Revista não divulga íntegra de delação e iguala Pezão e Paes a Lindbergh

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A delação premiada do superintendente da Odebrecht no Rio de Janeiro, Leandro Azevedo, também parece ter sido vazada à imprensa. Desta vez, no entanto, a revista Veja não diferenciou se o conteúdo dos depoimentos que atingem o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), o prefeito Eduardo Paes (PMDB), o ex-governador Anthony Garotinho e sua esposa Rosinha, e o senador Lindbergh Farias (PT) partiram dos acordos ou dos depoimentos prestados aos investigadores da Operação Lava Jato.
 
Por outro lado, enquanto as acusações de repasses como caixa dois a Pezão, Paes e Garotinho são recheadas de maiores descrições e indícios de práticas ilícitas, o trecho que mira o senador petista carece de sustentação ou detalhes.
 
Contra Pezão, o então executivo da empreiteira no Rio relata que o governador teria recebido R$ 23,6 milhões em dinheiro vivo e outros 800 mil euros em contas no exterior durante a campanha de 2014 para, em troca, ajudar na liberação de verbas para a Odebrecht. 
 
A intermediação do repasse seria feita pela agência de publicidade Prole, no Rio, que prestava serviços à campanha de Pezão. “Os pagamentos em dinheiro vivo foram feitos na Prole, do marqueteiro Renato Pereira. A conta no exterior, no Banif, também era da agência”.
 
Da mesma forma como Pezão, o objetivo de financiar campanhas do prefeito Eduardo Paes (PMDB), que seria beneficiário de outros R$ 11,6 milhões no Brasil e 5,7 milhões de dólares em contas no exterior, era manter os interesses da empreiteira na gestão dos peemedebistas.
 
De acordo com o anexo escrito pelo delator, o propósito “era manter o acesso privilegiado da companhia a agenda de Eduardo Paes, permitindo que pudéssemos tratar diretamente com ele, sem burocracia ou qualquer dificuldade, sobre atrasos de pagamentos ou qualquer problema na execução de nossos contratos”.
 
Detalhou que os repasses eram acertados por Benedicto Junior, o presidente da Construtora Norberto Odebrecht, diretamente com os políticos, mas ao delator, Leandro Azevedo, cabia negociar as formas e periodicidade dos pagamentos de caixa dois. 
 
Outros detalhes são apresentados, como encontros e reuniões dos peemedebistas com executivos da Odebrecht. “Em reunião realizada no Palácio da Cidade, situado na Rua São Clemente, Botafogo, Rio de Janeiro/RJ, Pedro Paulo orientou-me a efetuar pagamentos a Renato Pereira da agência de publicidade Prole responsável pela campanha de todo o PMDB no Rio de Janeiro”, narrou, segundo a revista.
 
O deputado federal, derrotado na prefeitura do Rio na última eleição, Pedro Paulo era o então coordenador da campanha de Paes. As negociações passavam por ele, e os repassses chegavam por intermedio de Renato Pereira, dono da Prole. 
 
“Eu questionei a Pedro Paulo como eu combinaria os pagamentos com Renato Pereira, quando então ele me disse que Renato estava do lado de fora da sala e entraria na sequência para tratar deste assunto. Combinei com Renato que os pagamentos seriam feitos via entregas semanais/quinzenais de dinheiro na[…] na Urca”, afirmou, detalhando locais e datas.
 
Já para as remessas à campanha de Paes por contas no exterior, o delator explicou que eram feitas para contas em paraísos fiscais de Bahamas e na Suíça.
 
Apesar de trazer muitas descrições, a revista que teve acesso ao documento explicou que se tratava de um “anexo” da delação, sem mencionar especificamente se era referente ao acordo prévio com a Lava Jato ou à delação em si.
 
Outro que “aparece nos anexos”, assim publicou a revista Veja, é o casal Anthony Garotinho e Rosinha. Com relação a ambos, as irregularidades se estendiam para licitações em Campos do Gytacazes, cidade em que ela era prefeita, sobre casas populares do programa “Morar Feliz”, limitando à Odebrecht a vencer a concorrência.
 
Em troca, a empreiteira teria pago R$ 9,5 milhões em contribuições oficiais e caixa dois às campanhas de ambos entre 2008 e 2014. “Diante deste cenário, os fatos me levam a crer que os referidos editais, relativos aos Programas “Morar Feliz I e II” foram lançados levando em consideração que a única empresa grande que teria condições e interesse de fazer a obra era a Odebrecht, o que seria a contrapartida aos pagamentos realizados a pretexto de doações de campanha feitos em 2008”, diz trecho do anexo.
 
Em resposta, Pezão disse que não irá comentar “informações vazadas” e “seletivas” e que todas as suas doações de campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. Eduardo Paes também disse que não comentaria, mas “nega que tenha praticado ou autorizado qualquer ato ilegal para arrecadação de fundos da sua campanha à reeleição em 2012”.
 
Anthony Garotinho disse que o delator deverá provar em qual banco e qual o número de conta ele teria recebido esses depósitos. “Querer me comparar a Sérgio Cabral ou outros políticos que usam o governo para enriquecimento pessoal não é justo, nem muito menos verdadeiro”, manifestou.
 
 
Por fim, a revista não deixou de acusar o petista Lindbergh Farias nos conteúdos da suposta delação de Leandro Azevedo. Apesar de representar o ninho carioca de interesses entre o Executivo e a empreiteira, o delator afirma que a construtora arcou com R$ 3,2 milhões em caixa dois às campanhas de Lindbergh ao Senado, em 2010, e à prefeitura de Nova Iguaçu, em 2008.
 
Ao contrário das descrições de suposto favorecimento a peemedebistas, com detalhes do que eles fariam em troca dos repasses, apesar de informar o caixa dois, Azevedo disse que o pagamento “ilícito” ocorreu apenas porque a cúpula da empresa “o considerava um político promissor, com possibilidade de um dia chegar ao Palácio do Planalto”.
 
Ainda, um suposto favorecimento à Odebrecht é contraditório na narrativa. Leandro Azevedo conta, segundo Veja, que o senador petista lançou o programa Pró-Moradia, por meio do Ministério das Cidades, em 2007, e que a empreiteira venceu uma das licitações, em dezembro daquele ano. Entretanto, outras duas empresas também teriam alcançado outras parte do contrato para as obras, a Melo Azevedo e a Carioca Engenharia.
 
Também faltam indícios de que partiu do senador, e não de agentes do Ministério da Cidades ou do Executivo, que atuaram para supostamente favorecer a empreiteira nas licitações, uma vez que eram projetos do governo federal.
 
Em resposta, o parlamentar lembrou que recentemente a Polícia Federal arquivou uma investigação aberta por motivo semelhante, concluindo “o óbvio: a denúncia era falsa. Novamente, nada encontrarão porque nada há. Da minha parte, não tenho o que temer”.
 
“São mais de vinte anos de vida pública; não possuo aplicações financeiras, patrimônio acumulado, vivo única e exclusivamente do meu salário e moro com a minha família em um apartamento alugado. Política, para mim, não é um negócio, não é para enriquecer nem conquistar privilégios”, disse o senador em nota.
 
“Acho um absurdo ver meu nome ao lado de figuras da política que protagonizaram escândalos envolvendo apartamentos de luxo, denúncias de corrupção e enriquecimento pessoal. Nunca vendi minhas posições; minha trajetória é na luta em defesa dos direitos do povo trabalhador, e nunca permiti interferências privadas nas batalhas que travei”, concluiu Lindbergh.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. Lindbergh tem que mover uma

    Lindbergh tem que mover uma ação contra Marco antônio Villa, que ontem o chamou de bandido duas vezes na tv cultura, entre outros adjetivos. 

    Em todas as divulgações de denúncias contra políticos de outros partidos, sempre existirá o nome de um ou dois petistas, porque é preciso que o povo não esqueça que o PT também tem contas a pagar, como se fossem poucas as arbitrariedades cometidas contra esse partido.

    Não vai dar em nada essa acusação contra Lindenbergh. O nome dele tá só pra fazer número.

  2. Tá dentro

    O lindinho não podia ficar de fora dessa. As ligações do Lindbergh com a contravenção e com o propinoduto já são conhecidas dos fluminenses, especialmente os de Nova Iguaçu.

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