Fernando Horta
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Trump, delação premiada e um argumento a ser revisto, por Fernando Horta


Foto: Reuters

Por Fernando Horta

Desde sexta-feira, havia muita tensão nos corredores do poder de Washington. Robert Mueller, Conselheiro Especial indicado para investigar as denúncias de que a campanha de Trump teria tido influência ilegal de russos, havia concluído uma parte de suas investigações e se comunicaria com a Justiça americana, fazendo alguns pedidos.

O final de semana foi turbulento e nervoso. E hoje Paul Manafort e Rick Gates foram presos. Manafort foi apenas o chefe de toda a campanha eleitoral de Trump e Rick Gates seu braço direito. Ambos estão indiciados por 12 crimes que envolvem “conspiração contra os Estados Unidos, conspiração para lavagem de dinheiro, falsos testemunhos, e acolhimento ilegal de agente de informações estrangeiros” entre outras acusações. O mínimo, se condenados, seria uma pena de prisão de mais de dez anos, mas existe também a possibilidade de pena capital uma vez que a acusação é de “traição contra os EUA”. Conspiração contra o país é crime punível com a morte desde o século XVIII.

O professor de direito da George Washington University, Jonathan Turley, afirma que “Manafort e Gates sempre foram vistos pelos círculos de poder de Washington como as pessoas certas quando se quer que “as coisas sejam feitas”. Por isso, suas relações com os círculos de poder de Trump são muito fortes.

Rick Gates já está sendo “convidado” a fazer “delação premiada” tendo garantida a redução da pena ou até a extinção total dela. Trump tenta parecer inatingível, informando que tudo o que se está investigando são “águas passadas” e promete uma luta não só na justiça. Robert Reich, um dos assessores do ex-presidente Obama e forte ativista contra Trump, lançou na semana passada, um vídeo nas redes sociais em que ele explicava os “Dez passos para o impeachment”. No final do vídeo, ele diz que é bom conhecer o processo todo porque ele “pode vir a ser necessário”.

A mídia norte-americana (excluindo a FOX) é contra Trump e vem buscando o embate com o presidente sempre que possível. Os principais jornais internacionais amanheceram com a notícia de que algo aconteceria hoje e alguns estão fazendo a cobertura “minuto a minuto” de todas as implicações da denúncia. Primeiras páginas, fotos e matérias especiais, coberturas continuadas e todo o aparato necessário para manter a atenção e o foco neste que já é o maior desafio interno de Trump, mesmo se comparado com a prisão de George Papadopoulos, em 27 de julho deste ano. Papadopoulos foi assessor para assuntos internacionais na campanha de Trump e depois foi alçado ao governo com a mesma função.

O leitor deve ter se dado conta de algumas semelhanças com o caso brasileiro. Acusações de lavagem de dinheiro, prisão de assessores de campanha, delação premiada, apoio massivo da mídia, escalada de prisões em assessores mais subalternos até os grupos mais altos, ameaça de impeachment …

Trump não é nenhum santo.

Trump não tem sido um bom presidente.

Trump não parece um bom nome para o mundo.

Trump tem apoios execráveis de grupos de direita nos EUA.

Mas Trump foi eleito. Trump tem uma plataforma que desgosta o capital internacional já que tem sua principal meta “tornar os EUA grandes de novo”. Isto implica em combater a especulação financeira, multar empresas por contratar funcionários estrangeiros ou ter seus negócios produtivos fora dos EUA e mesmo flertar com regulações aos bancos nos EUA. Trump retoma o discurso do “capitalismo nacional”, em termos muito semelhantes ao que fez Hitler na Alemanha na década de 30. Hitler era profundamente capitalista, mas não liberal. Defendia a ideia de que o último e maior beneficiário do trabalho dos alemães (volk) deveria ser a Alemanha (Deutschland). Isto significava dizer que o capitalismo tem que ser produtivo, tem que gerar empregos, tem que produzir coisas, aumentar o poderio nacional e não viver de especulação financeira, juros e outras criações que beneficiam uma ideia difusa de burguesia internacional.

Trump segue o mesmo caminho, com uma retórica de qualidade pessoal inafastável e é sim um grande perigo para o mundo.

Ocorre que ele é ainda mais perigoso para o financismo mundial. Mais perigoso para este neoliberalismo tosco que tem no Brasil uma série de apedeutas jovens a lhe defender. Livre mercado, estado mínimo, fim da legislação trabalhista, bradam os jovens defensores das liberdades dos mais ricos. Mas Trump não vai por este caminho. Trump e o governo norte-americano não estão defendendo este nível de economia especulativa. E é por isto que Trump está também sendo atacado, com as mesmas armas e os mesmos métodos que foi Dilma.

Tanto Dilma com a base de uma economia produtiva, essencialmente nacional e cujo foco era o emprego e a distribuição de renda, quanto Trump com a base na economia real, nacional e com foco no crescimento do capitalismo nacional americano são inimigos deste neoliberalismo financeiro desregulamentador. Uma à esquerda e outro à direita. Mas ambos inimigos. E para ambos os ataques surgem da mesma forma, com as mesmas desculpas e seguindo as mesmas estratégias.

Quando eu escrevia que o governo dos EUA não estava por trás da Lava a Jato muitos achavam loucura. Mas e agora? Como explicar os ataques à Trump? Ataques idênticos em forma, estratégia e até conteúdo?

É preciso aqui voltar a ler Karl Marx. Marx dizia que o capital não tinha pátria. Que a questão nacional era apenas mitigadora dos conflitos de classe. Que a alta burguesia francesa, alemã ou norte-americana tinha mais em comum entre si do que a burguesia francesa e os trabalhadores franceses, por exemplo. Em interesses políticos, esta burguesia se aliará com a burguesia mundial e não com os trabalhadores do seu país.

Os ataques que foram feitos em todos os lugares do mundo não são ataques de um país a outro. Dos EUA ao Brasil ou à Argentina, por exemplo. Mas ataques de um grupo de ultra-ricos, que jogam com as estruturas dos Estados que eles conseguem se infiltrar e pagam indivíduos da sociedade para lançar ideias de discórdia e violência contra outros países que não tenham aderido às suas ideias liberais.

É um ataque de um grupo de ultra-ricos e não de uma bandeira contra outra. Quando este grupo consegue tomar alguma estrutura de Estado (por eleição ou golpe) ele a usa como os vírus usam uma célula para procriar. Um dos problemas é que neste caminho estas forças políticas precisam incitar o ódio nas populações e acabam despertando o monstro do fascismo. Monstro com o qual elas não sabem lidar. Foi assim que nós tivemos o crescimento do fascismo e a segunda guerra mundial e é assim que estamos vendo a política mundial novamente se comportar.

Muitos morrerão, mas não se enganem, uns poucos – os mesmos poucos – vão ficar ainda mais ricos durante todo este processo. E é isto tudo o que a eles importa.

 

Fernando Horta

Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.

9 Comentários

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  1. “O governo americano não
    “O governo americano não estava por trás da lavajato.”
    Não. Quem está é o mesmo sistema – o estado profundo, o estado privado americano – que agora se movimenta para destituir um demente que, beneficiado por uma conjuntura específica que hoje se alastra pelo mundo, chegou onde não devia.
    Spoiler: Isso não é teoria da conspiração.

  2. Análise coerente do Fernando

    Análise coerente do Fernando Horta para os últimos acontecimentos envolvendo os Estados Unidos. Entendo perfeita a interpretação do que representa Trump nesse cenário. Uma ressalva: o sistema financeiro mundial parece ter domínio sobre o estado norte-americano, considero difícil negar a ação dos órgãos de segurança norte-americanos em países como o Brasil. 

    1. É isso.
      E os governos

      É isso.

      E os governos anteriores a Trump sempre foram unha e carne do estamento financeiro mundial. Tanto é que o eleitorado de lá cansou de se frustrar e elegeu Trump, abertamente se acotovelando entre Wall Street e Washington.

  3. Vou acreditar o dia que

    Vou acreditar o dia que Donald Trump terminar como Ted Turner terminou, cuspido pra fora de seus proprios negocios, pobre, sem influencia nenhuma, e zero visibilidade.  Por causa do governo.

    Ate la, eh tudo movimentos intestinais que nao me interessam.

  4. As premissas de Trump não são as do deep state!

    Li, do Antonio Uchoa Neto, de que a teoria da conspiração (do filme em que um motorista de taxi desenvolve uma teoria impossível,  conspirativa, que no final revela-se verdadeira) está cada dia mais real. Ele tem razão, como o Fernando tambem tem no seu excelente artigo sobre o impeachment  do Trump. Quando a Hilary perdeu as eleições, coisa que ninguem acreditava que acontecesse, acendeu um enorme luz vermelha no chamado “deep state”, pois a posições de Trump de “américa para os americanos”, mesmo vindo de um fascista desprezível, representavam um contrapasso na orientação das oligarquias mundiais, entendidas aí como as oligarquias financeiras. O impeachment passou a ser tramado no dia seguinte, tendo em vista não substituir somente o Trump por um outro republicano, mais sim substituí-lo por alguem, o partido não importava, que seguisse  ideário neoliberal proposto pelas elites.

    O deep state é composto de três grupos principais:

    1. o grupo de informação, composto pela Cia (no comando), NSA, FBI, forças de segurança internas, forças armadas (os segmentos superiores somente), empresas estatais e privadas de informação, demais agencias de forças armadas, controle de satélites, polícias (quanto a orientação conjunta), e demais afins. Neste grupo tambem participa os orgãos de informação do Estado de Israel. Na percepção deste grupo as forças armadas conseguiriam  dominari os paises. A proposta americana feira a Europa e não aceita pela Alemanha seria os alemães abrirem mão de sus forçasarmadas, deixar tudo sobre a proteção do império que os protegeriam.

    2. O conjunto de financistas mundiais e seu administradores, com especial participação dos maiores bancos de capital judaico americanos, franceses, russos *, americanos, etc. Na percepção desde grupo o “Capital dominaria o mundo”!

    * dos dez maiores bancos russos, nove são de controle judaico.

    3. Neste grupo estariam os chamados neocons ou os novos conservadores, que seriam os administradores estatais e privados, infiltrados nas administrações governamentais de países, grandes empresas e grupos financeiros. Este grupo é que operaria a política e administração que seria fundamental para a ação dos outros grupos. 

     Da influência do estado de Israel e que vem a ser a a inexplicável ogeriza dos USA pelos islâmicos.

    O novo presidente dos USA, por ser o mandatário do “Império emergente” é fundamental que tenha orientação total do deep state. Assim o impeachment do TRUMP passa a ser fundamental, apesar dele  tentar ser absorvido por este grupo, porem não foi convincente,  pela contradição de suas direções de ação quando da campanha a presidência.

    Os inimigos continuam sendo os de sempre, Russia e agora tambem a China. As ameaças de guerra a este países são diárias e extremamente agressivas. O grande problema atual é que apesar do o poderio militar americano continuar sendo muito superior ao dos demais, devido a novas técnicas e armamento mais  modernos que o estoque americano que foram   desenvolvidos por estes dois países nos útimos anos (China acredita terminar em 2025, se chegarmos até lá sem guerra) e deixariam a guerra definitivamente sem vencedores. Seriamos todos aniquilados conjuntamente! 

     

     

  5. Fico espantado com a
    Fico espantado com a tentativa do colunista de igualar o caso brasileira e o americano. Achei que fosse melhor que isso.
    As semelhanças entre os dois casos terminam na superfície. Diferenremente de nós nos eua o objetivo de todos tem sido preservar as instituições democráticas contra aquele que as despreza e realmente trabalha diariamente para demoli-las, tijolo por tijolo.
    Lá tudo tem sido feito rigorosamente em repeito a letra e ao espírito das leis justamente para evitar que a atividade técnica de investigacao não fosse manchada pela nódoa da politicagem.

    A investigação do departamento de justica liderada por Roberto Mueller tem sido uma master class para nossos toscos de Curitiba. Extremamente cuidadosa em seguir as regras e manter a discrição. Não houve vazamento de um fiapo de informação que fosse.
    Não há comparação também entre a imprensa de la e a brasileira. Eles estão fazendo o que a nossa não faz nunca, dando sempre espaço para os apoiadores de Trump apresentarem seu caso. Não há uma mesa de debate na CNN onde não esteja presente um defensor de Trump e um político do partido republicano.

    1. Concordo com você. Além
      Concordo com você. Além disso:”…multar empresas por contratar funcionários estrangeiros.”Estrangeiros, não, apenas mulçulmanos pois Trump é racista ao contrário de Dilma. “ou multar empresas por ter seus negócios produtivos fora dos EUA.” Somente os negócios familiares, ou seja, de sua filha Ivanka, tem permissão para serem produzidos ma Ásia (firma de roupas)”Não é beo-liberal” Quer destruir o Obama care para obrigar todos de baixa renda a fazerem seguro privado.Quanto ais bancos, não se trata regulá-los, mas sim, de desregulá-los: ele quer retirar as amsrras impostas ao sistema bancário criadas depois da crise financeira de 3008 com o intuito evitar outra crise.   

    2. Estado legalista, o que é isto!

      O estado legalista é um estado em que todos devem seguir as mesmas leis, não havendo o chamado “direito do inimigo”, ou seja que contra o “inimigo” as lei deixam de ser válidas! 

      O Brasil no momento em que vivemos não é um estado legalista, pois o “direito do inimigo” é aplicado em todos os caso de suspeita de corrupção de “inimigos”, onde provas materiais não mais são necessárias, bastando para tanto a certeza do juiz de que determinado réu é culpado, mesmo que sem provas. São condenado os réus por “provas” como delações, que não são válidas a não ser que apoiadas por provas reais. A frase secular dos  romanos, quando se queria definir uma pessoa como mentirosa dizia-se,  “FULANO MENTE COMO UMA TESTEMUNHA OCULAR”! Este é o real valor de uma testemunha “ocular ou auricular” (de ouvir dizer), principalmente quando acuada por uma pena longa, dá-se então a famosa “delação premiada”.

      Já nos USA tudo é feito tomando em conta a lei, razão pela qual estão formando uma legislação para um estado policial, onde podem prender, restrigir direitos  ou mesmo matar qualquer pessoa, com base a fatos corriqueiros, como participar de uma passeata onde a policia inicia a agresão e vc pode ser morto por “revidar a agressão a um agente da lei. Se vc é filmado numa passeata, já existe um sistema de identificação faceal, que pode levá-lo a prisão, á posteriori ou mesmo no caso de não nada “ilegal” ter seus patrôes informados e vc perder o emprego!

      Blogs americanos de esquerda, como por exemplo o “COUNTER PUNCH” tratam deste assunto e de outros referentes ao impechment,   com bastante cuidado e muitas provas de abusos legais nos USA!

      Os usa costumavam-se ser um paraiso legal, mas neste momento é um inferno ´para pretos, islâmicos, chicanos ou qualquer outro não branco. Um estado policial total está sendo montado,  pelos chamados “neocons” (apoiadores da Hilary) para controlar a população internamente. Vamos lembrar pobre não é nada, não importando o país onde vive,  para o famoso 1% da população. A população americana foi furtada no seu nível de vida, direitos legais e trabalhista, habitação com valores altíssimo impossíveis de serem pagas, saúde pública ridícula pelo nível de renda do país, educação já ultrapassada por outros país muito mais pobres e esta razão porque os americanos votaram no TRUMP, um racista, fascista, vigarista, com problemas de saúde mental, que foi eleito porque a base do programa dos neocons era muitissimas vezes pior.

      Agora fazer o impeachment porque ele foi apoiado ou financiado pelos russo, quando na verdade buscava entendimento para terminar o estado de pré guerra nuclear que nos encontramos é de uma demência total! 

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