Livro retrata o desaparecimento do militante João Massena Melo

Pallas Editora lança "Era uma vez um quintal", escrito por Andreia Prestes e ilustrado por Paula Delecave a partir de fotos

A Pallas Editora lança, neste final de ano, o livro “Era uma vez um quintal”, escrito por Andreia Prestes e ilustrado por Paula Delecave. As ilustrações foram feitas a partir de fotos do álbum da família da autora, que é neta de Luís Carlos Prestes pelo lado materno e de João Massena Melo, por parte de pai, sobre quem a trama se desenvolve. O lançamento será no domingo, dia 10 de dezembro, às 11h, na Janela Livraria do Jardim Botânico, Rio de Janeiro.

João Massena foi um dos líderes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e foi perseguido na Era Vargas e na ditadura militar. Pernambucano, Massena era operário tecelão e metalúrgico, presidente de Sindicato. ele foi preso duas vezes, foi eleito deputados pelo Estado da Guanabara em 1962 e, em 1964, no golpe militar, foi cassado e caiu na clandestinidade.

Em início dos anos 1970, militares invadiram a casa que aparece no livro e levaram seus moradores. Quase todos foram liberados em três dias, menos João Massena, que permaneceu na cadeia e só foi solto dois anos depois.

“Ficaram de olho nele e em outros militantes políticos e os assassinaram, já antevendo que, com a redemocratização do país, que só se consolidou na metade dos anos 80, poderiam se tornar lideranças políticas importantes”, diz ela. “Em 2024 completa 50 anos que o vô desapareceu e essa dor continua muito presente”, desabafa Andreia Prestes.

Este livro é sobre a dor de perder alguém assim, sumido no vento por sonhar com um mundo melhor, como está escrito em suas páginas cheias de plantas, memórias e esperança.

O leitor viaja até uma casa em Cascadura, subúrbio carioca, onde há cerca de sete décadas mora a dona Ecila, 94 anos, avó de Andreia e viúva de Massena. A origem dessa família data de 1947, quando Ecila e João se casaram. São eles que aparecem nas foto-ilustrações de “Era uma vez um quintal”, uma delicadeza poética para contar sobre a brutalidade que foi o desaparecimento de um avô, tio, pai e marido.

“Esse tipo de violência praticada pelo Estado – o desaparecimento – é também uma estratégia de silenciamento. Digo pela minha família: ainda é muito difícil falar sobre esse desaparecimento”, lamenta, mas com uma voz firme de quem assimilou o próprio destino e quer usá-lo sob a perspectiva do letramento político para a garotada de hoje.

Andreia Prestes pontua que existem poucos livros de autores brasileiros para crianças sobre o horror que foi a ditadura militar no país e que essa obra é a sua contribuição para que, desde a infância, se faça uma reflexão sobre a nossa história recente. Ela atuou muitos anos como professora das redes municipal e estadual do Rio e fez mestrado em História Comparada na UFRJ, atualmente é estudante do doutorado em Políticas Públicas de Educação, na Unirio.

A ideia de usar fotos reais como base das ilustrações partiu da Pallas Editora. Andreia vibrou mais uma vez. “A história ficou mais humanizada com as foto-ilustrações. A imprensa costuma estampar uma 3×4 nas matérias sobre desaparecidos políticos. A pessoa fica reduzida a um rosto. Quando mostra o quintal, a gente visualiza uma mulher, filhos, sobrinhos, netos, uma família. E a Paula Delecave fez um trabalho lindo. Foi um acerto!“.

Paula vem desenvolvendo há anos uma criação artística que une memória e colagens – em particular, relacionadas a arquivos fotográficos. Para ela, este livro foi um trabalho amplificado por se tratar de “uma página infeliz da nossa história”, evocando um verso de Chico Buarque.

“Li muito do que consegui achar de registro sobre o Massena. Conversei com a Andreia, li o livro de memórias escrito pelo seu pai. Deparei-me com informações tão terríveis que me perguntava: Como traduzir esse período para as crianças? Ao mesmo tempo, as fotos da família revelam tanto! Percebi ali um afeto, uma força e uma delicadeza que tentei passar nas imagens. E, em outros momentos, a coisa precisava pesar também. Porque foi uma época extremamente dura e é preciso que essas memórias sejam passadas adiante”, afirma a ilustradora.

“Era uma vez um quintal” típico do subúrbio do Rio, com uma Mangueira imensa oferecendo sombra à família e aos amigos, que continuam a se reunir para cantar, almoçar e lembrar de um tempo que nada apaga, nem os anos de chumbo. “Ah, tomara que o livro alcance muitas crianças e seja ponto de partida de muitas conversas sobre esse período. E também que nos ajude a lembrar daqueles que lutaram pela liberdade de expressão, sonharam – e ainda sonham – com um mundo mais justo”, diz Delecave.

Era uma vez um quintal

Pallas Editora

Escrito Andreia Prestes e ilustrado por Paula Delecave

32 páginas

R$ 56

LANÇAMENTO NO RIO DE JANEIRO

QUANDO: 10 de dezembro, às 11h

ONDE: Janela Livraria – Rua Maria Angélica, 171 loja B, no Jardim Botânico

QUANTO: Grátis

Redação

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