Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Assassinatos políticos como marcos de História, por Andre Motta Araujo

CUSTO político de um assassinato é muito maior que o seu benefício, pouco se ganha e muito se perde, é a lição da História.

Assassinatos políticos como marcos de História

por Andre Motta Araujo

Assassinatos políticos de líderes por potências inimigas são eventos raros na História. Há um protocolo milenar não explicito pelos quais os líderes se auto protegem para manter um mínimo de nível civilizatório. Nas guerras regionais e mundiais não se traçaram planos de assassinato de líderes adversários a não ser como exceção,  por exemplo  o assassinato do Comandante da Marinha Imperial do Japão, Almirante Yamamoto, em 18 de abril de 1943, ato executado pelos EUA em meio a controvérsia dentro do governo americano, havia no episódio fortes opiniões contrárias ao ato.

Há uma razão logica para se evitar esse tipo de ação. O CUSTO político de um assassinato é muito maior que o seu benefício, pouco se ganha e muito se perde, é a lição da História. O simbolismo da morte de um líder de grande expressão nacional gera uma reação que ao longo da História cobrará um alto preço ao País que executou o assassinato, deixa cicatrizes irremovíveis, cria um impacto desproporcional a qualquer benefício de curto prazo.

Entende-se aqui assassinato político o ato executado por um ESTADO CONTRA LÍDERES DE OUTRO ESTADO e não quando executado por indivíduos a título pessoal, ato que tem outro significado e dimensão sob o ponto de vista político e histórico, é completamente diferente sua raiz e lógica.

Sob o ponto de vista pragmático, um assassinato político de tocaia gera comoção e desdobramentos no Estado atingido e legitima sua reação e resposta.

Não confundir esse tipo de ato com execuções por turbas no meio ou ao fim de conflitos ou atos executados por adversários internos, caso de Saddam Hussein, Khadafi, Ceausescu, Mussolini, onde Estados adversários no conflito não sujaram suas mãos com o sangue dos executados.

A CAÓTICA E VULGAR DIPLOMACIA DE TRUMP

A Presidência Trump se caracteriza pela vulgaridade de anunciar e justificar ações por redes sociais, sem nenhuma liturgia de Estado, sua diplomacia é caótica porque não segue o ritual de um planejamento estratégico, algo inaugurado em 1949 por George Kennan, maior diplomata americano do Século XX, autor da “Doutrina de Contenção”, traçada em 1947 e que foi aplicada por 50 anos em relação à URSS,  fruto da inteligência e da paciência mas, acima de tudo, da integridade de uma geração de homens de Estado do nível de George Marshall, Dean Acheson, Clark Clifford, W.Averell Harriman, John MCCloy, personagens de estatura, cultura e caráter que contrastam com o rebotalho da administração Trump.

Além do Birô de Planejamento Estratégico do State Department, criado e chefiado no início por Kennan, há o Conselho Nacional de Segurança, órgão de cúpula de assessoramento do Presidente em questões de defesa e política externa, que funciona no Old Executive Building, ao lado da Casa Branca. Trump IGNORA esses órgãos, não tem estratégia alguma e nem política de longo prazo, age por impulso e naquilo que julga ser seu interesse pessoal, criou a crise com o Irã e não sabe como sair dela.

Dezenas de entrevistas no último fim de semana por onde passaram ex-Secretários de Defesa, como William Cohen, ex-Generais Comandantes de grandes comandos do Pentágono, da OTAN, como o General Wesley Clark, ex-chefes do National Security Council, ex-chefes de Planejamento Estratégico do State Department, como Richard Haas, que hoje é o Chairman do Council of Foreing Relations, o mais importante think thank de política externa dos EUA, esse desfile de personalidades com larga experiência e preparo em geopolítica, relações internacionais e defesa, TODOS condenaram não só o ato de assassinato em si, como o caos onde opera Trump, jogando com os interesses, o prestígio e o papel dos EUA no mundo, misturando seu interesse pessoal rasteiro com atos de magnitude estratégica cujo desdobramento Trump desconhece e tampouco tem interesse em saber, um homem nefasto, na feliz expressão de Winston Churchill sobre um personagem da época, do tipo de Trump (Sir Neville Henderson mas Churchill queria atingir Lord Halifax).

A CRISE COM O IRÃ

O Irã assinou em 2015 um Acordo de controle e contenção de sua política nuclear, sendo contrapartes a Agência Internacional de Energia Atômica, a Rússia, a China, a França, o Reino Unido e a Alemanha. TODOS estavam satisfeitos com o acordo e sua execução e fiscalização pelos inspetores da AIEA, o Irã estava CUMPRINDO escrupulosamente com o acordo, ai vem Trump e os EUA saem do Acordo sem maiores explicações a não ser “fake news”.

A razão óbvia era que o acordo bem-sucedido tinha sido obra do Presidente Obama e Trump por isso queria desqualificá-lo. TRUMP CRIOU DO NADA A CRISE.

Trump é o pai e a mãe da crise com o Irã, começou a aplicar sanções que reduziram à metade a produção de petróleo do Irã e reduziram seu PIB em 9%, gerando carências e problemas de todo tipo.  Criador da crise, Trump agora a escala com o assassinato do general, um operador vulgar, desagregador, jogando no conflito e no desequilíbrio para criar capital político em casa, mas aparentemente calculou mal sua jogada, abriu novas fendas e feridas em um tecido social e político já complicado, jogando com as vidas de soldados americanos e, ao fim, BENEFICIANDO A RÚSSIA, maior aliado hoje do Irã.

Como disse a Presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi, a política externa de Trump é um caos, mas todas as ações tem um ponto em comum, uma linha contínua, TODOS OS ATOS AO FIM DO DIA BENEFICIAM A RÚSSIA, País que parece ser o verdadeiro guia de Trump.

AMA

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

16 Comentários

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  1. Não apenas Donald Trump representa muito bem o “zeitgeist” atual estadunidense (caso contrário já teria sido tirado de lá ou nem teria sido eleito) como basta um exame superficial da política externa que aquele país adota há pouco mais de 100, 150 anos para constatar que o que Trump faz qualquer outro em seu lugar faria. Ou seria defenestrado. Trump é apenas a personificação do golpe econômico que os EUA tentam dar contra todos os países que atrelam suas economias nacionais ao dólar desde o início deste século 21. A mesma deselegância, a mesma violência e a mesma cara-de-pau com que age pode ser encontrada em outros países como o Brasil, a Itália, a Inglaterra e tantos outros submetidos ao dólar. Já agredir outros países já tem mais tempo e data do final do século 19. É só dar uma olhada por aí para averiguar… Trump é só mais um presidente estadunidense.

  2. O maior culpado de Trump chegar ao poder foram os Republicanos – que açulando os radicais da direita, deu força a um bufão como Trump e nas primárias, ele trucidou a elite dos Republicanos. Acho que ele tem grande chance de ser reeleito, pois o fator econômico o ajuda e os Democratas estão totalmente sem rumo. Pior do que Trump são as figuras que tentam copiá-lo de forma caricatural – e nisso Boçalnato é primeiro disparado.

    1. E se a Hillary tivesse vencido, quem seria o culpado?

      Ela seria diferente, seria menos pior do que o bufão Trump?

      Ali um candidato é seis, o outro, meia dúzia. De acordo com Friedrich Engels:

      “Em parte alguma os “políticos” formam um destacamento da nação mais separado e mais poderoso do que precisamente na América do Norte. Ali, cada um dos dois grandes partidos aos quais cabe alternadamente a dominação é ele próprio governado por pessoas que fazem da política um negócio, que especulam com lugares nas assembleias legislativas da União e de cada um dos Estados, ou que vivem da agitação para o seu partido e são, após a vitória deste, recompensados com cargos. É sabido que os americanos procuram, desde há trinta anos, sacudir este jugo tornado insuportável e que, apesar de tudo, se atascam sempre mais fundo nesse pântano da corrupção. É precisamente na América que podemos ver melhor como se processa esta autonomização do poder de Estado face à sociedade, quando originalmente estava destinado a ser mero instrumento desta. Não existe ali uma dinastia, uma nobreza, um exército permanente — exceptuados os poucos homens para a vigilância dos índios — nem burocracia com emprego fixo ou direito à reforma. E, não obstante, temos ali dois grandes bandos de especuladores políticos que, revezando-se, tomam conta do poder de Estado e o exploram com os meios mais corruptos para os fins mais corruptos — e a nação é impotente contra estes dois grandes cartéis de políticos pretensamente ao seu serviço, mas que na realidade a dominam e saqueiam”.

  3. Esse artigo de Robert David Steele, ex-militar e co-fundador do Marine Corps Intelligence Activity, escrito logo após o atentado de Trump, dá uma noção do tipo de gente que o cerca (que parece muito com os malucos que cercam Bolsonaro, guardadas as devidas proporções):

    (…)
    Trump está cercado por quatro redes de mentirosos patológicos: a Classe de 1986 da Academia West Point do Exército dos EUA (Esper, Pompeo, Urban), cristãos sionistas (Pompeo e outros), agentes sionistas (ambos os Kushners) e sionistas da CIA (Brennan, Haspel, outros). Apesar de o seu Conselheiro de Segurança Nacional Robert O’Brien estar a fazer algum trabalho espectacularmente bom ao eliminar belicistas de Obama e agentes de potências estrangeiras do Conselho de Segurança Nacional, ele pode não ter apreendido nuances da história e das biografias actuais que são precisas para proteger o presidente destas quatro redes de mentirosos que favorecem a guerra com o Irão a qualquer custo.
    (…)

    Fonte:
    Trump enganado pelos nazi-sionistas do “Estado profundo”
    https://www.resistir.info/irao/steele_03jan20.html

    Original em: https://www.veteranstoday.com/2020/01/03/world-war-iii-has-president-donald-trump-lost-his-mind-may-god-give-us-a-moment-to-reflect-for-peace/

  4. Caro sr., se me permitir: Mais um 737. Não bastava os MAX, NG, DreamLiner’s. Daremos a mais promissora Indústria Aeronaútica do planeta EMBRAER, em troca do que? Associar-se a marca falimentar que patinará por décadas. Isto se conseguir juntar os cacos e voar novamente. Do outro lado está outra empresa do ‘Livre Mercado’, sustentada pelo Tesouro Britânico e Francês por todas estas décadas, também. AIRBUS. O que fará dos seus Investimentos, Empréstimos, Compromissos Futuros sem Faturamento e Vendas? Enterrou milhões e milhões de Euros numa ‘banheira hiperdimensionada que ninguém quer, o A380. Reprogramar estruturas para Fábrica de latas de sardinha? Fábrica de lunetas para enxergar o voô das aeronaves chinesas e russas? ADEUS EMPREGOS E TECNOLOGIA BRASILEIROS. Cérebros e cérebros de ITA, de CTA,….ADEUS. Cabeça torna-se em rabo. Apêndice de MultiNacional Estrangeira. Pobre país rico. Mas de muito fácil explicação.

    1. AMA : Obrigado pela oportunidade e peço para me estender. Aqui ao lado existe matéria : “A taxação do sol…” Roberto Pereira D’Araújo / Rinaldo Bicalho. Mostra todo Nosso AntiCapitalismo de Estado e suas nefastas consequências. Espetacular matéria semelhantes às suas. Mais que isto somente se fosse desenhada. E é. Pobre país rico. Porque quer. Porque foi doutrinado para este fim. Mas de muito fácil explicação. Novamente, obrigado.

  5. E Trump já disse que os USA não precisam do petróleo do Oriente Mèdio, porque o em em sua própria casa e “bem mais próximo e mais barato”!! A saber,como no Bananão “tá tudo dominado”, ele vai atacar ainda mais a Venezuela e certamente vai usar as valentes FA do Brasil e seus competentes e destemidos generais!!! Por oportuno,encontre um artigo interessante em que o autor escreve: ” a escola militar no Brasil é tão boa, que Bolsonaro a frequentou e logrou sucesso em todas as fases!!””

    1. A Russia é aliada do Irã, a Marinha russa acaba de realizar manobras navais no Indico com a Marinha do Irã, a Russia é o escoadouro hoje do petroleo iraniano que está sob embargo americano, na Siria o
      Irã e a Russia tem interesse mutuo, o desgaste dos EUA no Oriente Médio interessa à Russia e ao Irã.

    1. Nada a ver. A Russia se beneficia sem ter feito nada para gerar essa situação, trata-se de ocupação
      de espaço geopolitico por potencia mundial, sai uma entra outra.

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