Dicionário de palavrões vira sucesso na França

Um dicionário de palavrões publicado por um linguista francês se tornou sucesso de vendas no país. A primeira edição do Pequeno Dicionário de Palavrões, de dez mil exemplares, lançada no início de maio, já se esgotou. Uma nova tiragem de três mil exemplares está sendo realizada, segundo a Editora First, que publicou a obra do professor de letras modernas da Universidade de Lorient, na Bretanha, Gilles Guilleron.

O linguista explica que seu objetivo é mostrar como a linguagem essencialmente oral – que não é ensinada nas escolas nem utilizada na vida social – é transmitida entre gerações e consegue manter sua vitalidade, apesar de ser algo “subterrâneo e marginal, que geralmente exprime tabus, como o sexo”. “O palavrão é uma palavra crua, indelicada, obscena, escatológica, que ofende o pudor, a moral, os códigos de educação”, diz. “É por isso que 80% dos palavrões e grosserias estão ligados ao sexo e às funções vitais, como as fezes”, explica.

Na avaliação do linguista, os palavrões têm a “virtude de aliviar o estresse e a agressividade” e representam uma “prova de evolução das relações sociais”. “Na época do homem de Cro-Magnon, quando a linguagem era limitada, eles passavam diretamente ao golpe de tacape. O palavrão permite verbalizar a agressividade, ele desinibe, alivia, libera, é quase um sinal de civilização”, afirma.

A mesma coisa ocorre, diz ele, quando alguém se machuca. “Se você bater o pé em um móvel, dizer puta ou merda ajuda a passar a dor. Se você disser matéria fecal em vez de merda, não é a mesma coisa e não vai acontecer nada”, diz o linguista. “O palavrão também é a arte de resumir e representa, às vezes, mais do que um longo discurso”, prossegue.

‘Máscara social’

Outra característica dos palavrões, segundo o linguista, é que eles são ditos “por todo mundo, independentemente da classe social ou do nível de educação”. Guilleron lembra o episódio ocorrido com o ex-presidente francês, Nicolas Sarkozy, que xingou um visitante no Salão da Agricultura de Paris que havia se recusado a apertar sua mão. Sarkozy utilizou a palavra “con”, comumente usada como sinônimo de imbecil ou cretino, mas considerada um termo mais vulgar e que também designa o órgão genital feminino.

“O palavrão é o que eu chamo de flagrante delito de humanidade. Quando xingamos com um palavrão, a máscara social cai e a pessoa mostra que é um ser humano como qualquer outro”, afirma o linguista. Guilleron diz que o palavrão mais antigo em francês, que existe em textos escritos a partir do século X, é “puta”, do latim putidus, que significa fedorento, e que acabou sendo usado para designar mulheres com comportamento fora dos padrões morais.

‘Desvio de linguagem’

O linguista ressalta ainda que os pátios de recreio nas escolas são um local onde os palavrões ouvidos no círculo familiar são normalmente repetidos pelas crianças. “Os palavrões são desvios da linguagem. É papel dos adultos impor limites e mostrar que as palavras têm poder e que é preciso controlá-lo”, defende.

Ao mesmo tempo, contudo, o autor do dicionário de palavrões acha que “não há graves consequências se uma criança disser um palavrão de vez em quando. Isso mostra que ela vive na mesma sociedade que nós. Mas é problemático uma criança que diz palavrões o tempo todo”.

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