Que morram! Por Paulo Calmon Nogueira da Gama

Para desembargador, reportagem insere a ideia de que policiais tem direito de aplicar pena de morte contra suspeitos

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Que morram!

Por Paulo Calmon Nogueira da Gama*

Leio hoje no principal veículo do maior conglomerado da mídia nacional a seguinte matéria: “Sete dos dez mortos em operação no Complexo da Penha somam 135 passagens [na polícia]”

Essa matéria e sua manchete, desavergonhadamente, inoculam a ideia de que à polícia deve ser dado o direito de aplicar a pena de morte contra suspeitos.

De nada vale a Constituição vedar a pena de morte e dizer que qualquer pena, para ser legítima num Estado de Direito, pressupõe o devido processo legal, a ampla defesa e a decisão ser emanada de um juiz imparcial.

Essa matéria e sua manchete, ao dizer que 3 dos mortos “não tinham passagem”,  induzem a “opinião pública” a concluir que vale a pena abater 7 suspeitos “com passagens” (pouco importa se já definitivamente processados e condenados!), mesmo que isso signifique o sacrifício de 3 pessoas inexoravelamente inocentes. É pura matemática fascista: vale a pena matar 3 inocentes para abater 7 suspeitos.

Essa matéria e sua manchete explicam bem o porquê do flerte brasileiro com o fascismo nesta última quadra e seus reais e ocultos patrocinadores.

Essa matéria e sua manchete mostram a imprensa corporativa apontando para si, sem disfarce, com eloquência incomum, para esclarecer quem foi o verdadeiro responsável pelo choco do ovo da serpente.

Essa matéria e sua manchete são repugnantes e repulsivas como o propósito inconfesso que as embalam!

* Paulo Calmon Nogueira da Gama, Mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio, Desembargador.

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Redação

3 Comentários

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  1. De passagem de frente a uma TV sintonizada num telejornal matutino da Rede Globo, ouço a jornalista noticiar que a Rússia bombardeou uma cidade Ucrânia, matando 8 civis, que não mereciam, por serem inocentes. Ou seja, segundo a Rede Globo, guerra é prá matar militares, que são culpados pela guerra, não civis, que são inocentes. Ora, o serviço militar na Ucrânia é obrigatório, logo, os militares também são inocentes. Culpada é a classe sanguessuga da Ucrânia, não pessoas que são compelidas a fazer guerras e servir de bucha de canhão nas guerras dos magnatas.

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