O que a tragédia pode exigir dos EUA

Do Correio do Povo

Obama contra o lobby das armas

JURANDIR SOARES  –  [email protected]

Com lágrimas correndo pelo rosto, ao ler os nomes das 20 crianças mortas no massacre da escola de Newtown, o presidente Barack Obama afirmou que os Estados Unidos já tinham tragédias demais com atiradores e chamou a população a se unir por uma ação decisiva que impeça outras mais. Ele ressaltou que essa era a quarta vez em seu governo que chorava vítimas de tragédia provocada por atirador. Quarta vez em quatro anos de governo, o que significa uma tragédia por ano. E se tomarmos a relação das ocorrências, verificamos que tem sido assim nos últimos tempos.

Começa-se por abril de 1999, com a escola Columbine, em Littleton, Colorado, quando dois estudantes mataram 12 colegas e se suicidaram. Segue janeiro de 2002, quando um estudante expulso da Appalachian School of Law, na VirgÍnia, matou o reitor, um professor e um aluno. Em março de2005, morreram sete na Lake High School, em Red Lake, Minnesota. Em abril de 2007, o jovem de origem coreana Seung-Hui Cho matou 32 pessoas e depois se suicidou, na Virginia Tech University, na maior chacina em uma instituição de ensino no país. Em abril de 2009, o vietnamita Jiverly Voong mata 13 e se mata, na organização de imigrantes, em Binghamton, Nova Iorque. Em abril de 2012, um coreano mata sete, na Universidade Religiosa Oikos, na Califórnia. Em julho de 2012, o ex-estudante James Holmes matou 12 e feriu 58 da plateia que assistia à estreia do filme “Batman”, em Aurora, Colorado. Um mês depois, Michael Page invade um templo em Milwaukee, Wisconsin, mata seis e se suicida. E, por último, a matança da escola de Sandy Hook, de Newtown, Connecticut, com 26 mortos, sendo 20 crianças. Evitar esta repetição é a meta de Obama.

Algo, infelizmente, muito difícil de ser alcançado. Mesmo que haja restrição, é preciso considerar que há mais de 300 milhões de armas em mãos de norte-americanos. Há também uma cultura arraigada sobre a posse de armas, sustentada pela famosa segunda emenda à Constituição dos EUA, adotada em 1791, a qual diz o seguinte: “Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser impedido”. Essa cultura é sustentada por organizações como a poderosa Associação Nacional de Rifles (NRA, na sigla em inglês), que declara reunir 4,3 milhões de filiados e que só neste ano gastou 2,2 milhões de dólares em lobby . Isto sem falar no igualmente poderoso lobby da indústria de armamentos, que engloba desde as armas pesadas, vendidas para os países em que fomenta a guerra, até armas menores, como o fuzil 223 Bushmaster, usado por Adam Lanza para exterminar crianças indefesas na escola da até então pacata Newtown. Conforme noticiou a Folha de São Paulo, o fundo de investimentos Cerberus anunciou que venderia sua participação na fabricante de armas Freedom Group, que produz o fuzil usado por Adam Lanza na chacina. E na complementação, vem a informação de que a fábrica brasileira Taurus já estaria interessada na compra. Ou seja, nunca faltará interessado em manter a pleno vapor a produção de armas. E, pelo histórico dos Estados Uni dos, nunca faltará um desequilibrado disposto a usá-las contra pessoas inocentes. Só o que poderá amenizar será o exame psicotécnico para o porte de arma, que está em vigor, mas não vem sendo cumprido.

Luis Nassif

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