A simplificação das obras de Machado de Assis

Sugerido por Nilva de Souza

Por Rildo Polycarpo Oliveira, via Facebook

“‘Entendo por que os jovens não gostam de Machado de Assis’, diz a escritora Patrícia Secco. ‘Os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem por frase. As construções são muito longas. Eu simplifico isso.’ http://goo.gl/bQC4Rw

É preciso lembrar que um texto literário não se reduz à sua forma e que o todo que apenas metodologicamente discernimos como forma e conteúdo não é dissociável, de modo que transgredir a forma é no melhor dos casos criar uma outra obra, mas nesse caso implica numa adulteração, numa falsificação.

Desde onde vejo, não vale muito a intenção de dar um feitio atual e juvenil à obra de Machado, porque é antes importante que os leitores se liberem do fetiche do presente, até mesmo do fetiche da própria juventude.

Seria preciso de novo uma outra ironia, talvez até revisitante da força irônica presente no texto machadiano. E os assuntos poderiam ser os mesmos, quase os mesmos, ainda outros. Do que se necessita é de literatura que se acrescente, inclusive por revisitação, mas não de arremedo mutilante.

É preciso não esquecer os riscos das banalizações facilitadoras; o que há de desistência, de resignação, de negligência nisso; o que há de mero achatamento das coisas em sua conversão em mercadoria.

É uma ponga na celebridade meio que sacralizada, uma carona na reverberação pomposa do nome, entretanto desacompanhada da efetiva leitura da obra. Tudo me cheira muito a oportunismo. Não barato, mas caro: subvencionado por dinheiro público.

Mais valeria aventurar-se à criação de um romance infanto-juvenil cheio de peripécias, ironias, intertextualidade, vinculações inventivas entre o tempo daquele autor e o tempo presente dos jovens leitores: um romance que, ao remeter a aspectos de uma obra hoje pouco lida, negligenciada no horizonte do jovem leitor, ao mesmo tempo repudiasse a adulteração de sua escrita, incidindo sobre as perdas resultantes disso…

A esse romance, que tematizaria a riqueza da obra daquele autor e ironizaria tais ‘seccações patricinhas’, eu daria o título “Em busca do Machado perdido”…

Obrigado a Raquel e a Teresa, por terem partilhado aqui mais essa proeza do mercado sobre a literatura. E isso não é um repúdio ao mercado. É um repúdio às coerções do mercado sobre a literatura. 

Redação

32 Comentários

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  1. Os jovens, hoje em dia, não

    Os jovens, hoje em dia, não gostam de ler os letreiros no cinema, então, dublam-se os filmes com péssimos “atores” e som ruim. Ademais, mutila-se uma obra ao trocar a voz original do ator por alguém que não tem nada a ver.

    Não dá para imaginar Amarcord do Fellini em português!

    Chega a ser criminoso mexer na obra de Machado de Assis para adequa-la à idiotice de alguns aborrecentes.

  2. Bom, eu mergulhei no Machado

    Bom, eu mergulhei no Machado com 15 anos de idade. O primeiro foi o Alienista, depois Memórias Póstumas de Brás Cubas, depois Helena e não parei mais.

    Li todos os romances desde Ressurreição até Memorial de Aires, passando pelo pouco conhecido Casa Velha e continuo lendo.

    Ora, se o jovem de hoje acha difícil ler Machado no original talvez haja algum problema com a educação atual não com o Machado.

    Se eu tinha 15 anos quando li O Alienista pela primeira vez e não tive problemas para chegar ao fim porque o jovem de hoje não enfrenta essa deliciosa batalha? Será que o professor não tem competência suficiente para guiar o jovem a esse desbravamento literário?

    Obviamente que depois do 40 temos uma capacidade de entendimento mais abrangente. Mas penso que essa capacidade de entendimento foi ampliada justamente pelo esforço feito na juventude.

    Simplificar Machado significa produzir outra coisa que não é Machado e, portanto, o leitor acha que leu Machado mas não leu.

    Como simplificar o Dom Casmurro? Como simplificar as nuances que nos deixam dúvidas com mais de 100 anos se Capitu traiu ou não?

    Porque esses sacripantas não usam esse tempo, essa energia, esse dinheiro para educar melhor os jovens?

  3. Transformando Machado em Valeska Popozuda…

    O problema é que simplificar Macahado de Assis é transformá-lo em qualquer outra coisa que não Machado de Assis. Tirar do escritor o seu estilo, o que o faz único, a pretexto de levá-lo a todos, é levar às pessoas gato por lebre.

    Em suma, a ideia de levar Machado de Assis a todos pela simplifcação falha no nascedouro.

    Mas, numa modernidade em que Valeska Popozuda foi apontada como grande pensadora contemporânea, tudo é possível…

    1. O elitsimo fica patente,por

      O elitsimo fica patente,por que pobre não teria também direito de ler Machado, José de Alencar, Euclides da Cunha? Esse mesmo tipo de reação acontece com quem sempre achou que chorinho só pode ser tocado com instrumntos caros, quando pode ser feito na favela  com a mesma qaulidade usando  instrumentos feitos de latas, garrafas pe, etc

  4. Estrangeiro pode?

    Colocando aqui uma provocação a mais para esse debate. Não vou entrar no mérito se é certo ou errado fazer essas versões “simplificadas” das obras clássicas, mas acho curioso que não haja nem sombra de indignação semelhante quando são feitas as “traduções simplificadas” de clássicos estrangeiros.

    “Dom Quixote”, do espanhol Cervantes, tem versões simplificadas feitas pelo poeta Ferreira Gullar e por Monteiro Lobato. O mesmo Lobato produziu versões simplificadas do “Duas Viagens ao Brasil” do alemão Hans Staden e do “Peter Pan” do inglês J. M. Barie. “Robinson Crusoé” do inglês Daniel Defoe tem diversas traduções simplificadas.

    Me lembro de ler, nos anos 1970, livros da coleção “Clássicos de Bolso Ediouro” que incluiam uma versão simplificada de Moby Dick, do norte-americano Herman Melville (traduzido e adaptado pelo jornalista Carlos Heitor Cony) – livro que está no mercado até hoje. “Os Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas também tem diversas versões adaptadas ao público infanto-juvenil, entre elas uma “recontada” pela escritora Silvana Salerno.

    Outro ponto: no mercado editorial britânico e norte-americano existem dezenas de edições de clássicos da literatura em língua inglesa resumidos e/ou linguagem simplificada – seja para adolescentes, seja para estrangeiros que estão se aperfeiçoando no idioma. Me lembro de ter lido “The Strange Case of. Dr. Jekyll and Mr. Hyde” do R. L. Stevenson numa versão assim. Uma busca por “simplified books” no Google traz milhares de outros exemplos.

    Por fim: há muitos anos existem adaptações dos clássicos (nacionais e estrangeiros) para a linguagem dos quadrinhos. Existe simplificação maior? A L&PM Editores tem uma vasta coleção, onde consta na capa o apoio da Unesco.

    http://www.lpm.com.br/site/default.asp?TroncoID=805134&SecaoID=510927&SubsecaoID=0&Serie=Cl%E1ssicos%20da%20Literatura%20em%20Quadrinhos

    Não está se fazendo uma certa escandalização desse caso, que apenas repete uma prática corrente há décadas?

     

    1. Na boa mano. Só tenho uma

      Na boa mano. Só tenho uma pergunta a lhe fazer:

       

      O consumo de lixo tóxico literário fez bem para você?

    2. Tem toda razão.
      Se nao me

      Tem toda razão.

      Se nao me engano eu li o Dom Quixote simplificado quando estava na 8 série. Se for ver é melhor ler o simplificado que nada né, já dá alguma ideia.

      Acho que é válido sim. Faz quem quer e le quem quer. É uma atividade que dá trabalho e se tiver mercado ela será recompensada. Se a moça for boa no que faz pode ficar bom sim. Mas é claro que nada vai substituir a obra original.

      1. Daniel
        Não há necessidade de

        Daniel

        Não há necessidade de “simplificar” uma obra literária mais complexa só para a criança “entender”.  Há obras literárias escritas para crianças e de muito boa qualidade. E com a vantagem de poderem serem lidas no original. 

      2. “É uma atividade que dá

        “É uma atividade que dá trabalho e se tiver mercado ela será recompensada”. Aí é que está o problema, mesmo se não tiver mercado, a atividade dela já foi recompensada, com dinheiro público, através de lei de incentivo.

        Se não fosse por isso, não veria problema nenhum, consome quem quer. 

    3. Inter-linguagens, somente a

      Inter-linguagens, somente a historia narrada deve ser fiel, especialmente em “adaptacoes” -ate a palavra ja esta dizendo que nao eh o original e nao vai ser.  Nao eh aa toa que Aedipus Rex tem milhoes de adaptacoes em n linguas -a historia eh boa demais!  No entanto, se a preocupacao autoral eh so simplificacao linguistica sem, no entanto, preservar a beleza narrativa original, o trabalho nao encontra publico nem aqui nem na China.

      A narrativa tem que ter energia tematica e logica.

      Exemplo:  n plots de Shakespeare e a narrativa de Robin Hood -nao ha livro original para consultar e as primeiras mencoes a ele sao documentos judiciais que o mencionam- aparecem nas series de Star Trek um monte de vezes.  Algumas falharam, algumas sucederam lindamente.  Nem por isso Shakespeare, Robin Hood, ou Star Trek perderam publico.  E nem vai ser por isso que a adaptadora do post vai perder publico.

    4. Isso aí, André.

      Sempre houve isso. Como vários colegas aqui, também comecei minha carreira de leitor na infância graças a adaptações literárias diversas. Depois, tive acesso a várias dessas obras no original ou através de traduções em português. Uma criança ou adolescente dificilmente leria ou entenderia a Odisseia, o Dom Quixote ou Machado de Assis. É preciso maturidade, intelectual e existencial, para isso. Mas é importante formar leitores, e as boas adaptações podem fazer isso.

  5. Existe uma regra de ouro em

    Não sou leitor dela e provavelmente não lerei os clássicos que ela pretende produzir. Mesmo assim tenho algo a dizer sobre a atividade dela.

    Existe uma regra de ouro em literatura: todo grande escritor tende a simplificar a linguagem culta de sua época para ampliar o seu público. Machado de Assis não foi diferente. E, no entanto, hoje alguns de nós o consideramos complicado.

    A verdade, porém, é diferente da que foi enunciada pela desconhecida simplificadora da obra do conhecidíssimo mestre do Cosme Velho. Não foi Machado de Assis que produziu textos exageradamente cultos, foi a língua portuguesa que se transformou no século XX. Centenas de vocábulos caíram em desuso, novos foram criados (inclusive derivados de palavras estrangeiras). No último século várias profissões minguaram ou deixaram de existir, levando consigo as expressões verbais que lhes eram peculiares (ex: tropeiro, datilógrafo, tipógrafo). Outras surgiram criando novos discursos e formas de expressão (ex: programador de computador, web designer).

    Não acredito que se possa ou se deva proibir a atividade da moçoila. Mas pessoalmente tenho absoluta certeza de que simplificar as obras de Machado de Assis é algo inútil do ponto de vista estético e não tem qualquer valor artístico. Como exercício linguístico, o resultado teria tanto valor quando um resumo de livro feito por um estudante de 6ª série bem alfabetizado. A produção e circulação de obras desta envergadura certamente indicam uma decadência artística, mas isto é algo que se poderá julgar melhor no futuro (pois sempre tenho a esperança de que em algum lugar, escondido dos olhos da imprensa um grande escritor brasileiro esteja produzindo em silêncio e segredo livros que serão lidos até o fim dos tempos). Sobre o valor comercial da obra da simplificadora nada direi, pois bem sei que o mercado é um verdadeiro Midas e tem o poder de transformar até merda em ouro.

    Se quer imitar Machado de Assis, a menina Patrícia Secco deveria produzir seus próprios textos literários segundo os critérios de linguagem que ela considera mais adequados ao nosso tempo. Se ela for capaz de fazer isto com a mesma sutileza e profundidade que Machado de Assis tanto melhor.

    Suspeito, entretanto, que ela não leve jeito para a tarefa. O mais provável é que a simplificadora siga o caminho mais fácil: macaquear um mestre da literatura desacreditando-o mediante a destruição de sua forma peculiar de se expressar. 

    Machado Assis não está aqui para defender seus textos. Se estivesse provavelmente ele nem se daria ao trabalho de fazer isto. Em razão de sua beleza estética e profundidade humana, a obra dele tem resistido bem ao tempo. Por mais que faça sucesso, a obra da moçoila provavelmente será enterrada antes que seu próprio cadáver. Ha, ha, ha…

     

  6. Um novo Machado

    Esse debate sobre a adaptação de Machado de Assis, ou sua “simplificação” é picuinha provinciana.

    Li pela primeira vez “Alice do País das Maravilhas” na versão juvenil de Monteiro Lobato, assim como “Dom Quixote” e “Hans Staden”. Aliás, de Dom Quixote, li diversas versões “simplificadas” na juventude. Já li assim também os Três Mosqueteiros e as diversas versões Dinsey para contos clássicos. Até Maurício de Sousa adaptou a histórias do velho continente. Poxa! E Shakespeare, então! Conheci-o pela primeira vez em histórias em quadrinhos. Sem esquecer de Mark Twain. Assim como diversos escritores da literatura mundial. Lembro-me da série “Novo Tesouro da Juventude”, com diversas adaptações.

    Isso tudo me levou a buscar as versões traduzidas de suas obras mais tardes. Reli todos eles nas versões ditas “não-simplificadas”. E digo: versões. O mérito para a crítica da Editora 34, por exemplo, foi trazer o Dom Quixote para uma linguagem acessível e contemporânea na sua famosa versão do cavaleiro andante – li os dois volumes e é fabulosa. Os mesmo vem sendo feito com os meus prediletos autores russos.

    Para não esquecer Machado, o resgate recente das suas obras em quadrinhos só me fez querer revisitar pela enésima vez suas obras.

    Ora, a imortalidade das clássicas histórias europeias está justamente nas reiteradas atualizações e inúmeras “simplificações”. Hoje, conhecemos mais a Branca de Neve que Capitu, exatamente por que a princesa soube ser contemporânea, acessível e adaptar-se a todos os públicos.

    Quero um Machado de Assis contemporâneo, para mostrar para meu filho que histórias clássicas brasileiras também não envelhecem. E dar a ele o gosto e a curiosidade de ler Machado de Assis no original, assim como aconteceu comigo e continua acontecendo.

  7. salvo por um dicionário e um livro de geometria elementar

    A utopia de que se vai a algum lugar sem esforço, de que é possível aprender matemática ou a estrutura de nossa bela língua sem trabalhar. Em nome dela, perdemos a oportunidade de apresentar os bons dicionários aos jovens (instruindo-os quanto à maneira de utilizar) e de apresentar-lhe a matemática em toda a sua beleza.

    Da forma como está, basta examinar as estatísticas de quantos terminam o ensino fundamental sem saber as 4 operações (nem mesmo a taboada) e sem conseguir ler e entender um texto elementar.

    Estarrecido, fiquei sabendo ontem que candidatos a estágios são reprovados por erros em um ditado. Sim, daquele que os professores faziam aos alunos no 1º ano.

    Tive muito melhor sorte, pois aos 9 anos ganhei um dicionário decente do meu pai, que também comprou (por engano, segundo a professora do 4º ano, pois devíamos era aprender teoria dos conjuntos) um livro de geometria elementar cheio de exercícios.

     

     

  8. Bem…se é para o bem de

    Bem…se é para o bem de todos e felicidade geral da nação …é bem verdade que existe o mercado, entretanto, se a massa jovem resolver ler qualquer coisa que seja, nem que seja receitas de feijão, já é grande coisa. Frise-se…existe um grande movimento de jovens lendo hoje em dia…e são muito mais do que no passado, é que a quantidade dos que não lêem  nada é que impressiona mais.

  9. Mais um esforço para o

    Mais um esforço para o rebaixamentoa educação no Brasil promovido pelo governo lulopetista. E o pior é que essa aventura é bancada pelos nossos impostos via Lei Rouanet, com tiragem de 600 mil cópias a serem distribuidos para as nossas criancinhas. Se tem gente embolsando dinheiro com isso? Claro que sim, assim como o sol aparece todo dia.

     

    1. Pelo jeito, você aprova o

      Pelo jeito, você aprova o material didático das escolas estaduais de São Paulo, com as revistas veja e globo, além é claro, dos jornalecos, falha de sumpaulo e estadinho, comprados SEM LICITAÇÃO, SENHORES, VEJAM BEM, SEM LICITAÇÃO!!!!!!!!! Lá é que é bom de verdade, ensino de primeiro mundo.

      Com esse material, a educação certamente avançará pelo menos uns 500 anos no estado de São Paulo, deixando o povaréu da ralé dos outros estados a comer pó, oops, cheirar seria o mais correto.

      É óbvio, os tucanalhas não levam nenhum tusta na roubalheira, afinal, só quem rouba é o PT.

      DIlma no primeiro turno!!!!!!!

       

  10. Vamos voltar  a mesmo ponto,

    Vamos voltar  a mesmo ponto, preconceitos linguisico,  quando se for esperar que a escola básica habiliete alguém ler algo desse nível é deixado Machado uns 300 anos fora da nossa cultura. Seria ótimo se fizesse o mesmo com as poesias de Fernado Pessoa, não intragáveis como estão.

  11. Os que criticam isso deveriam

    Os que criticam isso deveriam também criticar, por exemplo, a versão de Hamlet de Érico Veríssimo

  12. Não dá para empurrar Machado goela abaixo

    Antes de fazer qualquer juízo é necessário ler o texto adaptado.

    Como foi lembrado, adaptações de obras densas, e muitas vezes extensas, destinadas a, supostamente, um público infantil ou juvenil já existem há muito tempo. Agora, trata-se de uma recriação. O Monteiro Lobato contando Dom Quixote é uma coisa, um resumo de cursinho pré-vestibular é outra. Se a obra é uma adaptação, quem faz a adaptação tem de ter talento para contar a história.

    Mas, uma coisa que ninguém lembra é que Machado de Assis não é uma leitura fácil. Eu acho até um abuso querer exigir de um adolescente que ele leia, por exemplo, Dom Casmurro. Não é o vocabulário, não são as construções que dificultam a leitura. É a falta de maturidade mesmo. Falta de anos de vida, de experiência (inclusive de outras leituras antecedentes). No caso do Machado de Assis, há contos que poderiam ser lidos na íntegra pelos adolescentes nas escolas. Mas, daí, vem logo O alienista (por sinal, o que foi adaptado e ponto de partida desta discussão), que é longo e complexo demais. Por que não ler, por exemplo, o Conto de escola? Um texto curto e que remete a algo que é tão próximo do estudante: a chateação que é a escola.

    Mas, o diabo da escola…

  13. O trocadilho com o nome

    O trocadilho com o nome empobrece e quase invalida o texto.  Ta legal tomar uma posicao a favor ou contra mas ficou fora do tom do comentario, ou melhor, da tomada de posicao -valida mesmo que eu nao concorde com ela.

    Eu ja tentei ler ingles de mais de 400 anos, nao consegui, e realmente dependo de traducoes pra entender Shakespeare.  Um dos primeiros livros que eu comprei foi Shining, e me deparei com “he was 5-9”.  So que ninguem que eu conhecia sabia o que isso significava (a altura do cara).  Deixei pro lado.  Mais tarde, segui uns 10 anos ou mais de carreira do autor em praticamente todos os livros dele exceto esse que nao consigo ler ate hoje.

    Tentei poucos meses depois ler uma novelizacao do filme Superman (o de Christopher Reeves) porque eu sabia que ia ser facil ler e ja tinha assistido mais de 10 vezes.  Nao consegui ler 4 paginas.  Quatro anos mais tarde, eu ja lia Dostoyevski (superba traducao pro ingles e carissima a 6 dolares, que horror!).

    …  entao…  valeu os 8 dolares pelos 2 primeiros livros ou nao valeu?

    Se houver publico pro que ela esta fazendo, mais forca pra ela!  Nao da pra mim preocupar com o que o publico dela tem de vocabulario ou nao tem, desde que eles continuem lendo.

  14. Machado não é nenhum bicho-papão

    Machado não é nenhum bicho-papão. O problema é que a escola apresenta ao jovem logo o Dom Casmurro, que é uma obra que exige maturidade, vivência mesmo. Aí fica esse estigma de que Machado é um autor difícil, e não é. Por que não apresentar aos jovens primeiramente os contos? Não precisa ser O Alienista, que de fato é longo (uma novela?): o Machado tem vários contos de umas cinco páginas que se lê numa tacada só. Por exemplo, o Trio em Lá Menor, que tem uma temática que interessa aos jovens, e é lindíssimo! Um trechinho:

    “Maria Regina acompanhou a avó até o quarto, despediu-se e recolheu-se ao seu. A mucama que a servia, apesar da familiaridade que existia entre elas, não pôde arrancar-lhe uma palavra, e saiu, meia hora depois, dizendo que Nhanhã estava muito séria. Logo que ficou só, Maria Regina sentou-se ao pé da cama, com as pernas estendidas, os pés cruzados, pensando.

    “A verdade pede que diga que esta moça pensava amorosamente em dois homens ao mesmo tempo. Um de vinte e sete anos, Maciel – outro de cinquenta, Miranda. Convenho que é abominável, mas não posso alterar a feição das coisas, não posso negar que se os dois homens estão enamorados dela, ela não o está menos de ambos. Uma esquisita, em suma; ou, para falar como as suas amigas de colégio, uma desmiolada. Ninguém lhe nega coração excelente e claro espírito; mas a imaginação é que é o mal, uma imaginação adusta e cobiçosa, insaciável principalmente, avessa à realidade, sobrepondo às coisas da vida outras de si mesma; daí curiosidades irremediáveis”.

    O que há de tão inacessível assim nessa linguagem? Na verdade, nada. Li nos comentários aqui alguém fazendo uma analogia com adaptações de Dom Quixote: acontece que Dom Quixote foi escrito num espanhol medieval, e de Machado pra cá o português não mudou tanto assim (que justifique a analogia com Cervantes). Será que algum leitor deste blog não entendeu o que está escrito no trecho do conto aí em cima? Se o estudante não consegue ler isso, é problema de letramento, o que não se resolve simplificando clássicos.

    Mas não sou a priori contra adaptações. Um texto clássico pode perfeitamente ser reescrito, estão aí as adaptações teatrais que não me deixam mentir, nesse caso há uma obra que surge a partir de outra obra. Por que então não propôr aos próprios estudantes que reescrevam eles mesmos um texto como O Alienista, adaptando-o para encenarem em aula? Isso faria com que os jovens mergulhassem no texto. O professor poderia desenvolver discussões sobre a linguagem etc., envolvendo os estudantes numa atividade estimulante e criativa! Acho que a palavrinha-chave é essa mesmo: professor.

    1. É isso mesmo, Flávio. Na 5ª

      É isso mesmo, Flávio. Na 5ª série o professor me tascou um Dom Casmurro. Li  e esqueci. Somente no período de vestibular que novamente o li e o apreciei. Hoje tenho prazer em ler Machado de Assis. 

  15. Meu temor é que, mesmo na

    Meu temor é que, mesmo na versão mais simplificada, a molecada ainda não continue gostando muito de Machado de Assis. Obras simplificadas dele já existem há tempos. No cursinho, havia resumos das obras que caíam nos vestibulares, dentre elas “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e, mesmo assim, ninguém parecia apreciar ou entender muito o livro.

    A não ser que o sujeito venha de uma tradição familiar literária muito forte, daquelas com pais e avós versados nos clássicos, que fazem-no ler muito desde criancinha, vai ser muito difícil mesmo fazer adolescentes apreciarem o autor. A nossa grade curricular é de resultados, tem déficit de formação humanística, difícil fazer o aluno se interessar em contos morais muito complexos, que dissertam sobre a alma humana, sua condição, suas idiossincrasias, etc.

    Geralmente, com as exceções que me referi acima, as pessoas acabam tomando gosto, não só por Machado de Assis, mas como outros clássicos como Cervantes, Shakespeare, Voltaire, Wilde, já na idade adulta, quando ocorre uma identificação com os temas versados e, também, claro, uma maior familiaridade com a leitura. E olha que se o adulto chegar nisso, já é uma vitória, pois proporcionalmente representa uma minoria elitizada.

    Como, de um modo geral, até Professor que lê e entende os clássicos é minoria, há muito de querer chegar ao outro andar sem passar pelos degraus com esta obsessão em fazer adolescentes lerem Machado de Assis, Camões, Guimarães Rosa. Ora, se nem quem dá a matéria muitas vezes não tem o costume da leitura, os formuladores de conteúdo deveriam se adaptar melhor a esta realidade.

    O fato de grande parte das pessoas gostarem só de Crepúsculo, Harry Potter e comédia romântica do John Green e Nicholas Sparks representa nosso baixo nível? Sim, mas é melhor que nada. Estas obras podem ser a porta de entrada para outro tipo de literatura, desde que se saiba fazer esta transição.

    Quando eu era adolescente, não suportava “Memórias Póstumas”, ou “Primo Basílio”, mas li com muito gosto “O Mundo de Sofia”, “O Pequeno Príncipe”, “Alice no País das Maravilhas”, dentre outros. Isto sem contar que me iniciei na leitura com adaptações, não de Machado de Assis ou Dostoiévski, mas de Monteiro Lobato, sítio do Pica-Pau Amarelo.

    Querer iniciar jovens leitores com versões adaptadas de Machado de Assis não me parece uma boa opção. Existem muitos livros, clássicos, divertidos e de linguagem acessível, que poderiam ser apresentados aos mais novos. Essa opção em já versá-los com os clássicos parece até de propósito para fazer os jovens detestarem a leitura.

    E olha que eu nem entrei naquela discussão de arte vs forma. (sem a forma de escrita Machadiana, o que sobra? Um belo conto moral, igual vemos em histórias em quadrinhos?)

  16. coitado do nosso machado…

    coitado do nosso machado…

    não bastasse o lulopetismo no poder doutrinário da república querer seu “embranquecimento publieditorial”, agora querem seu “esquartejamento literal” a gosto da jovem freguesia iletrada pra modos do mercado paradidático –  dependente terminal nas mãos e pés atados dos “programas” de governo “pai dos pobres” – ávido esfomeado de faturar pra cima dos jovens de primário mal feito tutelado pelas boas intenções dos diabos da cultura de Estado anexado customizado apropriado pelo cartel de mercado do livro didático e suas oportunas parcerias público-privado…1 pra mim + 2 pra vc = 4 nas burras a fundo perdido do erário nacional.

  17. Novidade?

    Nassif: essa de se “revisitar” a obra machadiana em si pode haver novidade. Mas no geral, não. Lembra quando os irmãos Lamb fizeram isto na obra de Shakespeare? Talvez, uma tentativa de mostrar aos jovens, não chegados à leituras que não dos seus produtos de consumo, para buscar elevação do nível cultural. Por este caminho, há de ser elogiosa a intenção.

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