Direita perdeu Huck, mas ainda sonha em fugir de plebiscito com Lula, por Paulo Moreira Leite

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Paulo Moreira Leite

No Brasil 247

Procurando, a todo custo, evitar que a campanha de 2018 se transforme num plebiscito sobre as reformas que jogaram os direitos do povo no lixo e colocaram a soberania do país num abismo, com a desistência de Luciano Huck as forças que organizam o continuísmo camuflado de Michel Temer ficaram privadas de uma candidatura sem as mãos sujas pelo golpe que afastou Dilma e abriu as portas para uma etapa especialmente nefasta da história brasileira.  

Envolvendo derrotas que atingem a consciência dos brasileiros em pontos fundamentais — como a CLT, a Petrobras, a ambição de desenvolver o país — o debate de 2018 inclui escolhas que a maioria da população carrega na ponta da língua e podem ser decisivas na corrida às urnas. Essa situação explica o imenso apoio a Lula — mas não só. Também demonstra esforço das forças que deram os votos e o indispensável respaldo a Michel Temer, em todos os momentos desde o trágico abril de 2016, para encontrar um candidato sem folha corrida. O objetivo é promover uma operação destinada a fugir de um debate político necessário para assegurar um consenso artificial, construído em torno de maquinas econômicas e da mídia que, mesmo representando interesses de 1% da população, em vários momentos de nossa história já se mostrou capaz de se impor ao conjunto do país.

A mais conhecida profecia sobre a campanha eleitoral de 2018 é uma fabula que fazia sentido em outra circunstância mas perdeu validade. Imaginava-se que Michel Temer estaria condenado, no ano que vem, a desempenhar um papel idêntico ao de José Sarney em 1989, quando o presidente da República participou da campanha como um simples fantasma, com dois candidatos — um do PMDB, outro do PFL — sem nenhuma capacidade para polarizar a disputa. Essa visão está errada, em minha opinião, pois ignora um dado básico da situação política.

Enquanto Sarney chegou ao fim do mandato como uma ruína em todos os níveis, o desempenho de Temer é igualmente uma tragédia mas de outra natureza. Ao contrário de Sarney, que se descobriu só e abandonado, Temer pode e deve ser considerado como um desastre para 97% dos brasileiros. Mas é visto como um aliado seguro e até certo ponto insubstituível por aquele 1% que concentra a riqueza e o poder econômico, cultiva relações privilegiadas como os mercados internacionais e tem à disposição uma máquina de recursos capaz de assegurar uma influência política infinitamente maior do que sua base social real e os interesses de fundo que representa. Resumindo: a vontade do povo está contra Temer. Mas o poder imperial e seus braços instalados no país trabalham a favor de sua continuidade.

Em 1989, os aliados do poder imperial e de uma integração subordinada à economia mundial estavam na oposição a Sarney. Ganharam o pleito com Fernando Collor e um discurso moralizante enganoso, com vários pontos de contato com a parafernália ideológica que acompanha a Lava Jato. Na década de 1980 a ditadura militar fora desmantelada pela insurgência expressa nas Diretas-Já e a nova ordem — apenas denunciada pela carta de 1988 — não fora construída. Em 2018, a ordem do Estado Mínimo — vamos chamar assim — está de pé e avançará a passos ainda mais largos se a reforma da Previdência não for contida. O país do Estado Mínimo continuará de pé por anos, quem sabe décadas, se não for vencido. A dramática sobrevivência de um pinochetismo sem Pinochet, no Chile, mostra o risco que os brasileiros estão correndo. Ninguém tem o direito de se enganar.

Ainda que o político Temer pareça condenado ao cemitério, a disputa em 2018 irá ocorrer entre os adversários das reformas aprovadas  e seu continuísmo. Do ponto de vida da maioria dos brasileiros, não há nem pode haver a perspectiva de acomodação ou meio-termo. O horizonte necessário é de um plebiscito entre a preservação ou revogação do mais nefasto pacote de mudanças que os brasileiros enfrentam desde a revolução de 1930. É em torno desse debate, essencial, que eleitores e candidatos devem ser chamados a se posicionar na campanha, impedindo que, por motivos operacionais do ponto de vista eleitoral, o continuísmo do retrocesso, iniciado em abril de 2016, possa se apresentar de forma camuflada e dar sequência à destruição de um país — com vocação para soberania — em colônia dependente e envernizada.

Não pode haver dúvida a respeito de um ponto. Inteiramente satisfeitos com o conjunto da obra de Temer mas temerosos pelo caráter radioativo de seu círculo de poder, os continuadores irão à luta como aliados constrangidos mas interesseiros, fazendo o possível para esconder a identidade secreta, vergonhosa, inconfessável. Por essa razão procuram um candidato de cara limpa, sem história para esconder — Luciano Huck foi a primeira experiência nesse sentido. Outras virão. Podem ser testadas e descartadas — ou não — até a reta final. O próprio Huck já admite mudar de ideia…quem sabe se a cabeça de Lula lhe for oferecida numa bandeja pelo TRF-4, ainda o plano A de muitos círculos influentes.  

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. O candidato de Michel Temer é

    O candidato de Michel Temer é Michel Temer. A nomeação de Carlos Marum é o indicativo dessa pretensão. Há indicações

    de linha de frente que são simbolicas de pretensões de poder. Marum NÃO é um articulador politico, é tropa de choque.

    Em 1945 quando Getulio indicou seu irmão Bejo Vargas para a Chefia de Policia do Distrito Federal signficiou que não haveria eleições em dezembro de 1945, o mundo politico e militar fez essa leitura e Dutra e Goes Moneurio depuseram Vargas.

    A nomeação de Segovia para a Policia Federal, uma indicação politica, tambem compõe essa pretensão.

    Para Temer o capital politico gerado pela sua leitura de “retomada da economia” dá alicerce a reeleição.

    Temer não vai entregar de bandeja esse capital politico para Meirelles, que não tem base eleitoral

    O “centro democratico” e o PMDB não tem canidato, a cadeira está vaga, Temer é a solução logica na visão de Temer.

    Falta combinr com a Globo, com o mercado e com os Estados Unidos.

    1. É preciso temer Temer.

      Pela bandidagem explícita praticada, pela alta traição à sua companheira de chapa, Dilma Rousseff, há de se temer Temer. Sem caráter, sem compostura, sem honestidade, sem dó nem piedade dos brasileiros desvalidos, dos miseráveis que trabalham doze horas por dia por um prato diário de arroz e feijão para oferecer à família. Mas, pelas vias legais, Temer é uma impossibilidade teórica e prática. Embora nada seja impossível neste Brasil varonil, as chances dele hoje são inferiores a 1%. Nem os 3% que aprovam seu mandato votariam nele. Mas há um truque que já está fermentando: emenda constitucional canalha. Como? Aprova-se o parlamentarismo e permite-se que o Presidente da República se candidate ao oarlanento sem descompatibilização. Temer se elege deputado federal (isso são favas contadas) e na “eleição” para primeiro ministro, ele ganha de lavada. Mais canalha do que isso, só Temer e a lava a jato.

  2. “Ainda que o político Temer pareça condenado ao cemitério”

    Não posso perder o “time”.

    Temer, que veio das trevas, mora nas trevas e alimenta as trevas não vê o cemitério como condenação.

    O cemitério, antes de tudo, é a extensão de seu lar enquanto ser das trevas.

    O menear de suas garras ressequidas a cada discurso feito,  vangloriando-se das maravilhas de seu governo, só vêm confirmar a confiança que ele tem de estar caminhando pela trilha certa em agrado aos seus apoiadores.

    Nada o assombra,

    Nada o detém

    Não teme ninguém.

     

     

      

  3. Erro de Lula

    Ao fazer acordos com o PMDB permitira novamente que um congresso controlado pelo PMDB se elega. Ele deveria se esforçar para eleger um congresso de esquerda

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