Quem é o advogado de Eduardo Cunha, Marlus Arns?

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Ao ser preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, nesta quarta-feira (19), o peemedebista Eduardo Cunha contratou o advogado Marlus Arns para a sua defesa na Operação Lava Jato. Marlus, que já faz a defesa técnica da esposa de Cunha, Cláudia Cruz, passou a ser conhecido por costurar acordos de delação de empreiteiros e outros investigados de Sérgio Moro. Mas, para além da Lava Jato, Marlus Arns guarda relações e movimentos polêmicos em seu currículo.
 
O nome não é alheio ao universo político. Marlus é da família do tucano Flávio Arns, mais especificamente o sobrinho do secretário para Assuntos Estratégicos do governo de Beto Richa, no Paraná. E foi neste campo que o advogado foi privilegiado em contratações sem licitações de estatais paranaenses. Mas como seu nome surgiu nas tramas da Operação Lava Jato?

 
No atual caso, Marlus foi responsável pelas negociações dos acordos de colaboração dos empreiteiros da Camargo Corrêa, Dalton Avancini, Eduardo Leite e Paulo Augusto Santos, além do empresário João Bernardi Filho. O advogado também atuou na defesa técnica do ex-assessor parlamentar de Pedro Corrêa (PP-PE), Ivan Vernon, de Valério Neves, ligado ao ex-senador Gim Argello (PTB-DF), e do ex-assessor de José Janene (PP – morto em 2010), João Cláudio Genu.
 
Em agosto de 2015, Luis Nassif mostrou que o novo campeão das delações premiadas integrou o lobby em favor das APAEs (Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais) contra a educação inclusiva, quando seu tio, Flávio Arns, era Secretário de Educação do Paraná (2011-2014). 
 
Foi sob a gestão de Flávio Arns na educação paranaense, que as APAEs conseguiram obter R$ 420 milhões, sem rígidos controles, apenas para competirem com os investimentos do MEC (Ministério da Educação) na rede pública federal. E foram nessas ações das APAEs no Estado que o sobrinho foi indicado para atuar.
 
Não era a primeira polêmica do advogado. 
 
Em fevereiro de 2013, chegou ao conhecimento da mídia o fato de que a Companhia de Saneamento do Paraná, a Sanepar, entrou para a mira de multas e indenizações que atingiam a casa dos R$ 800 milhões, por ações do Ibama, do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e de prefeituras municipais. Muitas delas provenientes da acusação de despejo de esgoto in natura no Rio Iguaçu, precariedade na manutenção e outras irregularidades deflagradas na Operação Iguaçu-Água Grande.
 
Nessas ações, a Sanepar cometeu mais irregularidades. Abdicou de usar a Procuradoria-Geral do Estado (PGE) na defesa dos casos e contratou por R$ 960 mil, sem licitação, dois advogados de Curitiba. Um deles, Marlus Arns, afortunado por contrato que ultrapassaria os R$ 1 milhão em valores atuais.
 
Dentro da estatal, Marlus ainda tornou-se advogado pessoal do diretor da Sanepar, Ezequias Moreira, o pivô do caso da “sogra fantasma”. Ezequias era chefe de gabinete de Beto Richa na Assembleia e na prefeitura de Curitiba e foi acusado por sua sogra, Verônica Durau, ter recebido salários por 11 anos do Legislativo estadual, sem trabalhar. Pouco tempo depois, Ezequias Moreira foi ainda nomeado secretário especial de Cerimonial e Relações Internacionais do Paraná.
 
Um ano antes, em fevereiro de 2012, Marlus Arns também foi o agraciado por receber simplesmente toda a advocacia trabalhista da Fundação Copel de Previdência e Assistência Social de Curitiba. Apesar de ser uma empresa de direito privado, não se submetendo ao regime de licitações, tem a obrigação de dar tratamento igual a fornecedores qualificados em processos de seleção e contratação. 
 
Meses antes de a Copel fechar contrato com o escritório Arns de Oliveira & Andreazza Advogados do sobrinho advogado criminalista (e não em direito do trabalho), Flávio Arns anunciava uma possível parceria entre a Secretaria de Educação e a Fundação Copel. 
 
Mas as polêmicas relações de Marlus Arns em Curitiba não param aí. Em outubro de 2015, Nassif recuperou que a esposa do juiz Sérgio Moro, Rosângela Wolff de Quadros Moro, trabalhou no departamento jurídico da Federação das APAEs e teria atuado no assessoria jurídica de Flávio Arns. E a própria Federação das APAEs teria como escritório de advogacia terceirizado o do sobrinho, Marlus.
 
A relação com Moro e a equipe da Lava Jato se estende: o irmão de Marlus, Henrique Arns de Oliveira é diretor-geral do Centro de Estudos Jurídicos Luiz Carlos, que lançou em outubro do ano passado o módulo de Direito Penal Econômico, figurando como professores o procurador da República Deltan Dallagnol e o magistrado do Paraná, Sérgio Moro.
 
E, curiosamente, antes de se tornar o advogado das delações premiadas da Lava Jato, conduzindo os acordos de Dalton Avancini, Eduardo Leite e Renato Duque, entre outros, Marlus posicionava-se contra o instrumento jurídico, segundo revelou reportagem da Folha de S. Paulo, em agosto de 2015. “Professor da Academia Brasileira de Direito Constitucional, ele sempre falou contra o instituto, e diz que provavelmente continuaria fazendo isso se não tivesse entrado na operação”, publicou o jornal. 
 
No “pós-Lava Jato”, o discurso mudou. Com a grande procura dos réus de Sérgio Moro, admitiu que “não dá para negar”.
 
Agora, o sobrinho é o advogado de Eduardo Cunha.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

12 Comentários

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  1. esteja onde estiver, seja qual for a época e função…

    todo tucano funciona como um elemento de ligação para que outros tenham condições de dar bem financeiramente

    Cunha apenas soube ouvir ao chamado, feliz e realizado, como Youssef soube ouvir várias vezes, sem nunca ter recebido uma punição exemplar ou capaz de alterar sua vocação tucana

  2. Fiquem tranquilos, Moro irá

    Fiquem tranquilos, Moro irá tratar de Cunha com muito carinho!

    Será que a Lava Jato obrigou Cunha a contratar este advogado? Faz parte do acordo?

    Moro fala grosso com a esquerda e fino com a direita!!

  3. Atacar o advogado de Cunha

    Atacar o advogado de Cunha não é uma boa estratégia. 

    Ao fazer isto, o blog só conseguirá duas coisas:

    a) dar ao advogado a oportunidade de solicitar à OAB que defenda as prerrogativas profissionais dele, dentre as quais de exercitar a advocacia sem ser molestado por quem quer que seja;

    b) desviar a atenção do público de um problema bem maior (a evidente parcialidade que já foi demonstrada por Sérgio Moro nos casos em que os réus tem outros defensores).

    As regras que regulamentam impedimento e suspeição não se aplicam aos advogados, mas aos Promotores e Juizes. Por razões óbvias nenhum advogado pode ser punido porque o Promotor ou o Juiz atuou num caso do qual deveria se afastar em razão do impedimento ou suspeição.

    O foco no advogado é irrelevante. No Juíz, porém, o foco é fundamental. Especialmente em casos que adquiriram notoriedade como o da Lava Jato. 

    1. Liberdade de imprensa e jornalismo sério

      O jornalista Luis Nassif não está atacando o advogado do Cunha. Ele está apenas praticando um jornalismo sério. Aquele no qual as notícias são dadas. Os fatos são como eles são. Ele não inventou nada disto. É muito importante para se entender os fatos, a relação entre o advogado do Cunha e o juiz e procuradores que investigam e julgam o caso (digo investigam e julgam, porque a separação entre o MP e o Judiciário não existe na república do Paraná). O que nos dá condição de entender o porquê da contratação deste advogado em especial. O Cunha não contratou este advogado atoa. Ele sabe da relação íntima que ele tem com o Moro e com os procuradores do Paraná. Se bobear, os procuradores e o juiz devem estar até combinando o que o réu tem que dizer. E o que o Cunha dirá não afetará nenhum político importante de direita. E muito menos contra um político do PSDB. Afinal, o advogado (família Arns) é do PSDB. Ele é tucano. A estratégia do Judiciário e o MP não é combater a corrupção. É a de colocar o PSDB no poder.

    2. IMPEDIMENTO

      Não se trata de atacar ninguém. Se trata de que a relação próxima com os procuradores da Lava Jato ( são colegas de turma; dão aula na escola particular de Henrique Arns, irmão de Marlus; a ESPOSA DO JUIZ MORO TRABALHA COM MARLUS NA DEFESA DA APAE E na Arns de Oliveira & Andreazza Advogados; OU TRABALHOU) .

      Se não me falham as aulas de Direito Processual, o  operador do Direito que se declare SUSPEITO OU QUE SEJA IMPEDIDO de atuar no processo, deve ser afastado do caso.

      Está na cara que tem milhões de reais envolvidos nos honorários dessas delações .

      Isso é inaceitável.. É ABOMINÁVEL.

       

       

  4. dinheiro compra

    Dinheiro compra cala boca.
    Dinheiro tá bem vivo.

    Contudo, dimdim não é 100% eficaz e pode trair.
    Cuidado Temer, traíra Cunha vai te pegar !  KKK

  5. Gostaria de uma confirmação.

    Gostaria de uma confirmação. Pelo que sei, Flavio Arns é Senador pelo Partido dos Trabalhadores, logo, não é tucano.

  6. O real possível e o imaginário impossível

    Algumas pessoas imaginam um mundo e, ao imaginarem esse mundo,  para essas pessoas, ele realmente existe.

    Logicamente, que o contrário não é verdadeiro. O fato de se imaginar algo, não torna esse algo irreal.

    Como diria Platão.  Pode-se imaginar uma pessoa sentada (e isso existe). Pode-se imaginar também alguém voando livremente pelos céus, mas isso não existe.

    Toda essa filosofia, é para dizer que não existe duas humanidades. Apenas uma. E, por conta disso, não é possível dividir as pessoas entre “boas” e “más”. Como alguns imaginam.

    Somos bons e maus, em maior ou menor grau.  

    Querer dividir o mundo em dois é impossível, por mais que alguns acreditem nisso. (Não confundam uma máquina impulsionando as pessoas pelo céu, com alguém batendo braços e pernas e voando por aí.)

    A única solução é o diálogo e, a partir dele, a construção de regras e a tentativa de fazer elas valerem para todos, com a devida parcimônia que um julgamento desse tipo exige.

    Em suma, em virtude da humanidade ser uma só, é impossível eliminar a “corrupção” do mundo. A única possibilidade é trocar uns “corruptos” por outros. O que está ocorrendo na prática.  

    Não esqueçamos. A humanidade é uma só. É o mesmo Brasil de sempre, e assim será. Ele só pode evoluir lentamente. Nunca transformar-se completamente, a menos que as pessoas deixem de ser humanas e se transformem em outra coisa – um ser que não existe, apesar dos sonhos de alguns. 

    Ao olhar pela vidraça, não podia mais distinguir quem eram os humanos e quem eram os porcos.

    A única lição das (guerras e) revoluções nazifacistas (direita) ou totalitárias (esquerda) é que elas não são o caminho para um mundo melhor. Nós, humanos, depois delas, continuamos cheios de vícios e virtudes como sempre. A diferença, após esses períodos, é que ficamos mais solitários.

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