As offshores dos empresários de ônibus presos na Lava Jato

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À direita, com a faixa, Jacob Barata Filho recebe homenagem do presidente da Confederação Nacional de Transporte em 2015. (Imagem: Agência CNT de Notícias)

Da Agência Pública

As offshores dos empresários de ônibus presos na Lava Jato
 
por Adriano Belisário
 
Presos esta semana, Jacob Barata Filho e João Augusto Morais Monteiro – presidente da Rio Ônibus – tiveram suas contas bancárias em paraísos fiscais vazadas no Panama Papers

No ano passado, tornaram-se públicas algumas informações sobre contas em paraísos fiscais dos empresários de ônibus do Rio de Janeiro. Ainda assim, à época, alguns negócios passaram despercebidos. Os documentos que revelam as informações a seguir foram obtidos pela Pública a partir dos arquivos reunidos na investigação jornalística Panamá Papers, por meio de uma parceria com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e o jornal alemão Süddeutsche Zeitung.

Durante a apuração para o especial sobre transporte público por ônibus no Rio de Janeiro, que será lançada no final de julho, a Pública obteve dados inéditos de offshores de João Augusto Morais Monteiro, presidente do conselho superior da Rio Ônibus, e Jacob Barata Filho. Ambos foram presos esta semana, em mais uma etapa da Operação Lava Jato, no Rio de Janeiro.

Jacob Barata Filho e João Augusto Morais são sócios na Âncora Matias, que opera linhas de transporte público por ônibus na zona norte e tem capital social declarado de mais de R$ 7 milhões.

A família Morais Monteiro utilizou os serviços da Mossack Fonseca para gerenciar contas em paraísos fiscais entre 2007 e 2014. A empresa Donaldson Group S.A. foi criada no Panamá, em nome de João Augusto; Rosalina Loureiro, sua esposa; e Paulo Roberto Loureiro, seu filho.

A prática é legal, desde que seja declarada às autoridades brasileiras. A Receita Federal não informa se isso ocorreu em casos pontuais.

Nascido em 1930 na região de Vila Real, em Portugal, João Augusto dividiu o comando de associações patronais com outros grandes empresários de renome do setor nas últimas décadas, como Jacob Barata e José Carlos Reis Lavouras. O Ministério Público Federal afirma que Jacob Barata Filho e João Augusto movimentaram, desde 2010 até 2016, mais de R$ 23 milhões no caixa da Fetranspor, utilizados para repassar propinas a políticos. Para os promotores, a prisão é “imprescindível para elucidar os motivos do recebimento de créditos tão expressivos, bem como o destino desse dinheiro”.

Quanto à família Barata, já havia sido noticiada a existência de três firmas no Panamá: Rumba Portfolio, Salsa Investments e Garanis Holdings. Consultando os arquivos do Panama Papers, a Pública encontrou uma quarta offshore. Entre 2007 e 2012, Jacob Barata Filho e Ana Carolina Barata Reis recorreram aos serviços da Mossack Fonseca para criar a empresa Belvue Inc.

Segundo registros do HSBC vazados no Swissleaks, a família Barata possui também conta na Suíça desde 1990. Ali, os dados indicam um saldo de US$ 17,6 milhões entre 2006 e 2007.

Outro empresário que utilizou contas em paraísos fiscais é Generoso Ferreira das Neves, sócio de Jacob Barata na Braso Lisboa, operadora de ônibus públicos da cidade. Ausente até agora da Lava Jato, seu nome consta nos dois maiores casos de vazamentos de offshores recentes: o Swissleaks e o Panama Papers. Segundo os registros, pelo menos desde o final dos anos 1980 o grupo faz movimentações em paraísos fiscais.

De acordo com documentos do Swissleaks, entre 2006 e 2007 Generoso Ferreira e sua família mantiveram US$ 3,3 milhões em uma conta conjunta na Suíça. Já o Panama Papers revela que em 2007 a família Martins das Neves abriu a empresa Wintec Assets Corp, no Panamá.

Documento da conta bancária da Donaldson Group no banco Credit Suisse de Luxemburgo com as assinaturas de João Augusto, Rosalina Loureiro e Paulo Roberto

Pública teve acesso aos documentos dessa empresa. Neles, constatamos que a equipe contratada por Generoso para gerenciar suas empresas no Panama Papers foi praticamente a mesma utilizada anteriormente pela família Barata. Ambos contaram com a ajuda dos mesmos laranjas para ocultar a real propriedade das offshores: Leticia Montoya, Francis Perez e Katia Solano.

De acordo com a assessoria de Jacob Barata Filho, “todos os investimentos que Jacob Barata Filho possui fora do Brasil estão devidamente declarados em seu Imposto de Renda e junto ao Banco Central do Brasil.”

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Redação

1 Comentário

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  1. as…

    E voce por 40 anos, novamente, acreditando que governos dito progressistas, socialistas, de centro-esquerda estavam trabalhando por serviços públicos mais dignos, eficientes e a preços verdadeiros. E os caras estavam se esbaldando às custas da sua miséria !! Já imaginou, apesar de todas as dificuldades, se com concorrência e transparência, você tivesse o transporte público sem preços inflacionados artiicialmente por décadas? Ônibus a R$ 1,00 ou 1, 50? Ou Metrô, a mesma coisa? Ou gasolina com este preço? Ou mais fácil ainda, na Pátria da Cana de Açúcar, o álcool não poderia passar de R$ 0,50. E não são, por que? Um bilhão de desculpas. Desculpa é como bunda. Cada político tem a sua. Mas a realidade esta aí na reportagem. E espalhada pelo país. Ou no restante do país, as passagens de ônibus, transporte público ou preços em geral são diferentes do RJ e sua extorsão revelada? Ou Celso Daniel morreu por outra causa, senão as Empresas de ônibus de Santo André, na grande SP? Ou a SuperVia foi uma empresa inventada através de Empreiteiras, Governo e políticos cariocas, foi para melhoria do serviço dos trens ou bolsos abarrotados com a exploração da miséria das pessoas? Preços artificialmente inflacionados com a descarada omissão de governos frente a monopólios, oligopólios e compadrios. A parte do “Leão” cedida ao governo onde 25% torna-se 33%, a parte do sócio oculto em Caixa2 (por que ninguém é de ferro), o Estado dividido entre sua Corte, entre salários e pensões nababescas, para dar porrada e mandar a PM encima da pobreza “para que ela não se meta à besta e tire as manguinhas de fora” e o Brasil está explicado.     

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