A era dos processos intermináveis, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

As autoridades judiciárias brasileiras estão cada vez mais soterradas em processos imensos e intermináveis. E raramente conseguem distribuir Justiça aos cidadãos que escolheram investigar.

O Mensalão terminou com mais duas centenas de volumes*. A Lava Jato corre o risco de ser interminável e também já se transformou num pântano de volumes e recursos que se multiplicam ao infinito, pois Sérgio Moro não prende para fazer justiça e sim para conseguir novos delatados. Isto se tornou evidente no caso de José Dirceu, preso por suspeita e porque se recusa a delatar quem quer que seja.

A imprensa ataca ferozmente os réus e seus advogados. Os jornalistas não querem que as pessoas tenham direito de defesa, nem permite que a Justiça seja feita com a devida isenção. Desde os tempos do Mensalão as empresas de comunicação passaram a acusar, julgar e condenar os petistas. Os tucanos são sempre absolvidos preventivamente. Ai do Juiz que ouse condenar um tucano graúdo ou reconhecer que os petistas tem direitos não atribuídos pelos jornalistas.

Não estamos apenas diante da judicialização da política. Estamos também vivenciando uma evidente e temerária politização do Judiciário. Fato que coloca em risco a validade jurídica de todas as decisões proferidas em casos como o Mensalão e Lava a Jato.

Em São Paulo nenhum tucano foi denunciado por roubar dinheiro do Metrô SP. Dificilmente alguém do PSDB será condenado por surrupiar dinheiro da merenda escolar. A confusão entre velhacaria e justiça no Estado bandeirante é evidente e total. Não há espaço para dúvida. Sempre que um tucano é envolvido numa patranha ele é cautelosamente deixado de lado pelo MP, como se não competisse ao MP importunar as augustas figuras do PSDB.

Isto se reproduz de certa maneira na esfera federal. Ninguém foi denunciado pela posse de 450 kg de cocaína apreendidos num helicóptero. Idem para os tucanos que estão na Lista de Furnas. A politização do MPF e da Justiça Federal são tão repugnantes quanto a do MP e do Judiciário paulista. A imprensa, contudo, parece não se incomodar com estas distorções.

De fato, os jornalistas criam novas distrações políticas e incentivam outras distorções judiciárias. Lula é o alvo dos jornalistas. Todos os atos dele são suspeitos. Os mais novos crimes do ex-presidente são repugnantes. Ele foi num sítio, a mulher dele comprou um barquinho com nota. O triplex do Lula que não pertence a ele vale apenas uma fração do apartamento comprado por FHC na Av. Foch em Paris. Mas nenhum jornalista sequer cogita exigir que o tucano explique a origem do dinheiro que usou para comprar seu imóvel.

A naturalização da desigualdade entre Lula e FHC é construída pela imprensa. Um é eternamente culpado por suspeita. O outro é inocente mesmo que tenha cometido crimes e facilitado a consumação de crimes financeiros durante seu mandato presidencial. O mesmo esquema de distinção naturalizada se repete em relação ao PT e PSDB. O dinheiro doado ao primeiro é propina, o roubado pelo segundo em São Paulo é um esquema de cartel.

À imprensa brasileira não falta apenas ética e profissionalismo. Falta também honestidade. Todos os donos de empresas de comunicação enviaram ilegalmente dinheiro para o banco dos mafiosos na Suíça. Isto talvez explique o ódio dos jornalistas à Dilma e Lula, pois o esquema sujo dos barões da mídia foi estourado pelo PT e teve sua legalização defendida pelo PSDB.

As eleições de 2018 estão sendo antecipadas. Se Lula for afastado da disputa o país pode mergulhar num período de trevas. Se ele ganhar – o que é muito provável – o petista terá trocar o refrão “Lulinha paz e amor” por outro mais belicoso “No more nice guy”. Alguém ficará triste ou surpreso quando as empresas de forem definitivamente destruídas pela União durante o próximo governo Lula? Só assim o novo governo petista conseguirá revitalizar e dotar de independência o Judiciário. Garroteados pelos jornalistas o MP e o Judiciário certamente não devem mais ficar. 

 

 

O Mensalão foi maior, portanto, do que o processo aberto na Justiça Federal para punir os participantes na Revolta de junho de 1924 em São Paulo, que terminou com 170 volumes de 500 páginas cada um contendo documentos, fotos, artigos de jornais e depoimentos de investigados e testemunhas. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

13 Comentários

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  1. O oitavo parágrafo ficou

    O oitavo parágrafo ficou esquisito. Aqui o mesmo devidamente corrigido.

     

    A naturalização da desigualdade entre Lula e FHC é construída pela imprensa. Um é eternamente culpado por suspeita. O outro é inocente mesmo que tenha cometido crimes e facilitado a consumação de crimes financeiros durante seu mandato presidencial. O mesmo esquema de distinção naturalizada se repete em relação ao PT e PSDB. O dinheiro doado ao primeiro é propina, o roubado pelo segundo em São Paulo é um esquema de cartel.

  2. Excelente post, Fábio. Em

    Excelente post, Fábio. Em outro post https://jornalggn.com.br/noticia/apos-liberar-pauta-oposicao-deve-mirar-lula-e-dilma-nas-sessoes-da-camara fiz o seguinte comentário.

    “…Para isso, deputados do PSDB querem apresentar diversos convites para ouvir Luiz Inácio Lula da Silva. Na contramão da bancada governista, que deverá despachar esforços contra os pedidos que virão dos parlamentares tucanos, os deputados admitem que irão tentar as oitivas a fim de “constranger” o ex-presidente…”

      É inacreditável! A oposição – ou melhor, os golpistas – atuarem na Câmara com a finalidade de constranger o ex-presidente Lula. Não importa para eles se, na oitiva  do ex-presidente, o interesse para tanto tenha uma finalidade concreta e pertinente. Não se trata disso, o único objetivo é continuar a persegui-lo e incluí-lo nas manchetes negativas da imprensa. O mesmo acontece em relação à presidenta Dilma, em que as manobras para o impechment, mesmo sem qualquer fundamento, continuem com o objetivo de desgastá-la perante o país. Isso tudo não está no campo da política, pois é puro golpismo e, portanto, uma afronta direta ao Estado de Direito. Diante disso, torna-se evidente que o STF necessita agir independemente de qualquer provocação, pois cuida-se de assegurar, no mínimo, a estabilidade institucional, que se encontra seriamente abalada. 

  3. Os caras estão empurrando o Lula para a esquerda

    E esquerdista é uma coisa que ele nunca foi.

    Depois, aguentem o tranco.

    Do blog do Renato Rovai

    http://www.revistaforum.com.br/blogdorovai/2016/01/31/quem-ganha-com-destruicao-politica-de-lula/

    Quem ganha com a destruição política de Lula

    Não é incomum políticos viverem dramas pessoais nas suas trajetórias mesmo quando optam pelo caminho do meio. Ulisses Guimarães, por exemplo, foi o principal nome do PMDB no período da ditadura. E era nome certo pra disputar e ganhar a eleição presidencial se a emenda Dante de Oliveira fosse aprovada no Congresso.

    Nas eleições indiretas, porém, Tancredo se impôs por seu perfil mais conservador e Ulisses teve de esperar até 1989 para ser candidato. Fez 4,75% dos votos válidos.

    Em outubro de 1992, o avião de Ulisses  caiu no mar e seu corpo nunca mais foi encontrado. Mas seu sumiço político já havia acontecido antes, naquele final de 1989, quando ficou em sexto lugar tendo tido menos votos até que Guilherme Afif Domingues.

    Ulisses de alguma forma foi vítima de seu espírito conciliador e de sua fidelidade ao projeto político que conduzia. Abriu mão de sua candidatura para Tancredo, quando poderia ter imposto seu nome e buscado derrotar Paulo Maluf no Colégio Eleitoral. E com a morte de Tancredo, bancou a sucessão com Sarney, quando havia quem defendesse que ele substituísse o presidente que não havia tomado posse.

    Com Lula a história é outra, mas também tem relação com o seu espírito conciliador e fidelidade ao projeto. Lula é um sindicalista em atividade política. A principal qualidade e o principal defeito dos sindicalistas é que eles sempre buscam acordos.

    O Brasil poderia ter se tornado um país muito mais violento do ponto de vista político se a liderança de Lula não tivesse se consolidado nos setores mais populares e de esquerda. Lula foi quem deu esperança a esses segmentos de que as coisas poderiam mudar no voto e que o país poderia se tornar mais justo com a eleição de pessoas comprometidas com um programa de reformas.

    Lula disputou quatro eleições para ganhar a presidência da República e, ao vencer fazendo acordos, manteve não só muitos deles como fez uma série de outros.

    De alguma forma, eles permitiram que realizasse dois governos muito bem avaliados e ao mesmo tempo que deixasse de fazer uma série de coisas que poderiam mudar estruturalmente o país.

    Mas Lula ainda poderia ter feito como Fernando Henrique e mudado as regras do jogo no meio do seu mandato, aprovando uma emenda que permitisse reeleições indefinidas.

    Provavelmente ainda hoje seria presidente da República.

    Mas seu espírito conciliador o levou de forma correta a não jogar fogo no país comprando uma briga desnecessária.

    Depois das grandes manifestações de 2013, poderia ter dito a Dilma que era a hora de voltar. E seria ungido não só pelo PT como candidato, como teria amplo apoio na sociedade. Não foram poucos os empresários a ir ao seu Instituto lhe pedirem para aceitar o desafio.

    Mas Lula não queria problemas com Dilma. E achava que ela tinha o direito de disputar a reeleição. Aos mais íntimos dizia que só havia uma chance de disputar em 2014, se Dilma lhe pedisse.

    Ou seja, por fidelidade, manteve-se fora da última disputa presidencial.

    Neste período em que atuou como figura pública, ou seja, desde o final dos anos 70 até agora, Lula fez muita coisa errada. Mas em geral errou mais por conciliar do que por botar fogo no país, como alguns sugerem.

    Errou mais por fidelidade do que por traição.

    Manteve, por exemplo, apoio à família Sarney  no Maranhão contra projetos muito melhores e com as quais tinha mais identidade. Por fidelidade ao ex-presidente que não jogou contra seu mandato no meio da crise do mensalão.

    O fato é que sem Lula e sua liderança o Brasil poderia estar vivendo hoje um momento mais Haíti do que Espanha ou Portugal, por exemplo. A democracia brasileira tem problemas, mas avançou muito neste período democrático. E isso também tem muito a ver com a forma como Lula se comportou.

    Isso não significa que Lula não deve ser investigado e até ser condenado se praticou crimes. Mas execrá-lo e persegui-lo não é um bom caminho.

    O maior jornal diário do país buscar provar, às custas da nota fiscal de um barquinho de 4 mil reais, que o o ex-presidente é dono de uma fazenda e  o governador do maior estado do país tratá-lo por conta disso como líder de quadrilha, quando seu governo é investigado por graves desvios em setores fundamentais como o do metrô e da merenda escolar, é jogar álcool no incêndio.

    Se Lula for condenado porque cometeu crimes claramente comprovados, o país viverá um momento duro, mas dará a volta por cima. E surgirão novas lideranças para defender e dar  sentido aos ideias que o líder petista representou por muitos anos.

    Se Lula for preso com base em conjecturas ou a partir de uma narrativa que reúne um barquinho de lata sem motor, suposições a partir do depoimento de um zelador e mais uma montanha de matérias de jornais que estão sendo questionadas judicialmente, o risco é imenso (sobre isso, confira a resposta do Instituto Lula divulgada na noite de ontem).

    Isso poderá significar pra muita gente que não há como conversar com certos setores e que só existe um caminho para enfrentá-los, o da violência.

    E isso não apenas para os que hoje estão com Lula.

    Mas para outros que estão forjando suas lutas e que verão que mesmo um líder que sempre conversou com todos os setores e buscou a conciliação se deu mal.

    E esses terão essa lição como guia para radicalizar seus discursos e suas ações.

    Destruir Lula pode até satisfazer a sanha por sangue de alguns, mas pode alimentar o desejo por sangue de outros.

    Ninguém ganha nada com isso.

    1. boa, mcn.
      perfeito o artigo

      boa, mcn.

      perfeito o artigo do rovai.

      há tempos ansiava ler algo parecido, pois une  a teoria e a prática políticas

      a tática  e a estratégia…

      taticamente, podia-se pensar em radicalizar politicamente no governo lula,mas

      a atitude dele demonstrou ser estrastegicamente  corrreta essa     conciliação.

      conseguiria deixar sua marca e um  trabalhador ou um representante do

      movimento popular poderia voltar algum dia com mais facilidade se houvesse

      algum resultado positivo, como ocorreu…..

      mostrou que lula é um grande estadista.

      mas com essa retaliação da direita agora, quem lutou com lula e os

      movimentos populares por essas mudanças, não aceitará o golpe…

      se o maior lider popular conciliador  é repudiado pelo sistema

      desta forma, só restaria  a    violencia.

      o que nunca foi desejado  na verdade pelo pt, embora algumas

      tendencias sempre quisessem partir para a radicalziação.,,,

      se tirarem lula do jogo, sabe-se lá o   que   pode acontecer…

      mas esse é o perigo,,,, 

       

  4. Contra Jader, por exemplo, processos não andam

    Notícia de março/2015:

    BRASÍLIA – Sem ao menos ser julgado, foi arquivado nesta segunda-feira o inquérito que tramitava há mais tempo no Supremo Tribunal Federal (STF). O caso chegou à Corte em outubro de 2003, estava em segredo de justiça e investigava o senador Jader Barbalho (PMDB-PA), suspeito de peculato, tráfico de influência e lavagem de dinheiro. As penas máximas previstas para esses crimes somam 27 anos. A investigação foi encerrada sem conclusão porque houve extinção da punibilidade, ou seja, passou-se tanto tempo que o investigado não poderia mais ser punido, mesmo condenado.

    Leia em

    http://oglobo.globo.com/brasil/inquerito-de-jader-barbalho-mais-antigo-do-stf-arquivado-sem-julgamento-15744757

     

  5. O ano não vai ser facil

    Pois é, Fabio, parece que meio mundo do judiciario esta encampando a tal lava jato. Eh bem instrutivo assistir o video do depoimento de José Dirceu. Eh algo que mais tarde sera objeto de estudo nas escolas de Direito. Sérgio Moro esta, nesse momento, com imenso poder. E a continuar como estão as coisas, acho que o processo da Lava Jato vai se avolumar muito mais. Os poderes estão desequilibrados. Falta um Ministro na Justiça.

  6. Estrategia

    O discurso da auto intitulada forças progressistas tem que mudar ou vão amargar uma derrota que dificilmente permitira que voltem na disputa do poder tão cedo.

    Nesta altura do campeonato colocar-se de vitima é tão inutil qto esperar que o adversário vai conceder qualquer trégua dando oportunidade de recuperação.

    Por mais inofensivo que seja o animal qdo acuado consegue forças que chega a assustar o predador mais perigoso. O que se ve acontecer atualmente com quem esta no poder e sob fogo cruzado?

    Apenas choramingas, reclamações de injustiça, bravatas, resmungos e gritaria sem consequência pratica.

    A única saída para o governo atual e as condições que se encontra, seria a sinalização de que contasse com o apoio popular, mas para isto seria necessário um projeto extremamente bem estruturado, e não apenas retoricas vazias cheias de dubiedades que deixa claramente que não se procura realmente equacionar com a crise tanto do próprio governo, como da Nação. Se continuarem em pânico e acuados, como estão, fatalmente os adversários se fartarão.

    Fazer um mea culpa seria obra-prima de um estrategista excepcional, sera que poderiam contar com tal personagem?

    O segundo passo seria colocar todos no mesmo barco e acusar o próprio sistema como causador da hecatombe que vitimou principalmente o governo de plantão.

    O terceiro passo arregimentar a opinião publica como avalista das reformas, principalmente a politica, que finalmente colocaria o povo como verdadeiro protagonista do destino da Nação. E como fez o Lula com seu plano de consumo sinalizar o extraordinário potencial da Nação e as benesses que poderia contar este mesmo povo se juntos patrocinarem um projeto conjunto de prosperidade.

    Não existe inocente nas altas cúpulas no Brasil tanto politica como empresarial, e como o exemplo vem de cima toda a administração esta contaminada de forma sistêmica pelos rincões das administrações  do Pais. E o povo sabe disto. Se o discurso de revitalização das condições precárias que se encontra a Nação não deixar claro que a intenção seja por este caminho, muito dificilmente o poder instalado conseguira se manter por muito tempo. Caso este governo caia e o novo não sinalizar nesta direção muito dificilmente conseguira condições que o sustente.

    Infelizmente para o bem da democracia, não é o que se ve. O governo e as esquerdas estão desorientados depois da bomba que caiu nas suas fileiras. E tudo leva a crer que não terão, nem tempo nem condições de se restabelecerem.

  7. É isso.

     

    só não concordei com o último parágrafo. Não vejo como destruir esa gente, acho que devemos deixar quw se destruam e isto esta cada vez mais perto. 

    O papel nazista do pig é o germem desta desgraça que causa esta indignidade de alguns jovens poderosos e bobos. E ela, a imprensa pig, tem futuro bem curto, está morrendo. Talvez baste dar um empurramzinho e saber com o fazê-lo, mas nunca cair no ódio deles nem repeti-lo.

    A própria justiça há de ver que melgulhou sem querer nesta podridão do pig e a qualquer hora pula fora; é isustentável.

    Torçamos. O arsenal deles está nas últimas.

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