O balcão das editoras, por Alexandre Coslei

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O balcão das editoras

por Alexandre Coslei

Há muitos anos que prefiro ser um autor de Internet a buscar editoras para publicar livros. O campo editorial no Brasil sofre de falta de profissionalismo e de absoluta ausência de ousadia empresarial. Não apostam. É um mercado primitivo, carente de agentes literários que assumam os riscos dos autores e que vejam neles um parceiro a defender.

Quando alguém que pretende publicar um livro procura uma editora grande, é mais fácil prever a resposta negativa e padronizada que receberá de volta do que qualquer outro tipo de surpresa positiva. Grandes editoras só apostam em nomes comerciais e em títulos estrangeiros. Acovardam-se diante de um autor em que não identificam repercussão, descartam a qualidade. As pequenas editoras, tão enaltecidas como opção democrática, comportam-se como gráficas, não assumem um espírito empreendedor, administram-se pela mentalidade de camundongo que não enfrenta o elefante.

Ao escritor que busca espaço no mercado, sobra apelar para as tais pequenas editoras, as famosas casas de fundo de quintal. É então que recebe a notícia de que precisará pagar para ser publicado. Perdoem-me, mas não se chama de editora uma firma que onera o autor. São intermediários de gráficas que preferem um título mais pomposo. Algumas delas não desenvolveram diretrizes específicas, agem de forma que desvaloriza um autor em detrimento de outro.

Soma-se a toda essa inaptidão uma falta de seriedade quase ofensiva. O destemido autor que envia seu original para empresas que deveriam ter a missão de publicá-lo, cometem inúmeras vezes a deselegância de nem sequer responder ao remetente. Nesse desalinho, juntam-se as grandes e pequenas editoras.

Enquanto Europa e EUA criaram uma grande rede de agentes literários com a cultura de tomar o partido do autor, no Brasil ainda vivemos uma realidade da década de 70, em que escritores embalam e enviam originais para editoras que irão ignorá-los. Aqui, os raríssimos agentes literários que atuam no mercado ainda estão mais sintonizados com as editoras do que com os autores que deveriam defender e promover. Preferem dois best-sellers que para serem lidos em cem dias, não cem títulos que tenham a perspectiva de continuarem lidos após cem anos, como já dizia Andrew Wylie (agente literário norte-americano).

A verdade é que falta empreendedorismo no mercado editorial, um setor que prefere usar a mesma estratégia de agiotas ou banqueiros. Óbvio que qualquer empresa precisa buscar o lucro ou, ao menos, a sobrevivência. No entanto, num segmento cultural como o dos livros, o maior patrimônio é a carteira de autores; sua maior propaganda é o respeito que dedica a eles.  A enorme taxa de analfabetismo do Brasil e a falta do hábito de leitura que existe no país não deveria ser mote para restringir a publicação de novos títulos.

Está em busca de um editor ousado? Tentando alguns canais que possam publicá-lo? Seria melhor se ficasse de boca fechada, mas não dá. Escolha pensar e existir, jamais existir para calar. Talvez, isso inspire alguns donos de editoras a imitarem a sua ousadia.

Alexandre Coslei, jornalista
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Autopublicação

    Parabéns pelo artigo. Essas informações são necessárias aos não-escritores que ainda fantasiam que as editoras brasileiras valorizam o livro nacional.

    Estou no mesmo pé que você. Mas encontro grande dificuldade para divulgar o livro pela internet. Mantenho um blog, conta no facebook, instagram,G+, youtube e twitter. As redes sociais atualmente estão limitando o alcance das postagens, inclusive para aqueles que “curtiram”, os que em tese querem receber o conteúdo. Já pensei em não depender tanto do facebook, mas não sei o que seria um substituto à altura? Apostava no Instagram, e cheguei a aperfeiçoar habilidades de ilustração para cativar mais quem via as imagens, porém o Instagram também iniciou um novo algoritmo de limitação de alcance…

    Meu livro é uma fantasia alegórica sobre o amadurecimento da criança à vida adulta, com influência de Monteiro Lobato e Michael Ende. Deixo aqui o endereço do blog, caso alguém tenha interesse em saber mais: http:\oreiadulto.blogspot.com, bem como o book trailer:

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=pGJ743uPKk0%5D

  2. Tenho o mesmo problema.

    Tenho um blog que começou tratando de botanica mas logo se espraiou e começou a tratar de mil assuntos, entre os quais administração pública e história. Tem quase 2 milhoes de acessos, mas 99 por cento é na área botânica. Posso publicar a maior revelação do mundo (mera hipótese), que ninguém lê, ou pelo menos ninguém vai além do título.

    Todo o mundo está imbecilizado, não mais no analfabetismo, mas no facebookismo.

    Nas livrarias, só livros estrangeiros (dunidenses) traduzidos. Se pelo menos fossem no original!…

    Se quiserem dar uma olhada no meu saite, e der um pitaco, eu agradeceria. Vale critica construtiva e até crítica destrutiva. Só não vale “não li e vou citar mil defeitos”.

    Meu saite: http://www.timblindim.wordpress.com

     

  3. Pela via crucix que vi amigos

    Pela via crucix que vi amigos passando para publicar seus livros, vi que não era algo pra mim.

    Por isto optei por simplesmente criar uma página no facebook e deixar o livro grátis para download.

    Mas o “prestígio” disto é mínimo, e a possibilidade de ser lido é ínfima… mas, fazer o que? Pelo menos tomei as minhas decisões e fiz o que queria: escrever e “publicar” um livro. 🙂

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