Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Parapolítica e sincromisticismo na série espírita Nosso Lar

Clássico da literatura espírita, a série “Nosso Lar”, psicografada por Chico Xavier, é tradicionalmente interpretada pelo viés moral e religioso da “reforma íntima” do protagonista. Mas olhando detidamente em seu conjunto, a série oferece muito mais: a possibilidade da existência de um campo unificado entre ciências “materialistas” como a Política e Comunicação e o místico e o oculto. As descrições das influências do pensamento dos encarnados no Umbral e como “exércitos sombrios” espirituais próximos da Terra visam o domínio de corações e mentes do planeta para roubar “energia anímica” da humanidade (o que lembra o filme “Matrix”) forneceriam subsídios para duas abordagens heterodoxas: o Sincromisticismo e a Parapolítica.

Desde que li a primeira vez a série “Nosso Lar”, psicografada pelo médium Chico Xavier e atribuída ao espírito de André Luiz, impressionou-me a descrição da dinâmica dos mundos espirituais repleta de conceitos teosóficos como “formas-pensamento”, pluralidade de mundos que se interpenetram, as inter-relações entre os centros corporais de energia (chakras) e as energias presentes no “plano astral”, projeções astrais realizadas pelo espírito no sono etc.

Surpreendeu-me porque até então a abordagem que tinha sobre o conjunto dessa obra era concentrada na necessidade do que os espíritas chamam de “reforma íntima” (a necessidade da mudança interior moral, espiritual e ética no sentido evolutivo) concentrada no exemplo da trajetória espiritual do médico André Luiz. Palestras, preleções, e lições baseadas principalmente nos princípios do Evangelho cristão e a compreensão da Lei da Ação e Reação à qual todos os espíritos estariam submetidos.

Toda vez que releio os livros da série percebo que a narrativa vai muito além da trajetória pessoal do protagonista que descreve detalhadamente os mundos por onde passa. Há uma riqueza de informações que pode ser organizada em dois conceitos principais: Sincromisticismo e Para-política.

Realidade unificada: influências mútuas entre planos

Embora os principais personagens da série insistam que as diferenças entre a “crosta terrestre” e o “plano espiritual” sejam apenas vibratórias e que na verdade existe uma realidade unificada de influências mútuas entre planos, acho incrível como isso nunca foi seriamente explorado, principalmente as implicações em campos “materialistas” tais como Política, Economia e Ciências da Comunicação. Leituras, resenhas, palestras ou cursos sobre a série concentram-se em geral nas lições do evangelho cristão e na trajetória evolutiva espiritual do protagonista.

Escrita em 1942, em plena Segunda Guerra Mundial, são impactantes as descrições de como no momento desse conflito militar falanges organizadas espirituais cercavam as nações europeias para impulsioná-las ao conflito. A denúncia de “movimentos concentrados do mal” e de “organizações negras” altamente organizadas e hierarquizadas em regiões limítrofes à da “Crosta” terrestre alteram qualquer visão sobre as diferenças entre Céu e Inferno, ou seja, de um lado o Bem e a Ordem e, do outro, a desordem e caos de espíritos que apenas sofrem se consumindo em culpa.

A série Nosso Lar está repleta de relatos que abrem a possibilidade de criação de uma espécie de “campo unificado” entre as ciências materialistas (Ciência Política, Comunicação etc.) e as espiritualistas, indo além da interdisciplinaridade e transversalidade: união das ciências por meio de uma pluridimensionalidade. Os campos do Sincromisticismo e da Para-política seriam as primeiras abordagens dessa tentativa em esboçar um campo unificado científico.

Sincromisticismo: sincronismo entre pensamento e ação

Como vimos em postagens anteriores (veja links abaixo) a abordagem sincromística de pesquisadores como Jason Horsley, Christopher Knowles e Jake Kotze se baseia em conceitos como forma-pensamento, arquétipos e sincronicidade. A partir de noções teosóficas como a de forma-pensamento (criações mentais que utilizam matéria fluídica capazes de criar formas autônomas no Plano Astral), o Sincromisticismo concebe as relações sociais como que imersas em um oceano de pensamentos que por determinadas condições sedimentam-se em egrégoras e arquétipos capazes de produzir “conexões significativas”.

Vampirismo energético e formas-pensamento

Esse sincronismo entre pensamentos e ações estão presentes em diversas descrições na série “Nosso Lar”, principalmente de forma dramática nos livros “Os Mensageiros”, “Obreiros da Vida Eterna” e “Missionários da Luz” onde o protagonista André Luiz aprofunda-se nas diversas regiões do Umbral (zona espiritual mais próxima da vida física e que sofre a ação direta dos pensamentos e paixões dos encarnados) e participa de excursões de aprendizagem na crosta onde observa as ações devastadoras das formas-pensamento no cotidiano urbano em suas diversas manifestações: vampirismo, obsessões e doenças produzidas por uma “flora” de microrganismos espirituais.

Esses três livros têm como cenário as regiões da “Crosta”, “Umbral” ou “Trevas” ou “Umbral Grosso”, vibratoriamente mais próximo da Crosta, cuja atmosfera e topografia são criações plásticas das forças mentais: “esfera de vibrações mais forte da mente humana. Achamo-nos a grande distância da Crosta; entretanto já podemos identificar a influenciação mental da Humanidade (…) mergulhávamos num clima estranho onde predominavam o frio e a ausência de luz solar. A topografia era um conjunto de imagens misteriosas, lembrando filmes fantásticos da cinematografia terrestre. Picos altíssimos, agulha de trevas desafiando a vastidão, esquisita vegetação. Aves de aparência horripilante surgiam, medrosas.” Mais à frente: “todo este mudo que vemos é continuação de nossa Terra. Os olhos humanos veem apenas algumas expressões do vale em que se exercitam” (Os Mensageiros).

Em “Missionários da Luz” um instrutor faz a seguinte observação a André Luiz: “ As ações poduzem efeitos, os sentimentos geram criações, os pensamentos dão origens a formas e consequências de infinitas expressões. Cada um de nós é responsável pela emissão das forças que lançamos em circulação nas correntes da via. A cólera, a desesperação, o ódio e o vício oferecem campo a perigosos germens psíquicos na esfera da alma”. Essa afirmação situa-se no capítulo “Vampirismo” onde se discorre sobre a questão de espíritos se “alimentarem” dessas formas plásticas criadas em planos sutis pelas nossas ações e pensamentos.

Guerra Espiritual

Em “Obreiros da Vida Eterna” temos as mais dramáticas descrições do “Umbral Grosso”, não apenas como uma região para “esgotamento de resíduos mentais” como afirma no livro “Nosso Lar”, mas como um campo de combate entre grupos socorristas da “Casa Transitória” (instituição assistencial para resgatar espíritos dementados e com o corpo astral comprometido) e organizados grupos de verdugos armados e dispostos a fazer prisioneiros em abismos e lamaçais.

Confirmação das velhas mitologias
do inferno

Esses extensos grupos que “insurgem-se contra o próprio Criador” agrupam-se em “sombrias e devastadoras legiões, operando movimentos perturbadores que desafiam a mais astuta imaginação humana e confirmam as velhas descrições mitológicas do inferno”. São “grupos antigos” armados com “petardos magnéticos” cujas equipes socorristas enfrentam com “faixas de socorros, redes de defesa e lança-choques.”

Esses verdugos mantém extenso número de prisioneiros. Tais organizações parecem magneticamente se nutrir do medo, desespero, ressentimento e ódio dos prisioneiros. No livro “Libertação” temos mais detalhes dessas organizações e o vínculo com a Crosta:

Para muitas criaturas é difícil compreender a arregimentação inteligente dos espíritos perversos… Se ainda nos situamos distantes da santidade, não obstante os propósitos superiores que já nos orientam, que dizer dos irmãos infelizes que se deixaram prender sem resistência, às teias da ignorância e da maldade?… Enleados em forças de baixo padrão vibratório, não aprenderam a beleza da vida superior. (…) Organizam assim, verdadeiras cidades, em que refugiam falanges compactas de almas que fogem, envergonhadas de si mesmas, ante quaisquer manifestações da Divina Luz. Filhos da revolta e da treva, aí se aglomeram, buscando preservar-se e escorando-se, aos milhares, uns aos outros. (…) Inabilitados para a jornada imediata, rumo ao Céu, em virtude das paixões devastadoras que os magnetizam, arrebanham-se de conformidade com as tendências inferiores em que se afinam, na Crosta Terrestre, de cujas emanações e vidas inferiores ainda se nutrem , qual ocorre aos próprios homens encarnados. (…) O objetivo essencial de tais exércitos sombrios é a conservação do primitivismo mental da criatura humana, a fim de que o Planeta permaneça, tanto quanto possível sob seu jugo tirânico.” (Libertação)

Parapolítica e Matrix

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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