reformular seu sistema de segregação racial e welfare state, trazendo para dentro do país o mercado em escala de produção e consumo de drogas (naquele ano, cocaína, e alguns anos depois o crack, seu subproduto mais conhecido).

    Ao longo destes anos, milhões de negros estadunidenses foram parar atrás das grades, outros tantos foram mortos (em número muito menor que os daqui, é verdade), e nunca mais puderam votar ou tentar alterar sua condição da estrutura social, condenados para sempre a empregos de segunda e terceira categoria, funcionando como exército de reserva perfeito para conter ganhos salariais na base, como mandava os manuais do neoliberalês.

    O mercado propiciava fonte extra-orçamento aos esforços paramilitares da CIA na América Central e no Afeganistão (onde o negócio era o ópio que abasteceria a Europa de heroína).

    Do outro lado, ótimas possibilidades com o setor de armamento leve e outros insumos destinados às compras governamentais dos EEUU e dos países que se alinhavam geopoliticamente a “guerra as drogas”, como o Brasil.

    Junto a tudo isto, muita hipocrisia turbinada por informações e debates de péssima qualidade, crivados de interesses ideológicos subrreptícios.

    Com esta escalada de violência que assolou o mundo, mas principalmente as regiões produtoras, como Colômbia e Bolívia, foi possível justificar e legitimar atos de agressão e criminalização de movimentos sociais ou grupos guerrilheiros contrários aos aliados estadunidenses, ampliando em muito a dimensão dos conflitos.

    O fato é que o México foi a última escala depois da pressão contra os carteis colombianos, e mergulhou avidamente nas propostas e recursos oferecidos pelos EEUU, aumentando a proporção do problema a cada etapa de militarização do combate a criminalidade local ligada ao tráfico de drogas.

    Temo dizer que o México se encaminha para um ponto de não retorno. Terá que considerar, seriamente, a descriminalização do tráfico de drogas se quiser frear o ritmo desta selvageria.

    Caso contrário, corre o risco de ver seu aparato estatal desaparecer sob a anomia.

     

    Saudações cordiais.

      1. Sonhos perigosos.

        Mon ami Lionel,

        É verdade. E por motivos grotescos. Em ambientes de extrema violência e desregulamentação institucional os negócios financeiros prosperam em velocidade alucinante.

        E sabemos todos que os principais sócios de finaceirização das atividades ilegais raramente se submetem ao regime de horror impostos nas ruas pelos agentes de último escalão destas cadeias econômicas, muito pelo contrário, ainda podem lucrar com a ocupação imobiliária de territórios exclusivos e protegidos, ou com os serviços relacionados a segurança privada para clientes do mesmo estrato social deles e de outros estratos, que contratam de acordo com suas posses.

        No entanto, a História nos revela que este “caos controlado”, por várias vezes foge a qualquer controle. Nestes momentos, estes estratos da elite se movem para equacionar os problemas, ou abandonam o país.

        A África é exemplo claro disto.

    1. ué, o Serra também queria

      ué, o Serra também queria criar uma “Força Nacional” militarizada para lidar com os conflitos sociais do país, descer porrada em sindicalista e preservar os grandes eventos criados por entidades corruptas e patrocinados pelas principais empresas transnacionais, como bancos, coca-cola, etc?

  3. Grana

    De onde vem a grana para manter e armar essas autodefesas? E se acabarem com os traficantes o que vão fazer? Seria trocar 6 por meia dúzia. Lembram muito as milícias daqui.

    1. Pelo que ando acompanhando

      Pelo que ando acompanhando não me parece bem com o nosso caso. No caso mexicano parecem ser os próprios civis mexicanos que “surtaram” (o que seria compreensível considerando o que já li sobre os cartéis mexicanos) e resolveram fazer algo. Ali na matéria que eu trouxe indica que os grupos são formados por pessoas de várias cidades vizinhas e que chegam ao ponto de desarmar ou deter forças policiais supostamente vinculadas ao tráfico. Aqui, até onde sei o fenômeno das milícias brotou nas próprias comunidades tomadas pelo tráfico e tendo como ponto de partido policiais e militares desiludidos com o “sistema”.

      1. Perigoso

        Obriagado pelas informações. Mas eu vejo isso como uma ameaça também. Um passo para uma ditadura civil. Sim, até porque esses civis tem um líder, ou não? Eu posso imaginar que a população se cansou da leniência do Estado e assumiu por conta própria sua “autodefesa”! 

      2. Corretíssima avaliação.

        Prezado Ed,

        Há uma enorme diferença do uso da violência como ferramente política no México em relação ao Brasil, e que se expressa na história dos dois países.

        As comunidades mexicanas estão bem mais inclinadas a reunirem-se para reagir a agressões, ainda que paradoxalmente, provoquem mais e mais violência e violações de direitos fundamentais.

        Isto não quer dizer que não haja uma construção de uma rede de interesses que tentem manipular estas milícias ou grupos de autodefesa, mas de todo modo, estes grupos não se parecem com a privatização negocial do controle de território e uso da violência como aconteceu por aqui no Brasil, um misto de terceirização tolerada pelos órgãos oficiais de Estado, onde grupos externos as comunidades assumiram o papel do Estado, mas cobrando (e caro) por isto, bem como manipulando a rede de serviços clandestinos já vigente (TV a cabo, transporte, fornecimento de gás, etc).

        Não seria errado dizer que aqui, as milícias aparecem como complemento a uma ação estatal que já legitimava o abuso contra as populações pobres, substituindo dois vetores de violência (polícia e traficantes) por um único, a milícia. 

        No México pode-se dizer que o Estado desapareceu ou foi engolido pelo tráfico, e no vácuo, surge a autodefesa.

        Cordial saudação.

        1. Essa dissolução do Estado

          Essa dissolução do Estado mexicano foi política de Estado, promovida pelos sucessivos governos neoliberais do México.

          E os EUA vendendo armas pra todos!

  4. “em todo caso, esses fatos

    “em todo caso, esses fatos indicam uma ausência muito mais preocupante: a de uma estratégia governamental coerente e integral – policial, de inteligência, política, econômica, social – para fazer frente a fenômenos de insegurança pública”

     

    O que seria uma estratégia coerente e integral para o que acontece lá?

    Fora a punição dos que praticaram atos violentos e a liberação total das drogas, não vejo solução.

    1. Número de homicídios por cada

      Número de homicídios por cada 100 mil habitantes

      México 23,7

      Brasil 21,8

      http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_intentional_homicide_rate

      Aliança tem razão, 21,8 é maior que 23,7!!

      um outro ponto importante é que a violência do México(maior que a do Brasil em termos proporcionais)está concentrada em determinadas regiões, com níveis de violência inacreditáveis.

      Por exemplo, São Paulo, uma das cidades mais violentas do Brasil, possui um número de 8, homicídios para cada 100 mil habitantes, enquanto em Ciudad Juarez, esse número é de 147,7 por 100 mil. A diferença é gritante, só mesmo um Aliança, com o cérebro irremediavelmente danificado pela exposição excessiva às asneiras do Inst. Mises, pra conseguir dizer que o Brasil é mais violento que o México.

      1. A taxa de homicidios no

        A taxa de homicidios no brasil nao eh de 21 eh de 26,olha;vamos pegar o numero de homicidios no brasil que eh de 52.198 (DATASUS -dados de 2011-os numeros de 2012 devem sair la pro meio do ano);o numero de habitantes que eh de 200.000.000 (IBGE) e a taxa que a gente quer que seria de 100.000.Divide-se o numero da população pelo numero da taxa (200.000.000 / 100.000 = 2.000),depois divide o numero de homicidios pelo resultado da conta anterior (52.198 / 2.000=26,099).Portanto a taxa de homicidios no brasil eh de 26 para cada cem mil habitantes;com essa conta vc pode calcular a taxa de homicidios de qualquer lugar seja um pais,um estado,bairro,etc..Nesse caso do mexico o que eu ouvi pouco dizerem eh que a população conseguiu acabar com o trafico e a violencia neste local em poucos dias,coisa que o estado nao conseguiu fazer em decadas e agora o estado quer vir acabar com tudo,querem tomar as armas da população,deram um ultimato ou entreguem as armas o morrerão,por que eles (o estado) não foi tão energico assim com os criminosos traficantes (estranho),as pessoas cansaram de serem extorquidas e sofrerem violencia e terror desses vagabundos e botaram eles para correr,espero que os brasileiros siguam este exemplo;sera que aquele busao que foi encendiado por bandidos e matou queimada viva uma criança teria sido encendiado se o busao tivesse lotado de cidadaos trabalhadores armados,acho que nao;ta na hora dos brasileiros acorvadados e acomodados tirar o rabinho entre as perna e parar de reclamar e tomar uma atitude;e fiquem sabendo de uma coisa,a policia so chega depois que a merda acontece,isso em qulaquer lugar do mundo,muitas vezes nao resolve eh nada…

  5. Imagens dizem muito

    As fotos, principalmente a terceira, mostram que as armas em poder dessas patrulhas de defesas, não são armas modernas. São armas velhas e antiquadas. Dá pra ver vários rifles do tipo “action lever”. Se fossem financiados por

    alguém, haveriam armas mais potentes e modernas.

    Pelo jeito, foi algo que partiu do povo mesmo, pegou armas que tinham guardadas a gerações e foram para luta. Se os números de combatentes (traficantes x tropas civis) não fossem tão discrepantes, os Civis não teriam chances, devido ao armamento. 

    Agora pensem na seguinte possibilidade: Quinze pessoas se reúnem, com armas velhas que têm em casa, emprestadas de amigos, parentes, etc. Juntas, atacam um ponto e venda de drogas. Se o fizerem contra um local guardado por 3 ou 4 criminosos, teram êxito. Lá dentro haverá drogas, armas, munição e dinheiro. Estes 3 últimos podem ser utilizados pela pequena Milícia. 

    Percebem como não é tão difícil isso crescer? Só depende da vontade das pessoas. Do quanto elas estão dispostas.

    E quando você tem um Governo totalmente omisso, que “parece” sempre priveligiar a criminalidade, com atos e leis, você acaba deixando espaço para o civil pensar que se ele agir de forma criminosa contra esses traficantes, ele não receberá punição nenhuma do Estado.

    Quando o Estado atingi tal ponto de inércia, de ineficácia, a única coisa que impede uma pessoa de tirar proveito de tal situação, é sua índole. Seu caráter. Quando há caos e certeza da impunidade, quem impede você de participar de um saque a uma loja?

    O pensamento que deve prevalecer entre esses civis é : “Estou por mim. Ou tento reagir, ou fico esperando cruzar com a morte como o gado espera o dia do abate”

    Não estou dizendo que eles estão totalmente certos, nem que isso não vá causar um problema maior adiante, mas é a solução que eles encontraram para o problema que eles têm hoje. 

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador