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Desafios Climáticos no Brasil: Entre Queimadas, Ondas de Calor e Eventos Extremos

Segundo o relatório do INMET - Instituto Nacional de Meteorologia -, a temperatura média bateu recordes no país nos últimos meses.

Marcelo Camargo – Agência Brasil

Blog: Democracia e Economia  – Desenvolvimento, Finanças e Política

Desafios Climáticos no Brasil: Entre Queimadas, Ondas de Calor e Eventos Extremos

por Samuel de Paula e Cinthia Maia

O Brasil vem sofrendo com os eventos extremos em diversas frentes. Queimadas nos biomas, ondas de calor, ressacas marítimas, fortes temporais e tsunamis. O que causam esses eventos, e por que a severidade deles estão a aumentar?  Especialistas apontam que as mudanças climáticas, ocasionadas pelo aquecimento global, tendem a afetar mecanismos de variabilidade climática.

A exemplo, o Pantanal Sul-mato-grossense e Mato-grossense está há mais uma temporada sofrendo com as queimadas e novamente batendo recorde. Segundo os dados do LASA/UFRJ – Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro -, as áreas queimadas até novembro desse ano, já somam quase 200% do bioma consumido em todo o ano de 2022.

No Mato Grosso do Sul, a Terra Indígena Kadiwéu teve quase 20% do seu território consumido. Já no Mato Grosso, a Terra Indígena Tereza Cristina teve quase 51% do seu território consumido. Além disso, parques estaduais e nacionais foram também atingidos pelas queimadas, trazendo risco à biodiversidade pantaneira. O tempo seco, altas temperaturas, falta de chuva e os ventos fortes, fazem com que as chamas se alastrem de forma rápida, ocasionando números exorbitantes de queimadas, passando dos 900 mil hectares de terras. Com os incêndios, animais foram mortos, outros mudam de locais, para fora de seu habitat, no intuito de fugir das chamas.

Mas e as causas dessas queimadas? Segundo INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – o fenômeno El Nino é o maior responsável por esse aumento abrupto nos focos de incêndios no Pantanal, que por sua vez, o país, tal como o Centro-Oeste, vem enfrentando uma onda de calor forte, e a união do aquecimento global com esse fenômeno intensificam todas essas ações.

Segundo o relatório do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia -, a temperatura média bateu recordes no país nos últimos meses. “O cenário indica que o ano de 2023 será o mais quente desde a década de 1960” (Relatório do INMET). De acordo com o alerta do INMET são mais de 2,7 mil municípios em situação de grande perigo para altas temperaturas, no Sudeste, Centro-Oeste e outras regiões do país. Coxim (MS) registrou 41,4ºC e, em Rondonópolis (MT), os termômetros bateram 40,4ºC, já em Belo Horizonte ultrapassam 38ºC, enquanto no Rio de Janeiro as temperaturas vêm batendo acima dos 42ºC, com sensação térmica chegando a quase 60ºC. No mesmo dia (14), a cidade ainda enfrentou um forte temporal e chuva de granizo, registrados em alguns pontos específicos. Conforme apontou o INMET, raios e rajadas de vento de até 40 km/h em Copacabana, assim como 53 mm de chuva em Bangu, em um intervalo de uma hora.

No sudeste brasileiro, uma forte ressaca marítima atingiu as faixas de areia, calçadões e avenidas nas praias de Ipanema e Leblon, importantes cartões postais da cidade do Rio de Janeiro (RJ), no último dia 5. Este evento ocorreu porque uma frente fria atingiu a cidade na sexta-feira (03) e no sábado (04), trazendo consigo um ciclone extratropical, que foi responsável por ondas de mais de 3,5 metros de altura, de acordo com a Marinha do Brasil.

 O ciclone extratropical formou-se a partir do encontro de uma massa de ar fria com uma massa de ar quente no Sul do Brasil e, apesar de ter perdido força até chegar no litoral do Sudeste brasileiro, ainda foi capaz de gerar a ressaca marítima. Esta ocasionou mortes por afogamento de três jovens no mar de Ipanema. Na praia do Leblon, os prejuízos foram materiais; a empresa Orla Rio, responsável pela administração dos quiosques cariocas, informou que três deles foram atingidos.

O estado de São Paulo (SP) também sofreu as consequências do ciclone extratropical. Mais de 2 milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica após a passagem da frente fria, que trouxe ventos de mais de 100 km/h e um forte temporal, provocando seis óbitos, 120 quedas de árvores e mais de 500 semáforos desligados. A falta de energia prejudicou também o abastecimento de água da capital e da Grande São Paulo. Segundo a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), houve uma paralisação em diversas instalações e estações elevatórias, comprometendo os níveis dos reservatórios e, por consequência, a distribuição de água.

Se as regiões Centro-Oeste e Sudeste, enfrentam ondas de calor e ciclones extratropicais, no Sul, enfrentam tsunamis. Em Laguna, no litoral Sul de Santa Catarina, foi registrado no último dia 11 um fenômeno conhecido como Tsunami Meteorológico. De acordo com a Defesa Civil, este evento é uma combinação de fortes ventos, pressão atmosférica e grandes ondas, que foram responsáveis por causar pânico entre os banhistas e arrastar carros. Segundo o Corpo de Bombeiros, não houve vítimas em consequência desse evento. Vale salientar que este fenômeno meteorológico é de difícil detecção e difere de tsunamis ou maremotos, que costumam ser ocasionados por abalos sísmicos, ou seja, pela agitação das placas tectônicas, e possuem um impacto bem maior do que os originados por tsunamis meteorológicos.

Especialistas do INMET apontam que as ondas de calor serão o novo normal no Brasil. Atualmente, temos 15 estados brasileiros e o Distrito Federal sob alerta de grande perigo. A tendência é que os termômetros, daqui por diante, poderão marcar até 13ºC a mais do que o comum para essa época do ano. A explicação para isto consiste no El Niño, nos domos de calor e nas mudanças climáticas advindas do aquecimento global. As ondas de calor constituem um grande problema, pois, segundo relatório apresentado por mais de 100 especialistas, 52 instituições e pela Organização das Nações Unidas (ONU), a previsão é que, até o ano de 2050, as mortes ligadas ao aumento na temperatura poderão aumentar cinco vezes, em um cenário de aumento médio de temperatura de 2ºC em comparação com o período pré-industrial.

Ainda segundo especialistas, é possível que mais de 500 milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar até a metade do século, por causa do aumento das temperaturas, ou sofram com doenças infecciosas, como a dengue, que podem registrar um aumento de 36% segundo relatório. Ou seja, estamos falando de problemas globais.  Sendo assim, ou os estados agem de forma coordenada, ou será impossível enfrentar o que as previsões de especialistas nos mostram. No caso do Brasil, acredita-se que uma coordenação entre os estados, institutos e governo federal é mais do que urgente. Um grupo deveria cuidar das ações preventivas, como protocolos para dias de calor excessivo, e, principalmente, ações rápidas para socorrer os biomas, os animais e a população.

Samuel de Paula – Mestrando em economia na Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisador do FINDE/UFF

Cinthia Maia – Mestranda em economia pela UFF

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O Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (FINDE) congrega pesquisadores de universidades e de outras instituições de pesquisa e ensino, interessados em discutir questões acadêmicas relacionadas ao avanço do processo de financeirização e seus impactos sobre o desenvolvimento socioeconômico das economias modernas. Twitter: @Finde_UFF

Grupo de Estudos de Economia e Política (GEEP) do IESP/UERJ é formado por cientistas políticos e economistas. O grupo objetiva estimular o diálogo e interação entre Economia e Política, tanto na formulação teórica quanto na análise da realidade do Brasil e de outros países. Twitter: @Geep_iesp

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