À cidade da Bahia, por Gregório de Matos

Enviado por Felipe A. P. L. Costa

À cidade da Bahia

Por Gregório de Matos [1]

 

Triste Bahia! oh! quão dessemelhante

Estás e estou do nosso antigo estado!

Pobre te vejo a ti, tu a mim empenhado,

Rica te vi eu já, tu a mim abundante.

 

A ti trocou-te a máquina mercante,

Que em tua larga barra tem entrado,

A mim foi-me trocando e tem trocado

Tanto negócio e tanto negociante.

 

Deste em dar tanto açúcar excelente

Pelas drogas inúteis, que abelhuda

Simples aceitas do sagaz Brichote.

 

Oh! Se quisera Deus que, de repente

Um dia amanheceras tão sisuda

Que fora de algodão o teu capote!

*

Nota

[1] Gregório de Matos [Guerra] (1623?-1696), Extraído do blogue Poesia contra a guerra, o poema acima integra o livro A poesia de Gregório de Matos (Edusp, 1995), de Segismundo Spina (1921-2012),

Redação

1 Comentário

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  1. Esse é um dos meus poemas
    Esse é um dos meus poemas preferidos.
    É genial o trecho em que ele fala da máquina mercante entrando na barra do porto. Se for lido em voz alta, percebe-se que o poema imita o barulho de um navio da época chegando ao porto de Salvador para levar o açúcar embora.
    Mais atual, impossível!

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