Do Brasil de Fato
Viúva de Marielle, Mônica Benício cobra que seja feita justiça, após prisão de mentores do crime
Por Cristiane Sampaio
A vereadora do Rio de Janeiro e viúva de Marielle Franco, Mônica Benício (PSOL), cobrou neste domingo (24), em coletiva de imprensa, mais desdobramentos para garantir que seja feita justiça após o crime. “A gente, aos trancos e barrancos, [viveu] seis anos e 10 dias de muita dor, mas procurando forças pra encontrar e seguir de pé na luta por justiça. Sem dúvida nenhuma, hoje é um passo importante pra democracia e pra todo o Brasil, mas é também em algum lugar o início de uma nova luta. A gente quer que todos sejam responsabilizados, que todos sejam identificados, que a gente possa ter justiça por Marielle e Anderson”, afirmou.
Mônica acrescentou que “a motivação [do assassinato] é algo que precisa ser mais bem explicado”.
Ela também manifestou surpresa com o envolvimento do ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa no assassinato da esposa. Ele foi preso pela Polícia Federal (PF) como um dos mandantes do crime. A operação da PF mirou ainda os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão, também acusados de serem autores intelectuais do assassinato. No caso de Rivaldo, ele havia assumido o comando da corporação na véspera do atentado e é acusado de dificultar as investigações.
“Foram seis anos e 10 dias nessa espera. Por um lado, o nome da família Brazão não nos surpreende tanto. O nome de Rivaldo, pra nós, foi uma grande surpresa, em especial considerando que ele foi a primeira autoridade que recebeu a família no dia seguinte, dizendo que seria uma prioridade da Polícia Civil a elucidação desse caso. Hoje, saber que o homem o qual nos abraçou, prestou solidariedade e sorriu dizendo que esse caso teria extrema prioridade hoje tem envolvimento nesse mando é, pra nós, entender que a Polícia Civil não foi só negligente”, disse.
“Não foi só por uma falha que chegamos a seis anos de dor, mas em especial também por ter sido conivente com todo esse tempo de não elucidação do caso. A Polícia Civil não apenas errou, mas foi também cúmplice desse processo”, completou Mônica.
Ágatha Arnaus, a esposa do motorista Anderson Gomes, morto no mesmo atentado, disse esperar outras descobertas em torno do crime. “Não foram só os três. Tem mais gente que colaborou, que contribuiu de alguma forma. Falta muita coisa pra gente ter paz”, desabafou. Ágatha também disse que a prisão de Rivaldo Barbosa “foi um tapa na cara”. “É pisotear ainda mais, você saber que está envolvido e olhar no nosso olho e fazer promessas. É tão profundo e doloroso”, lamentou.
Em alinhamento com as reivindicações familiares, a Anistia Internacional emitiu uma nota cobrando as instituições brasileiras todos os envolvidos no crime, seja no mando, na execução ou no acobertamento, sejam investigados, julgados e punidos. Além de garantir que as famílias sejam reparadas.
“A Anistia Internacional renova sua cobrança pública por justiça. Instamos as autoridades brasileiras a garantir que todos os responsáveis pelo planejamento e execução do crime, bem como todos os responsáveis por eventuais desvios e obstruções das investigações, sejam levados à justiça em julgamentos justos que atendam aos padrões internacionais. O legado de Marielle só poderá florescer se o Brasil se tornar um espaço seguro para todas e todos que defendem direitos humanos”, defende a organização.
Os mandantes do caso foram presos em operação feita pela PF em parceria com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) e após análise do caso pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A ação veio dias após a homologação da delação de Ronie Lessa, acusado de ter executado o crime. Ele indicou que o deputado federal Chiquinho Brazão (União-RJ) seria mentor do crime, o que gerou o deslocamento do caso do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para o Supremo Tribunal Federal (STF), já que o parlamentar tem prerrogativa de foro.
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