Temer inicia embate a Barroso e STF por meio de governistas e Marun

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Michel Temer e o ministro Carlos Marun traçam estratégias para garantir apoio e segurar imagem do governo – Foto: Alan Santos/PR
 
Jornal GGN – Ativo na empreitada do presidente Michel Temer de se apresentar como vítima da Justiça nos dois processos a que é alvo no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, assumiu para si a recente rixa direta do mandatário com manifestações públicas do ministro Luis Roberto Barroso. Disse agora que irá se licenciar do posto no Executivo para poder pedir o impeachment do juiz.
 
Marun voltará a ser deputado federal, posto que ficou conhecido por sua ampla proximidade com o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, alvo da Lava Jato. O anúncio foi dado nesta quinta-feira (05), um dia após as polêmicas declarações de Barroso, que em palestra em Universidade Privada de Brasília disse ao governo que assim como “há tempo de falar”, “há tempo de calar”.
 
Nesta quarta, o ministro usou a Bíblia para mandar o presidente ficar calado e ainda afirmou que, com a benção de Deus, cumpre a missão de sua vida. “Está lá no Eclesiastes, há um tempo de falar e há um tempo de calar”, disse. “Quando a gente cumpre a missão da vida da gente, elogio ou crítica não fazem muita diferença. A gente sabe para onde está indo, que é empurrando a história para onde ela deve seguir”, completou na palestra.
 
Mas o ato de Marun foi a materialização da resposta e da vontade do próprio mandatário que, por ética do posto, confronta o ministro da Suprema Corte até um certo limite. Depois, cabe aos aliados governistas seguir com a rixa direta, podendo interferir em seus nomes sem que influa na posição que têm hoje junto ao governo Temer.
 
Esse foi, inclusive, o motivo da reunião convocada nesta semana pelo mandatário no Palácio do Planalto. A congressistas, planejou moedas de troca para garantir o apoio à sua imagem antes das eleições. Como bonificação, estratégias para um possível futuro governo, ainda de sucessor indefinido pelo mandatário, como ministérios, além de incentivos que importam em períodos pré-eleitorais, como a liberação do que resta do Orçamento a emendas parlamentares.
 
As emendas servem de bandeira direta para os congressistas estamparem em palcos eleitorais e garantir redutos e eleitores para se manterem, seja na Câmara, seja no Senado. Mas a atuação mais forte de Temer tem conseguido resultados é na primeira Casa Legislativa, onde figuras como Carlos Marun se sobrepõe diante da crise de imagem dos representantes no Senado – lembrando que o líder do governo Romero Jucá (MDB-RR) está sendo alvo de inquéritos e tornou-se, recentemente, réu na Operação Lava Jato.
 
Cabe a nomes ainda relativamente escondidos no cenário de investigações políticas, como o de Marun, para liderarem o embate e a criação e o fomento de que o governo estaria sendo vítima da guerra do Judiciário e da própria Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, indicada pelo mandatário.
 
Nesse sentido, o deputado que não receia o confronto e, ao contrário, apenas recebe garantias de apoios futuros de Temer e de seu grupo político, pedirá a exoneração do cargo de ministro da Secretaria de Governo para entrar com um pedido de impeachment no Congresso. Apesar das poucas chances de o processo resultar com exito no Legislativo, haverá campos de embates e críticas diretas, com tempo suficiente para alimentar a imagem de vítima do governo.
 
A estratégia já foi desenhada: “No momento da apresentação, pedirei licença do exercício da função de ministro do estado. Se o presidente entender que eu devo voltar, eu volto [à Secretaria de Governo]”. E com datas: “Provavelmente, [a licença do posto] na próxima sessão do Congresso Nacional, que deve acontecer na primeira semana de abril”.
 
Mas ao público, a justificativa foi outra de Marun: “Tomei o máximo cuidado no sentido de que não estivesse extrapolando prerrogativas minhas. E ontem cheguei à conclusão que tenho, sim, o direito e a prerrogativa de levar ao Senado Federal um pedido de análise de impeachment em função da preferência político-partidária estar interferindo na sua decisão”.
 
A medida possibilitaria, também, argumentos para, posteriormente, solicitar que a relatoria da investigação contra o mandatário seja mudada no Supremo, alegando suspeição.
 
O pedido terá como base a mudança por Barroso do decreto assinado por Temer que abranda regras para a concessão do indulto de Natal a presos. O ministro havia decidido que indulto não poderá incluir aqueles que foram condenados por “crimes de colarinho branco”, o que, de certa maneira, interfere na decisão do próprio presidente.
 
“As bases desse pedido de impeachment já estão assentadas, que é a parcialidade e o comportamento, e o viés político-partidário de algumas decisões que têm sido tomadas pelo juiz do Supremo, o senhor Barroso”, disse.
 
O ex-deputado e atual ministro da Secretaria de Governo admitiu que o texto do pedido de imepachment já estava sendo produzido por “advogados amigos”. 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

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  1. O trator e o detrator
     

    Que marun é um trator, não resta a menor dúvida. Na defesa do mandatário danação passa por cima de todos como se obstáculos fossem.

    Revestido de trator quer passar por cima do barroso, só que ao fazer isso não estará só amassando barro: estará subindo um morro mais alto do que parece. Ele vai estar atacando um colegiado que tem espírito de porco, digo, de corpo,  e que vai contra atacar.

    Trator amassa barro, tritura pedras,  mas quando quer escalar uma montanha muito alta ou emborca ou  cai  sobre si mesmo.

  2. Nesse embate entre o governo
    Nesse embate entre o governo e um membro do STF, já sei para quem vou tocer. E vou torcer muito.

    Vou torcer para o capeta destruir os dois lado. Vamos lá capitoro, faça seu trabalho direitinho.
    Não me decepcione. Não deixe pedra sobre pedra.

  3. O que Barroso faz é diversionismo

    Sejamos claros: Temer é o presidente mais poderoso que a república teve em tempos democráticos. Mais forte que FHC do primeiro mandato! Conseguiu aprovar no Congresso  praticamente tudo. Restou a previdência, que pode vir no pós-eleição. Desmontou o estado brasileiro em todas as coisas. Montou uma maioria congressual inédita, com uma hegemonia de mídia e de opinião publicada que poucas vezes se viu. Na ditadura, Geisel, para aprovar a reforma do judiciário, teve que fechar o congresso.  No stf há um contínuo faz de conta, pois é claro que possui ampla maioria. Além disso, qualquer ação judicial contra ele nesse momento depende do Congresso. Ou seja, o que Barroso faz é diversionismo, fingir que está combatendo o bom combate e usando essa justificativa para condenar Lula e toda a esquerda que puder. 

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