A ministra Maria do Rosário disse que a Secretaria Especial dos Direitos Humanos irá estudar a lista de ameaçados de morte para ver a quem oferecerão proteção. Que estude o mais rápido possível, se possível para ontem, e que se ofereça ao máximo possível de pessoas, se possível todas, senão teremos em pouco tempo a repetição constrangedora do que aconteceu com José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva:
Do iG
Governo diz que vai estudar lista de pessoas ameaçadas de morte
Comissão Pastoral da Terra reclama: “Só ouvimos discursos. Algo prático, até o momento, nada”. Na semana passada, casal foi executado no Pará
Wilson Lima
Em reunião realizada na manhã desta terça-feira com membros da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que vai estudar a relação das pessoas ameaçados de morte em todo o Brasil por conta de conflitos no campo e, só depois, vai decidir para quem oferecer proteção.
Na semana passada, o casal de lideres extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foi executado após denunciarem a ação de madeireiros e carvoeiros na cidade de Nova Ipixuna, a 390 quilômetros de Belém.
A CPT entregou nesta terça-feira uma lista com 1.855 camponeses que estão sendo ameaçados em todo o Brasil e, durante o encontro, a ministra Maria do Rosário afirmou que a lista “passaria por uma análise detalhada e que, depois dessa análise, essas pessoas ameaçadas poderiam entrar nos programas de proteção”.
“Na verdade, só ouvimos discursos e mais discursos. Algo prático, até o momento, nada”, reclamou o advogado da Comissão Pastoral da Terra de Marabá, José Batista Afonso, que está acompanhando de perto as investigações sobre o assassinato do casal de extrativistas.
Durante o ano passado, José Claudio Ribeiro da Silva fez várias denúncias de que estaria sendo ameaçado de morte por madeireiros da região, mas nenhuma providência foi tomada. Após a morte dele, entidades como o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), ONG fundada por Chico Mendes, criticaram a omissão do governo.
A Polícia Civil do Pará e o Ministério Público Federal paraense, por outro lado, informaram que não tinham informações sobre essas ameaças de morte. Em uma semana, três pessoas foram assassinadas em Nova Ipixuna. A Polícia paraense afirma que homicídios no assentamento Praialta-Piranheira, onde viviam José Cláudio e Maria do Espírito Santo não eram comuns. No assentamento, o último assassinato registrado, segundo a Polícia Civil, foi em 2000.
Segundo informações de líderes camponeses e de ONGs ligadas à preservação ambiental, normalmente execuções como essas dos dois ambientalistas custam caro aos mandantes. Eles afirmam que o custo para se assassinar pessoas que lutam há vários anos contra a ação de madeireiros como José Cláudio e Maria do Rosário pode chegar a R$ 60 mil por pessoa.
“Já houve registro de pessoas que foram mortas por R$ 20 mil aqui na região. Porém, ainda não sabemos quanto custou a cabeça de José Cláudio”, disse José Batista da CPT. “Eles eram muito visados e não foram mortos antes porque não estavam juntos. Além disso, o assassino fez questão de cortar a orelha deles como prova do crime. O assassinato dos dois custo muito caro, sem dúvida”, complementou o diretor da ONG CNS, Atanagildo Matos.
As investigações
Até o momento, dez pessoas foram ouvidas nas investigações sobre os eventuais mandantes do crime. A maior dificuldade da polícia é que, até agora, não existem testemunhas que afirmam ter visto o momento da execução. “Não há testemunhas oculares”, afirmou em entrevista, na segunda-feira, o delegado geral adjunto da Polícia Civil do Pará, Rilmar Firmino.
Além disso, o local onde ocorreu o assassinato é de difícil acesso. A casa mais próxima fica distante 200 metros.
Até agora, as pessoas ouvidas relataram apenas que escutaram os tiros e citaram uma lista com pessoas que teriam motivos para assassinar o casal. Além disso, informações não confirmadas pela Polícia dão conta de que José Cláudio teve uma discussão contra dois madeireiros em Nova Ipixuna duas semanas antes de ser executado.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.