Ex-presidente do TCE-RJ detalha acerto de mesada para abafar apuração de ônibus

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Divulgação/TCE-RJ
 
Jornal GGN – Em depoimento à Operação Lava Jato do Rio de Janeiro, o ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE), Jonas Lopes de Carvalho Júnior, confirmou que cinco dos seis conselheiros da época receberam uma mesada de empresários de ônibus para fazer “vista grossa” a denúncias e acertaram o esquema na casa de Jorge Picciani, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
 
Jonas Lopes contou, durante a audiência de processo da Operação Ponto Final, desdobramento da Lava Jato, que tudo começou após o TCE determinar que a Fetranspor devolvesse R$ 90 milhões que teriam sido desviados de créditos expirados do Bilhete Único. A suspeita dos procuradores da República é que Picciani seria um dos beneficiários desses créditos.
 
Logo após a determinação do TCE, o próprio deputado Jorge Picciani teria feito o convite para uma reunião, que estaria presente também o ex-conselheiro da Fetranspor, José Lavouras. O então conselheiro narrou que participou da reunião.
 
“Eles ponderaram (sobre o pedido do TCE), e eu disse que não voltaria atrás na decisão. Ele, Lavouras, fez oferecimento com ajuda do Picciani, numa conversa a três, de pagar um valor ao Tribunal de Contas para que tivesse ‘boa vontade’ com os processos do setor de transportes. Falei que o acordo não implicava voltar atrás em alguma decisão”, afirmou Lopes.
 
Aceitando o pedido, o ex-presidente do TCE afirmou que a mesada teria sido de R$ 70 mil a cinco conselheiros para ter a “boa vontade” em casos posteriores envolvendo empresas de ônibus. 
 
As acusações do Ministério Público Federal (MPF) dão conta que o esquema de corrupção deflagrado é um dos mais antigos no estado do Rio de Janeiro, com atuação em diversos governos, mobilizando uma estimativa de R$ 500 milhões em desvios para empresários, agentes públicos, políticos e órgãos de fiscalização.
 
O ex-presidente do TCE foi afastado do cargo de conselheiro após a deflagração da Operação Quinto do Ouro, que indicou recebimento de propinas por integrantes do Tribunal, mas após pedir aposentadoria, foi afastado definitivamente e passou a receber o salário de aposentado.
 
O caso da relação de subornos envolvendo investigação pelo Tribunal de Contas do Rio sobre o setor de transportes já data de 2013, quando após uma auditoria, foi constatada irregularidades nas licitações e que os próprios conselheiros do TCE sugeriram a ele que procurasse dirigentes da Fetranspor para pedir propina em troca de “minimizar” a atuação do Tribunal.
 
Posteriormente, em 2015, já havia sido chamado para uma reunião com o governador Luiz Fernando pezão, o ex-secretário de transportes Carlos Roberto Osório (ex-PMDB e atual PSDB) e o ex-procurador Leonardo Espíndola, para arquivar investigação envolvendo o mesmo esquema de créditos expirados do Bilhete Único.
 
Jonas Lopes de Carvalho Júnior denunciou, ainda, o ex-governardo Sérgio Cabral, afirmando que chegou a contar a ele sobre as apurações do TCE, consciente de sua “amizade, ou melhor dizendo, do seu relacionamento forte com empresários do setor de transportes”. Cabral, na ocasião, pediu que a auditoria fosse feita apenas após as eleições de 2014, o que foi atendido parcialmente, narrou o ex-conselheiro.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. Ex….

    Então Presidente do Tribunal de Contas (órgão que só existe para fiscalizar contas, e supostos crimes e desvios) sabia das práticas criminosas sobre Tarifas e Serviços de ônibus Urbanos? Então outros Conselheiros também sabiam? Então Procuradores e Promotores destes Tribunais também sabiam? Então a Justiça Comum, seus Juízes e toda estrutura também sabia? Então Procon, Coafe, Cade, também sabiam?  Então Procuradores e Promotores da Justiça Comum também sabiam? Então Órgãos de Defesa e OAB também sabiam? Então Departamentos Juridicos destas Instituições todas também sabiam? E NÃO FIZERAM NADA?!!! Então o problema não é só corrupção. É Cumplicidade, Formação de Quadrilha dentro do Estado Brasileiro. Uma farsa de Estado Brasileiro. Todos jurando a melhoria do serviço público, enquanto extorquiam a miséria carioca e fluminense.A Pobreza sendo levada a miséria. E a miséria à aberração. Entendemos as pauladas para quem tenta pular a catraca. Outra paulada para quem ousa tentar algum tipo de concorrência, como Lotação ou Aplicativo. A mão pesada e armada do Estado a defender seus Feudos. Baratas, Lavouras, Gilmar, Cabral, Dória, Zveiter, Alckmin, Subsídios e outros Vermes. O Estado que não pode ceder à uma criança o direito de ir até a Escola. A miséria extorquido em 80% diários de passagens de transporte coletivo a subvencionar Bandidos. Seus Colarinhos Brancos e suas Togas. O Crime Organizado são os outros. A Elite também. O Brasil é de muito fácil explicação.    

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