“Bacanal”, por Manuel Bandeira

Sugestão de Gilberto Cruvinel

“Bacanal”, por Manuel Bandeira

Quero beber! 
Cantar asneiras 
No esto brutal das bebedeiras 
Que tudo emborca e faz em caco… 
Evoé Baco! 

Lá se me parte a alma levada 
No torvelim da mascarada, 
A gargalhar em doudo assomo… 
Evoé Momo! 

Lacem-na toda, multicores, 
As serpentinas dos amores, 
Cobras de lívidos venenos… 
Evoé Vênus! 
Se perguntarem: Que mais queres, 
Além de versos e mulheres?… 
Vinhos!… o vinho que é o meu fraco!… 

O alfanje rútilo da lua 
Por degolar a nuca nua 
Que me alucina e que eu não domo! 
Evoé Momo! 

A Lira etérea, a grande Lira!… 
Por que eu extático desfira 
Em seu louvor versos obscenos. 
Evoé Vênus! 

 

 

……………………………………………………

Fontes: 1) BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1974. 

            2) Pintura: The Triumph of Pan, 1636 – Nicolas Poussin,  The National Gallery, London

            3) Video: Bacanal, de Manuel Bandeira e Zebba Dal Farra, interpretada por Maria Simões, a qual era conhecida como Claudia Pacheco. A gravação faz parte do disco BOCA de 1996.

Redação

3 Comentários

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  1. portanto, passistas

    portanto, passistas burlescos

     de todos os barcos bebados ,

    só não valem gestos grotescos,

    afaste  a tristreza, desamargurai-vos,

    passai esse tempo louco, farsesco,

     amai-vos  e embriagai-vos de felicidasde! 

  2. “Não sei dançar” – Manuel Bandeira

    “Uns tomam etér, outros cocaína.
    Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
    Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
    Mas o cálculo das probalidades é uma pilhéria…
    Abaixo Amiel!
    E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.

    Sim, já perdi, pai, mãe, irmãos.
    Perdi a saúde também.
    É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

    Uns tomam etér, outros cocaína.
    Eu tomo alegria!
    Eis aí por que vim a este baile de terça-feira gorda.
    Mistura muito excelente de chás… 

    Esta foi açafata…

    – Não, foi arrumadeira.
    E está dançando com o ex-prefeito municipal.
    Tão Brasil!

    De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil…
    Há até a fração incipiente amarela
    Na figura de um japonês.
    O japonês também dança maxixe:
    Acugêlê banzai!

    A filha do usineiro de Campos
    Olha com repugnância
    Para a crioula imoral.
    No entanto o que faz a indecência da outra
    É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
    E aquele cair de ombros…
    Mas ela não sabe…
    Tão Brasil!

    Ninguém se lembra da política…
    Nem dos oito mil quilômetros de costa…
    O algodão de Seridó é o melhor do mundo… Que me importa?
    Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
    A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
    Eu tomo alegria!”

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